Quinta-feira, 30 de julho de 2020 - 10h45
Bagé, 30.07.2020
Momentos
Transcendentais no Rio Solimões
Parte III
Cântico das
Criaturas
(São Francisco de
Assis)
Altíssimo, omnipotente, bom Senhor, a ti o louvor,
a glória, a honra e toda a bênção.
A ti só, Altíssimo, se hão de prestar e nenhum
homem é digno de te nomear.
Louvado sejas, meu Senhor, com todas as tuas
criaturas, especialmente o meu senhor irmão Sol, o qual faz o dia e por ele nos
alumia.
E ele é belo e radiante, com grande esplendor: de
ti, Altíssimo, nos dá ele a imagem.
Louvado sejas, meu Senhor, pela irmã lua e as
estrelas: no céu as acendeste, claras, e preciosas, e belas.
Louvado sejas, meu Senhor, pelo irmão vento e pelo
ar, e nuvens, e sereno, e todo o tempo, por quem dás às tuas criaturas o
sustento.
Louvado sejas, meu Senhor, pela irmã água, que é
tão útil, e humilde, e preciosa e casta.
Louvado sejas, meu Senhor, pelo irmão fogo, pelo
qual alumias a noite, e ele é belo e jucundo e robusto e forte.
Louvado sejas, meu Senhor, pela nossa irmã, a mãe
terra, que nos sustenta e governa, e produz variados frutos, com flores
coloridas, e verduras.
Louvado sejas, meu Senhor, por aqueles que perdoam
por teu amor e suportam enfermidades e tribulações.
Bem-aventurados aqueles que as suportam em paz,
pois por ti, Altíssimo, serão coroados.
Louvado sejas, meu Senhor, por nossa irmã a morte
corporal, à qual nenhum homem vivente pode escapar.
Ai daqueles que morrem em pecado mortal!
Bem-aventurados aqueles que cumpriram tua santíssima vontade, porque a segunda
morte não lhes fará mal.
Louvai e bendizei a meu Senhor, e dai-lhe graças e
servi-o com grande humildade.
A Vingança da Samaúma (05.01.2009)
A sumaumeira morta, que
tombou.
Ela era antiga e gloriosa
Como um deus que passou,
Que vai bem longe, um deus heroico, um deus pagão.
(Francisco Pereira da Silva – Sumaumeira morta)
A primeira visão que se tem da Comunidade, Laranjal, quando se desce o Rio Solimões, é a da exuberante samaúma com suas enormes sapopemas que lembram os véus de uma deusa da floresta. Existiam três na região; a maior delas foi criminosamente abatida para ser vendida e transformada em compensado. Uma árvore magnífica como esta deveria ser tombada como patrimônio da humanidade e, nunca, utilizada para comercialização. O senhor Idelfonso, um dos líderes da comunidade, construiu um barco à sombra de uma das imponentes samaúmas sobreviventes próxima à sua casa.
O barco ficou pronto e permaneceu no local da
construção. Em uma determinada noite, a vingança ocorreu. A samaúma despencou
um de seus mais frondosos galhos, esmigalhando o barco e vingando a irmã
abatida pela Comunidade.
Partida para
Camarazinho (11.01.2009)
Tardamos quatorze dias para realizar essa obra, de contínua e ordinária
penitência, passamos muita fome e a pouca comida que tínhamos, eram os mariscos
que vinham à beira da água, que eram uns caracóis e uns caranguejos
vermelhinhos, do tamanho de rãs. Metade dos companheiros lutava nesse afã e a
outra metade, continuava trabalhando. (CARVAJAL)
[...] Partimos e resolvi parar próximo à Foz do Lago
Mamiá, cujas praias tínhamos visitado com o Major Denildo. Fizemos um lanche
rápido enquanto observá-vamos o encontro das águas pretas do Mamiá com o
Solimões e a pequena Comunidade junto à Foz. Rumei para o braço direito do Rio
Solimões, à direita de uma grande Ilha e, na parada seguinte, encontrei um belo
“caranguejo vermelho” que fotografei
(Imagem 02) lembrando de um
comentário feito pelo Padre Gaspar de Carvajal na expedição de Francisco de
Orellana.
Partida para
Codajás (12.01.2009)
[...] Agradecemos o apoio e o belo cacho de bananas
que nos presentearam. Mantive a rota próxima à margem direita até a primeira
parada, numa bela praia, e depois, na altura da Costa da Salvação, me aproximei
da margem esquerda onde estava o talvegue.
O Romeu e a Maria Helena mantiveram uma rota paralela
próxima à margem direita, embora eu os orientasse insistentemente para
alterá-la. Minha ideia era parar na margem esquerda de um enorme banco de areia
localizado a uns 12 km da Costa da Salvação mas, como a dupla continuasse fora
da rota, tive de alterar para aportar na margem direita do banco, aumentando o
percurso e me afastando do talvegue. Esta mudança nos fez, mais tarde,
enfrentar, desnecessariamente, o mau tempo no meio do Rio. Aportando, bastante
aborrecido, no grande banco, caminhei até a parte mais alta para um reconhecimento
acompanhado pela Maria Helena. O tempo estava carregado e várias pancadas de
chuvas tropicais eram avistadas ao longe. Mostrei a ela por que eu estava indo
pela margem esquerda e o grande furo à direita que tínhamos de evitar para não
ultrapassar Codajás.
Requiem Dies
Irae
Wolfgang Amadeus Mozart nasceu Johannes Chrysostomus
Wolfgang Gottlieb Mozart, no dia 27 de janeiro de 1756, em Salzburgo, Áustria.
Com quatro anos, começou a ter aulas de música com o pai, demonstrando uma
extraordinária vocação musical e, logo, começou a compor pequenas peças.
A perícia do menino ao teclado encantou o pai que o
levou para a primeira turnê pela Europa, com apenas seis anos de idade, onde
alcançou fragoroso sucesso nas cortes. No intervalo das apresentações, Mozart
encontrava tempo para compor e sua compo-sição mais importante foi a ópera “La finta semplice”, escrita quando tinha
apenas doze anos.
Em 1784, entrou para a ordem maçônica. A influência da
maçonaria marcou todas as peças produzidas a partir de então, quando ele
alcança o mais alto nível em matéria de profundidade e expressão artística. São
obras que simbolizam a conquista da liberdade tão almejada pelo compositor.
Em 1791 recebeu, de um irmão maçom, a encomenda de uma
ópera popular. A história, relatada através de um conto de fadas, fazia a
apologia da maçonaria, da sua trilogia fundamental “a Liberdade, a Igualdade e a Fraternidade”, de seus valores e a
busca de si mesmo. Era “A Flauta Mágica”,
a obra-prima de Mozart. A estreia foi um triunfo total e a fama da ópera correu
toda a Cidade de Viena e se estendeu pela Europa. A partir de então, as encomendas
não pararam.
O “Requiem Dies
Irae”, de Wolfgang Amadeus Mozart, está envolto por um manto de mistério,
romantismo e fantasia. A obra foi encomendada pelo Conde Walsegg-Stuppach, em
memória de sua esposa, e Mozart, atarefado e doente, foi compondo o Requiem
quando podia, dando mais importância a outras obras.
A esposa estava preocupada com a mudança no seu
comportamento. Um dia, quando passeava com o marido com intuito de animá-lo,
Mozart disse que estava escrevendo o “Requiem”
para si próprio afirmando:
Eu não consigo tirar da minha cabeça a imagem desse
estranho. Vejo-o constantemente a me perguntar, solicitando-me e implorando-me
impacientemente que complete a tarefa, é o meu Requiem, não o posso deixar
inacabado.
Infelizmente a morte interrompeu o mais belo Requiem
produzido até hoje pelo maior de todos compositores clássicos. Mozart faleceu
no dia 05 de dezembro de 1791 e, finalmente, o “Requiem” foi concluído pelo seu discípulo Franz Xaver Sussmayr.
Requiem a
uma Velha Bússola de Guerra
Voltei para o meu caiaque e, ao embarcar, depois de
mais este aborrecimento proporcionado pela falta de experiência do Romeu,
acabei perdendo minha bússola sueca “Silva”
que me acompanhava desde os tempos de Aspirante há 32 anos. Ela mergulhou celeremente
nas águas lamacentas do velho Rio e as notas do “Dies Irae” soaram nos meus ouvidos numa justa homenagem à amiga de
longa data.
A velha bússola participou, ombro a ombro, de diversas
competições, pistas de orientação, manobras, montagem de exercícios, marchas,
uma série infindável de momentos, sempre apontando a rota correta. As imagens
de competições de PELOPES em que a Engenharia de Vilagran sobrepujara os
camaradas da Infantaria e da Cavalaria, as montagens de pistas de orientação em
que ela era minha parceira inseparável e as pistas que juntos executamos, tudo
isso vinha à minha mente junto com o som do “Requiem” imaginário. Adeus, querida amiga! Partiste como um dia
quero partir, “vendo, tratando e
pelejando!”
Solicito Publicação
(*) Hiram Reis e Silva é Canoeiro, Coronel de
Engenharia, Analista de Sistemas, Professor, Palestrante, Historiador, Escritor
e Colunista;
· Campeão do II
Circuito de Canoagem do Mato Grosso do Sul (1989)
· Ex-Professor
do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA);
· Ex-Pesquisador
do Departamento de Educação e Cultura do Exército (DECEx);
· Ex-Presidente
do Instituto dos Docentes do Magistério Militar – RS (IDMM – RS);
· Ex-Membro do
4° Grupamento de Engenharia do Comando Militar do Sul (CMS)
· Presidente da
Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS);
· Membro da
Academia de História Militar Terrestre do Brasil – RS (AHIMTB – RS);
· Membro do
Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS – RS);
· Membro da
Academia de Letras do Estado de Rondônia (ACLER – RO)
· Membro da
Academia Vilhenense de Letras (AVL – RO);
· Comendador da
Academia Maçônica de Letras do Rio Grande do Sul (AMLERS)
· Colaborador
Emérito da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG).
· Colaborador
Emérito da Liga de Defesa Nacional (LDN).
· E-mail: hiramrsilva@gmail.com.
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