Sexta-feira, 19 de março de 2021 - 10h30
Bagé, 19.03.2021
Foz do Breu, AC/ Manaus, AM ‒ Parte LII
Juruá, AM – Tefé, AM II
Amigos de Tefé
O
reconhecimento e o carinho que foi dispensado à Expedição na bela Cidade de
Tefé ficará gravado indelevelmente em nossas memórias. Desde minha chegada até
a partida, os militares da 16ª Brigada de Infantaria de Selva, comandada pelo
ilustre General Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, foram de uma atenção e
fidalguia inigualáveis.
O
sorriso franco do Cel Mercês, do TCel Rojo, do Maj Bergamaschi e do Cap
Pinheiro, ao nos receberem às margens do Lago Tefé, já prenunciavam isso. Meu
velho honorável pai já dizia “que o diabo
não é sábio porque é diabo, mas porque é muito, muito velho”. Os mesmos
anos que encanecem nossos cabelos, enfraquecem nossos músculos e memória,
aprimoram nossa capacidade de conhecer a alma das pessoas através dos mais
simples sinais. E naquele memorável dia 20.02.2013, que jamais me sairá da
lembrança, eu senti em cada sorriso, em cada gesto uma honesta e espontânea
demonstração de reconhecimento pelo que fizéramos. Como seria bom que todos os
irmãos brasileiros e, em especial, da Força Terrestre reconhecessem que não é o
indivíduo que conta, mas sim o que ele representa.
Não
é o Cel Hiram, o Cb Mário ou o Sd Marçal que cumpriram abnegada e
espartanamente a missão de reconhecer o Juruá, mas sim três militares da Força
Terrestre que realizaram um feito inédito que deveria ser reconhecido e
comemorado por todos os patriotas que envergam a mesma farda e deveriam cultuar
os mesmos ideais.
Fiquei
extremamente feliz quando os três expedicionários, sem exceção, foram
convidados pelo General Paulo Sérgio para jantar no melhor restaurante da
Cidade. Tenho certeza que o Cb Mário e o Sd Marçal jamais esquecerão desse
evento em que tiveram a honra de sentarem-se à mesa com um Oficial General e a
grata oportunidade de contar suas experiências aos oficiais ali presentes.
Mídia
Além
da presença ostensiva da mídia na nossa chegada, o E/5 da Brigada, Cap Diógenes
Pinheiro Pimentel, havia agendado uma entrevista com o locutor Marcílio
Beltrão, da Rádio Alternativa FM, com o entrevistador José Meireles da Rádio
Educação Rural e com o diretor e repórter de “O Solimões”, Rainfran Brandão Araújo.
Nossos
fiéis amigos da AmazonSat, que nos entrevistaram em todas as cidades pelas
quais passamos, desde o Acre, novamente nos brindaram com sua atenção.
Esperamos que na nossa chegada às 15h00 do dia 10 de março, no Centro de
Embarcações do Comando Militar da Amazônia, as equipes de reportagens da Cidade
de Manaus estejam presentes.
Adeus Caros Amigos de Tefé
Em
Tefé, tivemos a oportunidade de eliminar algumas contraturas musculares que nos
afligiam, graças às mãos hábeis do Sargento Miro, da sessão de saúde da 16ª
Brigada. Por estas amazônicas coincidências, o Miro é filho do Professor e
Historiador Humberto Ferreira Lisboa, autor do livro “Fonte Boa – chão de heróis e fanáticos”, a quem tivemos a
oportunidade de entrevistar, às dez horas do dia 21.12.2008, em Fonte Boa, AM,
na nossa descida pelo Rio Solimões. O Mestre Lisboa, nascido e criado em Fonte
Boa, é Professor de História e um estudioso de sua Cidade.
Acordamos
às 04h40. Nossa próxima jornada de mais de 100 km determinava que partíssemos
antes dos primeiros raios do astro rei. Quando a viatura, dirigida pelo Cabo
Viana, passou, às 05h00, na frente da residência do TCel Marcelo Rojo,
Comandante da 16ª Base Logística de Selva, este já estava a postos para nos
acompanhar até o porto da 16ª Ba Log. Levamos as embarcações até a água e
iniciamos os preparativos para a nova jornada. Estávamos envolvidos nessa
rotina quando chegou o Chefe do EM da 16ª Bda Inf Sl, Coronel Dougmar
Nascimento das Mercês. Despedimo-nos dos caros amigos e da Guarnição que estava
de serviço guardando nas nossas lembranças a amabilidade e a nobreza dos caros
irmãos de farda de Tefé. Partimos alegres não apenas por termos cumprido com
total dedicação e estoicismo a Expedição pelo Rio Juruá, mas, sobretudo, por
este fato ser devidamente reconhecido e aplaudido por todos os membros da 16ª
Bda Inf Sl, a guardiã oficial da Bacia do Juruá. Eu me sentia muito mais leve
com a temporária sensação de dever cumprido. Temporária, na verdade, pois as
informações e dados coletados iam merecer ainda meses de trabalho antes de
serem apresentados ao Gen Ex Villas Bôas, Cmt CMA, e ao Gen Div Fraxe, Diretor
Geral do DNIT.
Desde
o início da Expedição General Bellarmino Mendonça, eu tinha assumido o
compromisso de concluir, a qualquer preço, minha missão. Nunca em minha vida
deixei de levar a bom termo qualquer missão engendrada por meus superiores
hierárquicos e não ia ser agora, do alto de meus 62 anos de vida, dos quais
mais de quatro décadas, na ativa ou na reserva, dedicadas ao meu exército e à
minha Pátria, que eu iria fracassar ou, pior ainda, desistir. Tínhamos chegado
a remar até 13 horas em um único dia, suportado tempestades inclementes,
banzeiros impetuosos, Sol causticante, assédio de insetos, dores musculares
lancinantes, mas, em compensação fomos sempre recompensados pela hospitalidade
ribeirinha, pelo apoio das autoridades e empresários, pela oportunidade de
fazer parte de uma pequena equipe de guerreiros formidáveis que encararam cada
desafio com um sorriso nos lábios, gratos pelo ensejo de poder testar seus
limites e, sobretudo, de chegar a cada meta diária com a agradável sensação de
dever cumprido.
26.02.2013 – Partida para Comunidade Iracema
Olha esta água, que é negra
como tinta.
Posta nas mãos, é alva que faz gosto;
Dá por visto o nanquim com que se pinta,
Nos olhos, a paisagem de um desgosto.
(Quintino Cunha)
Guiando-nos
pelas luzes da Cidade e da Lua, rumamos lentamente, no início, para aquecer os
músculos. Despedimo-nos das “águas negras”
do Lago Tefé e adentramos no leitoso e barrento Solimões.
Uma
hora mais tarde, os primeiros raios do dorminhoco Sol estendiam preguiçosamente
seus raios matizando com maestria o horizonte à nossa proa. A área já era minha
conhecida, apesar das mudanças aqui e ali provocadas pela feroz torrente do
tumultuário Rio. Passamos, por volta das 09h30, ao largo de Caiambé onde eu
aportara, no dia 03.01.2009, e contatara a senhora Valdécia dos Santos Silva,
mais conhecida como Beti, secretária da Escola Estadual Amélia Lima, que nos
alojou na sala de aula número 01, e franqueou-nos, na época, o acesso às
instalações sanitárias e cozinha da escola.
Mais
tarde, por volta das 12h00, acostei em Jutica onde, em 04.01.2009, eu conhecera
o escritor e latifundiário, Patrão daquelas terras, Jones Cunha, que havia nos
oferecido um café com sucos, tapioca e pupunha, além de me presentear com seu
livro “Jutica, o Brilho da Terra”.
Um
morador informou-nos que o Jones estava em Manaus e que tomássemos muito
cuidado no percurso até Coari, não especificando a razão de sua recomendação.
Pelas
15h00, passamos pela Comunidade Santa Sofia, onde eu havia parado, em janeiro
de 2009, no flutuante do Sr. Plínio, mais conhecido como Bom Fim, um filho de
paraibanos que migrou com sua família do Juruá por pressão de seringalistas.
Aposentado, com os filhos criados e morando em Manaus, resolveu procurar
sossego no pequeno vilarejo às margens do Lago Catuá, junto com sua amável
esposa Dona Conceição que era, na época, a Presidente da Comunidade de Santa
Sofia. A Sr.ª Rita, irmã da Dona Conceição, informou que ambos estavam em Coari
fazendo compras e que só retornariam depois das 17h00.
Aproamos,
então, para Iracema e depois de remarmos 107 km, durante onze horas entre
paradas e remadas (9,7 km/h), chegamos à Comunidade onde fomos acolhidos
gentilmente na residência da Sr.ª Nilzete Ferreira Lopes. Enquanto o Mário
montava nosso acantonamento na grande sala da residência, o Marçal preparava a
enorme dourada ([1])
comprada pelo Mário. O nosso cozinheiro conseguiu na Comunidade os condimentos
necessários e proporcionou um belo jantar que foi compartilhado por nossa
anfitriã e seus dois filhos Élson e Bruno. O capricho e a limpeza da residência
e do seu entorno são de causar inveja aos mais exigentes. As panelas e demais
utensílios de cozinha estavam imaculadamente limpos, a casa pintada, com cores
vivas, possuía instalações amplas e extremamente asseadas. Pedi ao Mário que
tirasse algumas fotografias da escolinha localizada no alto do barranco e cujo
acesso, segundo informações que eu colhera em 2009 e confirmaria agora, se dava
por intermédio de 162 degraus de madeira.
O
Mário aproveitou a subida até o topo do morro, de onde fez algumas belas
tomadas, e contou 102 degraus. Curiosamente a bela povoação é conhecida como a
Comunidade dos 162 degraus.
27.02.2013 – Partida para Coari
(Almino Álvares Affonso)
Samaumeira! Liana e flores,
em festa,
Descem da copa imensa que a
amplidão fareja...
E o Sol, em sangue e ouro,
portentoso beija
A soberana - graça e força -
da floresta.
Mas quando, em transe, o
vento sopra as tempestades,
E lhe fere, zimbrando, a
colossal umbela,
Luta, esbraveja, cai...
grandiosamente bela,
Porém jamais se curva como
os vis covardes! ...
Partimos,
por volta das 05h20, para uma jornada de 122 km, fazendo votos para que o tempo
colaborasse pois, do contrário, seria difícil atingir nosso objetivo antes do
pôr do Sol. Estava muito escuro e somente depois de mais de 90 min de remo é
que começaram a despontar, na nossa proa, os primeiros e dolentes raios
solares. O amanhecer era magnífico e as raras e diáfanas nuvens, que adornavam
o firmamento, prenunciavam um tórrido dia. Procuramos navegar bem afastados das
margens, o Mário deixara o motor de popa de 40 Hp em condições de ser utilizado
imediatamente, tendo em vista a notícia de piratas que estariam agindo
indiscriminadamente abordando e assaltando navegantes por estas bandas. Só nos
faltava mais essa; por ironia do destino, no Baixo Juruá, os ribeirinhos nos
tomaram por traficantes ou bandoleiros e agora, no Solimões, nós é que
poderíamos ser vítimas deles. Felizmente nada aconteceu e vencemos os 90 km sem
grandes surpresas ou cansaço. Parece, porém, que São Pedro, mais uma vez queria
nos colocar em cheque. A 32 km de Coari, um vendaval seguido de chuva
torrencial, obrigou-nos a procurar abrigo em uma Ilha a Boreste.
Como
sempre, depois da ventania que precede as amazônicas tempestades, desta feita
com ventos de mais de 50 km/h seguidos de rajadas que beiravam os 70 km/h, e da
chuva torrencial, que durou uns vinte minutos, sobrevieram banzeiros com ondas
de mais de metro que vinham de todos os quadrantes, chacoalhando as embarcações
ao seu bel prazer. Mais uma vez o fleumático “Cabo Horn”, fabricado pela Opium Fiberglass, de meu caro amigo Fábio
Paiva, cortava a água como se estivesse navegando em águas serenas fazendo
pouco do tumultuário e nervoso movimento aquático que o cercava e golpeava
freneticamente seu casco. Mais uma vez rendo homenagens a esta magnífica
embarcação que já enfrentou mais de 9.000 km na Amazônia e que jamais deixou de
corresponder às minhas expectativas enfrentando ventos e banzeiros
consideráveis com uma estabilidade invejável.
Os
recreios (embarcações de passageiros) tinham buscado refúgio em pequenas
enseadas nas margens tal a ferocidade da tormenta. Continuamos nossa navegação
e, ao contornarmos uma grande “angustura”
a montante de Coari, avistamos a Cidade a uns vinte quilômetros de distância. O
Mário contatou, por telefone, nossa equipe gaúcha para tranquilizá-los e o
Major PM Norte que nos garantiria apoio em Coari. Logo que chegamos às
escadarias próximas ao Porto naufragado de Coari, que foi ao fundo três meses
depois de uma reforma mal feita, avistamos a tropa do Maj PM Norte nos
aguardando. Seguindo orientação dos Policiais Militares, deixamos a nossa
lancha aportada junto a um flutuante denominado Mercadinho do Paulão, de
propriedade do Sr. Paulo Lopes de Oliveira, e guardamos nossas bagagens e
combustível em local seguro no mesmo flutuante.
Os
caiaques foram acomodados em outra embarcação, também de propriedade do Paulão,
chamada Kaillon de Paula. Graças a gestões do Cmt Norte junto à Prefeitura de
Coari, ficamos muito bem acomodados no Hotel LH.
Solicito Publicação
(*) Hiram Reis e Silva é Canoeiro, Coronel de Engenharia, Analista de
Sistemas, Professor, Palestrante, Historiador, Escritor e Colunista;
· Campeão do II
Circuito de Canoagem do Mato Grosso do Sul (1989)
· Ex-Professor
do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA) (2000 a 2012);
· Ex-Pesquisador
do Departamento de Educação e Cultura do Exército (DECEx);
· Ex-Presidente
do Instituto dos Docentes do Magistério Militar – RS (IDMM – RS);
· Ex-Membro do
4° Grupamento de Engenharia do Comando Militar do Sul (CMS)
· Presidente da
Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS);
· Membro da
Academia de História Militar Terrestre do Brasil – RS (AHIMTB – RS);
· Membro do
Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS – RS);
· Membro da
Academia de Letras do Estado de Rondônia (ACLER – RO)
· Membro da
Academia Vilhenense de Letras (AVL – RO);
· Comendador da
Academia Maçônica de Letras do Rio Grande do Sul (AMLERS)
· Colaborador
Emérito da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG).
· Colaborador
Emérito da Liga de Defesa Nacional (LDN).
· E-mail: hiramrsilva@gmail.com.
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* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – X
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Bagé, 06.12.2024 Continuando engarupado na memória: Jornal do Brasil n° 186, Rio de Janeiro, RJSábado, 10.08.1963 Lacerda diz na CPI que Pressõessã
Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – III
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