Sexta-feira, 7 de agosto de 2020 - 13h44
Bagé,
07.08.2020
Momentos Transcendentais no Rio Amazonas I
Manaus, AM/ Santarém, PA ‒ Parte I
Retorno à Calha do Rio-mar
(Apolônio de Rodes)
Começarei, ó Febo, contando as famosas ações
dos homens do passado que, a mando do Rei Pélias, atravessaram a Boca do Ponto,
entre as rochas Simplégades ([1]), na veloz Argo em
busca do
Tosão de Ouro. (RODES)
É uma grata satisfação voltar à calha principal do Rio Máximo ([2]) depois de percorrer o tumultuário Solimões e um dos mais
belos e misteriosos afluentes do Amazonas ‒ o Rio Negro.
O volume d’água do Negro empresta ao Amazonas uma potência
adicional e a correnteza ganha um considerável acréscimo de energia.
Neste formidável Mar Dulce ([3]) descobrimos novas gentes, antigas histórias, antigas lendas e
velhas e recorrentes questões nos encantaram, emocionaram e afligiram neste
deslocamento de Manaus a Santarém.
A pujança da Foz do Madeira, relatos da ignota Batalha Naval de
Itacoatiara, o encanto da Ilha da Fantasia (Parintins) e de seus folguedos
populares, o Nhamundá e o Trombetas, mananciais em cujas margens os espanhóis
liderados por Orellana teriam encontrado as lendárias Icamiabas (Amazonas), as
riquezas minerais de Juruti e Porto Trombetas, o Rio Cuminá palco de três
jornadas épicas praticamente desconhecidas pela maioria dos brasileiros, a
angustura de Óbidos, os belos petróglifos da Serra da Escama e das pinturas
rupestres da Morada dos Deuses, a fantástica cerâmica santarena ‒ cuja riqueza
de detalhes procuramos interpretar à luz de fundamentos antropológicos (no
livro “Navegando o Tapajós”), o
majestoso e lendário Tapajós de Fordlândia, Belterra, o Rio Cupari e o seu “Berço da Humanidade” nos encantaram,
surpreenderam, impregnaram de belas imagens nossas retinas e moldaram perenes
lembranças em nossos Corações e Mentes.
Algumas parceiras e parceiros que auxiliaram na
revisão da presente obra estranharam o fato de os Rios, Lagoas, Lagos, e Lagunas
estarem grafados com a primeira letra maiúscula. Os nautas, porém, entenderam
meu recado. Os navegadores consideram os mananciais mais do que simples
acidentes geográficos, e mais, mas muito mais que enormes, amorfas e inertes
massas líquidas. Esses fluidos colossais são as artérias que tonificam a mãe
Terra, carregando no seu meio líquido o húmus e as sementes capazes de gerar o
milagre da vida. Capazes de transformar minúsculas sementes em gigantes
portentosos da floresta.
[1] Simplégades: rochedos do estreito de Bósforo que se entrechocavam
provocando o naufrágio das embarcações e que foram fixadas pelos Deuses durante
a passagem da nau Argo.
[2] Rio Máximo: É sem dúvida o Amazonas o Máximo dos Rios, sem injúria
dos Nilos, Núbias e Zaires da África, dos Eufrates, Ganges e Indos de Ásia, dos
Danúbios e Ródanos da Europa, dos Pratas, Orenocos e Mississipis da mesma América,
em cujo meio ou centro o Amazonas se sobressai gigante, chamado com razão,
pelos naturais, Mar Branco, Paraná Petinga. E se Júlio César prometia ceder o
império a quem lhe mostrasse a fonte do grande Nilo, qual seria o prêmio a quem
lhe apontasse a fonte do Máximo Amazonas, em cuja comparação aquele se
avaliaria pigmeu, ou pequeno regato [...] (DANIEL)
[3][3] Mar Dulce: Vicente Yáñez Pinzón, navegante espanhol, um dos
marinheiros mais experientes de seu tempo, nasceu na localidade andaluza de
Palos de la Frontera [Huelva] em 1461. Em Expedição pela costa brasileira,
antes mesmo de Pedro Álvares Cabral, julgou ter encontrado, em fevereiro de
1500, um grande braço de mar que batizou de “Santa Maria de la Mar Dulce”.
Pinzón descobrira, na realidade, a Foz do Rio Amazonas e, preocupado com a
fúria da “pororoca”, permaneceu ancorado apenas o tempo necessário para abastecer
a frota de água potável e de víveres e, em seguida, içou velas rumo Norte. O
descobrimento do Brasil não foi considerado oficial em consequência do Tratado
de Tordesilhas, que proibia a incursão de espanhóis na¬quela área. Caso esta
descoberta fosse divulgada, teria provocado um sério incidente diplomático
entre as duas grandes potências ibéricas.
A reverência que os navegadores devotam às águas só pode ser
compreendido por aqueles que as respeitando como amigas e Mestras são capazes
de interpretar as sutis mensagens levadas pela torrente.
No murmúrio das ondas, ressoam os sons de inúmeras vozes do Rio e, no seu reflexo, surgem imagens pretéritas e presentes que se mesclam num jorro resplandecente de luz. Algumas ondas escuras, tristes e carregadas de sofrimento volvem-se sobre si mesmas em espumante e fulgente júbilo e a repentina metamorfose exibe uma contagiante alegria de outros tantos clamores.
No seu vai e vem contínuo, as águas abrem, aos iniciados, o registro ancestral. O navegador mergulha seu remo, então, no “Inconsciente Coletivo”, colhendo preciosos ensinamentos trazidos pelas infindas vozes do Rio. Imerso na memória pretérita da humanidade, o navegante se transforma no verdadeiro “Argonauta”, ousando, vencendo temores e ultrapassando os limites terrenos.
Convidamos o leitor a se juntar a nós nesta magnífica descida
pelas águas do mais exuberante dos Rios criados pelo Grande Arquiteto do
Universo e nos acompanhe, remada a remada, pelas águas do Rio Máximo. Que se
encante com nossa narrativa e os relatos, amarelecidos pelo tempo, de
desbravadores, muito mais audazes, que tanto lutaram para estender nossas fronteiras
tão cobiçadas ontem e que, hoje, graças aos desmandos e inércia dos últimos
governos, estão se tornando cada vez mais frágeis.
Este livro além de apresentar um diário de bordo de nossa
jornada carrega o leitor na garupa da história fazendo-o rememorar os fatos
mais relevantes que ocorreram, ao longo da história, nestas plagas.
Rio das Amazonas
O Amazonas é um extraordinário manancial que vem desafiando,
através dos últimos cinco séculos, não apenas a capacidade dos cientistas de
determinar suas características fisiogeográficas e a pródiga imaginação dos
românticos poetas mas, sobretudo, a capacidade de sobrevivência sustentável dos
povos da floresta cujas vidas dependem diretamente de suas águas.
Águas alegres e generosas que fertilizam a várzea e estimulam
os ribeirinhos a acorrerem em mutirões lançando, na vazante, suas sementes às
praias fecundas, para colher mais tarde os frutos de seu esforço e da munificência
do pródigo caudal. Águas por vezes procelosas, soturnas, fúnebres mesmo,
arrancando enormes barrancos das margens arrastando árvores, casas e levando o
terror às almas destemidas dos povos das águas.
O Rio, que no passado corria para o Pacífico, que mais tarde
foi transformado em um imenso Lago (Pebas) continua moldando, trabalhando as
margens a seu bel-prazer. Arrancando um barranco aqui, iniciando uma Ilha mais
adiante, assoreando e abandonando um Canal acolá, transformando um pequeno Furo
em braço principal e levando por diante uma Ilha mais além, é a “Inconstância Tumultuária” a que se
refere o inigualável Euclides da Cunha, no seu “Paraíso Perdido”.
Solicito Publicação
(*) Hiram Reis e Silva é Canoeiro, Coronel de
Engenharia, Analista de Sistemas, Professor, Palestrante, Historiador, Escritor
e Colunista;
· Campeão do II
Circuito de Canoagem do Mato Grosso do Sul (1989)
· Ex-Professor
do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA);
· Ex-Pesquisador
do Departamento de Educação e Cultura do Exército (DECEx);
· Ex-Presidente
do Instituto dos Docentes do Magistério Militar – RS (IDMM – RS);
· Ex-Membro do
4° Grupamento de Engenharia do Comando Militar do Sul (CMS)
· Presidente da
Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS);
· Membro da
Academia de História Militar Terrestre do Brasil – RS (AHIMTB – RS);
· Membro do
Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS – RS);
· Membro da
Academia de Letras do Estado de Rondônia (ACLER – RO)
· Membro da
Academia Vilhenense de Letras (AVL – RO);
· Comendador da
Academia Maçônica de Letras do Rio Grande do Sul (AMLERS)
· Colaborador
Emérito da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG).
· Colaborador
Emérito da Liga de Defesa Nacional (LDN).
· E-mail: hiramrsilva@gmail.com.
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