Quinta-feira, 19 de novembro de 2020 - 07h39
Bagé, 19.11.2020
Porto Velho, RO/ Santarém, PA ‒ Parte LX
Madeira-Mamoré ‒ Ferrovia do Diabo ‒ XII
Jornal
do Comércio, n° 188 ‒ Rio de Janeiro, RJ
Quarta-feira, 08.07.1885
Publicações à Pedido
Comissão
de Estudo da
Estrada de Ferro do Madeira e Mamoré
No jornal de 14 do mês passado fiz
uma declaração com o fim de afastar de mim qualquer responsabilidade sobre
certos fatos sumamente graves que se deram nesta Comissão. Assim procedendo não
tive preensão de provocar discussões, quer com o chefe desta Comissão, quer com
qualquer outra pessoa que dela tivesse feito parte. Não vejo, por conseguinte,
motivo para o Sr. Moerbeck tanto se zangar, sobretudo tendo S. S. sido, com
pequena interrupção, meu companheiro de cama e mesa desde o mês de julho de
1884 até os célebres seis dias que passamos juntos em casa do Sr. Flores,
boliviano que mora perto da foz do Beni.
O amigo deve lembrar-se que
chegamos nessa casa, de volta de Bananeiras, no dia 4 de setembro e aí
permanecemos até o dia 9 desse mesmo mês, em que foi dado o toque de retirada. Em
todo caso, se S. S. quer discussão mantenha-se nos assuntos da minha declaração
e deixe-se de fazer conjecturas sem fundamento e alcance útil. Toda discussão
séria e leal sobre o assunto dos meus artigos estou pronto a sustentar, e
desejo mesmo que se faça por parte do Governo um exame bastante rigoroso sobre
os negócios desta Comissão, e, se S. S. quer processo judiciário, achar-me-á
pronto, para ele. Para provar; quem fala a verdade todo meio decente e eficaz
me serve.
Não tenho interesse algum que o
Governo seja convencido do que tem havido nesta Comissão pertence ao chefe dela
e agora também a S. S. de provocar rigoroso exame sobre este negócio, e ao
Governo, como o mais interessado, em procurar a verdade. Já fiz da minha parte
o que convinha fazer, e que era de meu dever: livrar-me de toda
responsabilidade.
Prefiro responder a um processo
pelos meus artigos do que acarretar com a responsabilidade de tais fatos,
sobretudo quando tenho a convicção de ter nesses artigos dito sempre a verdade:
e, se assim não fosse, de há muito que me teria retirado, sobretudo depois que
o Sr. Moerbeck, tão oficiosamente quanto habilidosamente, ofereceu-me ocasião
oportuna para fugir da responsabilidade de meus artigos. Estou cansado de
esperar pelo processo que o Sr. Moerbeck disse que ia intentar contra mim.
Parece-me, porém, que S. S. é quem se aproveitará da ocasião, que, com tanta
habilidade quis fornecer-me, para uma retirada.
Enfim, como não posso ficar
eternamente à espera do processo de S. S. dou por finda a minha tarefa na
imprensa. Contudo, terminando, farei a seguinte ponderação: nos grandes
cometimentos, as datas dos seus principais fatos são de importância capital, e
se o meu artigo de 14 do passado nada de melhor fez, ao menos teve em resultado
a verificação de que a última estaca não foi positivamente batida em
Guajará-mirim no dia 7 de setembro de 1884, como declarou em um telegrama a S.
Exª o Ministro da Agricultura o engenheiro chefe. Há ainda dúvidas, pois
vejamos.
Pinkas, engenheiro chefe, disse
que foi a 7 de setembro, na Gazetilha deste jornal, Moerbeck, chefe da 4ª
turma, que foi a 4 de setembro, no Jornal de 17 do mês passado. De Pressy,
chefe da seção, que falta-lhe a memória para declarar a data certa, mas que,
entretanto, lembra-se que a última estaca foi batida na 1ª quinzena de
setembro, Jornal de 28 do mês passado. Nehrer, desenhista auxiliar, o público
sabe o que ele tem dito a esse respeito.
O mais extraordinário de tudo isto
é que no meu artigo de 14 de junho não me referi a datas; perguntei
simplesmente:
‒Quem bateu a última estaca em
Guajará-mirim!
A esta pergunta ninguém respondeu,
e como esta é a última vez que sobre este assunto virei à imprensa, finalizo
esta com a mesma pergunta:
‒Quem bateu a última estaca em
Guajará-mirim!
Eu não fui. Seria o Sr. Moerbeck?
(JC, n° 188)
Jornal
do Comércio, n° 267 ‒ Rio de Janeiro, RJ
Sexta-feira, 25.09.1885
Publicações à Pedido
Comunicação
de Estudos da
Estrada de Ferro do Madeira e Mamoré
À
S. M. O IMPERADOR, À S. EX. O SR. MINISTRO DA AGRICULTURA E AO PÚBLICO, COM
ESPECIALIDADE À CLASSE DOS ENGENHEIROS.
Tendo eu em tempo feito por este
Jornal uma declaração de grave importância sobre os trabalhos desta Comissão,
julgo-me com o dever, depois da publicação do relatório do Engenheiro-chefe
Pinkas, de voltar à imprensa para relatar os fatos e chamar a atenção do
público e, sobretudo, a do Governo Imperial para as minhas declarações já
feitas pela imprensa, a fim de confrontá-las com o que se acha escrito no
relatório da Sr. Pinkas ultimamente publicado. Lendo esse relatório fiquei,
encarando-o debaixo de certo ponto de vista, possuído do mais vivo
contentamento pela importante razão de ter nele visto estampadas as mais
evidentes provas de tudo quanto asseverei pela imprensa, conquanto a sua
leitura não possa deixar de indignar a qualquer homem de bem, e eu nele seja
tratado com um tão injusto esquecimento. Antes de prosseguir convém declarar
que sou oficial, 1° Tenente do Exército Austríaco no qual servi per muitos
anos, sendo distinguido com a nomeação de cavaleiro, Ritter, da Coroa de Ferro
da Lombardia Austríaca, e com duas medalhas de campanha ganhas por ter
combatido na Batalha de Solferino em 1859 e na de Custoza em 1866.
Possuo os documentes
comprobatórios de tudo isto. Por conseguinte vindo para o Brasil tive em vista
melhorar os meus meios de vida pelo trabalho honesto e digno do homem de bem.
Servi nesta Comissão como
desenhista e auxiliar técnico e nessa qualidade fui designado para servir na 4°
turma que tinha de correr a linha de exploração desde o Ribeirão até
Guajará-mirim. Prestei nesta turma serviços sérios e aproveitáveis à Comissão,
posso mesmo asseverar que do pessoal técnico ninguém prestara melhores; pois
fiz o nivelamento durante seis dias, tendo sido depois dispensado desse serviço
com ordem de jogar ao Rio as cadernetas, as quais acham-se ainda em meu poder e as entregarei ao
Governo quando me forem exigidas.
No Escritório da turma fui
encarregado de forjar as cadernetas de nivelamento, etc. Enfim, o que se passou
nessa trama acha-se descrito na carta que dirigi ao Sr. Pinkas e da qual abaixo
publico os trechos que são de interesse para o Governo Imperial e para o
público. Se não continuei a prestar mais serviços técnicos à Comissão, não foi
por culpa minha. Do campo fui retirado por ter declarado que não achava na
picada estacas, visto o chefe da turma, o Sr. Moerbeck, não comparecer no campo
depois dos primeiros dias, deixando o empreiteiro abrir as picadas ao seu
talante ([1]).
Contudo prestei muito bons
serviços à Comissão, debaixo de outro ponto de vista; pois, fiquei desde 10 de
setembro até 20 de outubro como chefe da turma dirigindo-a; e nessa categoria
prestei importantes serviços, sendo o mais valioso o da retirada.
Tendo o Sr. Moerbeck abandonado o
serviço e fugido Rio abaixo, depois da altercação que teve com o chefe de
secção Pressy, fiquei pela força das circunstâncias obrigado a dirigir a
descida do Rio com todo o pessoal e material da Comissão, correndo riscos
enormes, como se acha descrito na carta que abaixo publico.
Prova o fato de ter eu ficado
atrás com todo o pessoal e material o ofício e a carta, abaixo publicados, que
o Sr. Moerbeck dirigiu-me ordenando-me a destruição dos batelões, a fim de que
os bolivianos não pudessem aproveitar-se deles; como se o Brasil estivesse em
guerra com a Bolívia, e que essa estrada não fosse feita com o desiderato de
estreitar mais as boas relações que existem entre estes duns países.
O Sr. Pinkas escrevendo um
relatório tão romanesco, no qual narra tantas peripécias, em que ele fora o
único “valiente” de inaudita coragem,
e transcreve os relatórios de todos os chefes de seção e de turma, não devia
deixar, pelo menos, de transcrever também alguns trechos da minha carta, já que
não quis pedir-me um relatório sobre o que se passou durante a minha direção na
4ª turma, pois não podia ser sem importância para o Governo Imperial a
descrição das últimas peripécias desta Comissão.
Porém para preencher essa lacuna
publicarei, abaixo deste, a carta já acima aludida, que escrevi ao Sr. Pinkas
em janeiro do corrente nano. Também preciso ter o meu relatório publicado, e
como nele seria descrito o que eu escrevi nessa carta, acho melhor publicá-la,
porque assim provo que o que hoje digo é exatamente o que já tinha sido escrito
em janeiro deste ano, e por conseguinte muito antes de poder ler o relatório do
Sr. Pinkas.
Esta última consideração é de alta
importância, pelo que chamo bem a atenção para ela.
Da leitura do relatório o que mais
impressionou o meu espírito, já tão indignado pela leitura de tantas faltas de verdade,
foi o relatório do Sr. Moerbeck, não porque os dos outros, sobretudo os dos
Srs. Horta e Buarque, tenham sido mais verdadeiros do que o dele ou contenham
menos peripécias que se não deram, porém pelo fato de ter eu acompanhado sempre
de perto a pessoa do Sr. Moerbeck, de termos sempre permanecido nas mesma
barracas de seringueiros, onde passávamos juntos os dias.
Fiquei, por conseguinte pasmo
quando li o que o Sr. Moerbeck diz ter visto. Realmente o Sr. Moerbeck viu
muita coisa da sua rede. Enfim depois do que eu acabo de aqui dizer, pode-se
imaginar o nojo de que fiquei possuído quando li o seguinte trecho do final do
relatório do Sr. Moerbeck:
Esta narração despretensiosa não é
mais do que um “espelho fiel” dos
fatos ocorridos; se os trabalhos foram executados e se a sua conclusão custou
sacrifícios, estes foram feitos somente visando a dois fins: servir ao País e
obedecer às ordens, e imitar o exemplo daquele que, por seu trabalho, por sua
energia e por seu merecimento, obteve do Governo Imperial ser engenheiro chefe
de um dos mais arriscados empreendimentos que se executou no Brasil.
De tudo isto o
que há de real é o seguinte: que quanto ao cumprir as ordens e imitar o exemplo
do Sr. Pinkas, foi a única verdade que contém esse relatório do Sr. Moerbeck e
também posso asseverar a que encontrei em todo o volumoso relatório do Sr.
Pinkas.
Coisa assim nunca vi!!! (JC N°
267) [...]
Bibliografia
JC N° 188. Comissão de
Estudo da Estrada de Ferro do Madeira e Mamoré – Brasil – Rio de Janeiro,
RJ – Jornal do Comércio n° 188, 08.07.1885.
JC N° 267. Comunicação de
Estudos da Estrada de Ferro do Madeira e Mamoré – Brasil – Rio de Janeiro,
RJ – Jornal do Comércio n° 267, 25.09.1885.
Solicito Publicação
(*) Hiram Reis e Silva é Canoeiro, Coronel de Engenharia, Analista de
Sistemas, Professor, Palestrante, Historiador, Escritor e Colunista;
· Campeão do II
Circuito de Canoagem do Mato Grosso do Sul (1989)
· Ex-Professor
do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA);
· Ex-Pesquisador
do Departamento de Educação e Cultura do Exército (DECEx);
· Ex-Presidente
do Instituto dos Docentes do Magistério Militar – RS (IDMM – RS);
· Ex-Membro do
4° Grupamento de Engenharia do Comando Militar do Sul (CMS)
· Presidente da
Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS);
· Membro da
Academia de História Militar Terrestre do Brasil – RS (AHIMTB – RS);
· Membro do
Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS – RS);
· Membro da
Academia de Letras do Estado de Rondônia (ACLER – RO)
· Membro da
Academia Vilhenense de Letras (AVL – RO);
· Comendador da
Academia Maçônica de Letras do Rio Grande do Sul (AMLERS)
· Colaborador
Emérito da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG).
· Colaborador
Emérito da Liga de Defesa Nacional (LDN).
· E-mail: hiramrsilva@gmail.com.
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