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Hiram Reis e Silva

A Terceira Margem – Parte LXXVI - Real Forte do Príncipe da Beira - XIII


A Terceira Margem – Parte LXXVI - Real Forte do Príncipe da Beira - XIII - Gente de Opinião

Bagé, 29.10.2020

 

Porto Velho, RO/ Santarém, PA ‒ Parte XLV

 

Real Forte do Príncipe da Beira - XIII

 

Relatos Pretéritos do Forte Príncipe da Beira

 

Antônio Leôncio Pereira Ferraz (1978)

 

O Forte fica em 12°36’ S e 21°26’28” O do Rio de Janeiro, e a ele voltaria, em 1778, o mesmo Capitão-General ([1]), em inspeção às obras em andamento e ao material de guerra ali chegado. A cal empregada na construção fora enviada de Corumbá pela via fluvial do Jauru e dali à do Rio Guaporé; só em 1782 foram conduzidas pedras que deram para o fabrico de 2.000 alqueires [de cal]. As obras de cantaria eram executadas no Jauru e o restante do material vinha do Pará, pelo Rio Madeira, na época tão movimentado, a ponto de dar melhores resultados que as monções de povoados. [...]

 

A fundação do Forte do Príncipe da Beira [1776], com a de Viseu [1776], obrigaram os espanhóis à assinatura do Tratado de Santo Ildefonso, cujo ajuste foi terminado em 1777, valendo aquele Capitão General (476) a frase com que o pintaria o dirigente espanhol de Santa Cruz de la Sierra: “O mais ambicioso dos Governadores portugueses”. [...]

O Forte do Príncipe da Beira é abaluartado, pelo sistema Vauban, e construído sobre um quadrado, medindo cada face 118,5 m e tendo em cada ângulo um baluarte de 59 m sobre 48 m na máxima altura.

 

Em cada baluarte há 14 canhoneiras, sendo 3 por flanco e 4 por face. As cortinas, que ligam os baluartes entre si medem cada uma 92,4 m, e as golas 22 m. O fosso, de largura variável, entre 1,5 m e 3 m, atinge 9 m em frente ao baluarte da Conceição, tendo em todo o seu desenvolvimento 2 m de profundidade. O portão do Forte fica no centro da cortina que se acha voltada para o N. e dá acesso a um saguão, dividido em 2 compartimentos; liga-o ao outro lado do fosso uma ponte de 31 m de comprimento. Na Praça principal da Fortificação, há 2 ruas de casas, paralelas às cortinas e formando um conjunto de 12 edifícios, todos em ruínas. As muralhas do Forte são de alvenaria de pedra, com revestimento de cantaria, e medem da esplanada ao fosso 8,22 m. Na cortina voltada para Oeste, há também um portão que dá saída para o Rio. O Forte se acha assentado numa Colina, que dista 180 léguas aproximadamente da atual Cidade de Mato Grosso e 14, em linha reta, da Foz do Rio Mamoré.

 

[...] O principal técnico de que dispôs [o Governador] Luiz de Albuquerque, no seu projeto de edificação do Forte, foi o Ajudante de Infantaria Domenico Sambocetti, conquanto tenha sido ouvido a respeito Ricardo Franco. O Diretor de Obras, porém, foi o Capitão José Pinheiro de Lacerda, que despendeu na construção 480:000$000 soma essa, sem dúvida alguma, vultosa para aqueles tempos. As obras ficaram terminadas em 1783 e era o Forte destinado a receber 56 canhões, segundo se infere do seu próprio traçado; mas só em 1830 ali aportava a primeira artilharia que lhe era destinada, constante de 4 bocas de fogo de calibre 24, enviadas do Pará desde 1825. Mais tarde, ali foram ter mais 14 canhões de ferro, de calibre 12. Foi seu primeiro Comandante o Capitão de Dragões [da Capitania de Mato Grosso] José de Melo Castro de Vilhena e Silva.

 

Em 1864, ainda havia ali uma guarnição de 10 soldados, dos quais só três ficavam no Forte, sendo os demais deslocados para Pedras e Itonamas, segundo o Coronel Augusto Fausto de Souza.

 

A 09.06.1789, foi aquela Fortificação visitada pelo naturalista Dr. Alexandre Rodrigues Ferreira, vindo do Pará em missão régia de caráter científico. Em 1831, devido ao abandono em que se achava e o consequente relaxamento da disciplina, houve um levante da guarnição, concomitante com o de outras forças da Província. Cinco anos mais tarde [1836], para ali eram mandados os sentenciados cumprir penas e, dois anos mais tarde [1838], o Dr. Francisco Sabino da Rocha Vieira, chefe da Sabinada, haveria tido igual sorte, se potentados de Mato Grosso não lhe tivessem ostensivamente dado guarida, salvando-o certamente de perecer em região tão inóspita. (FERRAZ)

 

Franco Cenni (2003)

 

O citado Engenheiro italiano Domenico Sambocetti chegara à capital de Mato Grosso em 1772, ou talvez dois anos mais tarde, e, tendo que trabalhar numa obra militar, passou a pertencer aos quadros do exército português com a patente de ajudante de infantaria. Não se sabe ao certo se foi ele ou o Engenheiro italiano Antônio Enrico Galluzzi [[2]] quem fez o projeto do Forte do Príncipe da Beira, cuja planta é idêntica à da Fortaleza de São José de Macapá, no atual território do Amapá, mandada construir pela rainha dona Maria I, mãe de Dom João VI, para defender o Extremo Norte do Brasil contra as tendências expansionistas da Guiana Francesa e festivamente inaugurada em 19.03.1792.

 

O Real Forte do Príncipe da Beira se compunha de quatro baluartes, sendo dedicado a Nossa Senhora da Conceição o que olhava para o Poente; a Santa Bárbara o que se erguia em direção ao Sul; a Santo António de Pádua e a Santo André Andino os outros dois. Os trabalhos de construção nunca foram interrompidos, ocupando sempre mais de 200 homens, entre engenheiros, artífices, carpinteiros e pedreiros, que executaram urna verdadeira obra de arte, pois o forte foi construído com a mesma perfeição com que se costumava erigir, naquele tempo, palácios e catedrais.

 

Domingos Sambocetti faleceu em 1780, antes que fosse acabada a construção, e a ele pertence, com certeza, o túmulo ainda agora existente na Capela do próprio Forte, por outros atribuído ao Príncipe da Beira, que, ao contrário, falecera em Lisboa.

 

Antônio Enrico Galluzzi fora membro da Comissão de demarcação de limites com a Espanha e dirigiu a construção da Fortaleza de São José do Macapá, às margens do Rio Amazonas, cujas muralhas tinham 6 m de espessura e 10 de altura. Ao centro do quadrilátero, defendido por 56 poderosos canhões, havia a praça de armas, o paiol, o hospital, o depósito de víveres e o alojamento da guarnição. (CENNI) (Continua...)

 

 

Bibliografia

 

CENNI, Franco. Italianos no Brasil: “Andiamo in Merica” – Brasil – São Paulo, SP – Livraria Itatiaia Editora Ltdª – Editora da Universidade de São Paulo, 2003.

 

FERRAZ, Antônio Leôncio Pereira – Arquitetura Oficial II – Brasil – Brasília, DF – Ministério da Educação e Cultura, 1978.

 

Solicito Publicação

 

(*) Hiram Reis e Silva é Canoeiro, Coronel de Engenharia, Analista de Sistemas, Professor, Palestrante, Historiador, Escritor e Colunista;

·     Campeão do II Circuito de Canoagem do Mato Grosso do Sul (1989)

·     Ex-Professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA);

·     Ex-Pesquisador do Departamento de Educação e Cultura do Exército (DECEx);

·     Ex-Presidente do Instituto dos Docentes do Magistério Militar – RS (IDMM – RS);

·     Ex-Membro do 4° Grupamento de Engenharia do Comando Militar do Sul (CMS)

·     Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS);

·     Membro da Academia de História Militar Terrestre do Brasil – RS (AHIMTB – RS);

·     Membro do Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS – RS);

·     Membro da Academia de Letras do Estado de Rondônia (ACLER – RO)

·     Membro da Academia Vilhenense de Letras (AVL – RO);

·     Comendador da Academia Maçônica de Letras do Rio Grande do Sul (AMLERS)

·     Colaborador Emérito da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG).

·     Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional (LDN).

·     E-mail: hiramrsilva@gmail.com.



[1]   Capitão-General: Pereira e Cáceres.

[2]   Antônio Enrico Galluzzi: segundo alguns, Giovanni Antônio Gallucci.

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