Quarta-feira, 9 de dezembro de 2020 - 06h06
Bagé, 09.12.2020
Porto Velho, RO/ Santarém, PA ‒ Parte LXXV
Diário
on Line, 23.03.2012
Sueco
usa Caiaque em Aventura por Rios da América do Sul
(Lívia Gaertner)
Bastante difundido como embarcação para
esportes radicais, o caiaque tem assumido papel fundamental, nos últimos seis
meses, na vida do sueco Christian Bodegren, 38 anos, que resolveu conhecer o
continente Sul-americano de um jeito bem diferente.
O estrangeiro chegou a Corumbá no domingo,
18.03.2012, depois de percorrer os 679 quilômetros que separam a Cidade
Sul-mato-grossense do Município de Poconé, no estado vizinho de Mato Grosso,
usando o caiaque como meio de locomoção pelo Rio Paraguai. Entretanto, a
aventura de Christian começou bem antes, em setembro, quando desembarcou na
Venezuela, mais precisamente na Cidade de Tucupita, onde iniciou sua jornada no
Delta do Rio Orinoco. Ele contou ao Diário que, após cruzar a Venezuela, entrou
no Brasil percorrendo os estados do Amazonas e de Rondônia ao longo de Rios da
região tais como Negro, Amazonas, Madeira, Mamoré, até parar no Guaporé, este
último que adentra no estado de Mato Grosso.
Ele contou que um trecho da viagem teve que
ser feito por estrada já que não havia conexão fluvial e, nessa etapa, segundo
Christian, ele conheceu uma das características do povo brasileiro: a tendência
a ser prestativo. “Para mim, não foi
problema”, afirma ao contar que as pessoas o ajudaram no transporte não
somente dele, mas também do seu “companheiro”
caiaque. Com a ajuda das pessoas, ele chegou até a Cidade de Cáceres, onde
retornou com a embarcação para o Rio, desta vez, o Paraguai. Bodegren, que é
carpinteiro e vive de construir andaimes na Noruega, explica que conhecer
lugares diferentes do pequeno povoado onde vive na Suécia o ajuda a crescer
como ser humano. Ele diz que desde muito jovem o desejo de viajar em longas
jornadas por continentes diferentes o atrai. [...]
Christian, que fala o idioma Inglês e um
pouco do Espanhol, conta que, muitas vezes, precisa recorrer à linguagem
corporal para ser entendido pelos povoados que percorre. Entretanto, a língua
diferente não é um dos maiores problemas enfrentados pelo sueco que aprendeu
rapidamente uma palavra em português: mosquitos. Contudo, ele avalia que o
nosso Pantanal tem abundância não somente dos insetos que acabam causando
incômodo, mas também um grande número de animais silvestres.
“Pelos
locais que passei nessa Expedição não tinha visto tantos animais, principalmente
jacarés e capivaras, como pude ver aqui”, afirmou.
Rotina
guiada pela natureza
Christian Bodegren detalhou que sua rotina
pelos Rios segue o ritmo da natureza, começando logo quando o Sol se levanta e
só termina por volta das 17 horas, quando a claridade natural vai diminuindo.
“Procuro
um lugar para montar minha rede e uma capa impermeável que a cobre. Descanso,
mas fico atento a tudo ao meu redor. Às vezes, é impossível achar lugar para
parar e tenho que remar a noite inteira”, disse ao contar um episódio
desesperador que passou numa dessas ocasiões. “Numa noite, apareceu um pequeno buraco no caiaque, eu ia remando e a
água subindo. Só depois de 4 horas é que vi uma luz. Eram pessoas que estavam
coletando cupins para servir de isca [para tuvira] e elas me ajudaram tampando
o buraco com durepox”, lembrou o sueco que deixou Corumbá nesta
sexta-feira, 23.03.2012, com destino à Cidade de Buenos Aires, na Argentina,
onde pretende encerrar a aventura pela América do Sul, ao atingir o Oceano
Atlântico.
O sueco tem um site
[www.christianbodegren.com] onde relata suas aventuras pelo mundo. Uma delas
foi ter cruzado o deserto do Saara em dromedários durante 8 meses. Se tudo o
que planejou der certo, Chistian pretende retornar para a Suécia no mês de junho
com novas histórias e fotos que faz questão de expor para a comunidade onde
vive. Para o aventureiro estrangeiro, todo seu esforço será compensado se seu
estilo de vida puder mover outras pessoas.
“O
que me conduz é a curiosidade, vontade de saber mais, ver com os próprios
olhos. Se eu inspirar uma pessoa, para sair de casa e fazer algo saudável, já
me sinto feliz”, finalizou. (LÍVIA
GAERTNER)
Igarapé Três Casas
Avançamos
17 quilômetros além do programado e aportamos na primeira das três Fozes do Igarapé
Três Casas depois de navegar 75 quilômetros.
As
águas do Igarapé eram mais limpas que as do Madeira e paramos no encontro das
águas onde grupos de botos tucuxis e vermelhos perseguiam suas presas. Contando
com a colaboração dos botos, pescamos o suficiente para nos abastecer até
Manicoré. O Igarapé Três Casas nasce no Lago de mesmo nome e, depois de avançar
sinuosamente em direção ao Rio Madeira, muda de ideia e corre paralelamente a
este. O Rio Madeira, inconformado com a pretensão do birrento filete d’água que
teima em retardar o pagamento de seu tributo (tributário) ao volumoso caudal,
rompeu o barranco que os separava e invadiulhe o canal com suas águas fortes e
barrentas, golpeando-o covardemente contra a margem direita até que não restasse
o menor vestígio das águas negras do Três Casas, transformando o Igarapé num
mero furo do grande manancial; mais adiante, essas mesmas águas voltam-se sobre
si mesmas tornando o Madeira um afluente de si mesmo. À noite, o higiênico “coxinha”, membro canino da tripulação,
se lançou às águas e foi fazer suas necessidades fisiológicas equilibrando-se
num tronco à flor d’água.
Partida do Igarapé Três Casas (29.12.2011)
Partimos
por volta das 05h30. Na altura de Bela Brisa, por volta das dez horas, três
jovens garimpeiros vieram ao nosso encontro convidando-nos para almoçar.
Agradecemos a gentileza e informamos que só fazíamos a refeição no final da
jornada e ainda faltava muito para isso. Eles nos contaram que tinham apoiado o
suíço Christian Bodegren na sua passagem por ali. Aportamos no Lago do Antônio
ao meio-dia, depois de remar 63 quilômetros.
A
maioria dos documentos consultados se refere ao local como Lago Santo Antônio.
Vamos reportar um pequeno histórico, por nós adaptado, relatado pelo Senhor
Constantino Veiga, o Seu Tantra, colhido pelo João Paulo junto à Associação de
Desenvolvimento Comunitário dos Produtores Rurais do Lago do Antônio (ADCPLA).
História do Lago do Antônio
Fonte: Senhor Constantino Veiga, Seu Tantra.
O Lago era habitado pelos
Índios, seus primeiros moradores quando chegaram os brancos portugueses,
mandando explorar a seringa, castanha e madeira de lei. Os Índios não queriam “os invasores”, porque a região era muito
farta de peixe, de caça [...]. O patrão contratou, então, um homem chamado
Antônio que foi o primeiro civilizado a vir morar no Lago. Antônio transformou
sua casa numa Fortaleza para resistir aos ataques dos Índios. Antônio falava a
língua nativa e distribuía presentes, que o patrão mandava, aos Índios. Antônio
construiu um batelão para transportar os Índios, já pacificados, do Lago do
Antônio e do Igarapé Grande para pescarem, trabalharem na colheita da castanha,
extração da seringa e da madeira de lei.
Partida do Lago de Santo Antônio (30.12.2011)
Partimos
às 05h30 rumo à Boca do Cará, piscoso afluente do Madeira. A viagem transcorreu
sem maiores novidades, apenas pudemos notar que a quantidade de balsas de
garimpeiros diminuíra consideravelmente. Aportamos na Boca Cará às 11h45 depois
de percorrer 65 km. Nos últimos quilômetros, fomos acompanhados de perto por
bandos de botos vermelhos e tucuxis.
Embarcamos
os caiaques no Piquiatuba e estávamos empenhados na nossa rotina diária quando,
mais uma vez, o “coxinha” se lançou
às águas e nadou até a margem. Parece que o cãozinho entendeu que não devia
poluir a embarcação com seus dejetos e resolveu demarcar o território, várias
vezes. Estava na quinta etapa de sua fétida demarcação quando apareceu um
enorme cão que o nosso pequeno tripulante canino enfrentou e pôs para correr.
O
João Paulo e a tripulação foram fazer um reconhecimento do Rio Cará e no
trajeto quase foram atropelados por um enorme jacaré-açu. Permaneci no
Piquiatuba colocando minha documentação em dia e admirando as evoluções dos
botos tucuxis e vermelhos cercando os cardumes que infestavam a Boca do Cará.
Partida da Boca do Cará (31.12.2011)
Meu
filho ficara até tarde ouvindo as estórias do dono de um mercado flutuante
ancorado na Boca do Cará e, consequentemente, não conseguiu acordar de manhã cedo.
Eu e a tripulação do Piquiatuba nos esquecemos de colocar os celulares para
despertar e, quando acordei às 05h22, já estava começando a clarear. Acionei o
Mário e às 05h35 parti, sozinho, rumo à Comunidade Bom Suspiro, na Foz do Rio
Marmelo.
Mapas do DNIT: as
referências que eu colhera dos Mapas do DNIT estavam completamente equivocadas.
A verdadeira Laranjal estava a mais de 10 km ao Sul da Laranjal do DNIT, a
Comunidade Marmelos do DNIT é, na verdade, Bom Suspiro na Foz do Marmelos, um
belo Rio de águas negras, o local mais aprazível que encontrei no Madeira até
agora.
São inúmeros outros erros que
poderiam ser corrigidos com uma pequena equipe dotada de GPS e computador
embarcada em um barco regional, como o nosso, e uma voadeira. Garanto que, em
três meses, seria possível levantar com precisão os dados de todo o Rio
Madeira. O mesmo poderia ser feito nos demais Rios, seria uma pesquisa
importante e necessária já que os Mapas atuais não retratam a realidade. O 8°
BEC possui as embarcações e a melhor tripulação para desempenhar esta tarefa
que qualquer oficial de Engenharia do Exército estaria em condições de assumir.
A
velocidade do Rio era grande e consegui imprimir um ritmo forte (12,2 km/h) e
sem paradas, me alimentando e hidratando embarcado, para ganhar tempo, chegando
a meu destino exatamente às 11 horas depois de percorrer 66 quilômetros em
05h25. Para quem desce o Rio Madeira, Bom suspiro é a primeira Comunidade do
Município de Manicoré, fronteira com Humaitá. Depois do almoço, eu e meu filho
acompanhamos o Mário numa visita ao Rio Marmelos. A beleza do local e a
simpatia dos membros da Comunidade Bom Suspiro convenceram-nos a permanecer
mais um dia no local. O Piquiatuba ficou estacionado na margem esquerda do
Marmelos, em Humaitá, já que o mesmo faz a divisa entre este Município e
Manicoré.
Partida da Foz do Marmelo (01.01.2012)
Decidi
percorrer os 90 km que separam Bom Suspiro e Manicoré em apenas um dia para
recuperar a parada no Marmelos. Acordamos antes de o Sol nascer e ficamos
esperando clarear um pouco para sair. O João Paulo resolveu não participar
desta navegação.
Quando
fui embarcar no caiaque, levei um tombo, o primeiro em quatro anos, e em mais
de 30.000 km de navegação no caiaque oceânico “Cabo Horn”. Desvirei rapidamente o caiaque, como o material estava
todo amarrado, só tive de catar algumas bananas que caíram do caiaque. O
percurso foi agradável, a chuva fina caía, minorando os efeitos da canícula
amazônica e cheguei à 12h55 a Manicoré; navegara 90 km em apenas 07h15, a uma
velocidade média de 12,4 km/h. Em Manicoré procurei os amigos da PM que me
apresentaram o Jornalista Walter de Azevedo Filho. Walter marcou uma entrevista
para o dia seguinte e ficou de agendar os contatos que solicitamos.
Solicito Publicação
(*) Hiram Reis e Silva é Canoeiro, Coronel de Engenharia, Analista de
Sistemas, Professor, Palestrante, Historiador, Escritor e Colunista;
· Campeão do II
Circuito de Canoagem do Mato Grosso do Sul (1989)
· Ex-Professor
do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA);
· Ex-Pesquisador
do Departamento de Educação e Cultura do Exército (DECEx);
· Ex-Presidente
do Instituto dos Docentes do Magistério Militar – RS (IDMM – RS);
· Ex-Membro do
4° Grupamento de Engenharia do Comando Militar do Sul (CMS)
· Presidente da
Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS);
· Membro da
Academia de História Militar Terrestre do Brasil – RS (AHIMTB – RS);
· Membro do
Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS – RS);
· Membro da
Academia de Letras do Estado de Rondônia (ACLER – RO)
· Membro da
Academia Vilhenense de Letras (AVL – RO);
· Comendador da
Academia Maçônica de Letras do Rio Grande do Sul (AMLERS)
· Colaborador
Emérito da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG).
· Colaborador
Emérito da Liga de Defesa Nacional (LDN).
· E-mail: hiramrsilva@gmail.com.
Galeria de Imagens
* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – X
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