Quarta-feira, 12 de agosto de 2020 - 10h26
Bagé, 12.08.2020
Momentos
Transcendentais no Rio Amazonas I
Manaus, AM/ Santarém, PA ‒ Parte IV
Parintins - Emoção Sexagenária
Graças ao Coronel Aguinaldo, meu ex-Cadete, comandante
do 8° B E Cnst, continuo desfrutando do apoio da zelosa tripulação do B/M
Piquiatuba. Para quem, como eu, já desceu o Rio Solimões de caiaque, sem
qualquer tipo de apoio, é fácil perceber a importância desses verdadeiros
escudeiros que não me perdem de vista por um segundo sequer.
Graças ao equipamento rádio doado ao projeto pelo
Tenente Wanrley dos Anjos Perazzo, o contato tem sido feito sem a necessidade
de aportar ou de me aproximar da embarcação de apoio. A par da competência de
cada um dos tripulantes, cabe ressaltar o respeito e o carinho deles para
comigo e acredito que mais que uma missão de apoio eles assumiram o papel de
meus verdadeiros anjos da guarda.
O Comandante do Batalhão da Polícia Militar de Parintins,
Major Túlio Sávio Pinto Freitas veio me visitar a bordo e colocar-se à
disposição. O Túlio é uma criatura alegre, comunicativa e extremamente
prestativa, cujo sotaque e o comportamento lembram um típico gaúcho da
campanha. Graças a ele fomos acomodados, gratuitamente, no Hotel Avenida de
propriedade do senhor Mário Flávio Andrade de Souza.
Depois de passearmos pela Cidade, o Túlio foi à missa
e eu fui buscar os apetrechos necessários no Piquiatuba para o pernoite no
Hotel. Ao subir a bordo fui pego de surpresa com uma comemoração ao meu natalício,
recebi de presente o belo livreto “Entoada”
que traz no seu bojo as letras e músicas de Tadeu Garcia. Bastante comovido
tentei regressar ao meu refúgio emocional, mas a tripulação e passageiros
haviam preparado mais um evento e quando desci para o convés inferior, a mesa
de aniversário estava posta com velinhas e tudo. Depois dos parabéns, mais uma surpresa
que eu, absolutamente, não esperava: a tripulação presenteou-me com uma
miniatura personalizada do Piquiatuba. Guardarei com muito carinho esta
recordação que representa não apenas mais uma Fase do Projeto Rio-Mar mas,
sobretudo, materializa a conduta irrepreensível desta “Tropa de Elite” do 8° Batalhão de Engenharia de Construção.
O Comandante Túlio colocou à nossa disposição uma
viatura da PM, conduzida pelo Sgt Klinger, permitindo-nos conhecer os pontos
turísticos mais importantes da bela Cidade. Visitamos a Catedral Nossa Senhora
do Carmo, projetada na Itália e fundada em 31.05.1962. A Catedral possui uma
monumental torre de base quadrangular com 40 m de altura, que é, como a Igreja,
revestida de tijolos aparentes. A Igreja de São Benedito, primeira Igreja de
Parintins, fundada em 1795, pelo Frei José das Chagas, foi demolida em 1905 e,
no seu lugar, foi erguida, em 1945, a capela de São Benedito. A Igreja do
Sagrado Coração de Jesus, fundada, também, em 1945, chamava-se Igreja Nossa Senhora
do Carmo, e teve seu nome alterado depois da construção da nova catedral, em
1962.
Depois de nosso tour religioso, fomos conhecer o Bumbódromo
onde se realiza o Festival Folclórico de Parintins e que abriga durante o
restante do ano uma escola municipal com 18 salas de aula. Concedi uma entrevista
à Rádio-TV Alvorada e Rádio Clube de Parintins onde fomos entrevistados pelo
repórter Tadeu de Souza.
Sr. Manuel
Joaquim Coelho Lima
O amigo Joaquim é um homem fantástico, educado, de
fala mansa e de uma experiência de vida que serve de exemplo para todos nós.
Sua fé, determinação e amor aos estudos transformaram aquele meninote que
vendia picolés para sobreviver em um dos pilares da sociedade parintinense. Foi
realmente um privilégio conhecê-lo e à sua esposa Ester ainda que por breves
momentos na nossa passagem pela Ilha Tupinambarana. Na nossa próxima descida
pelo Madeira e Amazonas pretendemos, novamente, encontrar os queridos amigos de
Parintins. Reproduzo, abaixo, a entrevista que o Joaquim nos concedeu no seu
agradável escritório de contabilidade.
Nasci em 1958,
sou o primogênito de uma família de 14 irmãos, minha mãe era professora rural e
o meu pai era um simples carpinteiro. Passávamos dificuldades, tínhamos poucos
recursos, a família crescia, todo ano nascia um irmão e aos 8 anos de idade
tive que trabalhar na Cidade, naquele tempo não tinha Conselho Tutelar nem
nada, eu vendia picolé e pão doce. Duas irmãs foram trabalhar como empregadas
domésticas. Era uma situação difícil que aconteceu no início dos anos 60.
Comecei a estudar e meu pai teve que ir para o garimpo, no garimpo ele fumava e
bebia, eu acho que no garimpo ele era obrigado a fumar alguma coisa muito
forte, ele era mergulhador, mergulhava para buscar ouro lá no fundo. Muitas
vezes as pessoas eram obrigadas a beber e fumar, um dos critérios para ir para
lá era ser maluco assim. Então o meu pai praticamente desapareceu por lá, na
época eu estava no Exército, tive a sorte de ir para o Exército com 17 anos,
por um erro na data de nascimento, quando cheguei em São Gabriel eu estava com
17 anos e eu achava que tinha 18. Quando fiz meus exames para o Exército, aqui
em Parintins, a Fundação Estadual de Saúde Pública disse que não tinha a minha
ficha, e minha mãe me disse:
tu nunca adoeceste, meu filho, tu só pegaste uma
cataporazinha, um sarampo, nunca tomou vacina, nunca adoeceu, nada, nada.
Mamãe não
tinha tempo com 14 filhos, e eu era o mais velho e o mais velho precisava
ajudar. Morreu um casal de gêmeos e depois outro irmão com problemas simples,
sobreviveram 11 filhos. Eu estava no Exército e estava pronto para engajar,
quando meu pai desapareceu e minha mãe ficou apavorada, tive de largar tudo e
voltar para ajudar mamãe. Mas a família se reuniu e decidiu que nós tínhamos
que estudar. Todos os meus irmãos estudaram, cursaram nível médio, hoje uma de
minhas irmãs está fazendo doutorado na Austrália, eu fiz minha graduação, minha
esposa também, um de meus irmãos é engenheiro, outro sociólogo, um deles está
cursando psicologia, uma irmã está estudando e outra concluindo o curso de
direito, para nós é uma vitória. Quando minha irmã passou no vestibular de
Manaus, ela se mudou para lá porque aqui não tinha emprego e levou os meus
irmãos, só fiquei eu e outra irmã que é protética e a família toda foi morar em
Manaus, faz mais de 20 anos que moram lá, possuem casa própria, e uma situação
econômica muito boa, graças a minha mãe, ela é uma guerreira mesmo.
Eu fiquei em
Parintins, terminei meus estudos. Quando concluí meus estudos em 80, fiz três
concursos públicos no Município e passei em todos. Você vê que eu trabalhei de
picolezeiro, trabalhei numa loja de vendedor e quando concluí os estudos eu passei
no concurso do CESP e depois no concurso do Banco do Estado. Meu sonho era ser
bancário, passei no concurso da Caixa Econômica, naquele tempo, década de 80
era um glamour na Cidade e com os estudos que eu tive no próprio Município,
estudando em escola pública e sem aulas de reforço, eu não tinha aula
particular para estudar, eu era o mais velho, eu tinha uma responsabilidade
muito grande, não podia beber, não podia fumar; o irmão mais velho, quando a
família não tem um pai, passa a ser o modelo para os outros irmãos e isso eu
aprendi no Exército, a ter as coisas organizadas, ter disciplina, isso eu
aprendi lá.
A Caixa me
chamou para trabalhar em Maués, Cidade que fica a mais ou menos 18 horas de
barco daqui, e ser caixa executivo para comprar ouro. Quando cheguei lá,
precisava vestir terno e gravata, afinal eu era funcionário da caixa. Eu 1980,
me formei e, em 1981, fiz concurso para Professor do Estado, passei e fui
contratado para lecionar Contabilidade. Em 1982, fiz concurso e ganhei mais uma
cadeira para ministrar aula no Estado, dava aula de Contabilidade Geral até
para ex-colegas meus que não tinham sido aprovados. Eu já trabalhava na
Contabilidade desde 1974, era auxiliar de Escritório Contábil, quando fui
estudar na faculdade já entendia um pouco e meu Professor percebeu minha
facilidade, eu tinha notas excelentes e passei nesses concursos de que já
falei. Eu consegui me superar pelo estudo e olha que foi sofrido, não ter pai e
tal. Quando eu estava na Caixa em Maués, usando a tecnologia do banco, naquele
tempo já tinha computador, eu trabalhava com telex, com informações.
Liguei para
uma moça de Porto Velho e disse que nessa área de garimpo tinha um senhor com
as características do meu pai. Depois de aproximadamente quinze anos, quando eu
achava que meu pai já tinha morrido, uma colega me disse: que o nome do homem
era José Cláudio de Lima e o nome de meu pai é Cláudio de Lima. A colega
procurou e encontrou meu pai, e ele contou que era de Parintins, ela deu meu
nome e telefone e, enfim, encontrei meu pai. Só que meu pai já era viciado, era
alcoólatra mesmo, e ele me disse que, em um dos mergulhos, ele perdeu a noção
de tudo, passou muito tempo em um Hospital de Belém e não lembrava de mais
nada, só de que já estava em Porto Velho e precisava fazer os documentos. Fez
com outro nome porque não lembrava mais o nome dele, eu o trouxe para cá, então
foi uma felicidade muito breve, uma das conquistas que eu tive dentro da Caixa
foi essa. Em Maués eu trabalhava, de dia, na Caixa e, à noite, como Professor.
Foi quando conheci e namorei a minha esposa e casamos, em junho, lá em Maués.
Depois veio o plano Funaro e extinguiu os postos, o Governo teve que fazer uma
contenção e acabou com a compra do ouro, fechando a agência em agosto. Depois
que a Caixa fechou, eu voltei para Parintins. (Manuel Joaquim Coelho Lima)
Solicito Publicação
(*) Hiram Reis e Silva é Canoeiro, Coronel de Engenharia, Analista de
Sistemas, Professor, Palestrante, Historiador, Escritor e Colunista;
· Campeão do II
Circuito de Canoagem do Mato Grosso do Sul (1989)
· Ex-Professor
do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA);
· Ex-Pesquisador
do Departamento de Educação e Cultura do Exército (DECEx);
· Ex-Presidente
do Instituto dos Docentes do Magistério Militar – RS (IDMM – RS);
· Ex-Membro do
4° Grupamento de Engenharia do Comando Militar do Sul (CMS)
· Presidente da
Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS);
· Membro da
Academia de História Militar Terrestre do Brasil – RS (AHIMTB – RS);
· Membro do
Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS – RS);
· Membro da
Academia de Letras do Estado de Rondônia (ACLER – RO)
· Membro da
Academia Vilhenense de Letras (AVL – RO);
· Comendador da
Academia Maçônica de Letras do Rio Grande do Sul (AMLERS)
· Colaborador
Emérito da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG).
· Colaborador
Emérito da Liga de Defesa Nacional (LDN).
· E-mail: hiramrsilva@gmail.com.
Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – XXVIII
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Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – XXVII
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Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – XXVI
Bagé, 24.01.2025 Continuando engarupado na memória: Tribuna da Imprensa n° 4.272, Rio, RJ Sábado e Domingo, 08 e 09.02.1964 Jango Atinge sua Maior M
Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – XXV
Bagé, 22.01.2025 Continuando engarupado na memória: Tribuna da Imprensa n° 4.268, Rio, RJ Terça-feira, 04.02.1964 Em Primeira Mão(Hélio Fernandes)