Terça-feira, 22 de dezembro de 2020 - 07h11
Bagé, 22.12.2020
Porto Velho, RO/ Santarém, PA ‒ Parte LXXXIV
Anexo
DEPEX - 1032/60, 09 de agosto de 1960.
Avaliação das Possibilidades Petrolíferas
das Bacias Sedimentares do Brasil
Introdução
Neste memorando sobre as possibilidades
petrolíferas das Bacias Sedimentares do Brasil, e que será provavelmente uma
análise final antes de partimos no fim do ano, tentaremos mostrar a situação em
bases absolutamente impessoais, usando somente os fatos geológicos conhecidos. Infelizmente, os
dados geológicos que possuímos não retratam o conjunto do quadro, mas apenas fragmentos do mesmo. [...]
Esta análise é principalmente a do
missivista, mas inclui ideias e pontos de vista básicos obtidos do trabalho de exploração
feitos no Brasil por um grupo de técnicos que constitui o Departamento de
Exploração no Rio e nos Distritos. [...]
O Vale Amazônico
A única geologia sedimentar visível no
Amazonas, de interesse para o geólogo de petróleo, é a faixa de afloramento
Paleozoico nas margens Sul e Norte da Bacia entre as longitudes 51° e 62° à
Oeste de Greenwich. Esta faixa tem uma largura média de 50 km.
No Acre existe uma seção de afloramento
Cretáceo ao longo da fronteira Peruana representada pelo complexo anticlinal ([1])
de Moa. As áreas sedimentares que podem dar informações geológicas representam
menos de 1% do Vale Amazônico o resto acha-se coberto por camadas planas das
eras Terciária, Quaternária e Mesozoica.
Entretanto, durante vários anos o Vale
Amazônico foi considerado de valor potencial sob o ponto de vista petrolífero e
a perfuração nas faixas de afloramento das Bacias do Acre e Amazonas iniciou-se
já em 1926. Quatro poços foram perfurados no Domo de Monte Alegre, perto da
cidade do mesmo nome, e vários outros no Acre.
Um total de 15 poços foi perfurado antes do
início dos trabalhos do CNP. O CNP, perfurou 3 poços na área de Marajó e
iniciou a perfuração de 2 outros na parte principal da Bacia Amazônica em Nova Olinda e Alter do Chão perto de Santarém.
O CNP realizou também trabalhos de gravimetria e sismografia do Vale Amazônico.
A PETROBRAS continuou e incrementou o
trabalho de exploração na Amazônia empregando todas as técnicas geológicas e
geofísicas conhecidas, secundadas por grandes números de perfurações
estratigráficas e pioneiras.
A PETROBRAS perfurou mais de 75 poços na
parte principal do Vale Amazônico e no Graben do Marajó e efetuou vários
levantamentos geofísicos dispendiosos nos últimos 5 anos. Com base neste
trabalho, torna-se agora possível uma boa avaliação de potencialidade do Vale
Amazônico e do Acre.
– Bacias Geológicas do Vale Amazônico
Geologicamente o Vale Amazônico pode ser
dividido em 4 Bacias distintas que são: [...]
2) Bacia do Médio Amazonas; [...]
– Bacia do Médio Amazonas
O delineamento desta Bacia tornou-se
possível somente pelo trabalho geológico e geofísico, secundado por perfuração
pioneira e estratigráfica. A Bacia termina a Leste pelo Arqueamento do Gurupá e
a Oeste pelo do Purus. É uma Bacia Paleozoica, quase toda coberta por
sedimentos planos do Mesozoico ao Quaternário. A maior concentração do esforço
exploratório foi nesta Bacia, devidos aos primeiros indícios de óleo em Nova Olinda onde se produziu 4.000 bbs de
óleo. Autás Mirim produziu 1.800 bbs. Todas as ocorrências de óleo do Médio
Amazonas acham-se dentro de um raio de 150 km, tendo Nova Olinda como centro,
excetuando-se o poço de Faro, onde uma pequena amostra de gás foi testada dando
uma estimativa de 150.000 pés cúbicos diários. Baseado no que foi dito acima
concluímos que:
1) A Bacia do Médio
Amazonas satisfez as exigências das formações geradoras de óleo nas Formações
Curuá e possivelmente também Nova Olinda; [...]
Reunindo todos esses fatores, sem se
considerar as dificuldades causadas pela capa de lava no topo do Paleozoico e a
intrusão no mesmo, o melhor grau de avaliação que se poderá dar ao Médio
Amazonas é “D”, o que prova ser a
Bacia bem marginal e a área pobre, para a produção em larga escala. [...]
Respeitosamente, Walter K. Link.
DEPEX
- 1058/60, 29 de agosto de 1960.
Ao: General Idálio Sardenberg [...]
Do: Walter K. Link
Programa de Exploração para 1961
Senhores:
Em anexo encontra-se o programa de
exploração proposto para 1961, que recomenda a continuação da exploração no
ritmo de 1960 nas Bacias de Sergipe e do Recôncavo, e o aumento de atividade na
Bacia de Tucano.
Nenhuma exploração nas Bacias “D” do Acre, Alto Amazonas, Baixo
Amazonas, e na faixa costeira do Espírito Santo e Sul da Bahia, é considerado.
Julgamos também que uma exploração nas Bacias de classe “C” como o Médio Amazonas, Maranhão, Barreirinhas, Alagoas e Sul do
Brasil, não pode ser justificada do ponto de vista geológico. [...]
A única Bacia paleozoica que recebeu
avaliação “C” ou superior por todos
os geólogos, é a Bacia do Médio Amazonas. O óleo livre encontrado em Nova
Olinda e Autás Mirim sem dúvida contribuiu para isso.
Nós todos consideramos uma avaliação “C” como marginal, recomendo à Diretoria
que leia novamente e revise a carta do signatário DEPEX/DDO - 527 de
14.09.1959. Essa carta menciona os grandes gastos em dinheiro nesta área sem
encontrar óleo comercial, e exploração subsequente não modificou esse quadro.
[...]
Sinceramente, Walter K. Link.
Reações ao Relatório Link
Jornal do Brasil, n° 278 ‒ Rio de Janeiro, RJ
Sábado, 26.11.1960
Petróleo Paixão e Posse
Foi reaberto o debate sobre a questão do
petróleo. Como de costume, o problema é discutido em termos emocionais e às
vésperas de uma mudança de Governo. Aliás, é significativo ver-se que a
primeira pergunta que se faz, depois da eleição de um novo Presidente da
República, é esta:
– Entregará ele o petróleo?
O Sr. Jânio Quadros, como candidato,
cansou-se [e a todos nós] de afirmar que é favorável ao monopólio estatal do
petróleo. Isso, porém, não sossegou os sempiternos “defensores do petróleo” nem aqueles ditos realistas que afirmam, ao
mesmo tempo, duas teses contraditórias: a de que as jazidas brasileiras de
petróleo são insuficientes e a de que o Brasil só extrairá petróleo em
quantidade suficiente quando fizer concessões a capitais estrangeiros. [...]
No entanto, se é errado ceder-se às
pressões contra o monopólio, também não é certo considerar-se infalível a
empresa estatal. A PETROBRAS, como bem disse o Sr. Jânio Quadros, não é
intocável. Todo mundo sabe que ela se
transformou num poleiro de empregos e tem negligenciado em cumprir a sua missão
principal, que é a de pesquisar o petróleo em todo o território nacional.
Limita-se a PETROBRAS a tirar o petróleo do Recôncavo Baiano, explorando a todo
pano as reservas conhecidas.
As denúncias a respeito são numerosas, mas
só agora alguns defensores do petróleo começaram a admitir essa hipótese por
eles considerada inadmissível ao tempo em que a empresa era administrada pelo
intocável Sr. Janari Nunes.
Discutem-se, agora, a competência e a
idoneidade de um técnico norte-americano contratado, há muito tempo, pela PETROBRAS:
Sr. Walter Link. Em relatório, o Sr. Link e outro técnico, o Sr. Luís Morales,
colombiano, disseram que o Brasil não tem condições de ser um grande produtor
de petróleo. A sua geologia, segundo eles, é ingrata. O relatório, ao que se
diz, data de 1959 (?), e foi
divulgado na época. Contra ele é apresentado o relatório do Coronel Geisel, que
denúncia manobras contra PETROBRAS dentro da própria PETROBRAS. Também este, ao
que se afirma, é antigo. É o caso de se indagar por que esses documentos foram
exumados, em conferência na Escola Superior de Guerra e em discursos na Câmara
dos Deputados, nesta hora em que não falta quem procure copos de água para
fazer tempestades. O fato, porém, é que se reabriu o debate. E, se todos querem
mexer no assunto, que seja feita uma investigação nas atividades da PETROBRAS.
A Câmara Federal terá uma boa oportunidade de fazer um inquérito diferente de
tantos outros que tem feito – una inquérito minucioso, rigoroso, concludente.
Se ficar provado que a PETROBRAS precisa de
uma reforma, que se façam as recomendações necessárias, sem demagogia,
patriotadas ou proteções. Se for apurado que
políticos transformaram a PETROBRAS num cabide de empregos e numa empresa
financiadora de publicações existentes ou hipotéticas, que sejam divulgados os
nomes dos empregados e dos empregadores, dos financiadores e dos financiados.
E se o Sr. Link não é o Link autêntico, mas
uma espécie de elo perdido numa cadeia de maquinações, que seja substituído. O
que não pode continuar é essa situação equívoca em que vive a PETROBRAS,
produzindo mais política do que petróleo. Quanto ao mais, só deve haver uma
coisa realmente intocável no Brasil: a Lei. E a mais importante das leis é
aquela que diz que todo poder emana do povo e em seu nome será exercido. (JB,
n° 278)
Bibliografia
JB, n° 278. Petróleo Paixão e Posse ‒ Brasil ‒ Rio de Janeiro,
RJ ‒ Jornal do Brasil, n° 278 (pg. 03), 26.11.1960.
Solicito Publicação
(*) Hiram Reis e Silva é Canoeiro, Coronel de Engenharia, Analista de Sistemas,
Professor, Palestrante, Historiador, Escritor e Colunista;
· Campeão do II
Circuito de Canoagem do Mato Grosso do Sul (1989)
· Ex-Professor
do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA);
· Ex-Pesquisador
do Departamento de Educação e Cultura do Exército (DECEx);
· Ex-Presidente
do Instituto dos Docentes do Magistério Militar – RS (IDMM – RS);
· Ex-Membro do
4° Grupamento de Engenharia do Comando Militar do Sul (CMS)
· Presidente da
Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS);
· Membro da
Academia de História Militar Terrestre do Brasil – RS (AHIMTB – RS);
· Membro do
Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS – RS);
· Membro da
Academia de Letras do Estado de Rondônia (ACLER – RO)
· Membro da
Academia Vilhenense de Letras (AVL – RO);
· Comendador da
Academia Maçônica de Letras do Rio Grande do Sul (AMLERS)
· Colaborador
Emérito da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG).
· Colaborador
Emérito da Liga de Defesa Nacional (LDN).
· E-mail: hiramrsilva@gmail.com.
[1] Anticlinal: designativo da teoria segundo a qual o petróleo migra
para as porções mais elevadas das camadas permeáveis.
Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – X
Bagé, 20.12.2024 Continuando engarupado na memória: Tribuna da Imprensa n° 3.184, Rio, RJSexta-feira, 25.10.1963 Sindicâncias do Sequestro dão e
Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – VI
Silva, Bagé, 11.12.2024 Continuando engarupado na memória: Jornal do Brasil n° 224, Rio de Janeiro, RJ Quarta-feira, 25.09.1963 Lei das Selvas T
Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – IV
Bagé, 06.12.2024 Continuando engarupado na memória: Jornal do Brasil n° 186, Rio de Janeiro, RJSábado, 10.08.1963 Lacerda diz na CPI que Pressõessã
Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – III
Bagé, 02.12.2024 Continuando engarupado na memória: Jornal do Brasil n° 177, Rio de Janeiro, RJQuarta-feira, 31.07.1963 JB na Mira O jornalista H