Quinta-feira, 29 de outubro de 2020 - 08h52
Bagé, 29.10.2020
Porto Velho, RO/ Santarém, PA ‒ Parte XLV
Real Forte do Príncipe da Beira - XIII
Relatos
Pretéritos do Forte Príncipe da Beira
Antônio Leôncio Pereira Ferraz (1978)
O Forte fica em 12°36’ S e 21°26’28” O do Rio de Janeiro, e a ele
voltaria, em 1778, o mesmo Capitão-General ([1]),
em inspeção às obras em andamento e ao material de guerra ali chegado. A cal
empregada na construção fora enviada de Corumbá pela via fluvial do Jauru e
dali à do Rio Guaporé; só em 1782 foram conduzidas pedras que deram para o
fabrico de 2.000 alqueires [de cal]. As obras de cantaria eram executadas no
Jauru e o restante do material vinha do Pará, pelo Rio Madeira, na época tão
movimentado, a ponto de dar melhores resultados que as monções de povoados.
[...]
A fundação do Forte do Príncipe da Beira
[1776], com a de Viseu [1776], obrigaram os espanhóis à assinatura do Tratado
de Santo Ildefonso, cujo ajuste foi terminado em 1777, valendo aquele Capitão
General (476) a frase com que o pintaria o dirigente espanhol de
Santa Cruz de la Sierra: “O mais
ambicioso dos Governadores portugueses”. [...]
O Forte do Príncipe da Beira é
abaluartado, pelo sistema Vauban, e construído sobre um quadrado, medindo cada
face 118,5 m e tendo em cada ângulo um baluarte de 59 m sobre 48 m na máxima
altura.
Em cada baluarte há 14 canhoneiras, sendo 3 por flanco e 4 por face. As
cortinas, que ligam os baluartes entre si medem cada uma 92,4 m, e as golas 22
m. O fosso, de largura variável, entre 1,5 m e 3 m, atinge 9 m em frente ao
baluarte da Conceição, tendo em todo o seu desenvolvimento 2 m de profundidade.
O portão do Forte fica no centro da cortina que se acha voltada para o N. e dá
acesso a um saguão, dividido em 2 compartimentos; liga-o ao outro lado do fosso
uma ponte de 31 m de comprimento. Na Praça principal da Fortificação, há 2 ruas
de casas, paralelas às cortinas e formando um conjunto de 12 edifícios, todos
em ruínas. As muralhas do Forte são de alvenaria de pedra, com revestimento de
cantaria, e medem da esplanada ao fosso 8,22 m. Na cortina voltada para Oeste,
há também um portão que dá saída para o Rio. O Forte se acha assentado numa
Colina, que dista 180 léguas aproximadamente da atual Cidade de Mato Grosso e
14, em linha reta, da Foz do Rio Mamoré.
[...] O principal técnico de que dispôs [o Governador] Luiz de
Albuquerque, no seu projeto de edificação do Forte, foi o Ajudante de
Infantaria Domenico Sambocetti, conquanto tenha sido ouvido a respeito Ricardo
Franco. O Diretor de Obras, porém, foi o Capitão José Pinheiro de Lacerda, que
despendeu na construção 480:000$000 soma essa, sem dúvida alguma, vultosa para
aqueles tempos. As obras ficaram terminadas em 1783 e era o Forte destinado a
receber 56 canhões, segundo se infere do seu próprio traçado; mas só em 1830
ali aportava a primeira artilharia que lhe era destinada, constante de 4 bocas
de fogo de calibre 24, enviadas do Pará desde 1825. Mais tarde, ali foram ter
mais 14 canhões de ferro, de calibre 12. Foi seu primeiro Comandante o Capitão
de Dragões [da Capitania de Mato Grosso] José de Melo Castro de Vilhena e
Silva.
Em 1864, ainda havia ali uma guarnição de 10 soldados, dos quais só três
ficavam no Forte, sendo os demais deslocados para Pedras e Itonamas, segundo o
Coronel Augusto Fausto de Souza.
A 09.06.1789, foi aquela Fortificação visitada pelo naturalista Dr.
Alexandre Rodrigues Ferreira, vindo do Pará em missão régia de caráter
científico. Em 1831, devido ao abandono em que se achava e o consequente
relaxamento da disciplina, houve um levante da guarnição, concomitante com o de
outras forças da Província. Cinco anos mais tarde [1836], para ali eram
mandados os sentenciados cumprir penas e, dois anos mais tarde [1838], o Dr.
Francisco Sabino da Rocha Vieira, chefe da Sabinada, haveria tido igual sorte,
se potentados de Mato Grosso não lhe tivessem ostensivamente dado guarida,
salvando-o certamente de perecer em região tão inóspita. (FERRAZ)
Franco Cenni (2003)
O citado Engenheiro italiano Domenico Sambocetti chegara à capital de
Mato Grosso em 1772, ou talvez dois anos mais tarde, e, tendo que trabalhar
numa obra militar, passou a pertencer aos quadros do exército português com a
patente de ajudante de infantaria. Não se sabe ao certo se foi ele ou o
Engenheiro italiano Antônio Enrico Galluzzi [[2]]
quem fez o projeto do Forte do Príncipe da
Beira, cuja planta é idêntica à da Fortaleza de São José de Macapá, no
atual território do Amapá, mandada construir pela rainha dona Maria I, mãe de
Dom João VI, para defender o Extremo Norte do Brasil contra as tendências
expansionistas da Guiana Francesa e festivamente inaugurada em 19.03.1792.
O Real Forte do Príncipe da Beira se
compunha de quatro baluartes, sendo dedicado a Nossa Senhora da Conceição o que
olhava para o Poente; a Santa Bárbara o que se erguia em direção ao Sul; a
Santo António de Pádua e a Santo André Andino os outros dois. Os trabalhos de
construção nunca foram interrompidos, ocupando sempre mais de 200 homens, entre
engenheiros, artífices, carpinteiros e pedreiros, que executaram urna
verdadeira obra de arte, pois o forte foi construído com a mesma perfeição com
que se costumava erigir, naquele tempo, palácios e catedrais.
Domingos Sambocetti faleceu em 1780, antes que fosse acabada a
construção, e a ele pertence, com certeza, o túmulo ainda agora existente na
Capela do próprio Forte, por outros atribuído ao Príncipe
da Beira, que, ao contrário, falecera em Lisboa.
Antônio Enrico Galluzzi fora membro da Comissão de demarcação de limites
com a Espanha e dirigiu a construção da Fortaleza de São José do Macapá, às
margens do Rio Amazonas, cujas muralhas tinham 6 m de espessura e 10 de altura.
Ao centro do quadrilátero, defendido por 56 poderosos canhões, havia a praça de
armas, o paiol, o hospital, o depósito de víveres e o alojamento da guarnição.
(CENNI) (Continua...)
Bibliografia
CENNI, Franco. Italianos no
Brasil: “Andiamo in Merica” – Brasil – São Paulo, SP – Livraria Itatiaia
Editora Ltdª – Editora da Universidade de São Paulo, 2003.
FERRAZ, Antônio Leôncio
Pereira – Arquitetura Oficial II – Brasil – Brasília, DF – Ministério da
Educação e Cultura, 1978.
Solicito Publicação
(*) Hiram Reis e Silva é Canoeiro, Coronel de Engenharia, Analista de
Sistemas, Professor, Palestrante, Historiador, Escritor e Colunista;
· Campeão do II
Circuito de Canoagem do Mato Grosso do Sul (1989)
· Ex-Professor
do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA);
· Ex-Pesquisador
do Departamento de Educação e Cultura do Exército (DECEx);
· Ex-Presidente
do Instituto dos Docentes do Magistério Militar – RS (IDMM – RS);
· Ex-Membro do
4° Grupamento de Engenharia do Comando Militar do Sul (CMS)
· Presidente da
Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS);
· Membro da
Academia de História Militar Terrestre do Brasil – RS (AHIMTB – RS);
· Membro do
Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS – RS);
· Membro da
Academia de Letras do Estado de Rondônia (ACLER – RO)
· Membro da
Academia Vilhenense de Letras (AVL – RO);
· Comendador da
Academia Maçônica de Letras do Rio Grande do Sul (AMLERS)
· Colaborador
Emérito da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG).
· Colaborador
Emérito da Liga de Defesa Nacional (LDN).
· E-mail: hiramrsilva@gmail.com.
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