Quarta-feira, 16 de dezembro de 2020 - 08h38
Bagé, 16.12.2020
Porto Velho, RO/ Santarém, PA ‒ Parte LXXX
O
grande amigo e repórter Walter Filho, de Manicoré, me telefonou querendo saber quando
chegaria a Borba e lhe informei que às 11h45 do dia 12.01.2012, e que
partiríamos de Nova Aripuanã, às 05h15, como de costume, de 11.01.2012. Não era
possível vencer a distância de 150 km, entre Nova Aripuanã e Borba, em apenas
um dia.
Partida de Nova Aripuanã (11.01.2012)
A
navegação foi relativamente lenta nas proximidades da Cidade onde o Rio Madeira
se divide em dois braços que contornam uma pequena Ilha frontal à Cidade. O dia
amanhecera com uma leve cerração e uma garoa fina e bastante agradável.
O
João Paulo começou a me acompanhar quando eu já remara em torno de 20 km; o “surfista” está melhorando a olhos
vistos, já não briga tanto com o remo e está aprendendo, aos poucos, a
linguagem das águas. Elas, e não o canoísta, que determinam a melhor rota, as
águas devem ser acarinhadas pelos remos e não violentadas por eles, o navegante
deve integrar-se totalmente à sua fluidez captando sua energia e usando-a a seu
favor.
Remamos
energicamente e fizemos a primeira por volta das 12h00 em uma das primeiras
comunidades do Município de Borba. O pequeno sítio era um capricho só,
construções limpas e pintadas, terreno capinado e plantações bem cuidadas,
chamou-nos a atenção, em especial, o enorme curral que abrigava dezenas de
jabutis. Fizemos uma troca de alguns gêneros alimentícios por frutíferas.
Partida para Borba (12.01.2012)
Parti
no horário costumeiro, prevendo uma única parada a meio caminho em um afluente
de águas negras que aparecia na fotografia aérea do Google Earth.
Lá
chegando, verificamos que a foto havia sido feita na estiagem do Madeira, o
pequeno afluente fora invadido pelas barrentas águas do Madeira, sendo
impossível reabastecer de água limpa a caixa d’água do Piquiatuba.
Os
ventos fortes que surgiram, a partir desta rápida parada, retardaram,
sensivelmente, nossa progressão. Quanto mais nos aproximávamos de Borba mais
intensa a ventania e, consequentemente, os banzeiros. As ondas ainda não tinham
ultrapassado os 60 centímetros de altura, não exigindo, portanto, a colocação
da saia de “neoprene” para impedir
que as águas invadissem o “cockpit”.
Aportamos
exatamente às 11h45 e, depois do almoço, fui com o João Paulo até o Banco do
Brasil. Infelizmente os caixas eletrônicos não permitiam o saque, e uma
estagiária nos informou que somente no dia seguinte, às oito horas, o saque
poderia ser feito.
O
Banco do Brasil, ao contrário do que se pensa, não é a organização bancária
mais presente na Amazônia Brasileira, deixando de cumprir uma importante função
social que deveria nortear sua administração.
Logo
depois, fomos procurar um hotel onde eu pudesse me concentrar para escrever os
artigos. As informações contraditórias e a péssima apresentação dos mesmos eram
impressionantes, resolvi voltar para o barco. Mais tarde, o João Paulo
descobriu uma instalação decente onde passei minha primeira noite em Borba.
Borba (13.01.2012)
Acordei
cedo e, depois do café, fui até o Banco do Brasil fazer o saque e retirar um
extrato para informar ao meu pessoal de apoio sobre as novas contribuições.
Felizmente mais alguns companheiros investiram no Projeto embora as
contribuições até agora só tenham alcançado os 33% do montante total necessário
para esta descida de 2.000 km de Porto Velho, RO, a Santarém, PA.
As
obras de contenção, jardins e a bela Igreja conferem à Cidade uma visão
bastante agradável para quem a acessa pelo Rio. Infelizmente, como a maioria
das concentrações urbanas amazônicas, certas pessoas consideram as calçadas
como seu bem particular.
Negociantes
colocam seus produtos impedindo a passagem de pedestres, moradores chegam a
colocar cercas para demarcá-las como “sua”
propriedade, e condutores irresponsáveis estacionam seus veículos nestes
passeios “públicos”.
É
muito melhor arriscar coisas grandiosas, alcançar triunfos e glórias, mesmo
expondo-se à derrota, do que formar fila com os pobres de espírito, que nem
gozam muito, nem sofrem muito, porque vivem nessa penumbra cinzenta que não
conhece vitória nem derrota. (Theodore Roosevelt)
A
distância de Nova Olinda do Norte era, pelo Google Earth, de pouco mais de 90
quilômetros. No planejamento inicial, eu previra dois dias de deslocamento, mas
decidi fazer em um dia, contando com o tempo bom e a velocidade da correnteza.
Partida de Borba, AM (14.01.2012)
O
João Paulo apareceu, de madrugada, dizendo que tinha sido convidado por alguns
novos amigos para um churrasco e que pretendia ficar mais um dia em Borba.
Parti um tanto preocupado, deixando meu filho para trás. Lancei-me às águas,
como o programado, por volta das 05h15, pronto para enfrentar o mais longo
desafio do Rio Madeira, eu estava otimista, a primeira hora foi alvissareira,
águas de Almirante, suave brisa e águas rápidas. Depois de remar 15 km, minha
proa apontou para enormes e carregadas nuvens negras no horizonte. A chuva
começou pela margem esquerda e logo me atingiu por rajadas de vento de até 40
km por hora, uma chuva forte acompanhada dos inevitáveis “banzeiros”. As ondas não ultrapassaram os 60 cm, mas resolvi
navegar próximo da margem direita, já que a visibilidade fora reduzida a uns
300 metros. O esforço agora era considerável, em virtude dos ventos de proa,
torci para que o tempo melhorasse para não comprometer minha programação.
O
objetivo seria alcançado de qualquer maneira, fui doutrinado, na Academia
Militar das Agulhas Negras, para não entregar os pontos e forçar coração,
nervos, músculos, tudo, para atingir a meta. Os óbices acontecem, mas devem ser
encarados com naturalidade e ultrapassados com coragem e determinação, sempre
mantendo o “foco” no objetivo a ser
atingido.
Depois
de navegar, aproximadamente 20 km, o Soldado Walter Vieira Lopes (Subcomandante
do Piquiatuba) resolveu acompanhar-me no caiaque do Mestre José Holanda.
Durante a primeira hora, o Vieira Lopes dominou a arte da canoagem como bom
marujo que é, enfrentando fortes ondas de proa e de través. As ondas acalmaram,
o vento diminuiu consideravelmente e, como ele estivesse à minha frente, gritei
para que ele aproasse a jusante de uma Ilha à nossa frente; o Vieira Lopes
girou o corpo para me ouvir melhor e virou o caiaque.
Depois
de tentar diversas vezes subir, sem sucesso, no caiaque, resolvi rebocá-lo até
a margem. Foi uma progressão lenta, difícil e cansativa até uma margem repleta
de canaranas. Viera Lopes retirou a água do caiaque e partiu célere para a
margem direita do Rio. Somente depois de ultrapassarmos as pequenas Ilhas,
avistamos o Piquiatuba comandado pelo Soldado Mário Elder Guimarães Marinho.
Fui até a embarcação colocar uma camisa seca e renovar meu estoque de água de
coco. O Vieira Lopes continuou mais um pouco e foi substituído, no caiaque,
pelo Soldado Marçal (nosso cozinheiro). Novamente a maestria dos nossos marujos
na condução de uma embarcação a que não estavam absolutamente acostumados ficou
patente.
Faltavam
apenas 26 km e resolvi imprimir um ritmo forte até Nova Olinda, acompanhado a
par e passo pelo Marçal. A uns dez quilômetros de distância da Cidade, o Marçal
comentou sobre a ausência dos golfinhos (botos e tucuxis) no Baixo Madeira e,
logo em seguida, como para atender a seu apelo, apareceram cinco enormes botos
vermelhos. Os belos mamíferos aquáticos evoluíam muito próximos dos caiaques,
por vezes nos assustando e nos acompanharam até as cercanias da Cidade.
Chegada em Nova Olinda do Norte (14.01.2012)
Chegamos
às das 12h55 depois de navegar 93 km em 07h40 a uma média próxima dos 12 km/h.
O Sd Mário Elder ancorou no Porto do DNIT e conseguiu autorização do
funcionário Charles Christian Sales para que ali permanecêssemos até segunda de
manhã.
Solicito Publicação
(*) Hiram Reis e Silva é Canoeiro, Coronel de Engenharia, Analista de
Sistemas, Professor, Palestrante, Historiador, Escritor e Colunista;
· Campeão do II
Circuito de Canoagem do Mato Grosso do Sul (1989)
· Ex-Professor
do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA);
· Ex-Pesquisador
do Departamento de Educação e Cultura do Exército (DECEx);
· Ex-Presidente
do Instituto dos Docentes do Magistério Militar – RS (IDMM – RS);
· Ex-Membro do
4° Grupamento de Engenharia do Comando Militar do Sul (CMS)
· Presidente da
Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS);
· Membro da
Academia de História Militar Terrestre do Brasil – RS (AHIMTB – RS);
· Membro do
Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS – RS);
· Membro da
Academia de Letras do Estado de Rondônia (ACLER – RO)
· Membro da
Academia Vilhenense de Letras (AVL – RO);
· Comendador da
Academia Maçônica de Letras do Rio Grande do Sul (AMLERS)
· Colaborador
Emérito da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG).
· Colaborador
Emérito da Liga de Defesa Nacional (LDN).
· E-mail: hiramrsilva@gmail.com.
Galeria de Imagens
* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – X
Bagé, 20.12.2024 Continuando engarupado na memória: Tribuna da Imprensa n° 3.184, Rio, RJSexta-feira, 25.10.1963 Sindicâncias do Sequestro dão e
Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – VI
Silva, Bagé, 11.12.2024 Continuando engarupado na memória: Jornal do Brasil n° 224, Rio de Janeiro, RJ Quarta-feira, 25.09.1963 Lei das Selvas T
Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – IV
Bagé, 06.12.2024 Continuando engarupado na memória: Jornal do Brasil n° 186, Rio de Janeiro, RJSábado, 10.08.1963 Lacerda diz na CPI que Pressõessã
Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – III
Bagé, 02.12.2024 Continuando engarupado na memória: Jornal do Brasil n° 177, Rio de Janeiro, RJQuarta-feira, 31.07.1963 JB na Mira O jornalista H