Sexta-feira, 24 de julho de 2020 - 12h57
Bagé, 24.07.2020
Momentos Transcendentais no meu Sul
Lagoa da Fortaleza
Havia decidido iniciar minha rota contornando o perímetro da Lagoa da fortaleza, Cidreira (RS) remando há uns 50 metros da margem rumo Norte. Depois de remar por 15 minutos passou, a poucos metros sobre mim, uma enorme Garça Real, também conhecida como Garça Moura ou “Maguari [1]".
Diferente dos demais
pássaros que se afastam repentinamente, quando se aproximavam do caiaque, ela
não alterou seu curso e foi pousar tranquilamente dentro d’água próxima à
margem de onde ficou me observando. Continuei minha jornada e fui surpreendido
novamente, quando a “Maguari” passou
desta vez pela proa do caiaque, virando sua cabeça, me observando-me, indo
pousar logo adiante de onde permanecia me avaliando. A cena se repetiu diversas
vezes e, em uma das oportunidades, ela pousou nas areias da praia de uma
pequena enseada e de lá acompanhou, de modo a não me perder de vista, a passos
largos, a minha movimentação.
Quando aportei,
depois de remar uma hora, ela se afastou desaparecendo ao longe por trás das
dunas imaculadas.
Fiz um tour pela
área admirando a vegetação e identificando os vestígios de capivaras e ratões
do banhado que ainda habitam a região protegidos, que são, pelos zelosos e conscientes
fazendeiros locais.
Não esperava mais
rever minha estranha amiga, mas, alguns minutos depois de iniciar meu retorno,
a “Maguari” cruzou novamente pela
proa do caiaque há uns 10 m de distância, pude identificar até a cor de seus
olhos.
Ela continuou acompanhando-me
até o sítio de onde iniciara seu périplo. O que era para ser mais um rotineiro
dia de treinamento se transformou numa experiência mágica em que dois seres,
tão distintos, tiveram seus destinos cruzados, ainda que momentaneamente, pelas
mãos do Grande Arquiteto do Universo. Foi um dia muito especial. Guardarei com
carinho a cor daqueles brilhantes olhos da amiga “Maguari” me fitando.
[1] Garça Maguari (Ardea cocoi): é a maior das garças brasileiras
podendo atingir 1,80 de envergadura. Fora do período reprodutivo vive
solitária, e mesmo nessa época, a maioria mantém-se isolada durante a
alimentação. O voo, em linha reta, com o pescoço e as pernas totalmente
esticados, é ritmado com lentas batidas de asas. Pousa nas margens dos rios,
lagoas e banhados, oculta pela vegetação, onde captura peixes e anfíbios.
Nidifica na parte superior das árvores mais altas e os ovos são chocados e
cuidados pelo casal. A plumagem apresenta um contraste do branco do pescoço com
o dorso acinzentado e as laterais escuras do ventre. Possui uma listra negra da
parte inferior do pescoço, bem como no alto da cabeça. Ao redor dos olhos
possui uma coloração azulada e o bico é amarelo. (Pantanal – Guia de Aves –
Reserva Particular do Patrimônio Natural – RPPN, SESC)
Laguna dos Patos
Acordamos às 05h30,
arrumamos, ainda no escuro, nossas tralhas e partimos às 06h10. A ausência dos
ventos proporcionou um momento mágico; no horizonte, as nuvens fundiam-se nas
águas tranquilas da Laguna dos Patos amalgamando Céu e Terra permitindo-me
vislumbrar, por um átimo, o diáfano Portal da “Terceira Margem”. Tive a nítida sensação de mergulhar o remo nas
nuvens e deslizar silente rumo ao infinito. [...]
Desembarcamos na
ponta Sul do Capão e saímos a pé para apreciar e fotografar a vegetação nativa.
Os troncos das enormes figueiras eram verdadeiros jardins suspensos, tomados
por bromélias, orquídeas, fungos e liquens.
O passeio, pela diversificada vegetação emoldurada pelas dunas majestosas, era uma verdadeira ode ao espírito e aos sentidos humanos, descobrimos um espécime de orquídea em plena floração extemporânea, encantamo-nos com as longas barbas de bode ondulando ao vento, produzindo um maravilhoso efeito de animação nos gigantescos e estáticos troncos dos formidáveis monumentos arbóreos ao mesmo tempo em que impunham um ar fantasmagórico a um solitário ninho de João de Barro, experimentamos a textura dos exóticos fungos e liquens e fomos envolvidos pelo inebriante aroma das flores do funcho silvestre.
Lagoa Mirim
Repusemos as
energias nos hidratando, comendo algumas barras de cereais e aproveitamos a
parada para fotografar a vegetação eolicamente esculpida.
Algumas figueiras
tinham tombado sucumbindo à ação solerte e contínua das águas e dos ventos, mas
aferravam-se à vida moldando seus troncos, galhos e raízes à nova realidade,
emprestando à paisagem mais do que um exemplo de determinação e vontade, mas de
como se pode alterar o cenário de um funesto cataclismo em um templo de
determinação e esperança.
Além dos monumentos
arbóreos, as enormes bromélias e barbas de bode agitadas ao vento e outras
tantas epífitas, empoleiradas nos seus galhos, emprestavam-lhes um encanto
especial.
Galeria de Imagens
* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – X
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