Quarta-feira, 6 de janeiro de 2021 - 09h51
Bagé, 06.01.2021
Porto Velho, RO/
Santarém, PA ‒ Parte XCIV
Descendo o Rio Madeira ‒ XXV
Santarém e a Volta à Realidade
O Tenente-Coronel Sérgio Henrique
Codelo, Comandante do 8° BEC, nos alojou nas confortáveis instalações da Casa
de Hóspedes de Oficiais do Batalhão. Fomos convidados a participar de dois
eventos no Clube de Oficiais, um deles, de congraçamento, com os novos
militares e familiares transferidos; e o outro, um baile de carnaval para as
crianças.
Conversando com o novo Comandante e
amigo, pudemos verificar o quanto ele se preocupa com o bem-estar de seus
comandados e familiares, corrigindo alguns vícios de origem, principalmente no
setor de saúde.
Visita
ao Centro Cultural João Fona
Fui
fazer uma visita ao amigo Mestre Laurimar dos Santos Leal no Centro Cultural
João Fona. O acervo do Centro é composto de cerâmicas tapajônicas, objetos
históricos da Câmara de Santarém do início do século passado e o esqueleto de
uma baleia Minke que, perdida, encalhou, no dia 14.11.2007, num banco de areia
do Rio Tapajós. Laurimar lembrou-se de minha última visita e ficamos
conversando durante algum tempo até que dois turistas se aproximaram e pediram,
a ele, autorização para fotografar as peças do Centro.
Afirmei
que eles deveriam começar o “tour”
fotográfico com aquele que é, sem dúvida, o maior dos Mestres das artes
santarenas. Despedi-me do Mestre e fiz uma breve visita ao museu.
Passei
pela Praça Frei Ambrósio que permite uma bela e privilegiada visão da Foz do
Tapajós. A Praça foi construída no local da antiga Fortaleza do Tapajós que
sucumbiu sem jamais ter cumprido sua missão. Hoje não existe qualquer traço
remanescente da Fortaleza, apenas as peças de artilharia distribuídas, aos
pares, na Praça do Centenário, no Aeroporto e na Sede da Sudam.
Visita a Belterra
No
ano passado, tivemos a oportunidade de conhecer o senhor Valdemar Sanches da
Silva, Chefe de Gabinete do Prefeito de Belterra, Geraldo Irineu Pastana de
Oliveira, que discorreu, com entusiasmo, sobre a história e os projetos que
estavam em andamento na sua Cidade, visando a recuperação de seu patrimônio e
sua história.O Projeto pretende mudar, parcialmente, a face da Cidade,
fazendo-a retornar ao seu antigo visual. Voltamos este ano para verificar o que
tinha sido feito. Fomos direto ao Centro de Memória de Belterra onde
encontramos, novamente, o Professor Osenildo Maranhão. O Centro estava
totalmente tomado por estudantes onde o entusiasmado Osenildo discorria sobre a
história de Belterra e os projetos em curso, mas, infelizmente, ele nos
informou que até agora só o tombamento do patrimônio foi realizado e nenhum
recurso foi alocado. Colhemos algumas sementes de seringueira para levar para a
Vanessa e partimos para Alter do Chão.
Visita a Alter do Chão
Fomos
três vezes a Alter do Chão durante nossa breve estada em Santarém e, em uma
delas, surpreendidos, negativamente, com a impossibilidade de usar o cartão de
crédito para pagar o almoço no “Restaurante
Tribal”. A reticente funcionária informou que a orientação da casa era que
o garçom deveria ter nos alertado antes, o que, definitivamente, não fora
feito.
É
um triste artifício que já havíamos observado em Parintins, considerada uma das
mais importantes cidades turísticas do Estado do Amazonas. Ainda em Parintins,
sofremos este tipo de constrangimento em farmácias, livrarias, hotéis e até na
moderna pizzaria “Mr. Pizza”.
Alter
do Chão está situada na margem direita do Rio Tapajós, a aproximadamente 32 km
de Santarém, pela PA-457. As praias de areias brancas, as águas cor de
esmeralda do Tapajós, o lendário Lago Verde, que muda da coloração verde para
azul durante o dia, ou Lago dos Muiraquitãs e a Serra da Piroca são apenas
alguns dos magníficos atrativos naturais que atraem turistas e navios de
cruzeiros marítimos.
No
aprazível balneário, além das diversas alternativas de lazer, existe uma
produção artesanal bastante diversificada. O jornal inglês The Guardian, em
2009, classificou a Praia Alter do Chão como uma das 10 melhores do Brasil. No
inverno amazônico (época das chuvas), a Praia e a Floresta Encantada (mata de
várzea) ficam submersas.
Escalei,
com meu filho João Paulo, o Morro de Alter do Chão, conhecido como Serra da
Piroca. O acesso até o sopé do Morro é suave e, a partir daí, a subida se torna
bastante íngreme aumentando o grau de dificuldade à medida que se sobe. No alto
do morro, existe um cruzeiro de ferro em treliça que aí foi colocado em
homenagem à chegada dos colonizadores a Santarém. A partir das barracas, o
percurso pode ser vencido em pouco mais de 30 minutos. O esforço é recompensado
pela vista magnífica de Alter e do Tapajós.
Relatos Pretéritos de Alter do Chão
José Monteiro de Noronha (1768)
56. Na barra do Rio Tapajós, à parte
Oriental dele, está a Vila de Santarém defendida por uma Fortaleza. Pelo Rio
acima, há mais quatro povoações, a saber: A Vila de Alter do Chão [antiga
Borary ou Iburari], na margem Oriental e superior a Santarém 8 léguas (NORONHA)
Manuel Aires de Casal (1817)
Alter do Chão: Vila ainda pequena,
mas vantajosamente situada sobre um Lago em pouca distância do Tapajós, com o
qual comunica, quase na falda (encosta) dum morro, que se eleva piramidalmente
a uma altura assaz considerável, fica obra de três léguas ao Sul de Santarém. O
povo que a habita, composto pela maior parte de índios, cultiva variedade de
mantimentos, e excelente cacau, sua principal riqueza; frequenta a caça e a
pescaria. A sua Igreja paroquial é da invocação de Nossa Senhora da Saúde. A
princípio chamava-se Hibiraribe. (CASAL)
Antônio Ladislau Monteiro Baena (1839)
Alter do Chão: Vila criada em 1758 e
situada seis léguas acima da Vila de Santarém, na proximidade de uma empinada
Colina de agudo cume, que jaz sobre um Lago pouco afastado da margem direita do
Rio Tapajós. Em outro tempo, havia sido Aldeia de Borari. A população consta de
brancos e índios em número de oitocentos e dezoito, e de dez escravos. Nossa
Senhora da Saúde é o Orago de uma pequena Matriz, cujo teto é coberto com
telha. As casas, a cadeia e a casa da câmara, tudo tem telhado de folhagem. Os
moradores não vivem naquele feliz estado, que a situação local da sua Vila e a
natureza do seu terreno lhe indicam permitir; eles não tiram vantagem da grande
fertilidade das terras; a plantação mais ordinária é a da mandioca. (BAENA,
2004)
Henry Walter Bates (1852)
Alter do Chão: o pequeno povoado de
Alter do Chão deve o seu nome singular à existência, à entrada da baía, de um
desses curiosos morros de cume achatado, tão comuns nessa parte da região
amazônica, cuja forma lembra a do altar-mor das igrejas católicas. O morro em
questão era isolado e muito mais baixo do que outros do mesmo tipo existentes
nas proximidades de Almeirim, não devendo elevar-se mais do que cem metros
acima do nível do Rio. Era desprovido de árvores, mas coberto em alguns trechos
com uma determinada espécie de samambaia. À entrada da Baía, havia uma enseada
interna, que se comunicava, através de um canal, com uma série de Lagoas
situadas nos vales entre morros, que se estendiam pelo interior adentro. A Vila
era habitada quase que exclusivamente por índios semicivilizados, num total de 60
ou 70 famílias [...] (BATES)
Domingos Soares Ferreira Penna (1869)
VI
- De Santarém a Vila Franca por Alter do Chão.
Alter do Chão – [...] A ponta Cururu
determina, como uma baliza, a mudança de direção do Rio, assinala também a
entrada da longa Baía de Alter do Chão que se prolonga ao SE cerca de 5 milhas.
No extremo dessa baía e na sua margem Meridional, está a freguesia de Alter do
Chão que apresenta uma vista agradável, de longe, com imediações mui pitorescas
e aprazíveis. A Povoação compõe-se da Igreja Matriz, situada numa Praça com
casas somente de um lado, e de duas ruas alinhadas a cordel, partindo ambas da
mesma Praça para Oeste. Há mais duas casas, uma das quais em construção. A
Igreja, da invocação do N.S.ª da Saúde, é coberta de telha. Bem que nada tenha
de notável, é o edifício único que avulta, e de longe mostra um certo realce.
Por falta do auxílio dos cofres provinciais ou, antes, de espírito religioso
dos habitantes, as obras do altar acham-se mui danificadas e carcomidas; o
resto da Igreja e de seus pertences estão em estado decente. As casas são todas
mais ou menos iguais em forma, altura e material; são mui pequenas, exceto a do
vigário, térreas e cobertas de palha. O número total delas é 47, das quais 36
estão em bom estado, 10 caídas ou estragadas e 1 em construção. A população é
de 138 pessoas, inclusive as que habitam nas imediações. [...]
Recordações históricas –
As margens da pitoresca Baía de Alter do Chão parece que foram, como
indiquei na parte relativa a Santarém, a principal residência da extinta
família indígena, os Tapajó, tendo sido ali que Pedro Teixeira os foi encontrar
pela primeira vez, em 1626. (PENNA)
Bibliografia
BAENA, Antônio Ladislau Monteiro. Ensaio Chorographico do Pará
(1839) – Brasil – Brasília, DF – Senado Federal, 2004.
BATES, Henry Walter Bates. Um Naturalista no Rio Amazonas –
Brasil – São Paulo, SP – Livraria Itatiaia Editora Ltdª – Editora da
Universidade de São Paulo, 1979.
CASAL, Manuel Aires de. Corografia Brasílica – Brasil – São
Paulo, SP – Edições Cultura, 1943.
NORONHA, José Monteiro de. Roteiro da Viagem da Cidade do Pará até
as Últimas Colônias do Sertão da Província (1768) – Brasil – Belém, PA –
Typographia de Santos & Irmãos, 1862.
PENNA, Domingos Soares Ferreira. A Região Ocidental da Província do
Pará: Resenhas Estatísticas das Comarcas de Óbidos e Santarém – Brasil –
Belém, PA – Typographia do Diário de Belém, 1869.
Solicito Publicação
(*) Hiram Reis e Silva é Canoeiro, Coronel de Engenharia, Analista de
Sistemas, Professor, Palestrante, Historiador, Escritor e Colunista;
· Campeão do II
Circuito de Canoagem do Mato Grosso do Sul (1989)
· Ex-Professor
do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA);
· Ex-Pesquisador
do Departamento de Educação e Cultura do Exército (DECEx);
· Ex-Presidente
do Instituto dos Docentes do Magistério Militar – RS (IDMM – RS);
· Ex-Membro do
4° Grupamento de Engenharia do Comando Militar do Sul (CMS)
· Presidente da
Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS);
· Membro da
Academia de História Militar Terrestre do Brasil – RS (AHIMTB – RS);
· Membro do Instituto
de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS – RS);
· Membro da
Academia de Letras do Estado de Rondônia (ACLER – RO)
· Membro da
Academia Vilhenense de Letras (AVL – RO);
· Comendador da
Academia Maçônica de Letras do Rio Grande do Sul (AMLERS)
· Colaborador
Emérito da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG).
· Colaborador
Emérito da Liga de Defesa Nacional (LDN).
· E-mail: hiramrsilva@gmail.com.
Galeria de Imagens
* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – X
Bagé, 20.12.2024 Continuando engarupado na memória: Tribuna da Imprensa n° 3.184, Rio, RJSexta-feira, 25.10.1963 Sindicâncias do Sequestro dão e
Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – VI
Silva, Bagé, 11.12.2024 Continuando engarupado na memória: Jornal do Brasil n° 224, Rio de Janeiro, RJ Quarta-feira, 25.09.1963 Lei das Selvas T
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Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – III
Bagé, 02.12.2024 Continuando engarupado na memória: Jornal do Brasil n° 177, Rio de Janeiro, RJQuarta-feira, 31.07.1963 JB na Mira O jornalista H