Segunda-feira, 7 de dezembro de 2020 - 08h49
Bagé, 07.12.2020
Porto Velho, RO/ Santarém, PA ‒ Parte LXXIII
No dia 20.12.2011, acompanhado do
Comandante 5° Batalhão de Engenharia de Construção (5° BEC) ‒ Batalhão Carlos
Aloysio Weber, Tenente-Coronel da Arma de Engenharia Moacir Rangel Junior,
fizemos uma visita ao General-de-Brigada Ubiratan Poty, Comandante da 17ª
Brigada de Infantaria de Selva (17ª Bda Inf Sl), sediada em Porto Velho, RO,
que entusiasmado com o Projeto Desafiando o Rio-Mar, determinou ao seu chefe de
Comunicação Social que entrasse em contato com a mídia televisiva de Rondônia
para agendar entrevistas conosco.
Porto Velho, RO (21.12.2011)
As ordens do Gen Poty foram cumpridas
à risca e, às sete horas, no jornal da manhã, fomos entrevistados nos estúdios
da TV Globo. Após a entrevista, nos deslocamos imediatamente para o Porto
Graneleiro da Hermasa ([1]) onde
estava ancorado nosso Barco de Apoio (Piquiatuba) com os caiaques a bordo. Por
volta das nove horas, chegaram as equipes da TV Record e SBT que entrevistaram
a mim e a meu filho João Paulo e solicitaram tomadas do deslocamento dos
caiaques no Rio Madeira. Às 11h30 nos apresentamos nos estúdios da Rede TV e,
após a entrevista, agendamos tomadas no Rio Madeira para as dezessete horas.
O Barco a Motor Piquiatuba, do 8°
Batalhão de Engenharia de Construção (8° BEC), deslocara-se de Santarém, PA, a
Porto Velho, RO, cumprindo sua tradicional missão de transporte de tropa e
abastecimento para os destacamentos da Engenharia Militar. Voluntariamente,
apesar de ser um período de festas, a tripulação, do Grupo Fluvial do 8° BEC,
formada pelos Soldados Mário Elder Guimarães Marinho (Comandante do B/M),
Walter Vieira Lopes (Subcomandante do B/M), Edielson Rebelo Figueiredo (Chefe
da Casa de Máquinas) e Marçal Washington Barbosa Santos (cozinheiro), nosso bom
Gourmet, se prontificaram a nos acompanhar neste período em que a embarcação
não tinha nenhuma outra missão agendada.
Partida do Porto da Hermasa, RO
(22.12.2011)
A TV Globo tinha marcado conosco uma
entrevista, antes da largada, para as 06h30 no Porto da Hermasa e arredores. Só
conseguimos partir para nossa primeira jornada às 08h30, três horas além de
minha programação original.
Teríamos, fatalmente, de enfrentar, no
primeiro dia, a canícula amazônica no período da tarde. Parti, preocupado, já
que era a primeira vez que meu filho surfista me acompanhava em uma jornada
desta natureza e este não era seu esporte favorito. A postura no caiaque, a
necessidade de se remar em torno de seis a sete horas por dia eram desafios que
ele teria de vencer no primeiro dia, acrescido do calor vespertino.
Depois da primeira curva à direita, no
Rio Madeira, a presença das dragas de garimpeiros, em busca de ouro, se tornou
uma constante, alguns conjuntos (fofocas) formavam horrendas Vilas onde a
promiscuidade e a falta de cuidado com o meio-ambiente era a tônica. Lembrei-me
da preocupação do IBAMA em proteger os microrganismos que, segundo eles,
infestam os perigosos troncos que descem o Rio Madeira e ameaçam a vida dos
ribeirinhos enquanto o uso indiscriminado do mercúrio nas dragas não sofre qualquer
tipo de controle.
Paramos em um banco de areia, para
descansar depois de remar quinze quilômetros, onde encontramos duas mulheres
contratadas pelos garimpeiros, uma delas se encantou com as tatuagens do João
Paulo. Durante esta breve parada passou, no canal do Rio Madeira, uma garça
branca graciosamente jangadeando um pequeno tronco de madeira. Na segunda
parada, próximo à Ilha dos Mutuns, já por volta das treze horas, percebi que
meu filho começava a sofrer com o calor amazônico. Contatei o pessoal de apoio
e disse que deveríamos achar um local de parada antes das quinze horas, o que
foi feito. Paramos próximo à Comunidade Aliança, seis quilômetros a montante do
local planejado que teria sido alcançado com folga se tivéssemos saído às 05h30.
À tarde, já devidamente embarcados, o
João Paulo teve seu primeiro contato com os famosos banzeiros amazônicos.
À noite, fomos assaltados por um
enxame de pequenos percevejos, tivemos que apagar todas as luzes, deixando
aceso apenas o farolete de popa onde se amontoou uma pululante e disforme massa
marrom de centenas desses pequenos insetos que eram varridos para as águas
periodicamente pelo João Paulo.
Partida da Comunidade Aliança, RO
(23.12.2011)
Pontualmente às
05h30 partimos para nossa nova jornada. Fizemos a primeira parada,
estrategicamente, na Foz do Jamari para abastecer o Piquiatuba de água limpa
para poder lavar nossas roupas e tomar um banho decente. Fizemos a segunda
parada próxima à Ilha das Curicacas e informamos ao pessoal de apoio que o local
de parada, próximo à Comunidade Boa Hora, seria por volta das 11h30.
Foram sessenta
quilômetros percorridos e o meu parceiro surfista se portou com muita
tranquilidade, embora a canoagem não seja a “sua Praia”. O João Paulo e a tripulação foram convidados, por
jovens da Comunidade, para um jogo de futebol na lama enquanto eu permanecia a
bordo digitando o material que seria postado em Humaitá, AM.
Ao entardecer,
enxames de carapanãs nos atacaram, esgotando nosso estoque de repelente.
Recolhemo-nos cedo para fugir do ataque impiedoso dos mosquitos.
Partida da Com. Boa Hora, RO
(24.12.2011)
Partimos à 05h30 para nossa nova
jornada e fizemos nossa primeira parada em um enorme banco de areia, a jusante
da Ilha Botafogo onde os piuns faziam a festa. Como nos dias anteriores, nenhum
sinal de chuva e um Sol causticante. O Mário e o Marçal vieram até nós com um
refrigerante gelado que foi degustado com imensa satisfação. Perguntei ao meu
filho se ele estava em condições de alongar o trajeto em mais ou menos dezessete
quilômetros para atingirmos a Foz do Rio Ji-Paraná (também conhecido como
Machado), ele aquiesceu. A fotografia aérea, do Google Earth, dava a entender
que suas águas eram melhores que as do Madeira, ledo engano. Fizemos uma última
parada próximo à Ilha Assunção e partimos num ritmo forte para o novo objetivo.
Aportamos pouco depois do meio-dia, depois de percorrer setenta quilômetros em
sete horas, incluindo as paradas. À tarde, o João Paulo e a tripulação foram
até a Comunidade de Calama ([2]) adquirir
alguns itens para complementar nossa despensa e, à noite participaram dos
festejos pagãos na última Cidade de Rondônia, só retornando às três horas da
manhã.
Partida para Humaitá, AM (25.12.2011)
Acordei às 04h30 e parti, exatamente
às cinco horas, sem meu parceiro tresnoitado. Havia decidido partir cedo para
evitar a canícula da tarde, já que a jornada seria de mais de sessenta quilômetros.
Parece que São Pedro quis fazer uma
brincadeirinha e a chuva amazônica se estendeu desde minha saída até a chegada,
em Humaitá, às 11h45.
Como ainda era noite, coloquei minha
lanterna de cabeça e percorri a Foz do Ji-Paraná com certa cautela. A
quantidade de peixes, atraídos pela facho de luz, que saltava sobre o caiaque,
batiam no casco, no convés ou em meu corpo me impressionou; se o caiaque fosse
aberto, a refeição para uns dois dias estaria garantida. Ainda era noite quando
adentrei no Estado do Amazonas. Como a chuva fria não dava trégua, decidi não
parar e tocar direto até Humaitá, afinal eu já adotara tal procedimento no Rio
Solimões navegando, sem parar, 108 km de Anamã a Manacapuru.
Em Humaitá, acostei no Piquiatuba que
já estava ancorado no Porto Hidroviário de Humaitá. Os fiscais portuários
autorizaram nossa permanência temporária naquele local até as 22 horas. A
jornada terminara e a chuva amainou e o Sol finalmente apareceu.
Humaitá, AM (25.12.2011)
Disquei o 190 e mais uma vez a
valorosa Polícia Militar do Estado do Amazonas se prontificou em nos apoiar. O
Tenente PM Daniel Melo nos levou até o Quartel do 54° Batalhão de Infantaria de
Selva (54° BIS), Batalhão Cacique Ajuricaba, numa infrutífera tentativa de nos
acomodar no Hotel de Trânsito da Guarnição gratuitamente. Ao retornarmos ao
Piquiatuba, o mesmo já fora transferido para o Porto do Caçote onde
encontramos, também, a lancha do amigo José Holanda, de Itacoatiara.
Decidi passar a noite embarcado. O
Tenente PM Daniel Melo prometeu realizar uma diligência para tentar achar a
pesquisadora Elisabeth Tavares Pimentel cuja tese revolucionária defende a
existência do Rio Hamza.
Solicito Publicação
(*) Hiram Reis e Silva é Canoeiro, Coronel de Engenharia, Analista de
Sistemas, Professor, Palestrante, Historiador, Escritor e Colunista;
· Campeão do II
Circuito de Canoagem do Mato Grosso do Sul (1989)
· Ex-Professor
do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA);
· Ex-Pesquisador
do Departamento de Educação e Cultura do Exército (DECEx);
· Ex-Presidente
do Instituto dos Docentes do Magistério Militar – RS (IDMM – RS);
· Ex-Membro do
4° Grupamento de Engenharia do Comando Militar do Sul (CMS)
· Presidente da
Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS);
· Membro da
Academia de História Militar Terrestre do Brasil – RS (AHIMTB – RS);
· Membro do
Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS – RS);
· Membro da
Academia de Letras do Estado de Rondônia (ACLER – RO)
· Membro da
Academia Vilhenense de Letras (AVL – RO);
· Comendador da
Academia Maçônica de Letras do Rio Grande do Sul (AMLERS)
· Colaborador
Emérito da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG).
· Colaborador
Emérito da Liga de Defesa Nacional (LDN).
· E-mail: hiramrsilva@gmail.com.
[1] Porto Graneleiro da Hermasa: a soja que sai do Mato Grosso e
Rondônia é transportada via terrestre para o Porto da Hermasa em Porto Velho e
descarregada em grandes balsas que descem o Rio Madeira e são armazenadas no
Porto Graneleiro da Hermasa de Itacoatiara que exporta mais de dois milhões e
quinhentas mil toneladas de soja, por ano. Isso diminui o custo do frete em US$
30,00 por tonelada e evita o congestionamento da malha viária do Sudeste.
[2] Colonizadora Calama S.A.: a ocupação sistemática do território de
Rondônia iniciou-se no final da década de 60, com a colonização particular da
Colonizadora Calama S.A.
Galeria de Imagens
* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – X
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