Segunda-feira, 25 de abril de 2022 - 06h05
Bagé, 25.04.2022
O
Coronel Ricardo Franco de Almeida Serra, nascido na cidade do Porto ‒ Portugal
em 03.08.1748, formou-se em Engenharia e Infantaria e em 1780, ainda como
Capitão foi indicado por D. Maria I, Rainha de Portugal, para viajar ao Brasil
e chefiar a Terceira Partida de Demarcação de Limites, em cumprimento às
determinações do Tratado de Santo Ildefonso, para resolver as disputas territoriais
resultantes da expansão das fronteiras do Brasil, nos tempos da União das
Coroas Portuguesa e Espanhola [1580-1640], integrando o Real Corpo de
Engenheiros Português.
Na
Colônia, que ainda se encontrava em formação, suas contribuições foram
incontáveis nos campos da construção de Fortes e de levantamentos topográficos,
cumprindo a Missão de desbravar e proporcionar melhores condições de defesa das
fronteiras Norte e Centro-oeste.
Ricardo
Franco desempenhou papel decisivo na consolidação do espaço territorial
brasileiro. Tornou-se responsável pelo levantamento de extensas regiões
fronteiriças explorando mais de 50 Rios das Bacias do Amazonas, do Prata e
mapeando as Capitanias do Grão-Pará, de São José do Rio Negro [atual Amazonas]
e de Mato Grosso.Construiu obras estrategicamente situadas como o Forte
Príncipe da Beira, o Quartel dos Dragões, em Vila Bela, e o Forte de Coimbra.
Durante
9 dias, de 16-24 de setembro de 1801, sob a proteção do incompleto Forte,
Ricardo Franco, liderando 49 soldados e 60 civis apoiados em 110 fuzis e 6
canhões, conseguiu repelir violento e potente ataque da Flotilha de D. Lázaro
de Ribera, Governador de Assunção, composta de 4 galeotas armadas com 12
canhões e guarnecidas por cerca de 900 homens.
Após
prolongado reconhecimento da posição, D. Lázaro de Ribera, ex-governador da
Província de Moxos [atual Bolívia], onde atuara contra o Forte Príncipe da
Beira, convicto de sua superioridade numérica, cerca de 8x1, enviou um “Ultimatum” a Ricardo Franco dando-lhe
uma hora para render-se e entregar Coimbra. Essa inferioridade numérica foi um
estímulo que sempre animou os luso-brasileiros a não abandonarem seus postos e
a defendê-los até ás últimas consequências:
Ou repelir o inimigo ou
sepultarem-se debaixo das ruínas dos fortes cuja defesa lhes confiaram.
A
uma intimação do Comandante espanhol para depor suas armas, Ricardo Franco
respondeu negativamente, com altivez, mantendo-se firme na defesa do
aquartelamento. Sua atitude corajosa inspirou os subordinados a combaterem com
inquestionável coragem. Ao final de uma sangrenta batalha, os soldados
luso-brasileiros frustraram a ação inimiga, preservando o domínio sobre a
fortificação.
O
sul mato-grossense, conservado livre, seria mais tarde incorporado ao Brasil
independente. Em 1802, a Coroa Portuguesa, reconhecida, promoveu Ricardo Franco
ao posto de Coronel e o agraciou com o hábito de São Francisco de Assis,
mantendo-o no Comando do Forte de Coimbra e da Fronteira Sul.
Preocupado
com a defesa dos limites com os espanhóis, implantou destacamentos,
reconstruiu fortes e executou outras obras militares e civis. Combalido por
doenças tropicais, faleceu em 21.01.1809, aos 61 anos. Português de nascimento
conheceu o Brasil como poucos e aprendeu a amá-lo a defendê-lo. (www.dec.eb.mil.br)
Documento
Oficial (1781)
I |
lm° e Exm° Sr. – Pela muito respeitável ordem de V. Exª datada em
26.12.1780, V. Exª nos ordenara que subíssemos o Rio Branco, ou Parimé, e dele
fossemos sucessivamente entrando nos Rios Mau, Tacutu e Pirara, e nas suas
cabeceiras respectivas, e que examinássemos as comunicações, que por aquela
parte poderíamos ter com a Colônia holandesa de Suriname, como também que
serras poderiam haver, ou outras marcas naturais, que pudessem para sempre
servir de raia entre os domínios portugueses e os da sobredita Colônia, assim
como também pela parte de Leste do dito Rio Branco, nos ordenou V. Exª que
buscássemos as fontes dos Rio das Trombetas, e do Rio Urubu, que deságuam sobre
o Amazonas, para, pelo alto das suas vertentes, se conhecer a linha divisória,
que a natureza do País por ali oferece. Acrescentando V. Exª que as mesmas
ordens, com as mesmas circunstâncias deviam dirigir as nossas diligências sobre
outras fontes do Rio Branco, da parte do Poente e do Norte, em que
procurássemos do mesmo modo as serras ou cordilheira que pudesse por ali
determinar os limites da Colônia portuguesa e espanhola, alcançando o
conhecimento da Latitude e Longitude, a que demoram as serras, que fazem para o
Norte as vertentes do Orenoco, e para o Sul as do Rio Negro.
Tendo concluído com o cumprimento de grande parte destes artigos do
plano, que nos dirigia, e a que obedecemos, vamos expor na presença do V. Exª,
na mesma ordem com que os fomos praticando, os exames determinados. Tendo nós
partido desta capital de Barcelos no primeiro de janeiro ([1]),
chegamos à Fortaleza de S. Joaquim do Rio Branco em trinta e um do mesmo,
tendo-nos demorado na Cachoeira Grande deste Rio seis dias, esperando canoas
menores em que nos devíamos transportar, sendo já dali para cima difícil a
navegação para barco maior de cinco remos por banda por espraiar muito o Rio. Nele,
pelas derrotas que sem interrupção fomos fazendo, e observações astronômicas,
achamos bastante que emendar no mapa do Estado, observando muito mais para o
Norte, e para o Poente os lugares notáveis, como bem se vê da presente carta,
que oferecemos com esta participação.
No dia 06.02.1781, nos pusemos em viagem pelos Rios Tacutu e Mau acima,
que por serem menos caudais de águas estes Rios da parte de Leste, era
necessário começarmos por eles antes que a maior seca nos impossibilitasse a
navegação. Com três dias desta chegamos à Foz do Rio Tacutu onde ele da parte
de nascente entra no Rio Mau, a quem dá o seu nome dali para baixo até a
Fortaleza, não obstante ser ele braço do Mau, o qual vai continuando o mesmo
rumo em que navegamos dia e meio até chegar à Boca do Rio Pirara, dentro do
qual pouco mais de légua aportamos, e nos pusemos em marcha de terra para irmos
reconhecer para a parte do Nascente aquele terreno.
Achamos doze léguas em linha reta à direita da Boca do Pirara à margem do
Rio Rupununi, que deságua para o Oceano sobre a costa de Suriname, e depois que
recebe em si o Rio Cipó ou Cibu, toma o nome de Essequibo. Este intervalo do
Pirara ao Rupununi é de campinas alagadas, que em tempo das cheias formam um
Lago contínuo, que por meio de três pequenos varadouros fazem a comunicação por
águas entre o Rio Branco e o dito Essequibo, ou Rupununi, e quase no meio das
ditas campinas está o ponto mais elevado delas, junto do Lago Amacu, que vai
notado com asterisco de carmim na mesma carta que oferecermos, e do qual
principiam as vertentes daqueles pequenos declives para a parte do nascente a
cair sobre o Rupununi, e para poente formam a fonte do Rio Pirara, que deságua
como temos dito para o Mau por ele para o Rio Branco.
Estão estas campinas como fechadas pela parte do Sul com uma alta
cordilheira, que se estende Leste-Oeste coisa de dez léguas, e vai terminar
pela ponta do Poente sobre o Rio Tacutu, e pela região do Norte se veem cinco
cadeias de montes elevados, que vão correndo em grandíssima extensão; e pela
parte do Nascente, ficam também as ditas campinas valadas pelas águas do
Rupununi; o que oferece um sítio, que achamos muito notável para nele segundo
nos adverte o mesmo plano, e ordens de V. Exª se deve estabelecer uma atalaia,
que naquela fronteira vigie sobre as inovações ou pretensões que houverem da
parte dos colonos de Suriname, a qual, com não menor comodidade, se poderá
situar sobre a margem do Rupununi na vizinhança do Igarapé, ou pequeno Rio
Tauarixuru.
Se acaso isto não for contra as pretensões dos ditos holandeses havendo
de atender-se às vertentes, e não à margem Ocidental do Rio Rupununi para os
limites; e no caso de se ali não fazer estabelecimento da mesma Fortaleza de S.
Joaquim se poderão lançar patrulhas sobre as mencionadas campinas de inverno
por águas, e de verão por terra, as quais com grande utilidade do real serviço
e segurança perpétua daquele posto se fariam, introduzindo-se cavalgaduras
para o uso da tropa, vistas as férteis pastagens que oferecem todos os
adjacentes do Rio Branco para a criação e sustento destes amimais, e de todas as
espécies de gado que em poucos anos servirão de grandes recursos para a capital
do Pará, e de total fundo de subsistência para esta do Rio Negro, onde é tão
notória a falta de carnes. (Continua...) (SERRA)
Bibliografia
SERRA, Ricardo Franco de Almeida. Documento Oficial – Brasil – Rio de
Janeiro, RJ – Revista Trimestral de História e Geografia ‒ Volume 06 – Kraus
Reprint, 1844.
Solicito Publicação
(*) Hiram Reis e Silva é Canoeiro, Coronel de Engenharia, Analista de
Sistemas, Professor, Palestrante, Historiador, Escritor e Colunista;
· Campeão do II
Circuito de Canoagem do Mato Grosso do Sul (1989)
· Ex-Professor
do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA);
· Ex-Pesquisador
do Departamento de Educação e Cultura do Exército (DECEx);
· Ex-Presidente
do Instituto dos Docentes do Magistério Militar – RS (IDMM – RS);
· Ex-Membro do
4° Grupamento de Engenharia do Comando Militar do Sul (CMS)
· Presidente da
Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS);
· Membro da
Academia de História Militar Terrestre do Brasil – RS (AHIMTB – RS);
· Membro do
Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS – RS);
· Membro da
Academia de Letras do Estado de Rondônia (ACLER – RO)
· Membro da
Academia Vilhenense de Letras (AVL – RO);
· Comendador da
Academia Maçônica de Letras do Rio Grande do Sul (AMLERS)
· Colaborador
Emérito da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG).
· Colaborador
Emérito da Liga de Defesa Nacional (LDN).
·
E-mail: hiramrsilva@gmail.com.
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