Quinta-feira, 3 de dezembro de 2020 - 08h42
Bagé, 03.12.2020
Porto Velho, RO/ Santarém, PA ‒ Parte LXXI
(Lauro Augusto Andrade Pastor Almeida)
Ecoam no céu
Mil estrondos sem par
Na terra, no ar
Vê-se o progresso abrir seus
véus
E a estrada avançando vai
A selva desbravando até o fim
[...]
E rugem motores
No solo a rasgar,
Enormes tratores
Removem a terra sem parar
E a estrada cresce num olhar
Trazendo a Amazônia ao Brasil.
[...]
E juntos iremos
Na nossa missão
Civis e Soldados
Mostrando a força da união
E a pátria agradecida vai
A todo esse trabalho
enaltecer,
É o Quinto que vai
Se Sem temor, sem parar...
Hurra!
5° BEC - Batalhão Cel Carlos Aloysio Weber
Fonte:www.5becnst.eb.mil.br.
Foi criado pelo Decreto N°
56.629, de 30.07.1965, com sede em Porto Velho-RO, pela extinção do Batalhão de
Serviços de Engenharia, de Campina Grande, PB, e da Comissão de Estradas de
Rodagem N° 5 (CER/5), de Cuiabá, MT.
Instalou-se em dezembro de 1965
no Parque-depósito Central de Material de Engenharia, Triagem, GB.
Deslocou-se para Porto Velho,
onde se instalou definitivamente em 20.02.1966, recebendo os acervos do
Batalhão de Serviços e da CER/5, ambos extintos.
Em Porto Velho, ficou com a Cia
Cmdo e a Cia Eqp Eng, instalando suas Cia E Cnst, respectivamente: 1ª Cia em
Rondônia, 2ª Cia em Abunã e 3ª Cia em Rio Branco, AC. Instalou, também,
residências Especiais em Cuiabá-MT e Parecis, MT.
Em 26.09.1966, recebeu os
encargos administrativos da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré, que a RFFSA passou
para a Diretoria de Vias de Transportes. Instalado em Rondônia desde 1966, o 5°
B E Cnst, pioneiro da Engenharia do Exército na Amazônia, já implantou mais de
1.600 km de rodovias federais em revestimento primário. Dentre o acervo de suas
realizações, figura a consolidação da ligação Porto Velho-Cuiabá, através da
construção da BR-364.
Atualmente desenvolve, através
de convênios com órgãos federais, estaduais e municipais, diversas Obras de
capital importância para o desenvolvimento e manutenção do progresso na
Amazônia.
Sargento Áureo – Um Pioneiro
Eu
e meu filho João Paulo nos deslocamos até a residência do Sgt Áureo, um dos
pioneiros do 5° BEC, para uma rápida entrevista. O portão de sua casa ostenta a
bandeira nacional e no jardim um mastro onde são hasteados diariamente, com a
participação dos familiares, os pavilhões do Brasil e de Rondônia.
O
Áureo nos recebeu, impecavelmente fardado, e contou sua história de vida e
alguns casos hilários de sua passagem pela Força Terrestre, que reproduziremos
em parte:
Meu Coronel, com sua permissão,
meu Coronel!
Nasci em Cruzeiro, SP, onde, nos
7 de setembro, o 5° Batalhão de Infantaria – Regimento Itororó, da Cidade de
Lorena, SP, desfilava. Assistindo aos desfiles, fui sendo contagiado pelo
entusiasmo e vibração dos Soldados do nosso Exército Brasileiro.
Mais tarde, minha família
mudou-se de Cruzeiro para Lorena. Nesta Cidade, tive a oportunidade de me
aproximar do Batalhão. Todos os dias, por volta das onze horas, eu ia até o
Quartel onde companheiros mais velhos já estavam servindo. Passei então a ser
um “boca de rancho”, almoçava com os
militares e depois da refeição ajudava lavando as panelas.
Quando chegou minha idade de
servir, eu já conhecia todos os oficiais do Batalhão. Foram eles que, gostando
do meu trabalho, me incentivaram a servir no então 5° Regimento. Fiz meu
alistamento, inspeção de saúde e me saí muito bem; naquela época eu já
praticava artes marciais.
Alistado, fui destacado para a
Companhia de Petrecho Pesado e destacado para o rancho da Organização Militar,
meu velho conhecido, e volta e meia executava algum trabalho na residência dos
oficiais até ficar, definitivamente, à disposição do General Ernani Moreira de
Castro e responsável pelo Salão Nobre do Regimento.
Um dia, o General Túlio me
chamou e disse que, infelizmente, meu tempo de serviço estava terminando, na
época nove anos, e que, para eu permanecer na Força precisava ser transferido
para o 5° BEC, comandado pelo Coronel Carlos Aloysio Weber, onde eu teria o
privilégio de participar efetivamente do desenvolvimento da Amazônia. O General
Túlio redigiu uma Carta de apresentação para ser entregue ao Coronel Weber e,
na minha despedida, determinou que eu me dirigisse à tropa formada pelos meus
pares e subordinados:
– Meus Cabos e Soldados! O exército é um só – “um por todos e todos por um”. Cheguei à
minha graduação de Cabo graças ao empenho dos senhores que permitiram que eu
levasse a bom termo todas as minhas missões e à sábia orientação de meus
superiores. [...]
Logo em seguida, o Comandante me
entregou uma placa de bronze do 5° RI e determinou que eu desse meu último
comando e me despedisse.
– Atenção a Companhia, Companhia Sentido! [...]
– Atenção a Companhia, em continência à sua
Excelência, General Ernani, Apresentar Armas!
– Com licença, Excelência, sinto-me honrado e
satisfeito de apresentar-me a Vossa Excelência, meu Comandante do 5° RI,
Lorena, com muito entusiasmo e vibração.
– Cabo 149 Áureo, Cabo de Ordens a Vossa
Excelência, peço permissão para retirar-me e dar-lhe um último abraço, já que
estou indo para Porto Velho, RO, trabalhar no desenvolvimento da Amazônia.
[...]
Preparei meu material e embarquei
em um Búfalo da Força Aérea Brasileira, com escala no Rio de Janeiro e depois
direto para Cuiabá. Lá apresentei a tropa ao Coronel Weber, e conheci o Coronel
Aquino, Major Tibério e o Capitão Pastor.
Áureo
acompanhou o Coronel Weber na camionete veraneio, sempre à frente do comboio. O
primeiro grande obstáculo que encontraram, depois de três dias, foi nos areais
de Vilhena onde foi necessário construir pinguelas para poder continuar a
jornada. Em Barracão Queimado, os bueiros construídos precariamente com
tambores de combustível tinham sido levados pelas águas das chuvas. Em alguns
lugares, foi necessário improvisar balsas para a transposição de cursos d’água,
a chamada estrada era apenas um precário e improvisado caminho de serviço. Depois
de uma odisseia de 21 dias, o 5° BEC, finalmente chegou a Porto Velho. Logo
após a chegada, o Coronel Weber
e o Major Tibério, Chefe da Seção Técnica, partiram para uma missão de
reconhecimento mais acurada da BR-364, acompanhados pelo Cabo Áureo.
Sargento Áureo e a Onça do Comandante
O Coronel Weber conseguiu uma
onça e determinou que eu tomasse conta dela. Eu ia até o rancho e conseguia um
pedaço de fígado ou de rim e alimentava o animal. Depois de dois meses, a onça
já me conhecia e permitia que eu entrasse na sua jaula sem problemas.
Seis meses depois de capturada,
no mês de agosto, entrei na gaiola e a onça estava meio alvorotada; quando
coloquei a comida, ela levantou a pata rosnando e eu resolvi sair devagarzinho,
olhando nos olhos dela e conversando com a bichana, sem virar as costas, rumo
ao portão. Se eu virasse, ela certamente me atacaria. Quando cheguei ao portão,
para sair, ela deu o bote. Como faço karatê, meu Coronel, dei um golpe no
pescoço dela e a onça caiu dura e ficou estremecendo no chão. Chamei o Tenente
veterinário e contei a ele o que havia acontecido, dizendo que tinha dado uma
batidinha no pescoço dela.
– Uma batidinha?
– Sim, senhor.
O veterinário examinou
cuidadosamente o animal e disse que ela estava com uma vértebra quebrada, além
de hemorragia interna. Fiquei alarmado, seria expulso do Quartel, era para
tomar conta da onça e acabei matando o bicho. Procurei o Coronel Weber para
explicar o acontecido.
– Cabo Áureo, quer dizer que não teve jeito.
– Meu Comandante, infelizmente eu peço o seu
perdão. A onça veio para cima de mim e eu, ao me defender, bati com a mão no
pescoço dela.
– Não tem importância, vamos partir para outra.
Sargento Áureo e o 5° que vai
No Batalhão, tinha um Soldado
grande, forte, negro que nem carvão, no escuro só apareciam os dentes. Um dia,
ele passou na frente da “Casa da Anita”,
onde as mulheres eram todas de fora, gringas de pele clara e olhos azuis, e
entrou.
O estabelecimento tinha umas
mesas compridas colocadas uma ao lado da outra e o Negro avistou uma gringa
solitária que deveria estar esperando um parceiro e sentou-se do lado dela. A
mulher olhou para aquele negro enorme e perguntou o que ele queria ao que ele
respondeu que queria ficar com ela, e a mulher, enraivecida, disse:
– O que, seu chiclete de onça?
Ele deu-lhe um tapa no rosto e
os outros frequentadores botaram-no para fora. Depois de o identificarem como
praça do 5° BEC, chamaram a patrulha que era comandada por mim. Cheguei logo em
seguida, atirei o Soldado na caçamba, e perguntei:
– O que é que houve?
– É que eu dei uma paradinha na Anita para fazer
um amor e se deu a confusão.
Duas semanas depois ele voltou à
Casa e disse ao entrar:
– Eu estou aqui novamente, mas hoje eu não quero
ficar não.
– Hoje é o 5° que vai.
Entrou chutando as mesas e as
cadeiras e dando porrada em todo mundo que encontrava no caminho enquanto as
mulheres, em pânico, o xingavam. Chegando ao fundo da sala, ele voltou dizendo:
– Agora é o 5° que vem.
E voltou chutando e batendo como
o fizera na entrada.
Sargento Áureo e as Três Marias
Eu estava plantando grama nos
canteiros do Pavilhão de Comando do Quartel do 5° BEC. Uma equipe de vinte
homens retirava grama e outra, com mesmo efetivo, plantava. Carregava a grama e
despejava, de caçamba, no Batalhão para a equipe encarregada de plantar, quando
comecei a notar que o serviço de plantio não estava rendendo. Um dos guerreiros
encarregados do plantio se aproximou e explicou:
– Cabo, quando o senhor volta para pegar mais
grama, os Soldados pulam a cerca da Vila Tupi, onde tem um mato maior, para se
encontrarem com a Maria Batalhão, Maria Regimento e Maria Mela Cocha e ficam na
maior festa, beija daqui, encosta dali.
Sabendo o que estava
acontecendo, joguei a grama para os plantadores e fingi que ia trazer mais uma
carrada, que, em média, demorava quase meia hora. Voltei antes e peguei a
soldadesca no flagrante.
– Opa! Alto lá! Sentido! Então, eu trabalhando
duro, e vocês Soldados e as senhoras aí na maior sacanagem! Não é possível! As
senhoras têm de entender que o meu pessoal está trabalhando. Eu tenho uma
missão a cumprir, não compliquem minha vida. O sentido da coisa é o seguinte:
as senhoras querem “foder”, não
querem? Então, vamos fazer o seguinte: Todas as três para a boleia ([1]) da caçamba.
– Ai Cabo, o senhor “tá” nervoso.
– Mas eu tenho que estar, eu saio para trabalhar
e vocês ficam atrapalhando meu serviço. Atenção equipe de plantio: – equipe, embarcar!
Embarcaram os vinte Soldados na
carroceria e dirigi até a granja do Batalhão onde tem um mato grande.
– Ai Cabo, para onde o senhor vai nos levar.
– Não se preocupem, vocês vão para o Hotel das
Estrelas!
Ao chegar, determinei que as
senhoras desembarcassem, ocupassem posições estratégicas e se posicionassem
adequadamente para o ato. Dirigi-me aos Soldados embarcados e comandei:
– Ordem ao grupamento: desembarcar! Coluna por
três, cobrir!
– Atenção: as senhoras permaneçam na posição
correta, por favor. Os Soldados vão dar uma “trepadinha” com as senhoras. Atenção: quem vai com a loura, aqui;
quem vai com a morena, coluna ali; e quem vai com a morena mais escura, acolá.
– Ordem ao grupamento: retirar o calção!
Atenção: preparar a “bicuda”! Ordem
ao grupamento: começar!
Depois da primeira investida os
soldados perguntaram:
– Cabo: quem foi com a morena pode ir com a
loura; quem foi com a loura pode ir com a morena mais escura, e quem foi com a
morena...
– Atenção outra coluna: revezamento!
O pior meu Coronel é que a noite
as três estavam a postos para mais uma jornada de trabalho.
Solicito Publicação
(*) Hiram Reis e Silva é Canoeiro, Coronel de Engenharia, Analista de
Sistemas, Professor, Palestrante, Historiador, Escritor e Colunista;
· Campeão do II
Circuito de Canoagem do Mato Grosso do Sul (1989)
· Ex-Professor
do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA);
· Ex-Pesquisador
do Departamento de Educação e Cultura do Exército (DECEx);
· Ex-Presidente
do Instituto dos Docentes do Magistério Militar – RS (IDMM – RS);
· Ex-Membro do
4° Grupamento de Engenharia do Comando Militar do Sul (CMS)
· Presidente da
Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS);
· Membro da
Academia de História Militar Terrestre do Brasil – RS (AHIMTB – RS);
· Membro do
Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS – RS);
· Membro da
Academia de Letras do Estado de Rondônia (ACLER – RO)
· Membro da
Academia Vilhenense de Letras (AVL – RO);
· Comendador da
Academia Maçônica de Letras do Rio Grande do Sul (AMLERS)
· Colaborador
Emérito da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG).
· Colaborador
Emérito da Liga de Defesa Nacional (LDN).
· E-mail: hiramrsilva@gmail.com.
Galeria de Imagens
* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – X
Bagé, 20.12.2024 Continuando engarupado na memória: Tribuna da Imprensa n° 3.184, Rio, RJSexta-feira, 25.10.1963 Sindicâncias do Sequestro dão e
Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – VI
Silva, Bagé, 11.12.2024 Continuando engarupado na memória: Jornal do Brasil n° 224, Rio de Janeiro, RJ Quarta-feira, 25.09.1963 Lei das Selvas T
Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – IV
Bagé, 06.12.2024 Continuando engarupado na memória: Jornal do Brasil n° 186, Rio de Janeiro, RJSábado, 10.08.1963 Lacerda diz na CPI que Pressõessã
Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – III
Bagé, 02.12.2024 Continuando engarupado na memória: Jornal do Brasil n° 177, Rio de Janeiro, RJQuarta-feira, 31.07.1963 JB na Mira O jornalista H