Sexta-feira, 1 de janeiro de 2021 - 11h58
Bagé, 30.12.2020
Porto Velho, RO/ Santarém, PA ‒ Parte LXXXIX
Oh!
Quão bom e quão suave é que os irmãos vivam em união. É como o óleo precioso
sobre a cabeça, que desce sobre a barba, a barba de Arão, e que desce à orla
das suas vestes. Como o orvalho de Hermom, e como o que desce sobre os montes
de Sião, porque ali o Senhor ordena a bênção e a vida para sempre. (Salmo 133,
Bíblia Sagrada)
Consegui, no meu último dia de permanência em
Manaus (27.01.2012), cumprimentar e agradecer o apoio do meu caro amigo e
ex-Cadete, General José Luiz de Paiva, Comandante do 2° Grupamento de
Engenharia (2° Gpt E), que estava envolvido nas passagens de comando dos 5°, 6°
e 7° Batalhões de Engenharia de Construção. O suporte do 2° Gpt E, nesta 4ª
Fase do Projeto Desafiando o Rio-Mar, assim como na 3ª, permitiu que levássemos
a bom termo as visitas, pesquisas e entrevistas planejadas.
Dentre tantas surpresas agradáveis, que
aconteceram durante minha permanência em Manaus, uma das mais gratas foi, sem
dúvida, a de ter sido convidado pelos irmãos (Ir:.) Raimundo e Vilela, Coronéis
do 2° Gpt E, para realizar duas palestras sobre o Projeto Desafiando o Rio-Mar,
uma no 2° Grupamento de Engenharia e outra na abertura dos trabalhos da Loja
Maçônica Vitória Régia, filiada ao Grande Oriente do Brasil (GOB), loja a qual
pertenceu o Coronel Art André Flávio Teixeira, entusiasta participante da
equipe de apoio das 2ª e 3ª Fases do Projeto. Depois da abertura, seguindo os
procedimentos do “Rito Brasileiro”,
os trabalhos foram interrompidos e fiz uma pequena apresentação do Projeto,
desde a sua concepção, planejamento, treinamento e execução de cada uma das
quatro fases.
Após a sessão, fomos brindados com uma ágape
nas instalações da Loja e mais tarde o Coronel Vilela me conduziu até o
Piquiatuba para iniciarmos o deslocamento até a Comunidade de Mauari, 23
quilômetros a montante da Foz do Madeira.
Partida de Manaus (28.01.2012)
Partimos de Manaus por volta da uma hora da
manhã, eu estava muito cansado e a jornada que se avizinhava exigiria um
esforço muito grande, mas eu não podia perder a oportunidade de contemplar a
Cidade de Manaus e a bela Ponte do Rio Negro à noite. O Piquiatuba passou sob o
monumental vão central, as luzes douradas iluminavam os cabos de sustentação da
ponte pênsil enquanto fachos coloridos alternavam-se matizando o enorme pilar
com as cores do arco-íris. Os dois vãos livres de 200 m são suportados por
cabos ancorados no marque central de 172 m de altura, a partir do nível d’água,
e vãos livres de 55 m, no mínimo (na cheia), de altura para a passagem de
transatlânticos ou navios de grande porte. Meu filho, João Paulo, registrou a
passagem com inúmeras fotografias. A ponte foi uma iniciativa do Governo
Estadual, cansado de esperar pelas promessas de verbas federais.
A ponte faz parte do complexo rodoviário que
unirá Porto Velho a Manaus através da BR-319 e que irá permitir, futuramente, depois
de construída a ponte, em Manaquiri, ou sobre outro sítio no Solimões, a
ligação do Brasil através da BR-174, até o Estado de Roraima e Venezuela.
Infelizmente a Presidente anunciou, recentemente, que o Governo Federal não irá
construir a ponte sobre o Rio Solimões frustrando não apenas as expectativas
das populações dos Estados do Amazonas e Roraima, mas do Brasil inteiro. Para
completar o amargo pacote de decisões federais, o Todo-poderoso IBAMA não
liberou a construção do chamado trecho do meio da BR-319, que tem cerca de 400
quilômetros de extensão, apesar de todos os requisitos ambientais terem sido
adequadamente cumpridos. As populações ao longo da BR-319 vivem marginalizadas,
enfrentando uma série de dificuldades, mas o IBAMA, alheio a tudo e a todos,
está mais preocupado com cacos de cerâmica e pequenos detalhes na confecção de
documentos do que com os brasileiros carentes e desassistidos. Usei os
binóculos ofertados pelo mestre e amigo Edison Bittencourt para admirar a
Cidade que se afastava lentamente deixando em nossos corações e mentes belas
lembranças de amizade e companheirismo.
Partida de Mauari (28.01.2012)
Chegamos a Mauari por volta das seis horas da
manhã. A cheia do Amazonas tinha afogado o rochedo Maria Mococa que conhecêramos,
em 24.12.2010, quando aportamos na Foz do Igarapé Mauari, avistamos formações
rochosas de ambas as margens que se debruçavam sobre as águas do Rei dos Rios e
no centro uma bela Praia de areias brancas.
Na ponta da laje de jusante, existe uma
formação que lembra um rosto feminino, conhecido como Maria Mococa. As águas,
hoje, estavam a mais de quatro metros acima do nível, do dia 24.12.2010,
submergindo todo o belo conjunto da Foz do Mauari. Estacionamos alguns metros
abaixo, embarquei no caiaque e parti, célere, rumo a Itacoatiara. Depois de
remar uns 12 km, meu filho se juntou a mim e remamos vigorosamente até o 18° km
quando parei para lhe mostrar a interessante ponte de ferro em arco sobre o
Igarapé Nossa Senhora das Graças. Em 2010, não corria uma única gota d’água sob
a ponte e tive de escalar o barranco para poder fotografá-la, hoje se podia
acessar o Igarapé diretamente do Rio e havia muita água correndo sob a ponte.
A viagem transcorreu sem maiores transtornos,
só avistamos os primeiros troncos de madeira depois de ultrapassarmos a Foz do
Madeira. Estes troncos, tão temidos pelos ribeirinhos, já causaram e
continuarão causando prejuízos pessoais e materiais porque contam com o
incompreensível beneplácito das idiotizadas autoridades ambientais. Pelo menos
dois projetos que pretendiam retirar estes perigosos obstáculos dos Rios foram
obstaculizados pelo IBAMA.
Um deles, na Hidrelétrica de Santo Antônio,
foi vetado; e o da HERMASA, de Itacoatiara, multado por estar aproveitando
estes rejeitos arbóreos em suas caldeiras. Coisas de um Brasil cujas
autoridades, coniventes, subservientes ou a soldo de parceiros estrangeiros se
submetem aos seus interesses visando manter o seu monopólio, prejudicando
aqueles que produzem e geram emprego no nosso rico e pobre país.
Rico quando se trata dos potenciais a serem
explorados sejam minerais ou agrícolas, e pobre tendo em vista que pouco a
pouco o controle destes recursos, antes administrados por empresas estatais ou
privadas, estão passando para as mãos de oligopólios internacionais, gerando
enormes divisas para seus países e uns poucos “trocados” para os “brasileiros
bonzinhos”. É uma nova versão do colonialismo que conta com a participação
ativa de empresários nacionais omissos, abençoados por uma política entreguista
e desnacionalizadora.
Chegamos a Itacoatiara, às 11h12, depois de
navegar 75 km em 05h15 a uma média de 14,3 km/h e, depois do almoço, eu e a
Rosângela nos instalamos em um pequeno hotel, próximo à Praça, com o intuito de
buscar repouso reparador. Apesar de termos solicitado o último quarto, bem
longe do movimentado “Passeio Público
Jornalista Agnelo Oliveira”, conhecido como Orla Municipal, às margens do
Rio Amazonas, em busca do almejado silêncio, hóspedes mal-educados, porém,
chegavam de madrugada falando alto e batendo as portas, além disso, o hotel não
disponibilizou tolhas de banho sob a alegação de que não estavam secas, um
serviço bastante medíocre para uma Cidade como Itacoatiara. Em contrapartida, o
Mestre José Holanda, com sua fidalguia peculiar, deixou-nos seu carro à
disposição e tive que reaprender a dirigir utilizando os recursos da direção
hidramática do sofisticado veículo. Confesso que é muito mais fácil nos
adaptarmos ao conforto e às coisas boas do que à carência e às dificuldades.Graças
a isso, conseguimos visitar os prédios históricos da Cidade e fotografá-los.
Itacoatiara (29.01.2012)
No
domingo, Holanda nos proporcionou um belo almoço no Restaurante Panorama, de
sua sobrinha, e à tarde concedeu, no Piquiatuba, uma entrevista, acompanhado de
seu neto, contando sua origem e sua história de vida.
Solicito Publicação
(*) Hiram Reis e Silva é Canoeiro, Coronel de Engenharia, Analista de
Sistemas, Professor, Palestrante, Historiador, Escritor e Colunista;
· Campeão do II
Circuito de Canoagem do Mato Grosso do Sul (1989)
· Ex-Professor
do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA);
· Ex-Pesquisador
do Departamento de Educação e Cultura do Exército (DECEx);
· Ex-Presidente
do Instituto dos Docentes do Magistério Militar – RS (IDMM – RS);
· Ex-Membro do
4° Grupamento de Engenharia do Comando Militar do Sul (CMS)
· Presidente da
Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS);
· Membro da
Academia de História Militar Terrestre do Brasil – RS (AHIMTB – RS);
· Membro do
Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS – RS);
· Membro da
Academia de Letras do Estado de Rondônia (ACLER – RO)
· Membro da
Academia Vilhenense de Letras (AVL – RO);
· Comendador da
Academia Maçônica de Letras do Rio Grande do Sul (AMLERS)
· Colaborador
Emérito da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG).
· Colaborador
Emérito da Liga de Defesa Nacional (LDN).
· E-mail: hiramrsilva@gmail.com.
Galeria de Imagens
* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – X
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