Quinta-feira, 4 de março de 2021 - 09h58
Bagé, 04.03.2021
Foz do Breu, AC/ Manaus, AM ‒ Parte XLI
Mar Português
(Fernando Pessoa)
Com duas mãos – o Ato e o Destino –
Desvendamos. No mesmo gesto, ao céu
Uma ergue o fecho trêmulo e divino
E a outra afasta o véu.
Chegamos
a remar quase 100 km em um único dia, tendo em vista os grandes vazios
demográficos do Rio Juruá e as poucas pesquisas que aí tivemos oportunidade de
realizar. As margens inundadas e pródigas em piuns determinaram uma mudança de
rotina: somente aportaríamos no nosso destino, depois de remar uma média de
08h30 diárias, ou quando precisássemos coletar informações sobre as
Comunidades.
A
ingestão d’água ou alimento foi feita no talvegue do Rio com o propósito de
evitar, em parte, o assédio desses terríveis insetos. As Comunidades
ribeirinhas são formadas por verdadeiros heróis e na acepção literal da palavra
e não naquela que a mídia sensacionalista prima em empregar. Os “heróis midiáticos” não seriam capazes de
suportar uma semana sequer o desafio cotidiano das barrancas da Bacia do Juruá.
A
histórica insalubridade da região, agravada pela falta de políticas públicas de
longo prazo que melhorem as condições de vida da população tem provocado um
êxodo contínuo para os grandes aglomerados urbanos, o grande número de
eleitores concentrados nessas regiões faz com que os politiqueiros de plantão
não se preocupem com a rarefeita população marginal de cujo voto não dependem,
absolutamente, para se eleger. A Amazônia precisa com urgência de um Órgão que
trate de suas endêmicas e seculares questões. Carece de planos plurianuais e
não de medidas emergenciais que atendem apenas as necessidades eleitoreiras
momentâneas de seus idealizadores e que não solucionam os problemas que se
arrastam há décadas. Quero deixar aqui patente meu apreço por estes homens e
mulheres que nos acolheram no seio de suas casas e Comunidades, partilharam
suas refeições conosco, nos contaram suas histórias de vida e ouviram
emocionados nossos relatos conquistando definitivamente nossos corações e
mentes.
Movimento Pró-Acre
A
proximidade física de Guajará e de Ipixuna, Municípios do Sul do Amazonas,
criaram uma dependência extrema ao Estado do Acre através de Cruzeiro do Sul,
ligado ao resto do país, ainda que precariamente, pela BR-364. A distância dos
grandes centros do Estado do Amazonas, a dificuldade de atendimento às questões
sanitárias e educacionais agravadas pelos problemas de abastecimento na
estiagem, vem estimulando um movimento sutil mas determinado que pretende que
os Municípios de Guajará e Ipixuna venham a integrar o Acre e não o Amazonas.
É
curioso verificar que um Estado que tanto lutou para que o Acre fosse anexado
ao seu território se veja agora envolvido num processo que coloca em risco sua
própria integridade.
09.01.2013 ‒ Ipixuna, AM
Pela
primeira vez desde que iniciamos nossas amazônicas Expedições, estamos
encontrando sérias dificuldades logísticas e consequentes implicações
financeiras. A ausência de um suprimento de fundos para arcar com as despesas
de combustível com a lancha de apoio tem sido o item mais preocupante. Felizmente,
em Ipixuna, a promessa feita pelo empresário Sr. Abraão Cândido, em Manaus, AM,
se concretizou e, além de conseguirmos autorização para aportar nossas
embarcações no seu porto flutuante, fomos abastecidos com 115 litros de
gasolina (R$ 460,00) gratuitamente.
Estes
“ermos sem fim” determinam que só
tenhamos a possibilidade de abastecer daqui a 570 km em Eirunepé, dificuldade
que se estende até a Foz do Juruá. A quantidade de combustível que precisa ser
carregada a bordo aumenta consideravelmente o consumo do motor de popa. Este
fator acrescenta uma dificuldade maior ainda a essa já tão complexa e difícil
missão de descer de caiaque os quase 3.000 km do Juruá e os 900 km de sua Foz,
pelo Solimões, até Manaus.
Mais
uma vez agradecemos à pronta e gentil acolhida, em Ipixuna, de nossos caros
amigos da Polícia Militar do Estado do Amazonas, na pessoa do seu Comandante o
Primeiro Tenente Rodney Barros Ferreira, que providenciou hotelaria, abrindo
mão de seu próprio quarto no hotel e o de um de seus auxiliares para nos
acomodar, além de providenciar três refeições diárias aos membros da Expedição
durante esses dois dias de permanência na sua Cidade. Faço votos para que em
Eirunepé tenhamos a ventura de encontrar outros amigos de mesmo quilate.
Solicito Publicação
(*) Hiram Reis e Silva é Canoeiro, Coronel de Engenharia, Analista de
Sistemas, Professor, Palestrante, Historiador, Escritor e Colunista;
· Campeão do II
Circuito de Canoagem do Mato Grosso do Sul (1989)
· Ex-Professor
do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA);
· Ex-Pesquisador
do Departamento de Educação e Cultura do Exército (DECEx);
· Ex-Presidente
do Instituto dos Docentes do Magistério Militar – RS (IDMM – RS);
· Ex-Membro do
4° Grupamento de Engenharia do Comando Militar do Sul (CMS)
· Presidente da
Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS);
· Membro da
Academia de História Militar Terrestre do Brasil – RS (AHIMTB – RS);
· Membro do
Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS – RS);
· Membro da
Academia de Letras do Estado de Rondônia (ACLER – RO)
· Membro da
Academia Vilhenense de Letras (AVL – RO);
· Comendador da
Academia Maçônica de Letras do Rio Grande do Sul (AMLERS)
· Colaborador
Emérito da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG).
· Colaborador
Emérito da Liga de Defesa Nacional (LDN).
· E-mail: hiramrsilva@gmail.com.
Galeria de Imagens
* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – X
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