Terça-feira, 30 de março de 2021 - 06h01
Bagé, 30.03.2021
Navegando o
Tapajós ‒ Parte I
O Rio Tapajós nasce no Estado de Mato
Grosso. Recebe seu nome após a confluência dos Rios Juruena e Teles Pires. Faz
divisa entre o Estado do Pará e o Sudeste do Amazonas, banha parte do Estado do
Pará e deságua no Rio Amazonas na altura da Cidade de Santarém.
Expedições
ao Tapajós
Antes mesmo da Expedição de Pedro
Teixeira, a Bacia do Baixo Tapajós já era conhecida pelos portugueses. O
escritor Manuel Rodrigues, o “Marañon”,
relata que os ingleses, em busca de ouro, haviam empreendido duas expedições
mal sucedidas, no Tapajós, onde grande parte dos expedicionários tinha perdido
a vida.
A navegação do Tapajós, desde o
princípio, foi realizada, simultaneamente, a partir do Sul e do Norte. Foram os
próprios habitantes do Mato Grosso que descobriram que ele se origina da
confluência do Juruena com o Arinos.
Os missionários Jesuítas fundaram seis
missões desde a Foz, no Amazonas, até as cataratas, por volta de 1735. João de
Souza Azevedo, em 1745, desceu pelo Rio Sumidor até suas cachoeiras. Em 1747,
Pascoal Arruda desce o Tapajós a partir das Minas de Santa Isabel nas nascentes
do Arinos.
Em 1805, João Viegas desceu o Rio e,
em 1812, Antônio Tomé de França comandou a primeira Expedição mercante até a
Cidade do Pará ([1])
e, no ano seguinte, retornou com suas canoas carregadas, pelo mesmo caminho.
A partir de então, as viagens pelo
Tapajós se tornaram mais comuns e a mais importante, sem dúvida, foi a
realizada pelo francês Henri Coudreau a serviço do governo Paraense com a
finalidade de definir a localização exata das fronteiras do Estado com o Mato
Grosso.
Relatos
Pretéritos – Tapajós
Cristóbal
de Acuña (1639)
LXXIV – Rio e Nação
dos Tapajós
A 40
léguas ([2])
deste estreito desemboca, pela margem Sul, o grande e vistoso Rio dos Tapajós,
que toma o nome da nação e Província de nativos que vivem em suas margens, que
são muito bem povoadas por bárbaros, com boas terras e abundantes mantimentos.
(ACUÑA)
Bernardo
P. de Berredo e Castro (1718)
Livro 7
568. Conhecia bem Manoel de Souza os interesses
da Capitania; e não duvidando de que os mais importantes eram os dos resgates
de escravos Tapuias, para o serviço dela, encarregou esta diligência ao Capitão
Pedro Teixeira, que assistido do Padre Frei Christovão de São Joseph, Religioso
Capucho de Santo Antônio, saiu da Cidade de Belém com vinte e seis Soldados, e
copioso número de índios ; mas como chegando à Aldeia dos Tapuyusus teve as
informações de que no Tapajós comerciavam eles com uma Nação muito populosa,
que tomava o nome deste mesmo Rio, deixando logo o das Amazonas, por onde
navegava, entrou por aquelas doze léguas ([3])
até uma enseada de cristalinas águas, a que servia de docel um belo arvoredo;
aprazível sítio, em que descobriu os novos Tapuias, avisados já desta visita
pelos seus amigos Tapuyusus, generosamente subornados do mesmo Comandante. Porém
ele, que entre as lisonjas da fortuna se lembrava sempre da sua inconstância,
desembarcando muito nas vizinhanças da Povoação, se fortificou com toda a boa
ordem da disciplina militar; até que satisfeito da fidelidade destes índios, os
comunicou com mais confiança; e achando neles um trato menos bárbaro, indagou
também as prováveis notícias de o haverem devido ao comércio das Índias Castelhanas,
de que se tinham separado. Aqui se deteve alguns dias com amigável correspondência;
e depois do resgate de galantes esteiras, e outras curiosidades, se recolheu ao
Pará, justissimamente gostoso deste descobrimento, mas com poucos escravos;
porque os Tapajós os estimam de sorte, que raras vezes chegam a consentir nesta
qualidade de permutações. [...]
Livro 10
733. Navegando mais quarenta léguas (10),
à parte do Sul, entrou Pedro Teixeira na grande Boca do Tapajós, Rio tão
aprazível, como caudaloso, que toma o nome da principal Nação dos seus
habitadores que, além de serem todos muito guerreiros, usam também de flechas ervadas ([4]) e
aportando uma das suas Povoações achou nela, pelos resgates ordinários,
abundante refresco de carnes do mato, aves, peixes, frutas e farinhas, com um
sumo agrado daqueles bárbaros Tapuias, que tratou alguns dias. A sua entrada é
defendida de uma Fortaleza, que conservamos há muitos anos; mas ainda que
várias vezes se tem intentado o seu descobrimento, só pode conseguir-se até os
primeiros rochedos, embaraçado sempre da oposição forte daquele gentilismo. Tem
dilatadas matas de pau cravo; e na eminência das suas montanhas, se presumem
nelas umas pedras muito pesadas, que sendo de metal é de tão baixa qualidade,
que se exala todo a sua fundição. (BERREDO)
Charles-Marie
de La Condamine (1735)
XI
Em menos
de dezesseis horas de caminhada, fomos de Pauxis à Fortaleza de Tapajós, na
entrada do Rio do mesmo nome. Este é também um Rio de primeira ordem. Deflui
das minas do Brasil, atravessando países desconhecidos, onde habitam nações
selvagens e guerreiras, que os missionários jesuítas trabalham em amansar. Dos
restos do aldeamento de Tupinambara, situado outrora numa grande Ilha, na Foz
do Rio da Madeira, formou-se o de Tapajós, e seus habitantes são quase que tudo
o que resta da valente nação dos Tupinambá, dominante há dois séculos no
Brasil, onde deixaram a língua. Pode-se-lhe ver a história e a longa
peregrinação na Relação do Padre d’Acuña.
É entre
os Tapajós que se acham hoje, mais facilmente, dessas pedras verdes, conhecidas
pelo nome de pedras das amazonas, cuja origem se ignora, e que foram tão
procuradas outrora, por causa da virtude que se lhes atribuía, para curar a “pedra” a cólica nefrítica, e a
epilepsia. Houve um tratado impresso sob a denominação de Pedra Divina. A
verdade é que elas não diferem, nem na cor nem na dureza, do jade oriental:
resistem à lima, e ninguém imagina por qual artifício os antigos americanos a
talhavam, e lhes davam diversas configurações de animais. Foi, sem dúvida, o
que deu lugar a uma fábula digna de refutar-se. Acreditou-se muito a sério que
tal pedra não era mais que o limo do Rio, ao qual se dava a forma requerida,
petrificando-o quando era tirado ainda fresco, e que adquiria ao ar esta dureza
extrema. Quando se concordasse gratuitamente com semelhante maravilha, de que
alguns crédulos não se desenganaram senão depois de ter experimentado
inutilmente um processo tão simples, restaria outro problema da mesma espécie a
propor aos lapidários.
São as
esmeraldas arredondadas, polidas e furadas por dois buracos cônicos,
diametralmente opostos num eixo comum, tais como ainda hoje se encontram no
Peru, nas margens do Rio de Santiago, na Província das Esmeraldas, a quarenta
léguas ([5])
de Quito, com diversos outros monumentos da indústria de seus antigos
habitantes. Quanto às pedras verdes, elas se tornam cada vez mais raras, já
porque os índios, que lhes dão grande importância, delas se não desfazem de boa
vontade, já porque grande número delas foi enviado à Europa. (CONDAMINE)
Bibliografia
ACUÑA, Christóbal de. Nuevo
Descubrimiento del Gran Rio de las Amazonas – Espanha – Madrid – Ed.
García, 1891.
BERREDO, Bernardo Pereira. Annaes
Históricos de Berredo – Itália – Florença – Typographia Barbera, 1905.
CONDAMINE,
Charles-Marie de La. Viagem na América Meridional Descendo o Rio das
Amazonas – Brasil – Brasília, DF – Editora do Senado Federal, 2000.
Solicito
Publicação
(*) Hiram Reis e Silva é Canoeiro, Coronel
de Engenharia, Analista de Sistemas, Professor, Palestrante, Historiador,
Escritor e Colunista;
·
Campeão do II
Circuito de Canoagem do Mato Grosso do Sul (1989)
·
Ex-Professor do
Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA) (2000 a 2012);
·
Ex-Pesquisador do
Departamento de Educação e Cultura do Exército (DECEx);
·
Ex-Presidente do
Instituto dos Docentes do Magistério Militar – RS (IDMM – RS);
·
Ex-Membro do 4°
Grupamento de Engenharia do Comando Militar do Sul (CMS)
·
Presidente da
Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS);
·
Membro da Academia de
História Militar Terrestre do Brasil – RS (AHIMTB – RS);
·
Membro do Instituto
de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS – RS);
·
Membro da Academia de
Letras do Estado de Rondônia (ACLER – RO)
·
Membro da Academia
Vilhenense de Letras (AVL – RO);
·
Comendador da
Academia Maçônica de Letras do Rio Grande do Sul (AMLERS)
·
Colaborador Emérito
da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG).
·
Colaborador Emérito
da Liga de Defesa Nacional (LDN).
·
E-mail: hiramrsilva@gmail.com.
Galeria de Imagens
* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – X
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