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Hiram Reis e Silva

A Terceira Margem – Parte CLIII - Foz do Breu, AC/ Manaus, AM ‒ Parte XXIX


Imagem 01 - Rio Branco, Acre - Gente de Opinião
Imagem 01 - Rio Branco, Acre

Bagé, 16.02.2021

 

Foz do Breu, AC/ Manaus, AM ‒ Parte XXIX

 

A Terceira Margem! I

 

Desembarcou aqui como passageiro comum entre tantos que procuram a Terceira Margem do Rio entre o Céu e a Terra. (NOGUEIRA)

 

01 a 05.12.2012 – 7° BEC

 

Pisando, pela primeira vez, o viril solo acreano, minha memória, madrugando no passado, perpassou pela epopeia acreana, relembrando o vulto épico de Plácido de Castro que liderou esta raça de leões permitindo-lhes possuir um “bem conquistado nobremente com armas na mão”. Naveguei pelo Rio Purus ao lado do imortal Euclides da Cunha e, no Juruá, acompanhei o deslocamento do determinado Cel Bellarmino Mendonça, admirei-me com a altivez e patriotismo do Cel Thaumaturgo de Azevedo e a serenidade e a coragem do Capitão Francisco D’Ávila que investiu contra o Posto Militar e aduaneiro peruano ilegalmente instalado à Foz do Amônea. Ao penetrar no aquartelamento do 7° Batalhão de Engenharia de Construção (7° BEC), novamente minha mente foi invadida pelas pretéritas lembranças do General Rodrigo Octávio (RO), “The Right Man in The Right Place”, que encarou, sem esmorecer, os desafios ciclópicos propostos pelo “Programa de Integração Nacional” elaborado pelo governo do eminente Presidente Emílio Garrastazu Médici.

 

O General RO selecionou uma tropa de elite para dar cumprimento às ordens do Presidente. O 7° BEC, Unidade mais Ocidental da gloriosa Engenharia Militar Brasileira, teve sua origem gloriosa alicerçada na comprovada eficiência do 5° BEC, comandado, na época, por um memorável ícone militar – Cel Carlos Aloysio Weber. Fomos recebidos com a costumeira cortesia azul-turquesa pelo seu Subcomandante Major Frank Alves Nunes, já que o seu Comandante TCel Eng José Luiz de Araújo dos Santos não se encontrava na Cidade. O apoio recebido permitiu-nos dar início à Fase que antecede a descida do Juruá propriamente dita. O Major Frank providenciou, mais tarde, o transporte das embarcações de Porto Velho, RO, para Cruzeiro do Sul, AC, aproveitando o deslocamento de um caminhão que retornava de Humaitá, AM, para Rio Branco, AC.

 

Polícia Militar do Estado do Acre

 

Aproveitamos nossa estada, em Rio Branco, para conhecer a Cidade, o artesanato local, realizar pesquisas em bibliotecas e livrarias, além de contatar autoridades que pudessem nos proporcionar algum tipo de suporte ou informações à Expedição. Visitamos o Quartel da PM do Acre, e reportamos ao seu Comandante, Cel PM José dos Reis Anastácio, detalhes da Expedição. O Cel Anastácio hipotecou-nos total apoio e prontamente comunicou-se com o Comandante em exercício do Batalhão da PM de Cruzeiro do Sul, Capitão PM Lázaro Moura de Negreiros para que esse nos apoiasse. Em Cruzeiro do Sul, o Capitão Moura foi incansável e, graças a seu apoio, conseguimos contatar autoridades, jornalistas, empresários e personalidades interessantes da região.

 

A fidalguia deste novo amigo foi muito além das expectativas. Moura mostrou-nos a Cidade pessoalmen­te em companhia de sua simpática família proporcionan­do-nos um “tour” pela Cidade e arredores. Mais uma vez a Amazônia brinda-nos com momentos extremamente agradáveis graças à hospitalidade modelar de um de seus dignos representantes.

 

A Perfídia

 

Enquanto éramos recebidos com imensa cortesia em Rio Branco, desencadeou-se, na surdina, uma torpe calúnia ervada de intriga e difamação patrocinada pelo Gen Thaumaturgo Sotero Vaz.

 

O Cmt do CMA Gen Ex Villas Bôas analisava, com o Gen Bda Jaborandy, seu Chefe do Estado Maior, e o Ten Cel Pastor a melhor forma de apoiar a Expedição, quando entrou no gabinete o Gen Thaumaturgo, visivelmente alterado, taxando-me de “mercenário” provocando uma imediata e intensa reação por parte do Gen Jaborandy, grande defensor do nosso Projeto.O Gen Villas Bôas, para acabar com as dissensões intestinas do seu “staff” tomou a “decisão nada salomônica” ([1]) de proibir a simples menção de meu nome no âmbito do Comando Militar da Amazônia.

 

Ponte da União

 

A Cidade de Rio Branco tem diversos pontos turísticos, mas o que mais nos chamou a atenção foi a Ponte da União. A ponte estaiada do Juruá é a maior ponte do Acre, com 550 metros de extensão e foi construída com recursos dos Governos Estadual e Federal. Como o Alto Juruá fazer parte de uma região com alto índice de sismos, a ponte é a única no Brasil que possui uma estrutura preparada para suportar tais abalos. A iluminação da ponte, projetada pela Arquiteta Jamile Torman, é refletida magicamente nas águas do Rio Juruá. A bandeira acreana fixada no pilar central de 70 m de altura também recebeu uma iluminação especial. O Rio Juruá, adornado por esta joia da engenharia, ficou mais belo ainda, encantando a todos com suas águas revoltas, tortuosas e tumultuárias que fluem vigorosamente para a margem direita do Solimões.

 

05 a 15.12.2012 – 61° BIS

 

Fomos recebidos pessoalmente no Aeroporto de Cruzeiro do Sul, AC, pelo Subcomandante do 61° Batalhão de Infantaria de Selva (61° BIS) ‒ Batalhão Marechal Thaumaturgo de Azevedo, Major Odney de Souza e Silva, que nos encaminhou para o Hotel de Trânsito do Batalhão. Comunicamos ao CMA a nossa chegada e fomos surpreendidos com a reviravolta que havia sofrido o Projeto. Só então fomos informados que não seríamos apoiados na nossa descida do Juruá e que as embarcações que se encontravam no 5° BEC, Porto Velho, RO, lá permaneceriam. As funestas notícias prenunciavam uma descida solitária na minha mais longa jornada Amazônica.

 

Descida do Juruá

 

É muito melhor arriscar coisas grandiosas, alcançar triunfos e glórias, mesmo expondo-se à derrota, do que formar fila com os pobres de espírito, que nem gozam muito, nem sofrem muito, porque vivem nessa penumbra cinzenta que não conhece vitória nem derrota. (Theodore Roosevelt)

 

Quando aceitamos o grande Desafio de descer o mais sinuoso Rio do Planeta – o Rio Juruá – desde a Foz do Breu na fronteira peruana até Manaus, reconhecendo também uma extensão de 50 a 100 km dos principais afluentes de sua Bacia, colocamos como impositivos dois pontos:

 

  Passarmos à disposição do Comando Militar da Amazônia (CMA) pelo período de 13 meses;

  Conseguirmos recursos institucionais para viabilizar uma complexa Expedição a remo numa extensão de aproximadamente 5.000 km nestes ermos sem fim.

 

Os recursos, disponibilizados pelo DNIT (R$ 160.000,00), desde julho ao Comando Militar da Amazônia (CMA), esbarraram em um bastião intransponível – a burocracia e a incompetência de alguns de nossos gestores do CMA.

 

Apesar da extrema boa vontade dos titulares do DNIT, estes administradores não foram capazes de viabilizar o empreendimento.

 

Menos de 10% destes recursos seriam utilizados para adquirir combustível para a voadeira de apoio (na época o preço da gasolina era de R$ 4,00 o litro nas comunidades ao longo do Rio Juruá), pernoites nas cidades ao longo do percurso, alimentação e equipamentos eletrônicos que, ao término da jornada, seriam entregues ao CMA.

 

O restante seria usado para a edição dos livros a serem distribuídos, pelo CMA, por todas Organizações Militares das FFAA e DNIT. Depois do Gen Div Fraxe nos informar que os recursos para a Expedição tinham caído no famigerado “restos a pagar”, mais popularmente conhecido como “exercício findo” encaminhamos à imprensa um pedido de apoio formal e arrecadamos apenas R$ 423,00.

 

As despesas decorrentes dos equipamentos adquiridos, passagens aéreas e do deslocamento de uma equipe, mesmo sob espartano regime, durante mais de cinco meses percorrendo tortuosos meandros de um curso d’água em uma região agreste e desabitada são consideráveis. Apesar do apoio irrestrito do Departamento de Cultura do Exército (DECEx) os recursos prometidos pelo DNIT se perderam na rota da burocracia, o caiaque e a “voadeira” de apoio ainda não haviam chegado a Cruzeiro do Sul (AC), e continuavam armazenados nos galpões do 5° BEC, em Porto Velho (RO), por imposição do Comando do CMA.

 

 

Solicito Publicação

 

(*) Hiram Reis e Silva é Canoeiro, Coronel de Engenharia, Analista de Sistemas, Professor, Palestrante, Historiador, Escritor e Colunista;

·      Campeão do II Circuito de Canoagem do Mato Grosso do Sul (1989)

·      Ex-Professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA);

·      Ex-Pesquisador do Departamento de Educação e Cultura do Exército (DECEx);

·      Ex-Presidente do Instituto dos Docentes do Magistério Militar – RS (IDMM – RS);

·      Ex-Membro do 4° Grupamento de Engenharia do Comando Militar do Sul (CMS)

·      Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS);

·      Membro da Academia de História Militar Terrestre do Brasil – RS (AHIMTB – RS);

·      Membro do Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS – RS);

·      Membro da Academia de Letras do Estado de Rondônia (ACLER – RO)

·      Membro da Academia Vilhenense de Letras (AVL – RO);

·      Comendador da Academia Maçônica de Letras do Rio Grande do Sul (AMLERS)

·      Colaborador Emérito da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG).

·      Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional (LDN).

·      E-mail: hiramrsilva@gmail.com.

·      .



[1]    “Decisão Salomônica” – Bíblia Sagrada – Reis III, 16-28.

     16 Certo dia duas prostitutas compareceram diante do rei. 17-21 Uma delas disse: “Ah meu senhor! Esta mulher mora comigo na mesma casa. Eu dei à luz um filho e ela estava comigo na casa. Três dias depois de nascer o meu filho, esta mulher também deu à luz um filho. Estávamos sozinhas; não havia mais ninguém na casa. Certa noite esta mulher se deitou sobre o seu filho, e ele morreu. Então ela se levantou no meio da noite e pegou o meu filho enquanto eu, tua serva, dormia, e o pôs ao seu lado. E pôs o filho dela, morto, ao meu lado. Ao levantar-me de madrugada para amamentar o meu filho, ele estava morto. Mas, quando olhei bem para ele de manhã, vi que não era o filho que eu dera à luz".

     22 A outra mulher disse: "Não! O que está vivo é meu filho; o morto é seu". Mas a primeira insistia: "Não! O morto é seu; o vivo é meu". Assim elas discutiram diante do rei. [...]

     24 Então o rei ordenou: "Tragam-me uma espada". Trouxeram-lhe.

     25 Ele ordenou: "Cortem a criança viva ao meio e deem metade a uma e metade à outra".

     26 A mãe do filho que estava vivo, movida pela compaixão materna, clamou: "Por favor, meu senhor, dê a criança viva a ela! Não a mate!" A outra, porém, disse: "Não será nem minha nem sua. Cortem-na ao meio!"

     27 Então o rei deu o seu veredicto: "Não matem a criança! Deem-na à primeira mulher. Ela é a mãe".

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