Quarta-feira, 29 de julho de 2020 - 10h29
Bagé, 29.07.2020
Momentos
Transcendentais no Rio Solimões
Parte II
RDS Mamirauá
Não
há nenhuma outra floresta tropical no planeta onde o desnível entre as cheias e
a seca seja de 11 metros, onde a água se espalha a cada ano por milhões de
hectares. Os animais e plantas que aí vivem foram selecionados desde o final do
Terciário para suportar estas variações. (José Márcio Ayres)
Em março de 1983, um biólogo paraense chamado José
Márcio Ayres parte de Tefé no navio Gaivota, financiado por seu pai, para
pesquisar os uacaris. Depois de diversas tentativas frustradas, Ayres aportou o
Gaivota na Boca do Mamirauá. Após anos estudando os curiosos primatas, seu
estudo foi publicado em 1986 e, em 1990, mais de um milhão de hectares da
várzea, incluindo a área onde havia desenvolvido seu estudo, foram declarados
pelo governo estadual como Estação Ecológica Mamirauá.
Em 1992, foi criada a sociedade civil Mamirauá, com o
intuito de coordenar pesquisas e trabalhos de extensão na reserva e, em 1996, a
ONG publicou seu plano de manejo, visando ao uso sustentável dos recursos
naturais e o policiamento dos recantos mais longínquos da reserva. Ato
contínuo, o governo estadual consagra estes princípios, criando a Reserva de
Desenvolvimento Sustentável de Mamirauá.
Em decorrência das inundações periódicas, o Rio
Solimões, rico em nutrientes, proporciona o habitat ideal para a reprodução e
berçário para mais das 300 espécies de peixes da reserva.
Por outro lado, o crescimento desordenado dos grandes
centros urbanos na Amazônia e a consequente procura por proteína barata, tornam
a opção pela pesca nos Lagos e Rios uma ameaça, tanto ao ecossistema de
Mamirauá como de todos os outros.
O governo brasileiro, através do Conselho Nacional
para o Desenvolvimento Científico e Tecnológico, CNPq, e de doadores
internacionais, financia projetos como o de estudo ecológico do pirarucu, a
rádio-telemetria dos botos e do jacaré-açu, dentre outros, tornando o Mamirauá
um centro de excelência para estudos relativos à floresta alagada.
Junto à população ribeirinha são desenvolvidos
projetos de saúde, educação ambiental e técnicas agrícolas, com a
experimentação de novas técnicas produtivas de árvores frutíferas, planos de
manejo madeireiro sustentável e artesanato tradicional, envolvendo cerâmica e
cestaria, além da operação de uma rádio comunitária.
A corrupção verificada em toda a nação, nos órgãos
encarregados de fiscalizar os atos lesivos ao patrimônio genético e ambiental
do país, mostra ser Mamirauá um modelo que deu certo e que está em constante
reformulação e aperfeiçoamento.
Meus reiterados agradecimentos ao amigo Josivaldo
Ferreira Modesto e a todos do Instituto pela cordialidade e carinho com que nos
receberam.
Reflexões em
Mamirauá
A chuva torrencial me embala e me leva à reflexão.
Contemplar as imensas “Ilhas” de
aguapés e capim-memeca descendo o “cano”
do Mamiruá provoca uma profunda nostalgia. A saudade dos entes queridos que me
apoiam incondicionalmente nessa expedição de brasilidade, de autoconhecimento,
de cultura e de hospitalidade amazônica toma conta de minha mente e me leva a
rememorar a participação de cada um deles nesse projeto de tantos nomes e que,
mais que qualquer outro, deve ser conhecido como “Projeto de Amizade”.
O precário suporte de que eu dispunha no começo desta
empreitada pelo Solimões foi compensado, inicialmente, pelo incentivo de
parentes e de amigos e, mais tarde, pelo de colaboradores voluntários que, como
eu, comungam dos mesmos e patrióticos ideais. Alguns contribuíram
financeiramente, outros com equipamentos ou utensílios para viagem, e outros
ainda, como a equipe de apoio, publicando as imagens, textos e entrevistas,
para que os interessados em acompanhar o deslocamento pudessem fazê-lo na forma
de um diário de bordo.
Fui cativando e sendo cativado por amigos ao longo da
jornada. Amigos que me acolheram no aconchego de seus lares ou de suas
Comunidades e me incentivaram. A cada um deles, sejam Militares do Exército Brasileiro,
Policiais Militares, Prefeitos e Secretários Municipais, Caciques, Líderes
Comunitários, Presidentes ou Administradores rurais, Empresários, Professores,
Jornalistas ou simplesmente Povos da Floresta, o nosso agradecimento.
Os dias correm céleres e a saudade da amazônica
hospitalidade já começa a me afetar. Guardarei eternamente na lembrança a
imagem e o carinho de cada um que, de alguma maneira, marcou minha vida nessa
expedição pelo Rio-Máximo.
Conclusão
A RDS Mamirauá é um modelo de Reserva, tendo em vista
o envolvimento democrático da população ribeirinha na absorção e aplicação de
novas técnicas ambientais, no controle e fiscalização dos recursos naturais da
reserva e a modelar ação norteadora do Instituto como organização científica de
excelência, apresentando novas alternativas sustentáveis.
Solicito Publicação
(*) Hiram Reis e Silva é Canoeiro, Coronel de
Engenharia, Analista de Sistemas, Professor, Palestrante, Historiador, Escritor
e Colunista;
· Campeão do II
Circuito de Canoagem do Mato Grosso do Sul (1989)
· Ex-Professor
do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA);
· Ex-Pesquisador
do Departamento de Educação e Cultura do Exército (DECEx);
· Ex-Presidente
do Instituto dos Docentes do Magistério Militar – RS (IDMM – RS);
· Ex-Membro do
4° Grupamento de Engenharia do Comando Militar do Sul (CMS)
· Presidente da
Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS);
· Membro da
Academia de História Militar Terrestre do Brasil – RS (AHIMTB – RS);
· Membro do
Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS – RS);
· Membro da
Academia de Letras do Estado de Rondônia (ACLER – RO)
· Membro da
Academia Vilhenense de Letras (AVL – RO);
· Comendador da
Academia Maçônica de Letras do Rio Grande do Sul (AMLERS)
· Colaborador
Emérito da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG).
· Colaborador
Emérito da Liga de Defesa Nacional (LDN).
· E-mail: hiramrsilva@gmail.com.
Galeria de Imagens
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