Segunda-feira, 21 de dezembro de 2020 - 09h09
Bagé, 21.12.2020
Porto Velho, RO/ Santarém, PA ‒ Parte LXXXIII
Descendo o Rio Madeira ‒ XIV
Passados
50 anos e várias prospecções, o Relatório Link tem-se mostrado, de maneira
geral, correto, em cada uma de suas conclusões sofrendo, contudo, pequenas, mas
inevitáveis, alterações com o tempo, em decorrência dos resultados obtidos e
dos avanços tecnológicos.
Fábio
Giambiagi, na obra intitulada “Petróleo:
Reforma e Contrarreforma do Setor Petrolífero Brasileiro” faz as seguintes
considerações a respeito da trajetória de Link na PETROBRAS.
Para a condução do recém-criado
Departamento de Exploração [DEPEX], a PETROBRAS decidiu contratar um geólogo de
grande experiência, Walter Link, ex-geólogo-chefe da Standard Oil Co. of New
Jersey, que iniciou seus trabalhos no Brasil em outubro de 1954. Uma das
primeiras decisões da diretoria da PETROBRAS em atendimento às recomendações de
Walter Link foi a reformulação da política de formação de geólogos e geofísicos
no Brasil, em nível de pós-graduação, substituindo a prática de envio dos
profissionais da companhia para aperfeiçoamento em geociências no exterior, em
um acordo com a Universidade de Stanford e o suporte da Universidade da Bahia, dando
preferência ao preparo desses profissionais no Brasil, cabendo observar que não
havia, na ocasião, cursos universitários dessa natureza no país.
Os cursos, destinados a engenheiros, tinham
duração de dois anos e tiveram início em 1957, formando, a cada ano, cerca de
15 profissionais, até que, algum tempo depois, as universidades brasileiras
passaram a formar geólogos em nível de graduação e os cursos dessa natureza
foram extintos.
Essa política se estendeu também para
outras áreas críticas, como a de perfuração-produção e a coordenação geral
dessas atividades conferidas ao CENAP, o órgão da PETROBRAS, precursor do
CENPES, o Centro de Pesquisa e Desenvolvimento [P&D] da PETROBRAS. Esse
zelo inicial da empresa na formação de seu pessoal se mantém até hoje,
orientado para a preparação de um corpo técnico de alto nível, numa carreira
estável, bem remunerada e com amplas possibilidades de desenvolvimento
profissional, quer do ponto de vista estritamente técnico, quer do ponto de
vista gerencial, com frequência em universidades no exterior. Sob o comando de
Link, a PETROBRAS conduziu um intenso programa de exploração nas Bacias
Paleozoicas do Amazonas [no Baixo, Médio e Alto Amazonas – hoje designado
Solimões], e do Maranhão – hoje designado Parnaíba –, assim como nas Bacias
costeiras terrestres de Barreirinhas, do Maranhão ao Espírito Santo.
Dois excelentes indicadores comparativos do
nível de atividade conduzido e dos resultados obtidos podem ser cotejados nos
15 anos de atuação do CNP, entre 1939 e 1954, e nos 10 anos iniciais da
PETROBRAS, entre 1954 e 1964: o CNP perfurou 217 poços exploratórios e de
desenvolvimento e a PETROBRAS, 679 poços exploratórios; o CNP contabilizou, ao
fim de seu período de atuação, 51 milhões de barris de petróleo de reservas, e
a PETROBRAS, ao fim do período mencionado, 674 milhões de barris.
Mas, historicamente, os pontos mais
importantes acham-se registrados nos três relatórios apresentados pelo DEPEX no
segundo semestre de 1960, de certo modo resumindo
a posição dos geólogos, encabeçada por Link,
que ficaram
conhecidos como “Relatório Link”, o último deles
emitido em 22.08.1960, pouco antes de Link deixar o Departamento, sintetizando
resultados e refletindo o pessimismo pela ausência de descoberta de campos
gigantes de petróleo, “ausência de
Bonanza Oil”, nas Bacias investigadas. Um ponto relevante desses relatórios
é a classificação das Bacias sedimentares brasileiras, de acordo com sua
prospectividade e perspectiva de sucesso, em quatro categorias, de A [Bacia com produção comercial] a D [Bacias consideradas sem
possibilidades, onde a exploração deve cessar]. Houve
inclusive a sugestão de que seria melhor a PETROBRAS ir para o exterior ou para
o “offshore” brasileiro ([1]).
Essas avaliações evoluíram com o tempo, de acordo com resultados obtidos, de um
ou outro modo, e os avanços tecnológicos. O Médio Amazonas, por exemplo, foi
classificado como C+, e o Alto
Amazonas, como C-, embora justamente
neste último petróleo de excelente qualidade tenha sido descoberto e
desenvolvido anos depois [1986]. [...] Talvez o principal legado de Link tenha
sido, como ressaltou o geólogo Giuseppe Bacoccoli, a introdução na equipe de
exploração de:
importantes princípios que, contagiando as outras equipes de Exploração e
Produção [E&P] e até toda a PETROBRAS, acabaram se transformando num dos
pilares que contribuíram para o sucesso da empresa.
Entre eles não se poderia deixar de
mencionar:
1. O
entusiasmo e a dedicação ao trabalho;
2. A
necessidade de estudar sempre;
3. A
modéstia de aprender com quem sabe;
4. A
disciplina; e
5. O
estabelecimento de claros procedimentos de trabalho. (GIAMBIAGI)
Relatório Link
DEPEX
- 1032/60, 22 de agosto de 1960.
Ao: General Idálio Sardenberg [...]
De: Walter K. Link.
Senhores,
Na semana compreendida entre 15 e 19 de agosto,
tivemos discussões preliminares sobre os programas de trabalho para 1961. Todos
os geólogos de distritos, seus assistentes e o “staff” técnico do DEPEX estiveram presentes às reuniões. Um total
de 6 geólogos brasileiros e 8 estrangeiro tomaram parte na reunião. [...] As
avaliações finais das Bacias designadas como A, B, C e D, acham-se sintetizadas na primeira folha anexa a esta carta, e
consiste em duas médias. A primeira inclui a avaliação de todos os técnicos e a
segunda exclui a do missivista.
Bacia “A” – indica
produção comercial, e a exploração deverá continuar.
Bacia “B” – apresenta
todos os requisitos necessários e os fatores geológicos indicam que se deverá
encontrar óleo e quantidade comercial, garantindo a continuação da exploração
ativa.
Bacia “C” – é uma
Bacia marginal que foi feito grande esforço exploratório sem sucesso comercial.
Tais Bacias pedem diminuição da exploração sem necessariamente exigirem
completa cessação da mesma.
Bacia “D” – não
apresenta possibilidades e a exploração deverá cessar.
Nesta base, julgamos que a área terrestre
de Sergipe tem uma avaliação “B+” e
a exploração deverá continuar em larga escala. O
Médio Amazonas tem avaliação “C+” e
a exploração deverá continuar em escala
reduzida, Barreirinhas, Maranhão, a área terrestre de Alagoas e o Sul do
Brasil podem ser classificadas tanto em “C”
como abaixo, porém mais do que “D”.
As possibilidades de óleo não se mostram favoráveis e as oportunidades de se
encontrar o “Óleo Bonanza” que o
Brasil necessita, são poucas. O Baixo e Alto Amazonas, Acre, São Luiz e a faixa
terrestre do Espírito Santo, São todas “D+”
ou menos e a exploração não é aconselhável. [...]
Sinceramente, Walter K. Link.
Bibliografia
GIAMBIAGI. Fábio. Petróleo: Reforma e Contrarreforma do Setor
Petrolífero Brasileiro – Brasil – Rio de Janeiro, RJ – Elsevier Editora
Ltdª, 2013.
Solicito Publicação
(*) Hiram Reis e Silva é Canoeiro, Coronel de Engenharia, Analista de
Sistemas, Professor, Palestrante, Historiador, Escritor e Colunista;
· Campeão do II
Circuito de Canoagem do Mato Grosso do Sul (1989)
· Ex-Professor
do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA);
· Ex-Pesquisador
do Departamento de Educação e Cultura do Exército (DECEx);
· Ex-Presidente
do Instituto dos Docentes do Magistério Militar – RS (IDMM – RS);
· Ex-Membro do
4° Grupamento de Engenharia do Comando Militar do Sul (CMS)
· Presidente da
Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS);
· Membro da
Academia de História Militar Terrestre do Brasil – RS (AHIMTB – RS);
· Membro do
Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS – RS);
· Membro da
Academia de Letras do Estado de Rondônia (ACLER – RO)
· Membro da
Academia Vilhenense de Letras (AVL – RO);
· Comendador da
Academia Maçônica de Letras do Rio Grande do Sul (AMLERS)
· Colaborador
Emérito da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG).
· Colaborador
Emérito da Liga de Defesa Nacional (LDN).
· E-mail: hiramrsilva@gmail.com.
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