Quarta-feira, 28 de outubro de 2020 - 08h41
Bagé, 28.10.2020
Porto Velho, RO/ Santarém, PA ‒ Parte XLIV
Real Forte do Príncipe da Beira - XII
Relatos
Pretéritos do Forte Príncipe da Beira
Luiz de Albuquerque de Mello Pereira e Cáceres (1779)
Construção
do Forte do Príncipe da Beira,
e Conservação de Outros Estabelecimentos.
Il.mo e Ex.mo Sr. Martinho de Mello e Castro – Na
construção do Forte do Príncipe da Beira, que principiei no dia 20.06.1776,
conforme as precedentes e repetidas contas que tenho feito subir à presença de
Sua Majestade em direitura a V. Ex.ª, continuo em fazer prosseguir com todo
aquele maior vigor e diligência de que se fazem susceptíveis os escassos meios
deste país aonde, além do dinheiro, que é o mais indispensável instrumento com
que se aplainam as dificuldades e adiantam semelhantes trabalhos, faltam ainda
verdadeiramente vários outros recursos necessários, como são os competentes
artífices e operários que se deveriam empregar, de maneira que, sobre alguns
remetidos do Pará depois das mais excessivas delongas e despesas, fui obrigado,
por último, a mandar vir um mais considerável número deles, que hão de ser
escravos do Rio de Janeiro, aonde a referida encomenda, sobre conta da Real
Fazenda, se fez há perto de um ano; mas, antes dos fins do corrente de 1779,
não poderá chegar a esta Capital, sendo fácil de calcular por esta tão
extraordinária demora aliás inevitável, suposto que dentro do mesmo continente,
que a V.Ex.ª representa, apesar das mais vivas recomendações; os obstáculos que
quase insuperavelmente se oferecem a fim de qualquer empresa nestas tão
desprovidas como remotas regiões, apesar do grosso cabedal quase incrível na
Europa que tudo custa, por maiores que sejam os esforços do zelo e da economia.
Enquanto aos outros novos estabelecimentos e postos guarnecidos desta
dita Capitania, sobre que igualmente tenho posto na real presença, mediante o
conhecimento de V. Ex.ª, as humildes contas e representações que correspondiam,
vão subsistindo no indicado estado, enquanto a Rainha nossa senhora não for
servida decidir ou mandar o contrário; ao mesmo tempo que o entretimento de
todos eles se faz quase impossível de suprir, como por muitas vezes tenho
relatado a V. Ex.ª, pela expressada falta de meios.
Presentemente se me não oferece que acrescentar às sobreditas contas, que
a última nova fundação de que ainda não tinha dado parte, a qual da mesma sorte
fiz executar, constante do termo que incluo a V. Ex.ª; situada na Margem
Ocidental do Rio Paraguai, a 3 ou 4 dias de viagem para cima do presídio que
chamei Nova Coimbra; na imaginação de se tratar de demarcações, segundo
respectivamente anunciam os dois tratados públicos. Nesta mesma ocasião,
executo as ordens de Sua Majestade concernentes à clandestina extração dos
diamantes, absolutamente proibida nesta Capitania, dirigindo as respectivas
devassas que vou fazendo tirar, ao Ex.mo Visconde de Vila Nova da
Cerveira como Secretário de Estado dos negócios do Reino, pois que assim o
determina a Carta Régia de 16.11.1770.
Deus guarde a V. Ex.ª muitos anos.
Vila Bella, 5 de junho de 1779. (RIHGB, 1865)
Ignácio Accioli de Cerqueira e Silva (1833)
Deste salto vão trinta léguas ao do Jirau, latitude de 09°21’ S; também é
mui perigoso o seu trajeto, sendo preciso varar as canoas por terra sobre rolos
de madeira por espaço de 365 braças ([1]).
Passando em 1768 por esta paragem, o Governador de Mato Grosso Luiz Pinto
de Souza, a tomar posse daquele Governo, erigiu aqui uma Povoação que denominou
de Balsamão, com os índios Pamas, que já existiam nesse lugar; a Cachoeira
consta de cinco saltos continuados.
Seguem-se as Cachoeiras dos Morrinhos, Bananeira, Pederneiras, Caldeirão
do Inferno e Paredão, desta última vão cinco léguas à Barra do Mamoré, e à do
Guaporé onde está o Forte do Príncipe da Beira,
além destas ainda se encontra a da Misericórdia, cujo perigo depende do estado
das águas, e a do Ribeirão de cinco saltos, na Latitude de 10°S, o varadouro é
de 340 braças ([2]), hoje se denomina a esse
lugar S. José do Ribeirão.
Nele há um destacamento com escravos do Estado destinados à cultura, a
benefício dos que navegam para o Pará, e Mato Grosso: esse estabelecimento,
criado de ordem do Ministério pelo Governador Caetano Pinto de Miranda
Montenegro, prosperou no tempo daquele Governador, e do seu imediato sucessor
Manoel Carlos, hoje, porém tem decaído, chegando até a não fornecer o sustento
diário para a guarnição, que o vai buscar ao Forte
Príncipe da Beira. (SILVA)
James C. Fletcher e Daniel P. Kidder (1845)
O Tenente Gibbon, U.S.N. deu-nos um relato muito interessante de sua
descida [em 1852] do Rio Mamoré, desde o Forte
Príncipe de Beira até o Madeira, e daí até o Pará; mas a melhor descrição
detalhada dessa longa rota e das numerosas dificuldades que ela opõe ao
viajante e ao negociante, se encontra numa memória publicada pelo Instituto
Histórico e Geográfico do Rio de Janeiro. (FLETCHER & KIDDER)
Felipe José Nogueira Coelho (1850)
Em 20 de junho, lançou S. Ex.ª a primeira pedra, com as solenidades
costumadas e assistência de vários oficiais, do novo Forte que mandou erigir na
margem Oriental do Rio Guaporé, pouco acima da arruinada Fortaleza da
Conceição, em sítio alto e bem proporcionado.
Denominou-o – Forte do Príncipe da Beira
— em obséquio do Sereníssimo Príncipe que era da Beira, e hoje do Brasil.
Mandou gravar no pórtico ou porta principal uma inscrição latina, que se acha
nos Anais da Câmara, e nomeou para seu primeiro Comandante o Capitão de Dragões
da Capitania de Goiás José de Mello da Silva Castro e Vilhena, que aqui se
achava destacado. Festejou-se em Vila Bela o regresso de S. Ex.ª e a construção
do dito Forte [como muro desta Capitania] com um numeroso outeiro, em que
lembrou o verso de Virgílio:
“o fortunatos nimium, sua si bona
norint, agrícolas” ([3]).
Foram criados Capitão e Oficiais da ordenança para a Povoação do mesmo
Forte e vizinhanças. Fez também S.Ex.ª Capitão-mor das conquistas do Paraguai a
João Leme do Prado, sertanista inteligente, o qual tinha ido descobrir o Rio
Embotety, hoje Mondego, que deságua no Paraguai acima do Presídio da Nova
Coimbra, dando notícias das campanhas e margens do mesmo Rio, e de que lho
apareceram alguns índios que, por alguns trajes, rosários, miçangas e ornatos
de prata que traziam, bem deixavam ver se comunicavam com os espanhóis.
Pouco abaixo da Foz do mesmo Mondego, descobriu também um lugar mais
próprio para Povoação, e mesmo para Forte. Em 16 de setembro, recolhendo-se S.
Ex.ª do Forte do Príncipe da Beira, mandou
dar princípio a uma Povoação, que denominou Viseu, na margem Ocidental do
Guaporé, em quase meia viagem do sobredito Forte. E concedeu alguns privilégios
aos que quisessem ir ser colonos, pelo bando do dito ano, no Registro 5ª da
Ouvidoria, à folha 123. Foi aberta neste ano a rua que corta o quintal do
Palácio, como tinha sido no ano antecedente a travessa grande que vai da Praça
à Rua do Fogo, por ordem de S. Ex.ª e despesas da Câmara, para melhor prospecto
e cômodo da Vila. Em 2 de outubro criou S.Ex.ª o primeiro Cadete que teve a
guarnição militar desta Capital. (COELHO)
Revista Trimensal do IHGE do Brasil (1864)
Tradução
de Alguns Artigos da
Gazeta de Buenos-Aires
Título
‒ Navegação Dos Rios
Já manifestamos de que modo entorpeceram a demarcação da linha divisória
estipulada no dito Tratado. Logo depois, em 1870, povoaram fazendas, e puseram
guardas nas privativas possessões da Espanha, na linha que devia tirar-se desde
o Arroio S. Luiz, pela margem Ocidental da Lagoa-mirim até o Arroio mais
Meridional, que entra em seu desaguadouro; e assim contravieram ao Tratado de
1770. Construíram do modo o menos injustificável os Fortes Albuquerque e
Coimbra, em território pertencente à Espanha, e várias povoações na margem
Meridional do Itenes, e entre elas o Forte
Príncipe da Beira, construído poucos meses depois de concluído o Tratado de
1777, sobre a Vila do mesmo Rio Itenes com o objetivo de usurpar toda a
navegação do Madeira. (RIHGB, 1864)
Cândido de Melo Leitão (1941)
As constantes lutas do Sul, “principais
motivos das discórdias ocorridas entre as duas Coroas”, fizeram com que as
lindes platinas fossem desde logo demarcadas e por pessoal numeroso, que
levasse com brevidade a cabo tal empreendimento. Para o restante da linha
divisória, desde esse remoto Rio Branco, ao Norte, “região onde até então nenhum homem branco havia penetrado”, até
esse Extremo Sudoeste onde, para evitar as constantes incursões dos
castelhanos, fazia o Governo de Lisboa levantar o Forte Príncipe da Beira, era nomeada uma só Comissão. Diz
explicitamente a provisão do Capitão General João Pereira Caldas:
Para proceder com conhecimento mais exato e maior certeza à importante
operação de demarcação dos domínios reais, ordenou o Governo de Lisboa que se
empregassem no reconhecimento das fronteiras os mesmos geômetras e engenheiros
tanto na Capitania do Grão Pará como na de Mato Grosso. [...]
As viagens de Natterer [...] de julho de 1829 a agosto de 1830, descendo
o Guaporé (com demora de alguns dias no Forte Príncipe da Beira) e o Mamoré,
residindo em Borba quase um ano [24.11.1829 a 25.08.1830]; de setembro de 1830
a setembro de 1831, subindo o Rio Negro até à Cachoeira de Tumui e visitando
alguns dos seus afluentes; de setembro de 1831 a fins de 1832, quando explorou
o Rio Branco até ao Tacutu; de 1833 a julho de 1834 em pequenas expedições
pelas proximidades de Manaus, chegando ao Pará em setembro de 1834. [...] Alcides
D’Orbigny veio à América do Sul, contratado pelo Governo argentino. [...] Tendo
penetrado em nosso território na altura do Forte
Príncipe da Beira, à margem do Guaporé, subiu por esse Rio até Vila Bela,
regressando pelo mesmo caminho fluvial para a Bolívia. (LEITÃO) (Continua...)
Bibliografia
COELHO, Felipe José Nogueira. Memórias
Cronológicas da Capitania de Mato Grosso, Principalmente da Provedoria da
Fazenda Real e Intendência do Ouro – Brasil – Rio de Janeiro, RJ – Revista
Trimensal de História e Geografia - Volume 13 - 1850.
FLETCHER & KIDDER, James
Cooley Fletcher & Daniel Parish Kidder. O Brasil e os Brasileiros:
Esboço Histórico e Descritivo, Vol 2 – Brasil – São Paulo, SP – Editora
Brasiliana, 1941.
LEITÃO, Cândido de Melo. História
das Explorações Científicas no Brasil (1941) – Brasil – São Paulo, SP –
Editora Brasiliana, 1941
RIHGB, 1864. Tradução de
Alguns Artigos da Gazeta de Buenos-Aires – Navegação dos Rios ‒ Brasil ‒
Rio de Janeiro, RJ ‒ Revista Instituto Histórico e Geográfico do Brasil ‒ Tomo
27 ‒ 1ª Parte, 1864.
RIHGB, 1865. Carta de Luiz
de Albuquerque de Mello Pereira e Cáceres, Governador de Mato Grosso, de 5 de
junho de 1779 – Brasil – Rio de Janeiro, RJ – Revista do Instituto
Histórico e Geográfico Brasileiro. 1865.
SILVA, Ignácio Accioli de
Cerqueira e. Corografia Paraense ‒ Brasil ‒ Belém, PA ‒ Typographia do
Diário, 1833.
Solicito Publicação
(*) Hiram Reis e Silva é Canoeiro, Coronel de Engenharia, Analista de
Sistemas, Professor, Palestrante, Historiador, Escritor e Colunista;
· Campeão do II
Circuito de Canoagem do Mato Grosso do Sul (1989)
· Ex-Professor
do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA);
· Ex-Pesquisador
do Departamento de Educação e Cultura do Exército (DECEx);
· Ex-Presidente
do Instituto dos Docentes do Magistério Militar – RS (IDMM – RS);
· Ex-Membro do
4° Grupamento de Engenharia do Comando Militar do Sul (CMS)
· Presidente da
Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS);
· Membro da
Academia de História Militar Terrestre do Brasil – RS (AHIMTB – RS);
· Membro do
Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS – RS);
· Membro da
Academia de Letras do Estado de Rondônia (ACLER – RO)
· Membro da
Academia Vilhenense de Letras (AVL – RO);
· Comendador da
Academia Maçônica de Letras do Rio Grande do Sul (AMLERS)
· Colaborador
Emérito da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG).
· Colaborador
Emérito da Liga de Defesa Nacional (LDN).
· E-mail: hiramrsilva@gmail.com.
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Bagé, 06.12.2024 Continuando engarupado na memória: Jornal do Brasil n° 186, Rio de Janeiro, RJSábado, 10.08.1963 Lacerda diz na CPI que Pressõessã
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Bagé, 02.12.2024 Continuando engarupado na memória: Jornal do Brasil n° 177, Rio de Janeiro, RJQuarta-feira, 31.07.1963 JB na Mira O jornalista H