Quarta-feira, 21 de outubro de 2020 - 09h12
Bagé, 21.10.2020
Porto Velho, RO/ Santarém, PA ‒ Parte XXXIX
Real Forte do Príncipe da Beira - VII
Virgílio Corrêa Filho, baseado nas
Cartas de Rolim de Moura, relata:
Pombeiros insignes, os seus “aventureiros” comunicavam-lhe, de
contínuo, os menores movimentos dos inimigos que, a 17 de abril, sulcaram o
Guaporé nas suas 40 canoas. Rolim esperou o ataque baldadamente, e no outro dia
saiu, em 7 canoas de guerra, a oferecer-lhes batalha, que evitaram. Compreendeu
que pretendiam fazê-lo render-se pela fome, cortando-lhe a comunicação com Vila
Bela. Resolveu evidenciar-lhes, de modo enérgico, a inanidade completa do
plano. A 5 de maio, despacha escolhido pelotão que, à noite, rompe habilmente o
cerco e sobe o Baurés até a missão de S. Miguel, onde chega na madrugada de 8,
“tanto a tempo que aprisionou os Padres
João Roiz e Francisco Espino, que a governavam, e rende os índios todos sem
resistência, que são 600 para 700 almas”.
Para tal gente, o bloqueio
planejado não passava de brincadeira. Pôde-se levar a sua ofensiva até o
interior do território inimigo, onde arrasou a Aldeia de S. Miguel, mais
facilmente Rolim conseguiria corresponder-se com os seus jurisdicionados de
Vila Bela, que lhe mandaram reforço de gente e víveres. Contando já cerca de
500 homens, resolveu a 22 de junho acometer o inimigo na própria paliçada em
que se embicara, em três colunas, a primeira fluvial, sob o seu direto comando,
à jusante; outra, confiada ao Tenente Tego, com maior número de canoas, à
montante; enquanto a última, de cem homens escolhidos, comandados pelo ajudante
de ordens realizaria o assalto.
Afoitos em
demasia, os assaltantes transgrediram as prudentes recomendações do militar,
que também era o Governador e foram, de peito aberto, expor-se
desvantajosamente à arma contrária. Ainda assim escalaram a primeira paliçada,
mas foram vigorosamente contidos no arremesso à outra, interna. Depois de hora
e meia de fogo, quando o inimigo já se dispunha à rendição, retiraram-se com
perda de 21 mortos e alguns feridos, sem pressentir que já lhes sorria a
fortuna, prometendo-lhes vitória. Para contrabalançar semelhante dano, Rolim
enumerou vantagens não pequenas.
O arrasamento
da Aldeia de S. Miguel e o assalto à trincheira de Itonamas, onde pereceu o
Padre Francisco Xavier Irraes ‒ o instigador dos seus comandados à luta –,
infundiram ao inimigo tamanho pavor que, após a refrega, chistosamente refere o
Capitão-General “na missão de S. Pedro se
não atrevia o Superior a ir se lavar no Rio, sem levar consigo uma grande
quantidade de índios armados”. Aliás, a malquerença de Rolim aos
Missionários põe-se de manifesto a cada passo da sua correspondência. (FILHO)
D. Rolim de Moura envia, em 30.04.1764,
Carta a D. João Manuel de Mello, nos seguintes termos:
Um castelhano de Buenos Aires, que
se achava dentro da paliçada de Itonamas, no dia do ataque, disse que nele
havia logo ficado no terreno 160 homens, e muitos feridos dos quais, na Missão
de Madalena morreram 17, fora os que foram morrer nas Missões; donde se vê que
os castelhanos não podiam ter dentro da paliçada menos de 500 para 600 homens;
[...]. Aqui é necessário lembrar que os nossos eram por todos muito poucos mais
de 100; e destes, soldados unicamente 24 Dragões e seis infantes, e tudo mais
pedestres, mulatos, negros, escravos e carijós, com alguns paisanos brancos;
sem embargo do que, a nossa perda foi de 21 na ação. (FILHO)
As incursões anteriores e a corajosa
investida contra a trincheira do Itonamas forçaram a retirada definitiva das
tropas espanholas no dia 03.11.1763. O grosso das tropas luso-brasileiras
retirou-se do Forte Nossa Senhora da Conceição e retornaram para Vila Bela no
dia 03.01.1764. Rolim de Moura vencera uma tropa de efetivo numericamente
superior e melhor equipada e municiada, graças às estratégias de combate
utilizadas bastante originais para a época. Ao termo de sua proveitosa
administração, Rolim de Moura foi agraciado com o título de Conde de Azambuja,
a graduação de Marechal de Campo, nomeado para a Capitania da Bahia e, mais
tarde, Vice-Rei do Brasil.
Capitão-General João Pedro Câmara
Assumiu a Capitania do Mato Grosso,
seu sobrinho, Capitão-General João Pedro Câmara. Câmara, nomeado em junho de
1762, chegou a Vila Bela em dezembro de 1764. A Metrópole traçara para o novo
Capitão-General um Programa de governo: previa a ampliação da produção de ouro,
povoamentos das áreas de lavra, desenvolvimento das comunicações, incremento da
criação de gado e, no campo militar, a consolidação das fronteiras do extremo
Oeste. O período conturbado enfrentado por Câmara não permitiu, no entanto, que
o Governador se dedicasse às questões administrativas. Câmara, em fevereiro de
1766, fez uma viagem até o sítio do antigo Destacamento das Pedras Negras onde
resolveu guarnecer o local com 40 soldados de ordenança.
Em 15.06.1766, visita o Forte Nossa
Senhora da Conceição, onde resolve ativar os trabalhos de reconstrução e
adestramento das tropas preparando-se para uma possível investida por parte dos
espanhóis.
Antônio Leôncio Pereira Ferraz, na sua
“Memória sobre as Fortificações em Mato
Grosso”, relata:
[...] a elevou
Antônio Rolim no mesmo local onde ele destruíra cinco anos antes a missão
espanhola de Santa Rosa, situada à margem direita do Guaporé, em frente à boca
do Itonamas, onde teria havido um entrincheiramento e paliçada, procurando, já
em 1756, assegurar a posse daquele ponto conquistado com a criação de um
Distrito Militar. Foi construída e armada com material de guerra vindo do Pará
pela via fluvial do Madeira, nada se sabendo quanto a seu primitivo traçado,
pois que a primeira notícia que a seu respeito se tem data da época em que nela
introduziu modificações um outro Capitão
General, João Pedro da Câmara, que lhe deu a forma abaluartada, de sistema Vauban, medindo o corpo principal do forte 40 braças de frente por 80 de
profundidade. (FERRAZ, 1940) (Continua...)
Bibliografia
FERRAZ, Antônio Leôncio
Pereira. Memória Sobre as Fortificações em Mato Grosso – Brasil – Rio de
Janeiro, RJ – Marinha de Guerra, Serviço de Documentação Geral da Marinha –
Estado Maior – Divisão de História Marítima, 1940.
FILHO, Virgílio Corrêa. As
Raias de Matto Grosso – Brasil – São Paulo, SP – Volume IV – Fronteira
Occidental – Seção de Obras d’O Estado de São Paulo, 1925.
Solicito Publicação
(*) Hiram Reis e Silva é Canoeiro, Coronel de Engenharia, Analista de
Sistemas, Professor, Palestrante, Historiador, Escritor e Colunista;
· Campeão do II
Circuito de Canoagem do Mato Grosso do Sul (1989)
· Ex-Professor
do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA);
· Ex-Pesquisador
do Departamento de Educação e Cultura do Exército (DECEx);
· Ex-Presidente
do Instituto dos Docentes do Magistério Militar – RS (IDMM – RS);
· Ex-Membro do
4° Grupamento de Engenharia do Comando Militar do Sul (CMS)
· Presidente da
Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS);
· Membro da
Academia de História Militar Terrestre do Brasil – RS (AHIMTB – RS);
· Membro do
Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS – RS);
· Membro da
Academia de Letras do Estado de Rondônia (ACLER – RO)
· Membro da
Academia Vilhenense de Letras (AVL – RO);
· Comendador da
Academia Maçônica de Letras do Rio Grande do Sul (AMLERS)
· Colaborador
Emérito da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG).
· Colaborador
Emérito da Liga de Defesa Nacional (LDN).
· E-mail: hiramrsilva@gmail.com.
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