Segunda-feira, 24 de outubro de 2022 - 06h10
Bagé, 24.10.2022
Jornal
do Commércio, n° 165
Rio de Janeiro, RJ – Quarta-feira, 23.04.2005
Índios
Fazem 4 Policiais Reféns
em Área Isolada
Um grupo de índios da etnia Macuxí fez 4 agentes da Polícia Rodoviária
Federal reféns, ontem, na região conhecida como Maloca do Flechal, em Roraima,
na fronteira com a Guiana. Segundo o Governador Ottomar Pinto [PTB], a prisão
dos 4 policiais foi uma retaliação de índios contrários à homologação da
reserva indígena Raposa Serra do Sol, no Norte do Estado.
O decreto de homologação foi assinado pelo presidente Lula no último dia
15, depois de mais de 20 anos de impasse jurídico. [...] A área demarcada terá
cerca de 1,75 milhão de hectares e será a segunda maior reserva do País. A
reserva abrigará aproximadamente 15 mil índios dos povos Ingaricó, Macuxí,
Taurepangue, Patamona e Uapixana.
A prisão dos policiais também foi confirmada pelo Deputado Federal Rodolfo
Pereira [PDT-RR], que se encontra em Boa Vista para mediar os conflitos. Ele
não soube informar, no entanto, quantos índios formavam o grupo que prendeu os
policiais.
A única forma de contato com a área de Maloca do Flechal, onde vivem os Macuxís,
é por meio de rádio amador com um posto da Fundação Nacional do Índio [FUNAI] –
processo conhecido como fonia. O sistema, entretanto, só funciona até às 17h de
Boa Vista [18h de Brasília].
Polícia Federal não Consegue
Fazer Contato
Até o início
da noite, a Superintendência da Polícia Federal não confirmava a informação,
por não ter conseguido contato com o posto. A superintendência informou que não
existem postos de fiscalização naquela região e que os agentes, se confirmada a
prisão, fariam parte do efetivo deslocado de outros Estados para patrulhar a
área.
De acordo
com o Deputado Rodolfo Pereira, que afirmou ter feito contato por fonia com o
líder indígena Lauro Barbosa, os índios se revoltaram quando os policiais
montaram uma barreira de fiscalização na entrada da aldeia. Os policiais, ainda
segundo o Deputado Federal, teriam impedido a passagem de carros com excesso de
passageiros, temendo a organização de manifestação no Município de Uiramutã,
vizinho à Maloca do Flechal.
O Deputado
Federal disse ainda que, para libertar os agentes, os Macuxís exigiram a
presença da imprensa para que pudessem se manifestar contra a homologação da
reserva. Os Macuxís formam a maior etnia do Estado, com cerca de 16,5 mil
índios. Na região do Flechal, são produtores de feijão. Os agentes reféns
seriam integrantes da força-tarefa formada por 40 homens da Polícia Rodoviária
Federal e 60 da Polícia Federal, procedentes de outros Estados, deslocados para
Roraima no último domingo para assegurar o cumprimento da demarcação da terra
indígena.
A operação foi batizada de Upatakon, que significa “nossa terra” no dialeto dos Macuxís. O deslocamento dos policiais
para a região da Raposa Serra do Sol também é feito por meio de helicópteros do
Exército. O efetivo é formado por homens enviados de cinco Estados: Ceará, Rio
Grande do Norte, Rio de Janeiro, Maranhão e Bahia. (JDC, N° 165)
Jornal
do Brasil, n° 294
Rio de Janeiro, RJ – Domingo, 28.01.2007
Americanos
Lideram
Invasão Estrangeira
[Augusto Nunes] Os índios do litoral aprenderam há cinco séculos que qualquer vastidão insuficientemente povoada e protegida desperta a cobiça dos forasteiros. Os portugueses das caravelas nem sabiam em que lugar haviam desembarcado quando transformaram em escritura a Carta de Pero Vaz de Caminha e, sem pedir licença aos donos, transferiram para um reino europeu a posse daquele paraíso feito de águas azuis ou verdes, areias brancas, frutas silvestres em penca e animais exóticos de sobra.
Os índios do Brasil profundo aprenderam há pelo menos quase 400 anos que a cobiça é perigosamente aguçada quando abundam, na superfície e no subsolo da imensidão semideserta, riquezas naturais de dimensões espantosas. Os homens que, a partir do século XVII, resolveram enfurnar-se por lonjuras intocadas buscavam mais que terra e prazeres. Buscavam terra e fortuna. A tribo dos brasileiros não aprendeu com os antepassados.
Se não desdenhassem das lições dos velhos Caraíbas, a Amazônia teria sido efetivamente ocupada há muito tempo, com racionalidade, imaginação e eficácia.
Faltam atenções dos governos. Falta vigilância nas fronteiras. Falta gente. A Amazônia continua tão vulnerável a invasores, oportunistas e aventureiros como no dia em que o primeiro homem branco penetrou na selva. Numerosos países, dezenas de entidades internacionais e organizações não-governamentais contemplam com crescente cupidez a imensa usina de superlativos. A Amazônia brasileira é uma demasia de jazidas minerais, pedras preciosas, madeira de lei, plantas medicinais raríssimas.
Ali está a maior floresta tropical do mundo. Os rios do lugar compõem a maior das bacias fluviais, que concentra 20% da água doce disponível num planeta cada vez mais sedento. Pois o Brasil segue encarando com desdém a hipótese de perder o controle sobre a região que soma mais da metade do território nacional. Só recentemente o ex-ministro Delfim Netto apresentou a certeza de que um Brasil sem a Amazônia é tão improvável quanto o Rio sem Carnaval. Conta Delfim Netto.
– Sempre achei que era coisa de paranoico. Já não penso assim. Se não ocuparmos a Amazônia, os estrangeiros farão isso.
“A Amazônia não é dos Brasileiros.
É de todos nós” [Al Gore]
Avisos nunca faltaram. Em 1981, o Conselho Mundial das Igrejas declarou a Amazônia “um patrimônio da Humanidade, cuja posse por países é meramente circunstancial”.
Em 1983, Margareth Thatcher, a primeira-ministra inglesa sugeriu às nações carentes que vendessem “fábricas e territórios”.
Em 1984, o vice-presidente Al Gore optou pelo recado sem rodeios: “A Amazônia não é dos brasileiros. É de todos nós”.
Os governantes da nação agredida pelas sucessivas ameaças reagiram com a placidez de quem acredita mesmo que Deus é brasileiro – e jamais faltará aos conterrâneos na hora difícil. E as provocações prosseguiram. “O Brasil deve aceitar a soberania relativa sobre a Amazônia” – informou, em 1985, o francês François Mitterrand.
Estimulado pela adesão de Mikhail Gorbachev, líder da falecida União Soviética, o primeiro-ministro inglês John Major admitiu a execução de operações diretas no Norte do Brasil. E o General americano Patrick Hughes rascunhou a declaração de guerra: “Caso os brasileiros façam da Amazônia uma ameaça ao meio ambiente nos EUA, estaremos prontos para agir”.
Até a ABIN Denuncia a Omissão:
“o Governo Brasileiro
não está Presente na Amazônia”
Liderados pelos Estados Unidos, países estrangeiros passaram há muitos anos da palavra à ação, vêm reiterando relatórios confidenciais produzidos anualmente pelo Grupo de Trabalho da Amazônia [GTAM].
Coordenado pela Agência Brasileira de Inteligência [ABIN], o GTAM reúne especialistas em assuntos amazônicos ligados aos serviços de inteligência das Forças Armadas e da Polícia Federal. O relatório de 2005 é inquietante.
O de 2006, ainda mais perturbador. Obtido com exclusividade pelo Jornal do Brasil, o mais recente estudo do GTAM concentra-se em nove questões que os especialistas consideram especialmente relevantes. Condena a demarcação contínua da Reserva Indígena Raposa Serra do Sol, radiografa a questão ambiental, denuncia a ação do crime organizado e trata dos conflitos fundiários.
O tom, sempre incisivo, torna-se áspero no capítulo dedicado à ação do governo. Ou omissão: “a máquina do Estado ainda não chegou lá”. Nenhuma novidade: o último presidente a incursionar demoradamente pela Amazônia foi o americano Theodore Roosevelt, em 1914.
Os parágrafos sobre a ausência do governo são tão impressionantes quanto os que comprovam a presença estrangeira. E os trechos que examinam a multiplicação de zonas conflagradas nas fronteiras reduzidas a terras sem lei poderiam ser transplantados, com ligeiros retoques na forma, para o mais delirante livro de ficção. Afirma o relatório:
A parte Setentrional e a fronteira Oeste permanecem como território virtual para o Brasil do futuro.
Garante o GTAM:
As organizações não-governamentais, algumas controladas por governos estrangeiros, adquiriram tal influência nas áreas indígenas que hoje substituem, na prática, o Estado Brasileiro. São zonas de exclusão, tão distantes dos controles federais quanto os morros do Rio de Janeiro expropriados por narcotraficantes.
As complicações se agravam nas reservas que roçam a linha de fronteira. É o caso do Parque Ianomâmi, encostado na Venezuela. Comenta o Coronel Gélio Fregapani, redator do relatório de 2005:
‒ A nação ianomâmi só existe na cabeça de brasileiros desinformados e estrangeiros espertos. São quatro grupos distintos, linguisticamente, etnicamente e, por vezes, hostis entre si. Segundo a Fundação Nacional do Índio [FUNAI], pelo menos 10 mil ianomâmis ocupam o colosso que ganharam de presente. Tem o tamanho de Portugal. É muita terra para pouca gente.
‒ É muito minério para uma tribo só.
Lembra, e oferece uma explicação para o absurdo aparente.
‒ Como existem ianomâmis no lado venezuelano, está tudo pronto para a criação de uma nação autônoma, com o apoio de missionários americanos e do governo dos EUA. A passagem pela ONU do cacique Davi Ianomâmi, que defendeu a independência da nação a que pertence, tornou a teoria menos fantasiosa.
“A Amazônia será ocupada de algum modo, por nós ou por outros” ‒ prevê um Deputado Federal do PT com livre acesso ao presidente Lula. O parlamentar transmitiu ao chefe de governo a essência do relatorio do GTAM. Se tiver ouvidos de estadista, o presidente tratará de agir sem demora. Por enquanto, a ocupação é conduzida por forasteiros que agem com discrição de monge, travam sem armas a guerra silenciosa e promovem com agilidade e eficiência alianças improváveis. “É crescente a presença de norte-americanos, europeus, bolivianos, colombianos e peruanos”, constata o documento. Nos hotéis da selva agem holandeses disfarçados de empresários da área de turismo.
Os Chefões da Biopirataria Remuneram Pesquisadores Estrangeiros
Médicos peruanos, contratados por prefeituras brasileiras, servem aos interesses de laboratórios farmacêuticos internacionais.
No Acre, americanos compram terras e recorrem ao casamento com brasileiras para driblar complicações burocráticas. Latifúndios acreanos foram vendidos a italianos. No sul do Estado, pesquisadores canadenses são remunerados por chefões da biopirataria. Essa babel de sotaques emite um recado claro: a Amazônia está em perigo.
Cobiça Internacional Histórica
Europeus cobiçam a Amazônia desde o século 16. O primeiro a enfurnar-se na região foi Walter Raleigh, aventureiro inglês supostamente em busca de um Eldorado na selva. Em 1745, a França produziu um mapa que lhe transferia o controle de extensa fatia da Amazônia Brasileira. Em 1845, o método de vulcanização da borracha foi patenteado por Charles Goodyear.
Nessa época, os EUA pleitearam o livre comércio na região, estimulando uma campanha pela abertura a navegantes forasteiros do Amazonas, a estrada fluvial que conduziria “ao paraíso das matérias-primas”.
Mais de 100 anos depois, Henry Kissinger, então secretário de Estado americano, propôs a criação de um Banco Mundial de Matérias-Primas, sob controle global. Os EUA, por sinal, foram sempre os mais insistentes.
Retomaram a pressão ostensiva em 1989: uma Comissão de parlamentares americanos desembarcou no Brasil para sugerir o perdão de parte da dívida externa em troca do aval para a execução de projetos ecológicos monitorados por ONGs americanas e europeias. A cobiça ainda não provocou a amputação do mapa do Brasil. Ainda.
Dendê Como Alternativa
O dendê, abundante na Amazônia, pode tornar-se uma rendosa alternativa para o petróleo. Estudos mostram que o plantio de dendê em 7 milhões de hectares ‒ faixa menor do que a área Ianomâmi ‒ permitiria extrair 8 milhões de barris de biodiesel por dia, além de gerar 6 milhões de empregos.
A quantidade de combustível corresponde à produção de petróleo da Arábia Saudita. A redução das reservas mundiais de petróleo recomenda a imediata pavimentação desse caminho alternativo. (JDB, N° 294) (Continua...)
Bibliografia
JDB, N° 294. Americanos Lideram Invasão Estrangeira – Brasil – Rio de Janeiro, RJ – Jornal do Brasil, n° 294, 28.01.2007.
JDC, N° 165. Índios Fazem 4 Policiais Reféns em Área Isolada – Brasil – Rio de Janeiro, RJ – Jornal do Commércio, n° 165, 23.04.2005
Solicito Publicação
(*) Hiram Reis e Silva é Canoeiro, Coronel de Engenharia, Analista de Sistemas, Professor, Palestrante, Historiador, Escritor e Colunista;
Campeão do II Circuito de Canoagem do Mato Grosso do Sul (1989)
Ex-Professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA);
Ex-Pesquisador do Departamento de Educação e Cultura do Exército (DECEx);
Ex-Presidente do Instituto dos Docentes do Magistério Militar – RS (IDMM – RS);
Ex-Membro do 4° Grupamento de Engenharia do Comando Militar do Sul (CMS)
Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS);
Membro da Academia de História Militar Terrestre do Brasil – RS (AHIMTB – RS);
Membro do Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS – RS);
Membro da Academia de Letras do Estado de Rondônia (ACLER – RO)
Membro da Academia Vilhenense de Letras (AVL – RO);
Comendador da Academia Maçônica de Letras do Rio Grande do Sul (AMLERS)
Colaborador Emérito da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG).
Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional (LDN).
E-mail: hiramrsilva@gmail.com.
Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – X
Bagé, 20.12.2024 Continuando engarupado na memória: Tribuna da Imprensa n° 3.184, Rio, RJSexta-feira, 25.10.1963 Sindicâncias do Sequestro dão e
Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – VI
Silva, Bagé, 11.12.2024 Continuando engarupado na memória: Jornal do Brasil n° 224, Rio de Janeiro, RJ Quarta-feira, 25.09.1963 Lei das Selvas T
Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – IV
Bagé, 06.12.2024 Continuando engarupado na memória: Jornal do Brasil n° 186, Rio de Janeiro, RJSábado, 10.08.1963 Lacerda diz na CPI que Pressõessã
Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – III
Bagé, 02.12.2024 Continuando engarupado na memória: Jornal do Brasil n° 177, Rio de Janeiro, RJQuarta-feira, 31.07.1963 JB na Mira O jornalista H