Segunda-feira, 12 de outubro de 2020 - 14h23
Bagé, 12.10.2020
Porto Velho, RO/ Santarém, PA ‒ Parte XXXII
Viagem ao Redor do
Brasil (1875-1878) – IV
Desde
01.10.1880, fazia o Dr. João Severiano parte desse Instituto, do qual foi sócio
correspondente, efetivo e honorário, chegando a ocupar os cargos de 2° e 1°
Secretário e 1° Vice-Presidente. Aliás, pertenceu a várias outras agremiações
literárias e científicas, entre as quais o Instituto de França, que lhe
conferiu as Palmas Acadêmicas. Por Portaria de 04.01.1890, tornada pública pela
Ordem do Dia n° 25, de 21.01.1890, foi nomeado para fazer parte da Comissão
encarregada de elaborar um projeto de reorganização do Exército, consoante os
modernos princípios das ciências militares, com prejuízo de suas funções
hospitalares.
A
03.03.1890, foi mandado assumir as de Diretor interino do supra aludido
Hospital Militar da Guarnição do Rio de Janeiro. Por Decreto de 27 de março,
publicado na Ordem do Dia n° 49 de 31 do mesmo mês, era promovido a Coronel-mor
de 1ª classe. Por esse motivo, deixou, a 16 de abril, a direção do Hospital,
entrando, a 17, no exercício de Inspetor do Pessoal do Serviço Sanitário do
Exército.
Por
Decreto de 01.05.1890 foi promovido a General-de-Brigada graduado o que consta
da Ordem do Dia n° 59, de 3 desse mês. Da Ordem do Dia n° 78, de 28 de junho,
consta haver sido jubilado, a pedido, sem vencimentos no lugar de Professor da
cadeira que lecionava no Colégio Militar [Decreto de 25.06.1890].
De
outra Ordem do Dia n° 85, de 29 de julho, consta lhe haver sido feita a entrega
da Medalha da Argentina, comemorativa da guerra contra o Paraguai. A 16 de
setembro assumia interinamente as funções de Inspetor Geral do Serviço
Sanitário do Exército. Por Decreto, de 4 de outubro, constante da Ordem do Dia
n° 116, de mais dois dias, era efetivado no posto de General-de-Brigada. A 24
do mês em curso, era condecorado com o grau de Oficial da Ordem Militar de São
Bento de Aviz [Ordem do Dia n° 126, de 29.10.1890].
Em
decorrência do artigo 80 do Regulamento aprovado pelo Decreto n° 307, de 10 de
maio, tomou assento no Conselho Supremo Militar de Justiça conforme Aviso do
Ministro da Guerra, de 20 de dezembro, para elucidar as questões de Medicina
Legal nos processos de justiça.
A
25.02.1891, era eleito Senador da República, representando o Distrito Federal.
Encerrados os trabalhos do Congresso, reassumiu o seu cargo militar, ainda que
por pouco tempo, em virtude de parte de doente que, a 13 de abril apresentou.
Restabelecido de sua rápida enfermidade retornava a atividade, reassumindo as
funções de Inspetor Geral, as quais deixou em 16 de junho por voltar a ocupar
sua cadeira de Senador a 1ª Constituinte Republicana. Em 12 de setembro, a
Ordem do Dia n° 245 publicava sua nomeação para Membro da 4ª Seção da Comissão
Técnica Militar Consultiva e a 5 de novembro reassumia o ilustre General as
funções de Inspetor Geral.
Em 1892, a 8 de fevereiro, dava parte de doente, até
que por Decreto de 7 de abril, publicado na Ordem do Dia n° 319, de 10 do mesmo
mês, era reformado.
Sua reforma não foi voluntária, todavia. É que, com o
golpe de Estado desferido por seu mano, o Generalíssimo Manuel Deodoro da
Fonseca e sua consequente renúncia em favor do Vice-Presidente da República o
General Floriano Peixoto, 13 Oficiais-Generais de terra e mar exigiam, mercê de
manifesto a esse último, entregue pelo Marechal José de Almeida Barreto, se
procedessem a novas e imediatas eleições. Um dos signatários desse importante
documento era o General Dr. João Severiano. No dia seguinte, 4 de abril, todos
os treze Oficiais-Generais eram reformados, sendo que o médico no posto de
General-de-Divisão.
No
dia 10.02.1892, seria ele preso juntamente com os Drs. José Joaquim Seabra,
Artur Fernandes Campos da Paz, Clímaco Barbosa e Manuel Lavrador, no prédio n°
21 da Rua da Relação pelo próprio Chefe de Polícia Dr. Goldsmith, em virtude da
notícia que tivera de que ali se achavam, armados de revólveres, conspirando.
A
04.11.1895, reassumia o cargo de Inspetor Geral, em virtude de, por Decreto de
31 de outubro, publicado na Ordem do Dia 5 daquele mês, o Presidente da
República haver revogado o Decreto, de 07.04.1892, julgado ilegal e
inconstitucional pelo Acórdão do Supremo Tribunal Federal, de 19 de setembro do
corrente ano.
A 3
de agosto de 1896, falecia sua esposa, Dona Anália d’Alincourt Fonseca, no Rio
de Janeiro, tendo ele apresentado a certidão de óbito de 14 de setembro. Sempre
no exercício de suas altas funções.
A 15.03.1897, contraia segundas núpcias com a Srª
Horminda dos Santos Cruz de Figueiredo, de cujo enlace houve um filho Carlos,
nascido a 02.11.1897.
Cinco
dias após o nascimento desse seu caçula, vinha a falecer na Capital da
República o preclaro militar e cientista, com 61 anos, 7 meses e 10 dias de
idade, de quem o Brasil esperava ainda inestimáveis serviços, ditados pelo seu
sadio patriotismo, sua pujante cultura, seu acendrado amor a profissão médica e
militar.
Seus
reais méritos o levaram a Patrono do Serviço de Saúde do Exército, sem favor
aliás, por consenso unânime dos que o integravam, por ocasião do memorável
prélio.
O
Dr. João Severiano da Fonseca reunia, de fato, qualidades excepcionais para
merecer o justo galardão com que reconhecidos sufrágios souberam perpetuar sua
memória. Poeta inspirado, escritor primoroso, historiador fecundo, naturalista
exímio, a Buffon somente comparável, suas obras ai estão a atestar
conhecimentos precisos, a cintilância de uma pena vigorosa:
“Da Moléstia em Geral” - tese de doutoramento; “Raças e Povos”; “A Gruta do
Inferno da Província de Mato Grosso”; “Origem
das Sociedades de Estudo”; “Viagem ao
Redor do Brasil”, também escrito
em Francês, “Rico manancial de
ensinamentos oportunos sobre as vastas regiões da nossa Amazônia”; “Climatologia de Mato Grosso”; “o Celibato Clerical e Religioso”; “Novas Investigações sobre Mato Grosso”;
e, “Dicionário Geográfico de Mato Grosso”.
O
Governo da República, tendo em conta a eleição que o Serviço de Saúde do
Exército fizera de seu insigne Patrono, baixou o Decreto-lei n° 2.497, de
16.08.1940, concebido nos seguintes termos:
Decreto-lei n° 2.497, de 16.08.1940
O Presidente da República, usando
da atribuição que lhe confere o artigo 180 da Constituição, e considerando
‒ que o General Dr. João Severiano da Fonseca,
durante a sua carreira de médico militar, prestou ao Exército os mais
assinalados serviços, tanto na paz como na guerra, consagrando à saúde do
soldado todos os seus esforços e os maiores sacrifícios;
‒ que, por esse motivo, está seu nome vinculado
às tradições do Serviço de Saúde do Exército, em cuja administração deixou um
traço marcante de sua passagem;
Decreta:
Artigo Único. É considerado “Patrono do Serviço de Saúde do Exército”
o General médico Dr. João Severiano da Fonseca.
Rio de Janeiro, 16.08.1940, 119° da
Independência e 52° da República. Getúlio Vargas ‒ Eurico Gaspar Dutra.
A
seus títulos agremiativos e culturais, outros vieram juntar-se como: Membro do
Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (1882), do qual foi também
secretário; do Instituto Farmacêutico do Rio de Janeiro; da Sociedade de
Geografia do Rio de Janeiro; da Sociedade de Geografia de Lisboa; da Sociedade
de Geografia de Madri; do Instituto Arqueológico Alagoano; do Ateneu de Lima; e
do Instituto Médico Brasileiro.
A
Academia Alagoana de Letras traz em uma de suas cadeiras o festejado nome desse
nordestino que, nos raros vagares de sua afanosa existência, votada a
construção da paz e aos reclamos dos que sofriam, sendo um bravo na guerra,
enriqueceu as letras pátrias com as gemas de seu talento de escol.
Desaparecido
da lista dos vivos, suas obras beneméritas permanecem perenes a afirmar o sumo
valor do primeiro médico que atingiu o Generalato do Exército.
Disse
Scipião que “a morte não é senão o
retorno à verdadeira vida”. Esta é, sem dúvida, perpetuada através da
memória, a lembrança de feitos meritórios, a crença de que o túmulo é, na
realidade, “um monumento levantado nos
limites de dois mundos”.
Na
duplicidade de seus árduos misteres, homem de farda e de avental níveo, pleno
de bondade e de renúncia, sacerdote consolador das mágoas físicas, sempre se
revelou leal e tolerante, inteligente e bondoso, digno e bravo, o mesmo homem
de caráter ilibado, virtude que Gustavo Le Bon considerava fundamental na
grandeza de um povo.
A
nobreza de seus sentimentos humanitários, a retidão de sua conduta pela vida
afora, a coragem máscula demonstrada a cada passo, o vigor de suas convicções
ideológicas, fizeram-no o símbolo excelso do Serviço de Saúde do Exército ‒
exemplo magnífico e resplandecente de glórias inconspurcáveis ([1]).
O maior preito que, ainda, se lhe poderia prestar era aqui transcrever trecho
de seu discurso ao reassumir “o cargo de
que fora violentamente espoliado em 07.04.1892”:
Venho de novo ocupar o meu lugar.
Já sabeis o meu modo de servir. Na balança de meus julgamentos não tem peso
igual o brio e o desleixo, e tão pronto sou em reconhecer e afagar o
merecimento e os bons serviços como o sou em profligar ([2])
e punir a tibieza, a desídia e o desmazelo.
Sua
escolha para Patrono foi homologada pelo Decreto n° 51.429, de 13.03.1962, do
Poder Executivo Federal. (PILLAR)
O
interessante Relato da “Viagem ao Redor do Brasil, 1875-1878” é de
domínio público:
Editor:
Rio de Janeiro: Pinheiro, 1880-1881.
Data
de publicação: 1880.
Ilustrada
por Pinheiro e A. Pinheiro.
Link:
www2.senado.leg.br/bdsf/handle/id/242429.
Bibliografia
PILLAR, Olyntho. Os Patronos das Forças Armadas
– Brasil – Rio de Janeiro, RJ – Biblioteca do Exército Editora, 1981
Solicito Publicação
(*) Hiram Reis e Silva é Canoeiro, Coronel de Engenharia, Analista de
Sistemas, Professor, Palestrante, Historiador, Escritor e Colunista;
· Campeão do II
Circuito de Canoagem do Mato Grosso do Sul (1989)
· Ex-Professor
do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA);
· Ex-Pesquisador
do Departamento de Educação e Cultura do Exército (DECEx);
· Ex-Presidente
do Instituto dos Docentes do Magistério Militar – RS (IDMM – RS);
· Ex-Membro do
4° Grupamento de Engenharia do Comando Militar do Sul (CMS)
· Presidente da
Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS);
· Membro da
Academia de História Militar Terrestre do Brasil – RS (AHIMTB – RS);
· Membro do
Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS – RS);
· Membro da
Academia de Letras do Estado de Rondônia (ACLER – RO)
· Membro da
Academia Vilhenense de Letras (AVL – RO);
· Comendador da
Academia Maçônica de Letras do Rio Grande do Sul (AMLERS)
· Colaborador
Emérito da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG).
· Colaborador
Emérito da Liga de Defesa Nacional (LDN).
· E-mail: hiramrsilva@gmail.com.
Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – XXVIII
Bagé, 29.01.2025 Continuando engarupado na memória: Tribuna da Imprensa n° 4.281, Rio, RJQuinta-feira, 21.02.1964 Em Primeira Mão(Hélio Fernande
Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – XXVII
Bagé, 27.01.2025 Continuando engarupado na memória: Tribuna da Imprensa n° 4.279, Rio, RJQuarta-feira, 19.02.1964 Em Primeira Mão(Hélio Fernande
Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – XXVI
Bagé, 24.01.2025 Continuando engarupado na memória: Tribuna da Imprensa n° 4.272, Rio, RJ Sábado e Domingo, 08 e 09.02.1964 Jango Atinge sua Maior M
Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – XXV
Bagé, 22.01.2025 Continuando engarupado na memória: Tribuna da Imprensa n° 4.268, Rio, RJ Terça-feira, 04.02.1964 Em Primeira Mão(Hélio Fernandes)