Segunda-feira, 22 de março de 2021 - 13h35
Bagé, 22.03.2021
Foz do Breu, AC/ Manaus, AM ‒ Parte LIII
Solicitamos o
apoio de uma viatura da Polícia Militar para nos levar do Hotel LH até o
Flutuante Mercadinho Paulão, de propriedade do Sr. Paulo Lopes de Oliveira. Estávamos
desembarcando as tralhas e o Sr. Paulo veio, pessoalmente, abrir o depósito
onde deixáramos o motor rabeta e outros materiais.
03.03.2013 – Partida para Codajás
Partimos, eu e o Marçal,
às 04h45, deixando o Mário para trás arrumando os badulaques na lancha
Mirandinha. Iríamos enfrentar o maior percurso desde a Foz do Breu (141 km) e
precisávamos iniciar cedo nosso deslocamento. Remamos lentamente afundando
nossos remos nas negras águas do Lago Coari e fomos aos poucos aumentando o
ritmo e deixando para trás as luzes da Cidade. Quando desci o Solimões, de
Tabatinga a Manaus, em janeiro de 2009, fui muito bem recebido pelo Major PM
Denildo e os Secretários do Prefeito de Coari, recém-eleito. Acompanhado por
eles, conheci a Cidade do Gás e informado dos diversos projetos que seriam
levados avante pela nova administração. É com tristeza que verifico que muito
pouco foi feito, definitivamente a Cidade estava muito menos atraente do que há
4 anos. O Sol só apareceu quando nos encontrávamos próximos à Boca do Lago
Mamiá, as águas rápidas do Solimões facilitavam o deslocamento e estávamos
confiantes em atingir Codajás antes das 17h00.
Quando passamos ao
largo da Comunidade São Francisco do Camarazinho, fizemos a primeira parada, às
09h00, acostando na Mirandinha, no meio do Rio para abastecer os cantis e comer
bananas. Havíamos remado 51 km até então, faltavam só 90. Pedi ao Mário para
fotografar a Escolinha onde eu pernoitara, no dia 11.01.2009, a decadente
Escolinha de então tinha sido reformada, pintada e ganhara novo telhado.
Depois do breve
descanso, continuamos nossa jornada. Até então o dia nublado bloqueara os raios
solares propiciando uma manhã bastante agradável. Parecia que São Pedro estava
disposto a colaborar com nossa progressão.
Remamos por mais
uma hora e começamos a prestar a atenção nas plúmbeas nuvens que se formavam à
nossa proa. Exatamente às 11h00, a tempestade chegou, mas como estávamos
acompanhando sua evolução, já há algum tempo, estávamos próximos à margem e
acostamos em uma pequena baía na margem esquerda, aguardando as rajadas mais
fortes passarem. Aguardamos apenas uns 10 minutos antes continuar, os ventos de
proa e a chuva eram agora mais fracos e só tínhamos que nos preocupar com os
banzeiros. Curiosamente eu enfrentara a pior tempestade de minha descida pelo
Solimões, em janeiro de 2009, exatamente nesta mesma região:
Estávamos a
meio caminho quando o tempo fechou, trazendo consigo chuva forte e ondas de 60
cm. Determinei ao Romeu que mantivesse contato visual, não cheguei a colocar a
saia, pois conseguia evitar que a água entrasse no caiaque jogando o corpo para
trás, evitando que a embarcação afundasse muito a proa.
As ondas eram
bem menores do que aquelas que normalmente enfrentara no Guaíba e Laguna dos
Patos. (Hiram Reis e Silva – Descendo o Solimões)
Aqui, também,
perdera minha bússola sueca “Silva”
que me acompanhara desde os tempos de Aspirante há mais de três décadas. Ela
mergulhou celeremente nas águas lamacentas do velho Rio e as notas do “Dies Irae” soaram nos meus ouvidos numa
justa homenagem à velha amiga:
A velha
bússola participara, ombro a ombro, de diversas competições, pistas de
orientação, manobras, montagem de exercícios, marchas, uma série infindável de
momentos, sempre apontando o rumo correto. As imagens de competições de
Pelopes, as montagens de pistas de orientação em que ela era minha parceira
inseparável e as pistas que juntos executamos, tudo isso veio, na época, à
minha mente junto com o som do Réquiem imaginário. O “Réquiem Dies Irae”, de Wolfgang Amadeus Mozart, está envolto por um
manto de mistério, romantismo e fantasia. A obra foi encomendada pelo Conde
Walsegg-Stuppach, em memória de sua esposa, e Mozart, atarefado e doente, foi
compondo o “Réquiem” quando podia,
dando mais importância a outras obras. A esposa estava preocupada com a mudança
no seu comportamento.
Um dia,
quando passeava com o marido com intuito de animá-lo, Mozart disse que estava
escrevendo o “Réquiem” para si
próprio afirmando: “eu não consigo tirar
da minha cabeça a imagem desse estranho. Vejo-o constantemente a me perguntar,
solicitando-me e implorando-me impacientemente que complete a tarefa, é o meu ‘Réquiem’, não o posso deixar inacabado”.
Infelizmente
a morte interrompeu o mais belo “Réquiem”
produzido até hoje pelo maior de todos compositores clássicos. Mozart faleceu
no dia 05.12.1791 e, finalmente, o “Réquiem”
foi concluído pelo seu discípulo Franz Xaver Sussmayr. (Hiram Reis e Silva –
Descendo o Solimões)
Enfrentamos
banzeiros, com ondas de até um metro, durante boa parte do tempo até nos aproximarmos
de Codajás. A vantagem é que o Rio agora bem mais estreito aumentava a
velocidade das águas permitindo-nos atingir até 17 km/h. Aportamos nas
proximidades do Porto de Codajás, às 15h05 – 141 km em 10h20. O Cb Mário, que,
a meu pedido, chegara meia hora antes, já acordara com o “Pisca” um flutuante para guardar as embarcações, o material e
contatara nossos caros parceiros da Polícia Militar do Estado do Amazonas.
Hospitalidade da Polícia Militar
Fomos cortesmente
recepcionados pelos Cabos PM Francisco Valmir de Souza Pereira e Gilmar
Simplício Nazário. Por mais uma destas amazônicas coincidências, tínhamos
encontrado o Cb PM Simplício, na nossa descida pelo Solimões na Cidade de São
Paulo de Olivença, AM. A dupla nos levou até o hotel onde pernoitaríamos e,
logo depois, o Cabo PM Valmir nos obsequiou com um lauto almoço em sua
residência.
Os gaúchos se
ufanam, e com razão, de serem corteses e hospitaleiros, mas devemos nos lembrar
que estas qualidades desconhecem fronteiras. Volta e meia, nas nossas
amazônicas andanças, somos brindados com estas tão caras qualidades que não
respeitam fronteira, crença ou cor.
Plagiando Caetano
Braun, o augusto Poeta do meu abençoado rincão – a hospitalidade é um laço bem
grosso e de armada grande que Deus trançou, pra que ande, apresilhado nos
tentos do coração das “criaturas livres e
de bons costumes” de todas as querências!
Solicito Publicação
(*) Hiram Reis e Silva é Canoeiro, Coronel de Engenharia, Analista de
Sistemas, Professor, Palestrante, Historiador, Escritor e Colunista;
· Campeão do II
Circuito de Canoagem do Mato Grosso do Sul (1989)
· Ex-Professor
do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA) (2000 a 2012);
· Ex-Pesquisador
do Departamento de Educação e Cultura do Exército (DECEx);
· Ex-Presidente
do Instituto dos Docentes do Magistério Militar – RS (IDMM – RS);
· Ex-Membro do
4° Grupamento de Engenharia do Comando Militar do Sul (CMS)
· Presidente da
Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS);
· Membro da
Academia de História Militar Terrestre do Brasil – RS (AHIMTB – RS);
· Membro do
Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS – RS);
· Membro da
Academia de Letras do Estado de Rondônia (ACLER – RO)
· Membro da
Academia Vilhenense de Letras (AVL – RO);
· Comendador da
Academia Maçônica de Letras do Rio Grande do Sul (AMLERS)
· Colaborador
Emérito da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG).
· Colaborador Emérito
da Liga de Defesa Nacional (LDN).
· E-mail: hiramrsilva@gmail.com.
Galeria de Imagens
* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – X
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