Sexta-feira, 9 de outubro de 2020 - 11h38
Bagé, 09.10.2020
Porto Velho, RO/ Santarém, PA ‒ Parte XXXI
Viagem ao Redor do
Brasil (1875-1878) – III
Em
02.09.1866, foi nomeado chefe do Serviço Médico das Forças Expedicionárias, em
cujas funções beneméritas teve azo ([1])
de assistir aos inevitáveis e funestos bombardeamentos de 22 e 23.09.1866 e
30.10.1866. O primeiro desses assinala o malogrado ataque a Curupaiti, no qual
perdeu ele seus dois irmãos, o Tenente Hipólito e o Alferes Afonso Aurélio. Por
serviços relevantes prestados naqueles combates de meados de abril a 24 de
maio, foi promovido ao grau de Oficial da Ordem da Rosa, por Decreto de 17 de
agosto e Diploma de 24 de outubro, tudo como consta da Ordem do Dia da
Repartição do Ajudante General n° 536, de 30.12.1866.
No
ano seguinte, a 5 de abril de 1867, por ocasião do surto epidêmico de
cólera-morbo, coube-lhe organizar e dirigir o Serviço Médico da Ambulância
Volante de Artilharia e muito bem se houve no executar a profilaxia e o combate
contra esse terrível mal levantino, que vinha dizimando mais combatentes nos
campos cruentos da luta que as mortíferas balas inimigas!
Ao
lado de Osório, em 20 de julho, no comando da Ambulância, participava da evolução
de flanco sobre Humaitá, seguindo depois para Tuiu-cuê, acompanhando o 1°
Regimento de Artilharia a Cavalo, sob o comando de Emílio Luís Mallet, pelo que
assistiu ao combate, de 31 de julho, sobre as avançadas inimigas e, a 6 de
agosto, nos reconhecimentos sobre as linhas do Espinilho e do Passo Pocu.
Pela
Ordem do Dia n° 579, de 17.09.1867, consta haver sido agraciado com o grau de
Cavaleiro da Ordem de Cristo pelos serviços prestados aos feridos nos combates
no Potrero Pires e trincheiras do Sauce, em julho de 1866, por Decreto de 13 de
abril e Diploma de 12 de junho, tudo de 1867. Por sua eficiente atuação nos
hospitais de sangue de San Solano, Estabelecimento e Espinilho, no início do
ano de 1868, foi fartamente elogiado nas Ordens do Dia do Exército em
Operações.
A 4
de abril do mesmo ano [1868] marchou com o Exército que acampou em Pare-cuê. A
8 de maio assumia a direção do Serviço Médico das Forças Expedicionárias do
Chaco. No arroio Guaicuru assistiu ao reconhecimento feito em 3 de julho. A 8,
marchou a reunir-se ao 1° Corpo do Exército, o que fez a 17. A 22,
incorporou-se ao 3° Corpo de Exército de Vanguarda, ao mando do Marques do
Herval. No ataque e assalto do Passo Real do Tebicuari, a 29 de agosto, viu
expirar, em seus braços, ferido mortalmente na testa, o Major Joaquim Pantaleão
Tales de Queiroz, Comandante do 7° Regimento de Cavalaria, malgrado seus
esforços de homem de ciência.
Testemunhou
o reconhecimento à mão armada sobre as linhas inimigas de Pequiciri e
Angustura. Foi nas trincheiras avançadas, a frente desse primeiro sítio, que o
ilustre médico militar teve conhecimento, pela Ordem do Dia do Ajudante General
sob n° 638, de 28.09.1868, que por Decreto de 11 de abril e Diploma de 2 de
maio fora agraciado com o grau de Cavaleiro da Ordem Imperial do Cruzeiro,
pelos excelentes serviços prestados nos prélios ([2])
de 19 de fevereiro, sendo o primeiro oficial do Serviço de Saúde a receber esse
laurel.
Sempre entregue a faina diuturna nos hospitais de
sangue, vibrou de entusiasmo ante a capitulação da Fortificação de Angustura.
A
30.01.1869, marchou para Assunção, onde chegou três dias após. Por Decreto de
20 de maio, publicado a 28, foi promovido ao posto de 1° Cirurgião efetivo, por
merecimento em campanha e a 22 de junho passava a servir no Hospital Militar
Brasileiro de Assunção. Em 22 de outubro era transferido para a Ambulância da
Guarnição.
Conquanto
a guerra houvesse tido fim, a 01.03.1870, sob a espada do Brigadeiro José
Antônio Correa da Câmara, as margens do Aquidabanigui, o Capitão 1° Cirurgião
Dr. Severiano continuou a servir no território do vencido, a princípio, a 3 de
setembro, na enfermaria do Mangrulho e, depois, no Hospital de Assunção, em
07.02.1871. Foi aí que, um mês transcorrido, teve conhecimento pela Ordem do
Dia do Ajudante General, n° 758, haver sido, por Decreto de 6 de setembro e
Diploma de 28 do mesmo mês, tudo do ano anterior ([3]),
promovido, por proposta do Marques de Caxias, ao grau de Comendador da Ordem da
Rosa, em atenção aos valiosos serviços prestados na guerra do Paraguai nos
combates de dezembro de 1868.
A
17.11.1871 embarcou para a Capital do Império, conduzindo doentes de Assunção e
Humaitá, apresentando-se no destino a 2 do mês seguinte, sendo designado pelo
Cirurgião-mor do Exército, o Conselheiro Dr. José Ribeiro de Souza Fontes, para
servir no Hospital Militar da Guarnição da Corte. Com o Diploma de 13 de julho
foi-lhe conferida a Medalha Geral de Campanha do Paraguai, mandada cunhar com o
próprio bronze dos canhões tomados ao inimigo, a qual trazia sobre a fita o
passador de prata e o número 5, correspondente a totalidade dos anos em
campanha que o Decreto de 06.08.1870 lhe outorgava [Ordem do Dia n° 877, de
18.09.1872]. Dessa mesma Ordem do Dia constava haver sido nomeado para servir
na Divisão organizada na Província do Rio Grande do Sul. A 21 do aludido mês,
porém, era tornado sem efeito esse ato, devendo permanecer em serviço na
Guarnição da Corte até segunda ordem. A 27.03.1875, por Portaria, foi posto à
disposição do Ministério dos Estrangeiros, a fim de integrar a Comissão de
Limites entre o Brasil e a Bolívia, ficando-lhe garantido o lugar de Segundo
Cirurgião no nosocômio em que laborava, o que consta da Ordem do Dia n° 119, de
06.04.1875.
A
01.05.1875, acompanhando a Comissão, rumou para Corumbá, onde teve oportunidade
de patentear, mais uma vez, as virtudes de seu largo coração fazendo acolher no
Hospital de Caridade de São João os emigrados paraguaios que, fugindo a miséria
pós-guerra, acompanharam as forças de ocupação, de regresso do país vizinho.
Nessa
Cidade mato-grossense, a 11.01.1877, contraiu núpcias com D. Anália d’Alicourt
Sabo, de cujo enlace houve dois filhos: Hermes Severiano e Afonso Deodoro,
aquele nascido em Corumbá a 14.09.1877 e batizado em Cuiabá em 05.03.1878, que
se fez militar, atingindo o posto de Coronel de Artilharia, e bacharel em
Matemática e Ciências Físicas, e o último, natural do Rio de Janeiro a
25.01.1880. Ambos não mais existem.
Na
Comissão exerceu suas funções com devotamento, assiduidade e grande
competência, o que ressalta dos copiosos louvores que enxameiam sua opulenta fé
de ofício. Por Aviso do Ministério de Estrangeiros, sob n° 3, de 18.02.1878,
foi dispensado dessa Comissão, merecendo mais um extenso elogio do Ministro Dr.
Domingos de Souza Leão, 2° Barão de Vila Bela.
Por
Portaria de 18 de abril, foi reintegrado no lugar que ocupava no Hospital
Militar da Guarnição da Corte. A 22 de junho, foi-lhe conferida a medalha
criada pelo Decreto n° 3.468, de 08.05.1865, para os que lutaram na República
Oriental do Uruguai de 1864/5, sob o comando do Marechal-de-Campo João Propício
Mena Barreto, Barão de São Gabriel, conforme se lê na Ordem do Dia n° 1.412, de
28 de junho. Da mesma consta, ainda que por Decreto, de 02.05.1877, e Diploma, de
9 do dito mês, foi nomeado Cavaleiro da Ordem de São Bento de Aviz, a única
Ordem Nacional, que, como militar, lhe faltava possuir, por isso que sua
outorga era condicionada, entre outras exigências, possuir o oficial, no
mínimo, três lustros ([4])
de serviço.
A
22.04.1880, era recebido na Academia Imperial de Medicina como membro efetivo,
sendo destarte o primeiro médico militar a
ter ali ingresso, honra assaz merecida. Até 30.04.1870, exerceu interinamente o
cargo de primeiro Cirurgião do Hospital Militar da Corte, o qual retomou a 6 de
dezembro para deixá-lo de vez a 10.05.1880, em que passou a servir como 2°
Cirurgião do mesmo estabelecimento hospitalar.
A
17 de julho, apresentou às autoridades competentes a certidão de seu casamento
e a do batismo de seu primogênito. A 6 de novembro assumia o lugar de 1° médico
do Hospital Militar do Andaraí, por troca feita com o Cirurgião-mor de Brigada
Graduado Dr. Manuel Cardoso da Costa Lobo. Em 12.02.1881, entregou, para os
efeitos legais, a certidão de batismo de seu segundo filho. Por Decreto, de 11
de junho, era promovido, por merecimento, a Cirurgião-mor de Brigada, posto
correspondente a Major-médico, pelo que veio a chefiar a enfermaria da Escola
Militar da Praia Vermelha, a 11.04.1882.
A 6
de outubro, no entanto, retornava ao Hospital Militar da Corte para exercer as
funções de seu 1° Cirurgião. Da Ordem do Dia n° 1.842, de 21.05.1884, consta
haver o Dr. João Severiano apresentado o Diploma de Membro da Academia Imperial
de Medicina, com sede no Rio de Janeiro, para qual fora eleito em sessão, de
12.04.1880, com o beneplácito de Sua Majestade o Imperador D. Pedro II expresso
em Aviso de 17.04.1880. Sua monografia inédita apresentada àquele sodalício ([5])
versou sobre “Climatologia de Mato Grosso”.
Por
Decreto, de 15 de abril de 1885, publicado na Ordem do Dia n° 1.921 do dia
seguinte, foi promovido por merecimento a Cirurgião-mor de Divisão, posto
correspondente a Tenente-Coronel médico. Continuou a exercer a função naquele
Hospital e substituiu, por várias vezes, o Cirurgião-mor do Exército Dr.
Antônio de Souza Dantas, durante as suas faltas e impedimentos.
A 13.07.1889, foi nomeado, por Decreto, Professor da
cadeira de Ciências Físicas e Naturais do Imperial Colégio Militar,
recém-instalado, consoante publicação na Ordem do Dia n° 2.269 de 17 desse
mesmo mês. A República, proclamada a 15 de novembro, veio encontrá-lo na
direção interina do Hospital Militar da Guarnição da Corte e no exercício do
magistério do novel educandário. Quatorze dias depois do evento que derrocara o
regime governamental do Brasil, o insigne militar teve a coragem cívica de, na
primeira sessão do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, realizada na
noite de 29, propor que a cadeira em que o Imperador ora destronado costumava
sentar-se durante as sessões fosse por jornais ocupada e envolvida em crepe, em
homenagem ao magnânimo Monarca.
Eu me levanto, para pedir ao
Instituto que no meio de seus arroubos pela mãe-pátria, não se esqueça da
gratidão que deve àquele que foi um protetor e um pai e que nesta hora marcha
para o exílio.
Foram
palavras de seu sentido discurso. (PILLAR) (Continua...)
Bibliografia
PILLAR, Olyntho. Os Patronos das Forças Armadas
– Brasil – Rio de Janeiro, RJ – Biblioteca do Exército Editora, 1981
Solicito Publicação
(*) Hiram Reis e Silva é Canoeiro, Coronel de Engenharia, Analista de
Sistemas, Professor, Palestrante, Historiador, Escritor e Colunista;
· Campeão do II
Circuito de Canoagem do Mato Grosso do Sul (1989)
· Ex-Professor
do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA);
· Ex-Pesquisador
do Departamento de Educação e Cultura do Exército (DECEx);
· Ex-Presidente
do Instituto dos Docentes do Magistério Militar – RS (IDMM – RS);
· Ex-Membro do
4° Grupamento de Engenharia do Comando Militar do Sul (CMS)
· Presidente da
Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS);
· Membro da
Academia de História Militar Terrestre do Brasil – RS (AHIMTB – RS);
· Membro do
Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS – RS);
· Membro da
Academia de Letras do Estado de Rondônia (ACLER – RO)
· Membro da
Academia Vilhenense de Letras (AVL – RO);
· Comendador da
Academia Maçônica de Letras do Rio Grande do Sul (AMLERS)
· Colaborador
Emérito da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG).
· Colaborador
Emérito da Liga de Defesa Nacional (LDN).
· E-mail: hiramrsilva@gmail.com.
Galeria de Imagens
* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – X
Bagé, 20.12.2024 Continuando engarupado na memória: Tribuna da Imprensa n° 3.184, Rio, RJSexta-feira, 25.10.1963 Sindicâncias do Sequestro dão e
Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – VI
Silva, Bagé, 11.12.2024 Continuando engarupado na memória: Jornal do Brasil n° 224, Rio de Janeiro, RJ Quarta-feira, 25.09.1963 Lei das Selvas T
Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – IV
Bagé, 06.12.2024 Continuando engarupado na memória: Jornal do Brasil n° 186, Rio de Janeiro, RJSábado, 10.08.1963 Lacerda diz na CPI que Pressõessã
Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – III
Bagé, 02.12.2024 Continuando engarupado na memória: Jornal do Brasil n° 177, Rio de Janeiro, RJQuarta-feira, 31.07.1963 JB na Mira O jornalista H