Quinta-feira, 18 de fevereiro de 2021 - 09h22
Bagé, 18.02.2021
Foz do Breu, AC/ Manaus, AM ‒ Parte XXXI
Busquei suporte junto às autoridades locais, quem sabe? Se não conseguir,
pagarei o transporte das embarcações de meu próprio bolso como fiz com as
passagens da equipe de apoio. O que mais poderia fazer? As dificuldades da
prestação de contas de Expedições Exploratórias por lugares remotos deveriam
encontrar o devido amparo em Lei. Como exigir de um ribeirinho a Nota Fiscal de
um cacho de banana ou de um bocado de farinha produzida no seu roçado? Como
proceder ao adquirir o combustível na barranca do Rio ou pagar o conserto de um
equipamento danificado?
A impossibilidade de prestar contas de pequenas despesas sem documentos
que as comprovem foi, desde o início, um dos grandes embaraços que impediram
que recebêssemos os recursos prometidos. É interessante observar que as pessoas se surpreendem
com nossas jornadas pelos imensos caudais amazônicos sem se dar conta de que a
fase mais difícil, mais complexa e que exige maior esforço é justamente a que
antecede a Expedição. Afastar-me por cinco ou seis meses de casa, deixando uma
esposa acamada (vítima de uma AVC) que necessita de cuidados especiais 24 horas
por dia, falta de recursos financeiros, dificuldade para o transporte das
embarcações e tantos outros itens que não cabe aqui enumerar representam, sem
dúvida, a fase mais estressante da jornada.
A era das Expedições e das Bandeiras parece ter findado. Minha aflita
alma de desbravador sente uma dor infinda. Poderíamos hoje reverenciar a
memória de tantos naturalistas e pesquisadores de outrora se estes encontrassem
idênticas dificuldades pecuniárias?
Teriam os Chefes das Comissões de Limites de outrora, Barão de Teffé,
Thaumaturgo de Azevedo, Cunha Gomes, Luiz Cruls e tantos outros conseguido
cumprir sua missão se precisassem realizar licitações para comprar ou consertar
seus equipamentos e embarcações ou adquirir gêneros para sua tropa?
Teria nosso grande Marechal da Paz conseguido implantar milhares de
quilômetros de linhas telegráficas se estivesse sujeito à lei das licitações?
Como aperfeiçoar a cartografia atual sem perambular pelos ermos sem fim onde não
se usa a tal da Nota Fiscal?
Alguns desavisados sustentam que a tecnologia substituirá definitivamente
o trabalho de campo. Ledo engano, a nomenclatura e a localização exata dos
acidentes naturais e das povoações precisam ser confirmadas “in loco”. Encontrei, nas minhas longas
jornadas fluviais, Comunidades com nomes trocados ou demarcados a diversos
quilômetros do local real nos mapas do IBGE e DNIT. Aos céticos eu convido a
verificar pessoalmente a Cidade de Tamaniquá, margem direita do Solimões, 7 km
a jusante da Foz do Rio Juruá, que no mapa do DNIT está representada a montante
da dita boca ou ainda a denominação do Rio Jaquirana como Javari. Por isso
nossos mapas institucionais apresentam tantas falhas! Como aperfeiçoá-los se
não se consegue equacionar estes intermináveis problemas burocráticos?
Uma equipe pequena com equipamentos relativamente simples
pode corrigir esses pequenos erros, percorrendo trilhas e Rios e entrevistando
a população local, mas às autoridades só interessam projetos de alto custo,
desde que possam justificar seus gastos dentro das normas legais.
Prossiga na Missão! (Gen Ex Silva e Luna)
O desânimo começava a querer tomar conta de todo o meu ser quando do
recente pretérito uma voz tonitruante vociferou: Prossiga
na Missão! Aqueles que me conhecem sabem que a palavra desistir nunca fez
parte do meu cotidiano. Felizmente a experiência, patriotismo e boa vontade
prevaleceram e foram, finalmente, afastadas de vez as brumas que toldavam o
horizonte e pouco a pouco pude vislumbrar a “Terceira Margem”.
Nas tuas águas
afogo meus desesperares, meus desencantos, meus amores sofridos. No
aconchegante embalo de tuas ondas encontrei forças para perseverar e enfrentar
minhas angústias e meu desânimo. Tua imensidão me abraça e conforta, tuas
tranquilas águas me acalmam e me aproximam da Terceira Margem. Tuas águas
revoltas mostram a rota da humildade que devo seguir e a névoa que te cobre nas
frígidas manhãs de inverno trazem sinais de esperança nos horizontes que aos
poucos se revelam.
(Hiram Reis)
Há mais de dois anos, o 8° BEC tem-nos apoiado Mar. Desta feita, o
Tenente-Coronel Sérgio Henrique Codelo, além de providenciar o transporte do
caiaque e de uma voadeira de apoio, permitiu que dois membros de seu Grupo Fluvial
participassem da Expedição.
Às 13h30, de 07.12.2012, desembarcaram em Cruzeiro do Sul os valorosos
nautas MÁRIO Elder Guimarães Marinho e MARÇAL Washington Barbosa Santos.
(Vinicius de Moraes)
Haverá na face de todos um
profundo assombro e na face de alguns, risos sutis cheios de reserva.
Muitos se reunirão em
lugares desertos e falarão em voz baixa em novos possíveis milagres como se o
milagre tivesse realmente se realizado.
Muitos sentirão alegria. Porque
deles é o primeiro milagre. Muitos sentirão inveja e darão o óbolo do fariseu com ares humildes.
Muitos não compreenderão,
porque suas inteligências vão somente até os
processos e já existem nos processos tantas dificuldades…
Alguns verão e julgarão com
a alma, outros verão e julgarão com a alma que
eles não têm, ouvirão apenas dizer…
Será belo e será ridículo.
Haverá quem mude como os ventos, e haverá quem permaneça na pureza dos rochedos.
No meio de todos eu ouvirei
calado e atento, comovido e risonho escutando verdades e mentiras, mas não dizendo nada.
Só a alegria de alguns
compreenderem bastará, porque tudo aconteceu para que eles compreendessem que as águas mais turvas contêm, às vezes, as
pérolas mais belas.
Solicito Publicação
(*) Hiram Reis e Silva é Canoeiro, Coronel de Engenharia, Analista de Sistemas,
Professor, Palestrante, Historiador, Escritor e Colunista;
· Campeão do II
Circuito de Canoagem do Mato Grosso do Sul (1989)
· Ex-Professor
do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA);
· Ex-Pesquisador
do Departamento de Educação e Cultura do Exército (DECEx);
· Ex-Presidente
do Instituto dos Docentes do Magistério Militar – RS (IDMM – RS);
· Ex-Membro do
4° Grupamento de Engenharia do Comando Militar do Sul (CMS)
· Presidente da
Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS);
· Membro da
Academia de História Militar Terrestre do Brasil – RS (AHIMTB – RS);
· Membro do
Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS – RS);
· Membro da
Academia de Letras do Estado de Rondônia (ACLER – RO)
· Membro da
Academia Vilhenense de Letras (AVL – RO);
· Comendador da
Academia Maçônica de Letras do Rio Grande do Sul (AMLERS)
· Colaborador
Emérito da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG).
· Colaborador
Emérito da Liga de Defesa Nacional (LDN).
· E-mail: hiramrsilva@gmail.com.
Galeria de Imagens
* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – X
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