Segunda-feira, 15 de março de 2021 - 09h26
Bagé, 15.03.2021
Foz do Breu, AC/ Manaus, AM ‒ Parte XLVIII
Itamarati, AM ‒ Carauari, AM ‒ Juruá, AM I
A
passagem por Carauari, AM, foi muito gratificante. Desde nossa chegada até a
partida, os Policiais Militares, comandados pelo 2° Ten PM Alain Nalon Ferreira
de Menezes, do 5° Grupamento de Polícia Militar, não pouparam esforços para
tornar a nossa permanência na pequena, mas muito simpática Cidade, a mais
agradável possível.
Através
do Venerável Santiago e do Ten Alain, conhecemos o Prefeito Chico Costa que nos
concedeu uma interessante entrevista e proporcionou-nos gratuitamente a estada
no Hotel Monteiro e alimentação no Restaurante Bom Gosto.
Chico Costa foi criado na
Comunidade Horizonte, Carauari, AM, até os doze anos de idade, quando partiu
para Tefé, para dar continuidade aos seus estudos. Em Tefé, foi aprovado em
concurso para o INCRA onde trabalhou durante um ano no Instituto até decidir ir
para Manaus concluir o segundo grau. Lá iniciou um curso superior que foi
interrompido ao ser aprovado, novamente, em concurso público.
Retornou a Carauari dando os
primeiros passos na vida pública. Ausentou-se novamente do Município de
Carauari durante 16 anos e, ao retornar, concorreu, pela primeira vez, à
prefeitura. O dinâmico Prefeito exerce, hoje, seu 2° mandato. (Chico Costa)
Na
véspera de nossa partida, realizamos, de forma expedita, tendo em vista a
exiguidade do tempo disponível, o cálculo das áreas dos diversos bairros da
Cidade. Poderíamos ter realizado um trabalho mais acurado se o tivéssemos
realizado a pé e não motorizado como o foi. O Sd PM Charly Mota Fernandes, que
dirigiu a viatura da PM, conhecia perfeitamente o Plano Diretor da Cidade, mas
esbarrou em um sério obstáculo técnico – as chuvas tornaram o acesso a algumas
ruas impraticável, teríamos de fechar o cálculo utilizando os resultados
apurados pelo meu GPSmap 62sc da Garmin acrescidos de um pequeno percentual
estimado para compensar.
O
Venerável José Santiago Magalhães, da Loja Maçônica Cândido Honório Soares
Ferreira n° 30, do Oriente de Carauari, AM, realizou conosco um “tour” pela Cidade que só não foi
completo devido às péssimas condições da estrada que liga Carauari ao Porto do
Gavião no Juruá, construído próximo à Comunidade do Gavião. O Santiago
tornou-se mais um de nossos caros amigos investidores já que os membros de sua
Loja brindaram-nos com alguns gêneros alimentícios necessários para nossa nova
etapa.
Carauari,
na sua origem, foi construída às margens do Juruá mas, com o passar do tempo, o
tumultuário Rio resolveu procurar outros rumos e hoje a mesma está assentada em
um grande e assoreado Lago que permite o acesso de embarcações maiores apenas
na época das alagações. A construção do Porto à margem esquerda do Juruá, na
região de Gavião, viabiliza o acesso de mercadorias à Cidade no verão amazônico,
desde que a estrada, de aproximadamente 8 km, apresente condições de
trafegabilidade.
Mais
uma vez observamos que o Porto, localizado em uma curva, suporta toda a
impetuosidade das águas do Juruá que incidem sobre o local e que acarretarão,
futuramente, vultosos recursos para a sua manutenção além de exigir dos
práticos e pilotos muita perícia para aportar suas embarcações em pleno inverno
amazônico.
08.02.2013 – Carauari – Comunidade Concórdia
Acordamos
cedo, telefonamos para o 190 e imediatamente uma viatura da PM estava a postos
para nos levar até o porto. O Mário tinha deixado as três embarcações em um
flutuante ancorado no meio do Lago de Caruari. Partimos com a ideia fixa de
percorrer um Furo que nos pouparia o esforço de navegar novamente no extenso
braço do Lago percorrido na chegada. Não tivemos dificuldade em achar a entrada
do Furo mas, mais adiante, por estas coisas do destino, eu e o Marçal
enveredamos por um extenso e tortuoso descaminho que era quase tão longo quanto
a rota original. Quando chegamos novamente ao Juruá, na altura da Comunidade
Gavião, o Mário nos aguardava aflito há mais de 90 minutos. Nossa pequena
aventura não abreviou distâncias e o tempo, mas valeu pelas belas imagens dos
igapós infindos, pelos Lagos de águas negras, pelas imensas bromélias que
enganchadas no alto dos galhos ostentavam orgulhosamente suas flores. Na
oportunidade, passamos por enormes bandos de uacaris ([1])
que faziam acrobacias na copa das árvores despreocupados com os dois canoístas
que navegavam muito abaixo deles.
O
Mário nos aguardava na Comunidade Vila Nova de olho no Porto do Gavião e, tão
logo aportamos, veio juntar-se a nós. A progressão foi tranquila e ancoramos,
por volta das 14h00, na Comunidade Concórdia ([2])
depois de navegar 91 km. Verificamos com os ribeirinhos que nenhuma das três
próximas Comunidades em que tínhamos planejado pernoitar antes de chegar a
Juruá, “confirmadas” em Carauari,
realmente existia. Reprogramamos nosso planejamento, cientes da dificuldade de
alcançar a cidade de Juruá em apenas cinco dias.
09.02.2013 – Com. Concórdia – Casa Abandonada
Partimos
cedo antes do alvorecer e, mais uma vez, constatamos uma série de erros nos
mapas do DNIT. Parece que a localização das Comunidades no Mapa Multimodal
foram feitas apenas no Cartório dos Municípios sem a devida checagem através
dos trabalhos de campo. Antigos seringais extintos há mais de cinco décadas lá
estão, pequenas Comunidades são referenciadas enquanto as maiores ficaram de
fora, além de apresentar nomes e localizações erradas.
Paramos
na Comunidade Uniãozinha (região onde se localizava o antigo Seringal União) e
fingi não ter notado que o morador local tinha ido até sua moradia buscar uma
espingarda. Passado o impacto inicial, em que mais uma vez nos tomavam por
bandoleiros ou traficantes, ele foi esclarecendo uma a uma nossas indagações
sobre as próximas Comunidades e suas respectivas distâncias, em praias, é
claro. Íamos procurar a residência de um compadre seu, Sr. Pedro Glicério, que
morava em uma Comunidade abandonada.
Procurando
evitar problemas como os que aconteceram em Imperatriz, resolvi, doravante,
despachar o Mário à frente quando faltassem uns 15 km para atingir nosso
objetivo evitando que nos fechassem as portas novamente. O Mário trocou o motor
rabeta de 13 Hp pelo 40 Hp e partiu célere para fazer os devidos arranjos para
nosso estacionamento.
Como
já tínhamos remado mais de 60 km, resolvi parar em uma casa abandonada onde
três pescadores de Carauari estavam acantonados, 27 km à jusante da extinta Comunidade
de Caititu e próxima de uma tal Comunidade da Campina, segundo o mapa do DNIT,
e que nunca existiu. O Marçal improvisou o fogo no que restava de um fogão de
barro para preparar nosso “almojanta”
enquanto eu lançava os dados coletados no computador e o Mário preparava a
lancha para a nova jornada. Foi uma noite tranquila sem galos, porcos ou
cachorros para nos incomodar.
10.02.2013 – Casa Abandonada – Com. Juanico
Reprogramei
nossa próxima parada para Juanico, a 120 km de distância, foi um dia exaustivo
sob uma canícula impiedosa. As contraturas começaram a aparecer e usei um gel
mento-salicilado para tentar suportar os incômodos desconfortos musculares. As
dores lombares se manifestaram, minha veterana coluna, com três cirurgias no
currículo (2 hérnias e um parafuso de aço), se ressentia do esforço de remar
até nove horas diárias. Quando faltavam 90 min para aportar na Comunidade,
despachei o Mário para que ele realizasse os devidos ajustes para nossa
permanência na Comunidade.
Solicito Publicação
(*) Hiram Reis e Silva é Canoeiro, Coronel de Engenharia, Analista de
Sistemas, Professor, Palestrante, Historiador, Escritor e Colunista;
· Campeão do II
Circuito de Canoagem do Mato Grosso do Sul (1989)
· Ex-Professor
do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA);
· Ex-Pesquisador
do Departamento de Educação e Cultura do Exército (DECEx);
· Ex-Presidente
do Instituto dos Docentes do Magistério Militar – RS (IDMM – RS);
· Ex-Membro do
4° Grupamento de Engenharia do Comando Militar do Sul (CMS)
· Presidente da
Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS);
· Membro da
Academia de História Militar Terrestre do Brasil – RS (AHIMTB – RS);
· Membro do
Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS – RS);
· Membro da
Academia de Letras do Estado de Rondônia (ACLER – RO)
· Membro da
Academia Vilhenense de Letras (AVL – RO);
· Comendador da
Academia Maçônica de Letras do Rio Grande do Sul (AMLERS)
· Colaborador
Emérito da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG).
· Colaborador Emérito
da Liga de Defesa Nacional (LDN).
· E-mail: hiramrsilva@gmail.com.
[1] Cacajau calvus: primata encontrado na
Amazônia Brasileira. A pelagem é laranja-pálido, amarelada, acinzentada ou
esbranquiçada, o ventre, a cauda, a face e as orelhas avermelhadas são
desprovidas de pelos. Conheci, pela primeira vez, estes belos e raros primatas na
Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) de Mamirauá, no Município de Tefé.
[2] Comunidade Concórdia: 04°35’27,9” S /
66°38’32,9” O.
Galeria de Imagens
* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – X
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