Sexta-feira, 26 de março de 2021 - 12h56
Bagé, 26.03.2021
Foz do Breu, AC/ Manaus, AM ‒ Parte LVII
14.03.2013 – Partida para Itacoatiara, AM
Partimos,
às 05h40, embarcados na lancha “Mirandinha”
rumo a Itacoatiara, AM. Logo que entramos no Rio Amazonas, o tempo começou a
mudar e enfrentamos chuva, vento e banzeiros a maior parte do tempo. Chegamos,
por volta das 11h00, no Porto do amigo José Holanda e ligamos para o empresário
Roni, amigo do irmão Beto Moreno, que nos disponibilizou gratuitamente mais 100
litros de combustível, o suficiente para chegarmos até Santarém, PA.
15.03.2013 – Partida para Santarém, PA
Partimos
antes do alvorecer, enfrentando as mesmas condições climáticas adversas do dia anterior.
Para neutralizar os efeitos da chuva fria que resfriava nossos corpos, volta e
meia eu enchia um balde com água do Rio Amazonas e molhava o corpo para
aquecê-lo.
Ao
passarmos por Parintins, AM, pelas 11h00, telefonei para o Coronel Sérgio
Henrique Codelo, Comandante do 8° BECnst, avisando que decidíramos tocar direto
para Santarém sem pernoitar em Parintins. Ao penetrar as águas verdes e cálidas
do Tapajós, avistamos ao longe Santarém – a “Pérola do Tapajós”.
Ao aportarmos em Santarém, novamente, a fidalguia dos meus caros irmãos de armas se fez presente em cada momento de nossa breve passagem pela bela Cidade de Santarém.
O corpo exausto, o pensamento cansado, meu raciocínio
pedindo demissão e a insônia me fazendo de vítima mais uma noite. Uma madrugada
reticente, agoniada. As horas que passavam, pareciam não passar. [...] Viajei
pelo espaço sideral, visitei satélites, fui a lugares onde as palavras não
alcançam e até a lugares onde só a imaginação consegue ir. Solta como quem
possui asas. Sem termo, sem limite, tudo ao acaso e sem pretensão de volta à realidade. Sonho ou fantasia? Sei
eu! Aos poucos, as estrelas foram perdendo o brilho e sumindo do céu uma por
uma. A lua deu bom-dia ao Sol enquanto dezenas de passarinhos alvoroçados
vieram até minha janela contar-me seus sonhos e avisar que mais um dia raiou.
Só então, depois de sonhar acordada, acordei sonhando. (Ismara Alice)
A
missão de reconhecimento do Juruá findou, a 17 de fevereiro, mas só agora, me
sinto à vontade para arvorar remos. Cheguei à Foz do Juruá 44 dias depois de
partir de Cruzeiro do Sul, AC, havíamos remado freneticamente durante 28 dias e
desfrutado do conforto das cidades de Ipixuna, Eirunepé, Itamarati, Carauari e
Juruá onde, graças às autoridades municipais e à Polícia Militar, pernoitamos
em hotéis durante 16 dias recuperando-nos do excessivo desgaste, coletando
novas informações e repercutindo-as.
Conseguimos
manter uma média diária de mais de 74 km, mas, a um alto custo, perdi 15 quilos
neste difícil percurso, perdendo mais de 530 gramas por dia de remo em
decorrência não só do esforço físico, mas, sobretudo, da alimentação
inadequada. As curtas passagens por Manaus, AM, Santarém, PA e Natal, RN,
serviram para trazer-me, progressivamente, de volta à realidade. Uma realidade
mesclada de alegrias e tristezas, de júbilo por ter conseguido, apesar das
dificuldades impostas pela logística, terreno, clima e condições
meteorológicas, cumprir todas as metas propostas no mais curto espaço de tempo
e amargura de verificar que alguns companheiros
colocavam em cheque ou escarneciam do trabalho que havíamos executado.
Alegria
por ter sido recepcionado em Tefé como um Bandeirante do século XXI, com
direito à escolta fluvial, foguetório e banda de música, alegria de encontrar,
na figura do Gen Bda Paulo Sérgio, Comandante da 16ª Bda Sl, uma liderança
atuante capaz de conduzir seus homens pelo exemplo e pelo dinamismo como nossos
grandes chefes militares do longínquo pretérito. Tristeza de verificar que, em
Manaus, a quantidade de representantes da mídia era muitíssimo maior do que o
número de militares presentes na nossa chegada, considerando que a Expedição
era uma missão oficial do Comando Militar da Amazônia. Alegria de ter sido
recebido pelo 2° Grupamento de Engenharia, Manaus, AM e pelo 8° BEC, Santarém,
PA, com a cordialidade e o carinho tão característicos dos discípulos de
Villagran Cabrita. Desencanto quando, de Santarém, ao telefonarmos para o Gen
Villas Bôas avaliamos por suas lacônicas e evasivas respostas que seu espírito
tinha sido corrompido por um de seus mais caros subalternos.
Aprendi,
desde cedo, que qualquer decisão por parte de um verdadeiro
líder deve ser tomada após uma análise isenta dos fatos e ouvidos todos os atores envolvidos. Que um compromisso
assumido deve ser respeitado e não olvidado por quem quer que seja. Alegria
por reencontrar, em Porto Alegre, os familiares, amigas e velhos amigos, mas
uma profunda tristeza por reencontrar minha esposa encarcerada ao catre e presa
a uma carcaça martirizada pela enfermidade. Alegria de ser abraçado
carinhosamente por meus ex-alunos e tristeza em verificar que o valor do
contracheque continua sendo muito inferior às despesas mensais.
24.03.2013 – Chegada em Porto Alegre, RS
Pousamos
no Aeroporto Salgado Filho, pontualmente, às 09h35. Fiquei surpreso ao
constatar que apenas a Rosângela e sua mãe, Dona Maria (a Mama de Bagé), e o
Coronel Angonese e esposa Sra Eliana lá estavam para me recepcionar,
afinal eu estivera ausente por quase 4 meses. O fato de não encontrar nenhum
familiar no aeroporto me entristeceu. O Angonese convidou-nos para almoçar no
restaurante Grelhatus, eu não podia declinar do convite do caro parceiro, que
nos acompanhara, a remo, no trecho da Foz do Breu até Cruzeiro do Sul. Fomos
até minha casa, tomei um banho para espantar o sono, passara a noite em claro
e, pontualmente ao meio-dia, nos dirigimos ao restaurante acompanhados da
Vanessa e do João Paulo. A Rosângela estacionou o carro numa rua lateral onde
encontramos o Coronel Regadas, achei estranha a coincidência e só me dei conta
de que havia uma “trama” em andamento
quando topei com o Coronel Araújo na função de Mestre de Cerimônias na porta de
entrada do restaurante.
Havia
duas enormes mesas reservadas aos familiares e amigos mais diletos, a
indignação de antes cedeu lugar à emoção que mexeu com o coração e a alma deste
velho soldado. Consegui manter heroicamente o equilíbrio emocional até a
chegada do meu caro amigo Pastl, Dona Anaclaci e seus filhos Guilherme e
Emanuel que se recuperaram bravamente dos ferimentos causados pelo incêndio da
boate Kiss, de Santa Maria, RS. Não consegui conter a emoção e chorei como uma
criança. De cada Cidade do Juruá eu ligara para saber notícias dos meninos e
acompanhara a par e passo a evolução de seu estado. Ter, agora, a oportunidade
de abraçar meus ex-alunos e seus queridos pais fez com que eu afrouxasse a
couraça espartana que tenho carregado desde o AVC de minha esposa. A Rosângela
e o Araújo souberam guardar segredo, eu não imaginara, jamais, tamanha
surpresa.
Tapajós
Estamos
tentando viabilizar, para setembro deste ano, o reconhecimento do Rio Purus e
Acre para dar continuidade à história do Acre tão vinculada aos Rios Purus e
Juruá. Caso não se concretize esta possibilidade, vamos percorrer o Rio
Tapajós, partindo de Santarém, a remo, pela margem esquerda até Itaituba, de
voadeira até Jacareacanga e daí descendo pela margem direita, de caiaque, até
Santarém.
Livro do Juruá
Dois
dias depois da chegada e de tomadas algumas providências administrativas,
iniciamos o lançamento dos dados coletados nos mapas que posteriormente
entregaremos ao DNIT.
O Professor Sérgio Pedrinho Minúscoli entregou-me o livro “Descendo o Madeira”, totalmente revisado, fazendo-me abandonar os trabalhos do Juruá, temporariamente, para finalizar a 4ª etapa do Projeto Desafiando o Rio-Mar.
Solicito Publicação
(*) Hiram Reis e Silva é Canoeiro, Coronel de Engenharia, Analista de
Sistemas, Professor, Palestrante, Historiador, Escritor e Colunista;
· Campeão do II
Circuito de Canoagem do Mato Grosso do Sul (1989)
· Ex-Professor
do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA) (2000 a 2012);
· Ex-Pesquisador
do Departamento de Educação e Cultura do Exército (DECEx);
· Ex-Presidente
do Instituto dos Docentes do Magistério Militar – RS (IDMM – RS);
· Ex-Membro do
4° Grupamento de Engenharia do Comando Militar do Sul (CMS)
· Presidente da
Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS);
· Membro da
Academia de História Militar Terrestre do Brasil – RS (AHIMTB – RS);
· Membro do
Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS – RS);
· Membro da
Academia de Letras do Estado de Rondônia (ACLER – RO)
· Membro da
Academia Vilhenense de Letras (AVL – RO);
· Comendador da
Academia Maçônica de Letras do Rio Grande do Sul (AMLERS)
· Colaborador
Emérito da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG).
· Colaborador
Emérito da Liga de Defesa Nacional (LDN).
· E-mail: hiramrsilva@gmail.com.
Galeria de Imagens
* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – X
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