Terça-feira, 8 de dezembro de 2020 - 06h03
Bagé, 08.12.2020
Porto Velho, RO/ Santarém, PA ‒ Parte LXXIV
Não
é um aquífero, que é uma reserva de água sem movimentação. Nós percebemos
movimentação de água, ainda que lenta, pelos sedimentos.
(Valiya Mannathal Hamza)
Não
conseguimos nenhum tipo de apoio em Humaitá além do prestado pela valorosa
Polícia Militar do Estado do Amazonas. Tentamos, em vão, conseguir com os
camaradas de infantaria, pernoite gratuito no Hotel de Trânsito da Guarnição,
contatamos os irmãos da maçonaria local que da mesma forma não nos estenderam a
mão.
Não
achamos a Professora Doutoranda Elisabeth Tavares Pimentel. Elizabeth é
geofísica, coordenadora do curso de Ciências: Matemática e Física do Instituto
de Educação, Agricultura e Meio Ambiente da UFAM de Humaitá, AM.
Sua
tese, sobre o Rio Hamza, apresentada no 12° Congresso Internacional da
Sociedade Brasileira de Geofísica, no Rio de Janeiro, orientada pelo Doutor
Valiya Mannathal Hamza, aponta para a existência de um Rio subterrâneo correndo
sob o Rio Amazonas, desde os Andes até o Oceano Atlântico, a uma profundidade
que pode chegar aos 4 mil metros de profundidade.
Teria
sido um encontro bastante interessante, mas infelizmente, após as diligências
realizadas, gentilmente, pelo Tenente Daniel S. Melo da Polícia Militar
descobriu-se que ela se encontrava na Cidade do Rio de Janeiro e que sua
residência, em Humaitá, fora assaltada. A diligência que tinha como objetivo
agendar uma entrevista com a pesquisadora evoluiu para uma ocorrência policial.
Não desistimos, porém, e deixamos com o Tenente Daniel S. Melo nosso contato
caso ela venha a nos conceder uma entrevista virtual.
Novamente
minha rota se entrelaça com a do amigo José Holanda, de Itacoatiara, AM. No
Porto do Caçote, ancorado no Flutuante Vovó Abigail, se encontrava sua lancha “Rosa Holanda” e sua simpática
tripulação, Comandante Elizeu dos Santos Gonçalves, Marinheiro Fluvial de
Convés (MFC) e o maquinista Khryslley Márcio Fonseca de Souza, Marinheiro
Fluvial de Máquinas (MFM). Márcio mostrou a mangueira que deixara vazar
aproximadamente 600 litros de combustível na viagem de Santarém (20.12.2011)
para Humaitá (22.12.2011) em que conduziam Soldados do 8° Batalhão de
Engenharia de Construção (8° BEC).
Aproveitei
a segunda e terça-feira para colocar em dia o material coletado em Porto Velho,
conhecer a Cidade e adquirir fontes de consulta de escritores locais.
E-Mail
O
Grande Arquiteto do Universo resolveu, através de verdadeiros maçons, me animar
um pouco. A falta de apoio, a frustração dos objetivos propostos para esta
etapa da viagem e a saúde abalada por um forte resfriado, resultado de
navegação contínua de quase seis horas debaixo de chuva, foram amenizados pelas
gentis palavras de um Irmão encaminhadas pelo mano Carlos Afonso Urnau
Athanasio.
Tenho recebido as contadas caminhadas do Coronel Hiram Reis e Silva. É um
braço heroico deste desprezado Brasil de todos nós e que poucos, muito poucos,
com artifícios ou por distração ou mesmo por incompetência nossa e esperteza
deles, se adonaram desta bendita terra de Santa Cruz. Precisamos de homens
valorosos como este Coronel Hiram, para defender cada palmo desta Terra Santa,
que nos foi legada, porque este país, no dizer psicográfico de Chico Xavier,
será, sem dúvida, o Coração do Mundo, o Berço da Paz e a Pátria do Universo.
Que assim seja.
Partida para Manicoré, AM
É
muito melhor arriscar coisas grandiosas, alcançar triunfos e glórias, mesmo
expondo-se à derrota, do que formar fila com os pobres de espírito, que nem
gozam muito, nem sofrem muito, porque vivem nessa penumbra cinzenta
que não conhece vitória nem derrota.
(Theodore Roosevelt)
Nossa
estada em Humaitá não podia ter sido mais decepcionante. Foi compensada, porém,
pelo empenho da tripulação do Piquiatuba e de nossos novos amigos Khryslley
Márcio Fonseca de Souza e Elizeu dos Santos Gonçalves, funcionários do grande
Mestre José Holanda, que procuraram torná-la o mais agradável e produtiva
possível. O irreverente Márcio apelidou meu filho de “Alto Relevo”, em virtude das tatuagens “Maori” que ele orgulhosamente ostenta no braço esquerdo.
Partida de Humaitá, RO (28.12.2011)
A
jornada programada até Manicoré previa sete dias de viagem numa média de
cinquenta e cinco quilômetros por dia. Conversei com meu filho e acordamos
tentar remar sessenta e quatro quilômetros diariamente, o que permitiria
alcançar nosso objetivo em apenas seis dias; para isso teríamos de iniciar os
deslocamentos antes de o Sol nascer, de maneira a fugir da canícula vespertina.
Acordamos
às 04h30, preparamos a tralha, coloquei minha lanterna de cabeça e partimos às
04h40. Cometi um erro fatal ao tentar passar entre o segundo e o terceiro
flutuante do Porto Hidroviário de Humaitá: percebi, muito tarde, um grande
tronco barrando nossa rota, apoiado no segundo flutuador. A proa bateu no
obstáculo e girou o caiaque, deixando-me preso entre correnteza e o tronco. Não
consegui avisar, a tempo, meu filho, que vinha logo atrás, e o caiaque dele,
sem a mesma estabilidade do formidável “Cabo
Horn” da Opium Fiberglass, girou, da mesma forma, e virou. Felizmente o
reflexo do “surfista” falou mais alto
e ele rapidamente saiu do caiaque e se apoiou nos troncos, tentando segurar o “indomável”, o caiaque cedido pelo mestre
Holanda. Perguntei se ele estava bem e mandei que largasse o caiaque que eu o
levaria até a margem. Felizmente apenas pequenas contusões resultaram do choque
dele com os troncos submersos. Começara mal nossa marcha para Manicoré. Ainda
deu tempo de salvar o quite que flutuava à mercê da corrente, este quite consta
de um protetor solar (FPS 50), Salonpas para dores musculares, Andolba para
pequenos cortes, repelente de insetos e cápsulas de guaraná.
Estava
conduzindo, com certa dificuldade, o caiaque do João Paulo para a margem quando
apareceram nossos anjos da guarda: o Soldado Mário Elder G. Marinho, do
Piquiatuba, e o Márcio, da lancha Rosa Holanda, com uma “voadeira” para nos auxiliar. O Márcio ficara observando, do Porto
do Caçote, nossa progressão e alertou a tripulação do Piquiatuba que
desencadeou imediatamente uma operação de salvamento do “Alto Relevo” que caíra n’água. Encontraram o João Paulo se
equilibrando nos troncos e ele lhes informou que estava bem e que eles me
auxiliassem no resgate do caiaque.
O
João Paulo escalou, por um dos cabos de aço da ponte e veio até nós
visivelmente aborrecido, não era para menos. O mais triste, porém, é que todos
estes acontecimentos foram presenciados por dezenas de pessoas que aguardavam
embarque no Porto Hidroviário de Humaitá e apenas uma delas, o vigia, se
apresentou tentando nos ajudar. Já naveguei quase 4.000 km em águas amazônicas
e sempre fui recebido com solidariedade e carinho em todas as comunidades pelas
quais passei e pude sentir o coração generoso do nortista sempre pronto a
estender a mão ao próximo. Humaitá foi, sem dúvida, uma triste e melancólica
exceção à regra. O João Paulo não se abalou e remou como nunca, demonstrando a
determinação e a têmpera e a determinação de um verdadeiro Guerreiro Maori.
Fizemos
a primeira parada na Fazenda Santa Rosa que ostentava uma polêmica placa de
exploração sustentável de madeira. A devastação da mata, sem qualquer tipo de
critério científico, e o gado que perambula pelo local, mostra que o Projeto
não tem nada de sustentável.
O
Piquiatuba se aproximou para que pudéssemos drenar, adequadamente, o caiaque do
João Paulo e providenciar um encosto para suas costas, que se perdera, também,
no acidente. Estávamos envolvidos nesta operação quando se aproximaram dois
esqueléticos e famélicos vira-latas. Eu e o meu filho dividimos o nosso estoque
de bananas com eles e os animais devoraram nosso suprimento com casca e tudo. O
Soldado Walter Vieira Lopes se compadeceu da drástica situação em que se
encontravam os animais e resolveu, ali mesmo, adotar um deles enquanto o
Soldado Marçal Washington Barbosa Santos foi até a cozinha trazer um
considerável reforço de rancho para o outro animal.
O
novo membro da tripulação foi batizado de “Coxinha”
e, no final do dia, já estava de banho tomado e totalmente integrado ao Grupo
Fluvial do 8° BEC. Mais uma demonstração do grau de solidariedade e humanidade
desta fantástica tripulação que tive a honra e o privilégio de conhecer no ano
passado e que servem de exemplo a todos não só no que se refere ao
incontestável aspecto profissional, mas, sobretudo, em relação ao espírito
cristão. Depois de mais de duas horas remando, sem avistar uma Praia para
aportar, alterei a rota e resolvi fazer a segunda parada, na margem esquerda,
na altura da Lagoa Três Casas. A mudança de rota trouxe-nos uma agradável
surpresa: estávamos partindo quando avistamos um canoísta que subia o Rio. Era
o sueco Christian Bodegren que, em setembro de 2001, subira o Rio Orenoco,
penetrara o Canal Cassiquiare, descera o Negro, o Amazonas até a Foz do Madeira
e pretendia navegar até o Guaporé, conduzir o caiaque até o Paraguai e chegar a
Buenos Aires.
O
João Paulo conversou em inglês com o simpático canoísta estrangeiro, informando
que ele poderia deixar seu caiaque no Porto Graneleiro da Hermasa em Porto
Velho e que, nessa Cidade ele deveria procurar o Comandante do 5° Batalhão de
Engenharia de Construção (5° BEC), Tenente-Coronel da Arma de Engenharia Moacir
Rangel Junior que, certamente, iria apoiá-lo no que fosse possível. Antes de
nos despedir do Christian, dei a ele meu repelente de insetos e um tubo de
cápsulas de guaraná.
Solicito Publicação
(*) Hiram Reis e Silva é Canoeiro, Coronel de Engenharia, Analista de
Sistemas, Professor, Palestrante, Historiador, Escritor e Colunista;
· Campeão do II
Circuito de Canoagem do Mato Grosso do Sul (1989)
· Ex-Professor
do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA);
· Ex-Pesquisador
do Departamento de Educação e Cultura do Exército (DECEx);
· Ex-Presidente
do Instituto dos Docentes do Magistério Militar – RS (IDMM – RS);
· Ex-Membro do
4° Grupamento de Engenharia do Comando Militar do Sul (CMS)
· Presidente da
Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS);
· Membro da
Academia de História Militar Terrestre do Brasil – RS (AHIMTB – RS);
· Membro do
Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS – RS);
· Membro da
Academia de Letras do Estado de Rondônia (ACLER – RO)
· Membro da
Academia Vilhenense de Letras (AVL – RO);
· Comendador da
Academia Maçônica de Letras do Rio Grande do Sul (AMLERS)
· Colaborador
Emérito da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG).
· Colaborador
Emérito da Liga de Defesa Nacional (LDN).
· E-mail: hiramrsilva@gmail.com.
Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – X
Bagé, 20.12.2024 Continuando engarupado na memória: Tribuna da Imprensa n° 3.184, Rio, RJSexta-feira, 25.10.1963 Sindicâncias do Sequestro dão e
Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – VI
Silva, Bagé, 11.12.2024 Continuando engarupado na memória: Jornal do Brasil n° 224, Rio de Janeiro, RJ Quarta-feira, 25.09.1963 Lei das Selvas T
Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – IV
Bagé, 06.12.2024 Continuando engarupado na memória: Jornal do Brasil n° 186, Rio de Janeiro, RJSábado, 10.08.1963 Lacerda diz na CPI que Pressõessã
Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – III
Bagé, 02.12.2024 Continuando engarupado na memória: Jornal do Brasil n° 177, Rio de Janeiro, RJQuarta-feira, 31.07.1963 JB na Mira O jornalista H