Terça-feira, 16 de fevereiro de 2021 - 08h25
Bagé, 16.02.2021
Foz do Breu, AC/ Manaus, AM ‒ Parte XXIX
Desembarcou aqui como passageiro comum entre tantos que procuram a
Terceira Margem do Rio entre o Céu e a Terra. (NOGUEIRA)
01 a 05.12.2012 – 7° BEC
Pisando, pela primeira vez, o viril solo acreano, minha memória,
madrugando no passado, perpassou pela epopeia acreana, relembrando o vulto
épico de Plácido de Castro que liderou esta raça de leões permitindo-lhes
possuir um “bem conquistado nobremente
com armas na mão”. Naveguei pelo Rio Purus ao lado do imortal Euclides da
Cunha e, no Juruá, acompanhei o deslocamento do determinado Cel Bellarmino
Mendonça, admirei-me com a altivez e patriotismo do Cel Thaumaturgo de Azevedo
e a serenidade e a coragem do Capitão Francisco D’Ávila que investiu contra o
Posto Militar e aduaneiro peruano ilegalmente instalado à Foz do Amônea. Ao
penetrar no aquartelamento do 7° Batalhão de Engenharia de Construção (7° BEC),
novamente minha mente foi invadida pelas pretéritas lembranças do General
Rodrigo Octávio (RO), “The Right Man in
The Right Place”, que encarou, sem esmorecer, os desafios ciclópicos
propostos pelo “Programa de Integração
Nacional” elaborado pelo governo do eminente Presidente Emílio Garrastazu
Médici.
O General RO selecionou uma tropa de elite para dar cumprimento às ordens
do Presidente. O 7° BEC, Unidade mais Ocidental da gloriosa Engenharia Militar
Brasileira, teve sua origem gloriosa alicerçada na comprovada eficiência do 5°
BEC, comandado, na época, por um memorável ícone militar – Cel Carlos Aloysio
Weber. Fomos recebidos com a costumeira cortesia azul-turquesa pelo seu
Subcomandante Major Frank Alves Nunes, já que o seu Comandante TCel Eng José
Luiz de Araújo dos Santos não se encontrava na Cidade. O apoio recebido
permitiu-nos dar início à Fase que antecede a descida do Juruá propriamente
dita. O Major Frank providenciou, mais tarde, o transporte das embarcações de
Porto Velho, RO, para Cruzeiro do Sul, AC, aproveitando o deslocamento de um
caminhão que retornava de Humaitá, AM, para Rio Branco, AC.
Polícia Militar do Estado do Acre
Aproveitamos nossa estada, em Rio Branco, para conhecer a Cidade, o
artesanato local, realizar pesquisas em bibliotecas e livrarias, além de
contatar autoridades que pudessem nos proporcionar algum tipo de suporte ou
informações à Expedição. Visitamos o Quartel da PM do Acre, e reportamos ao seu
Comandante, Cel PM José dos Reis Anastácio, detalhes da Expedição. O Cel
Anastácio hipotecou-nos total apoio e prontamente comunicou-se com o Comandante
em exercício do Batalhão da PM de Cruzeiro do Sul, Capitão PM Lázaro Moura de
Negreiros para que esse nos apoiasse. Em Cruzeiro do Sul, o Capitão Moura foi
incansável e, graças a seu apoio, conseguimos contatar autoridades,
jornalistas, empresários e personalidades interessantes da região.
A fidalguia deste novo amigo foi muito além das expectativas. Moura mostrou-nos
a Cidade pessoalmente em companhia de sua simpática família proporcionando-nos
um “tour” pela Cidade e arredores.
Mais uma vez a Amazônia brinda-nos com momentos extremamente agradáveis graças
à hospitalidade modelar de um de seus dignos representantes.
A Perfídia
Enquanto éramos recebidos com imensa cortesia em Rio Branco,
desencadeou-se, na surdina, uma torpe calúnia ervada de intriga e difamação
patrocinada pelo Gen Thaumaturgo Sotero Vaz.
O Cmt do CMA Gen Ex Villas Bôas analisava, com o Gen Bda Jaborandy, seu Chefe
do Estado Maior, e o Ten Cel Pastor a melhor forma de apoiar a Expedição,
quando entrou no gabinete o Gen Thaumaturgo, visivelmente alterado, taxando-me
de “mercenário” provocando uma
imediata e intensa reação por parte do Gen Jaborandy, grande defensor do nosso
Projeto.O Gen Villas Bôas, para acabar com as dissensões intestinas do seu “staff” tomou a “decisão nada salomônica” ([1])
de proibir a simples menção de meu nome no âmbito do Comando Militar da
Amazônia.
Ponte da União
A Cidade de Rio Branco tem diversos pontos turísticos, mas
o que mais nos chamou a atenção foi a Ponte da União. A ponte estaiada do Juruá
é a maior ponte do Acre, com 550 metros de extensão e foi construída com
recursos dos Governos Estadual e Federal. Como o Alto Juruá fazer parte de uma
região com alto índice de sismos, a ponte é a única no Brasil que possui uma
estrutura preparada para suportar tais abalos. A iluminação da ponte, projetada
pela Arquiteta Jamile Torman, é refletida magicamente nas águas do Rio Juruá. A
bandeira acreana fixada no pilar central de 70 m de altura também recebeu uma
iluminação especial. O Rio Juruá, adornado por esta joia da engenharia, ficou
mais belo ainda, encantando a todos com suas águas revoltas, tortuosas e
tumultuárias que fluem vigorosamente para a margem direita do Solimões.
05 a 15.12.2012 – 61° BIS
Fomos recebidos pessoalmente no Aeroporto de Cruzeiro do Sul, AC, pelo
Subcomandante do 61° Batalhão de Infantaria de Selva (61° BIS) ‒ Batalhão
Marechal Thaumaturgo de Azevedo, Major Odney de Souza e Silva, que nos
encaminhou para o Hotel de Trânsito do Batalhão. Comunicamos ao CMA a nossa
chegada e fomos surpreendidos com a reviravolta que havia sofrido o Projeto. Só então fomos informados que não seríamos
apoiados na nossa descida do Juruá e que as embarcações que se encontravam
no 5° BEC, Porto Velho, RO, lá permaneceriam. As funestas notícias prenunciavam
uma descida solitária na minha mais longa jornada Amazônica.
Descida do Juruá
É muito melhor arriscar coisas grandiosas, alcançar triunfos e glórias,
mesmo expondo-se à derrota, do que formar fila com os pobres de espírito, que
nem gozam muito, nem sofrem muito, porque vivem nessa penumbra cinzenta que não
conhece vitória nem derrota. (Theodore Roosevelt)
Quando aceitamos o grande Desafio de descer o mais sinuoso Rio do Planeta
– o Rio Juruá – desde a Foz do Breu na fronteira peruana até Manaus,
reconhecendo também uma extensão de 50 a 100 km dos principais afluentes de sua
Bacia, colocamos como impositivos dois pontos:
‒ Passarmos à disposição
do Comando Militar da Amazônia (CMA) pelo período de 13 meses;
‒ Conseguirmos recursos
institucionais para viabilizar uma complexa Expedição a remo numa extensão de
aproximadamente 5.000 km nestes ermos sem fim.
Os recursos, disponibilizados pelo DNIT
(R$ 160.000,00), desde julho ao Comando Militar
da Amazônia (CMA), esbarraram em um
bastião intransponível – a burocracia e a incompetência
de alguns de nossos gestores do CMA.
Apesar da extrema boa vontade dos titulares do DNIT, estes
administradores não foram capazes de viabilizar o empreendimento.
Menos de 10% destes recursos seriam utilizados para adquirir combustível
para a voadeira de apoio (na época o preço da gasolina era de R$ 4,00 o litro
nas comunidades ao longo do Rio Juruá), pernoites nas cidades ao longo do
percurso, alimentação e equipamentos eletrônicos que, ao término da jornada,
seriam entregues ao CMA.
O restante seria usado para a edição dos livros a serem distribuídos,
pelo CMA, por todas Organizações Militares das FFAA e DNIT. Depois do Gen Div
Fraxe nos informar que os recursos para a Expedição tinham caído no famigerado
“restos a pagar”, mais popularmente
conhecido como “exercício findo”
encaminhamos à imprensa um pedido de apoio formal e arrecadamos apenas R$ 423,00.
As despesas decorrentes dos equipamentos adquiridos, passagens aéreas e
do deslocamento de uma equipe, mesmo sob espartano regime, durante mais de
cinco meses percorrendo tortuosos meandros de um curso d’água em uma região
agreste e desabitada são consideráveis. Apesar do apoio irrestrito do
Departamento de Cultura do Exército (DECEx) os recursos prometidos pelo DNIT se
perderam na rota da burocracia, o caiaque e a “voadeira” de apoio ainda não haviam chegado a Cruzeiro do Sul (AC),
e continuavam armazenados nos galpões do 5° BEC, em Porto Velho (RO), por imposição do Comando do CMA.
Solicito Publicação
(*) Hiram Reis e Silva é Canoeiro, Coronel de Engenharia, Analista de
Sistemas, Professor, Palestrante, Historiador, Escritor e Colunista;
· Campeão do II
Circuito de Canoagem do Mato Grosso do Sul (1989)
· Ex-Professor
do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA);
· Ex-Pesquisador
do Departamento de Educação e Cultura do Exército (DECEx);
· Ex-Presidente
do Instituto dos Docentes do Magistério Militar – RS (IDMM – RS);
· Ex-Membro do
4° Grupamento de Engenharia do Comando Militar do Sul (CMS)
· Presidente da
Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS);
· Membro da
Academia de História Militar Terrestre do Brasil – RS (AHIMTB – RS);
· Membro do
Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS – RS);
· Membro da
Academia de Letras do Estado de Rondônia (ACLER – RO)
· Membro da
Academia Vilhenense de Letras (AVL – RO);
· Comendador da
Academia Maçônica de Letras do Rio Grande do Sul (AMLERS)
· Colaborador
Emérito da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG).
· Colaborador
Emérito da Liga de Defesa Nacional (LDN).
· E-mail: hiramrsilva@gmail.com.
· .
[1] “Decisão Salomônica” – Bíblia
Sagrada – Reis III, 16-28.
16 Certo dia duas prostitutas
compareceram diante do rei. 17-21 Uma
delas disse: “Ah meu senhor! Esta mulher
mora comigo na mesma casa. Eu dei à luz um filho e ela estava comigo na casa.
Três dias depois de nascer o meu filho, esta mulher também deu à luz um filho.
Estávamos sozinhas; não havia mais ninguém na casa. Certa noite esta mulher se
deitou sobre o seu filho, e ele morreu. Então ela se levantou no meio da noite
e pegou o meu filho enquanto eu, tua serva, dormia, e o pôs ao seu lado. E pôs
o filho dela, morto, ao meu lado. Ao levantar-me de madrugada para amamentar o
meu filho, ele estava morto. Mas, quando olhei bem para ele de manhã, vi que
não era o filho que eu dera à luz".
22 A outra mulher disse: "Não! O que está vivo é meu filho; o morto é
seu". Mas a primeira insistia: "Não! O morto é seu; o vivo é meu". Assim elas discutiram
diante do rei. [...]
24 Então o rei ordenou:
"Tragam-me uma espada".
Trouxeram-lhe.
25 Ele ordenou: "Cortem a criança viva ao meio e deem metade
a uma e metade à outra".
26 A mãe do filho que estava
vivo, movida pela compaixão materna, clamou: "Por favor, meu senhor, dê a criança viva a ela! Não a mate!" A
outra, porém, disse: "Não será nem
minha nem sua. Cortem-na ao meio!"
27 Então o rei deu o seu veredicto: "Não matem a criança! Deem-na à primeira
mulher. Ela é a mãe".
Galeria de Imagens
* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – X
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