Terça-feira, 2 de março de 2021 - 06h02
Bagé, 02.03.2021
Foz do Breu, AC/ Manaus, AM ‒ Parte XXXIX
Aplicação é Indolor e os Efeitos Imediatos
Fonte: www.xamanismoancestral.com.br
A coleta da substância da rã é feita sem machucá-la, no tempo certo e na
lua certa. Conhece-se o animal pelo canto. Logo que a secreção é retirada, ele
é devolvido à mata. Após seis meses, a rã pode ser reutilizada. Na aplicação
não se utilizam agulhas. São feitos os pontos para introduzir a vacina no
organismo com um cipó em brasa [lembra um incenso], fazendo uma leve escamação
na pele. Em contato com a pele, retira um pedaço pequeno, deixando a circulação
exposta, onde é aplicada a substância. O cipó usado é anti-inflamatório e, após
a aplicação, não são necessários cuidados especiais, pois a cicatrização dos
pontos é rápida. O tratamento é composto de 3 aplicações com intervalo de 30
dias.
Pesquisa “in loco”
Vídeo: youtu.be/iZ4q3hEVhW0
O
Soldado Délcio Ubim Tesquim, do 61° BIS e membro da Terra Indígena Puyanawas
[Dukuda Kayapaika], Município de Mâncio Lima, apresentou-nos ao Pajé José Luiz
[Puwẽ].Infelizmente, não conseguimos realizar a aplicação da Vacina do sapo na
quarta-feira, 02.12.2013, como era nossa intenção, o Pajé afirmou que tinha
usado seu último estoque da secreção e agendamos, então, para o dia seguinte.
No
dia, 03.12.2013, Chegando cedo à Aldeia, o Pajé José Luiz, devidamente
paramentado, levou-nos até a Arena, conhecida por eles como “Casa, Floresta de Todos Nós” [Dimanã Ẽwê
Yubabu] onde realizam diversos eventos culturais, entre eles os “Jogos da Celebração”.
Eu
e o Marçal fomos orientados a beber goles generosos de Caiçuma ([1]).
Sou abstêmio convicto, mas o Pajé garantiu que a bebida tinha um teor alcoólico
bastante baixo e fazia parte do ritual, por isso, bebi. Após a ingestão da
bebida, fomos levados por uma trilha para o interior da mata onde ingerimos
mais caiçuma. O Soldado Tesquim foi encarregado de fazer as tomadas das cenas.
O Pajé preparou um cipó-titica ([2])
e com ele em brasa somente aproximou-o de meu braço, fazendo cinco aplicações
com o intuito de remover parte da pele, o processo foi totalmente indolor já
que o cipó é um poderoso analgésico.
Após
isso, adicionou um pouco de água a uma pequena espátula de madeira onde se
encontrava a secreção do Kampũ. Passou então uma pequena porção da mistura em
cada um dos cinco pontos preparados do braço esquerdo.
O
Soldado Tesquim, nesse momento, aproximou-se dizendo que a máquina estava sem
memória para continuar as gravações. Eu tinha esquecido de deletar as
fotografias anteriores, tentei removê-las, mas o efeito da vacina já começara a
agir, passei a máquina para o Marçal que limpou a memória toda, por isso
perdemos a gravação da primeira parte do ritual.
Fui
orientado pelo Pajé a me deitar nas palhas que haviam sido colocadas para isso
e literalmente apaguei, não sei como cheguei até lá. Comecei a vomitar e o Pajé
e seus assistentes, Isa e Xĩdu procuraram me deixar sentado. Só fiquei sabendo
disso, depois, pelas gravações. Durante todo o tempo, tivemos acompanhamento
constante do Pajé e de seus assistentes. Volta e meia ele vinha até nós e lançava
sobre nossos corpos a fumaça do cachimbo. Os mesmos procedimentos foram
aplicados ao Marçal que teve uma reação muito melhor que a minha.
Levei
trinta e dois minutos para ter condições de me levantar, depois de ter vomitado
diversas vezes.
Fomos
levados então para tomar um banho nas águas geladas do Igarapé Traíra. Foi um
banho revigorante após o qual nos sentimos em condições de voltar à Aldeia. Na
casa do Pajé experimentei o rapé já que, desde o ritual, saía de minhas narinas
uma abundante secreção. Ficamos conversando sobre a cultura dos nativos e de
como as novas religiões trazidas para as Aldeias pelos Padres e Pastores vêm
determinando a perda de identidade dos povos. A esposa do Pajé, a Sra. Awĩ Vari
(Mulher Sol), se prontificou a fazer uma pintura de jenipapo no meu braço
direito e no do Marçal.
Embora
não tenha sentido nenhuma melhora aparente, a experiência bastante interessante
que guardaremos com carinho por toda a vida, mas, muito além disso, foi
importante reconhecer no jovem casal dois guerreiros que trabalham e lutam para
manter viva sua cultura e a identidade de seu povo.
Potencial Econômico da Biodiversidade
O
Brasil ocupa o primeiro lugar em biodiversidade do globo terrestre mas, mesmo
assim, estimativas do IBAMA indicam que menos de 1% das espécies brasileiras
são conhecidas pela ciência e que provavelmente grande parte delas estarão
extintas antes de terem sido descobertas ou analisadas pelos pesquisadores. A
biotecnologia é uma opção importante de desenvolvimento sustentável na região
amazônica que, além de justificar a preservação dos biomas naturais, vai
alavancar o conhecimento sobre a sua biodiversidade. Vejamos o artigo sobre “Biodiversidade e Desenvolvimento Sustentável”
elaborado por Leonel Graça Generoso Pereira, Maurício Amazonas e Bruno
Filizola.
No século XXI, o mercado mundial abre perspectivas totalmente inovadoras,
nas quais se direciona grande esforço na busca de novos produtos para fins
medicinais, cosméticos, suplementos nutricionais, produtos agrícolas, entre
outros, voltados ao prolongamento da vida com qualidade.
Exemplos dessas inovações não faltam. Só em 1998, os medicamentos
movimentaram 300 bilhões de dólares em todo o mundo, sendo que 40% dos produtos
têm origem direta ou indiretamente de fontes naturais.
No Brasil, as vendas atingiram a marca de 11 bilhões de dólares, havendo
ainda um espaço enorme para ampliação desse mercado. O Instituto de Pesquisa
Econômica Aplicada [IPEA] estimou em pelo menos 2 trilhões de dólares o valor
potencial do banco genético brasileiro.
Só na floresta tropical, pesquisas recentes apontam para um potencial de
mais de trezentos novos bioprodutos, derivados de produtos naturais
disponíveis. Dados da Organização Mundial de Saúde apontam para a utilização de
plantas na cura de enfermidades por parte de 85% da população mundial [cerca de
4 bilhões de pessoas].
Cerca de 20% de todo o faturamento das empresas de produtos farmacêuticos
é empregado na descoberta de novas drogas. Dentre estas, o mercado de produtos
de higiene pessoal, perfumaria, cosméticos, principalmente no que se refere às
lifestyles drugs, drogas que reúnem saúde e rejuvenescimento, vem apostando
alto nas inovações, especialmente na diversificação de insumos naturais
provenientes das florestas tropicais.
O faturamento nacional desse setor atingiu, em 1999, a marca dos 12
milhões de dólares. Dentro desse processo, os produtos farmacêuticos de origem
natural ganham terreno e já representam 17% do mercado mundial.
As florestas tropicais úmidas são, também, ricas fontes de
microorganismos, fontes potenciais de novos compostos de ação antibiótica e de
drogas imunodepressoras, as quais, entre outros importantes resultados,
aumentam consideravelmente o grau de sucesso de transplantes de órgãos. Outra
área de interesse é a pesquisa de toxinas encontradas em venenos e peçonhas de
animais.
No escritório de Patentes do Governo dos Estados Unidos, foram
registradas, recentemente, diversas patentes de toxinas de aranhas e
escorpiões, sendo algumas de bioinseticidas seletivos, princípios
neurobloqueadores e substâncias terápicas para doenças cardíacas; além de
registros de patente de toxinas de serpentes, sendo a maioria voltada para o
uso em terapias de controle de pressão arterial.
Solicito Publicação
(*) Hiram Reis e Silva é Canoeiro, Coronel de Engenharia, Analista de
Sistemas, Professor, Palestrante, Historiador, Escritor e Colunista;
· Campeão do II
Circuito de Canoagem do Mato Grosso do Sul (1989)
· Ex-Professor
do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA);
· Ex-Pesquisador
do Departamento de Educação e Cultura do Exército (DECEx);
· Ex-Presidente
do Instituto dos Docentes do Magistério Militar – RS (IDMM – RS);
· Ex-Membro do
4° Grupamento de Engenharia do Comando Militar do Sul (CMS)
· Presidente da
Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS);
· Membro da
Academia de História Militar Terrestre do Brasil – RS (AHIMTB – RS);
· Membro do
Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS – RS);
· Membro da
Academia de Letras do Estado de Rondônia (ACLER – RO)
· Membro da
Academia Vilhenense de Letras (AVL – RO);
· Comendador da
Academia Maçônica de Letras do Rio Grande do Sul (AMLERS)
· Colaborador
Emérito da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG).
· Colaborador
Emérito da Liga de Defesa Nacional (LDN).
· E-mail: hiramrsilva@gmail.com.
[1] Caiçuma: não perguntei como eles preparavam a
bebida, mas, normalmente, as mulheres da Comunidade, depois de cozinharem a macaxeira,
reúnem-se para a mastigarem, colocando a mistura em um recipiente feito de
argila. A massa sofre fermenta e apresenta, no final do processo, um sabor
levemente adocicado, azedo e de textura e cor semelhante ao leite. Quanto maior
o tempo de maturação do produto maior seu teor alcoólico.
[2] Cipó-titica: é da espécie botânica Heteropsis
flexuosa, encontrada na Amazônia, nas áreas de terra firme. Quando adulto, o
caule grosso, lenhoso, resistente e durável, é utilizado na indústria moveleira
e no artesanato.
Galeria de Imagens
* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – X
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