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Gente de Opinião

Hiram Reis e Silva

Alucinógenos ou Psicoativos? Parte I - Por Hiram Reis


Os trágicos acontecimentos de março de 2010, envolvendo o assassinato do cartunista Glauco Villas Boas e seu filho Raoni, devoto do Santo Daime, fundador da Igreja Céu de Maria, sediada em sua própria casa, por um dos frequentadores, levaram-me a criar um capítulo especial sobre algumas substâncias narcóticas utilizadas pelos nativos Sul-americanos.

A Pontifícia Universidade do Rio Grande do Sul (PUCRS) vem promovendo, já há alguns anos, o diálogo, o estudo e o aprofundamento sobre a realidade da cultura indígena no Estado e no País, através de uma série de palestras que fazem parte do evento chamado “Círculo de Cultura Indígena”, que celebra, neste ano, sua 8ª edição. O evento é coordenado pelo Departamento de Direito Público da Faculdade de Direito e pelo Núcleo de Estudos e Pesquisa em Cultura Indígena. Durante minhas locuções sou, sistematicamente, interpelado pelos líderes indígenas no sentido de não me referir às drogas que utilizam nos seus rituais como “narcóticos” ou “psicotrópicos” e sim “psicoativos”.

A proliferação de seitas que usam, nos seus rituais plantas, chamadas eufemisticamente, pelos seus simpatizantes de “psicoativas” mas que, na realidade, nada mais são do que drogas que provocam ou estimulam surtos psicóticos, deveriam receber uma maior atenção por parte das autoridades. Há que se diferenciar uso da droga pelos povos nativos, atendendo a rituais ancestrais, e seu uso pelos “civilizados” em busca de novas experiências ou modismos “pseudo-religiosos” que nada têm a ver com a sua história e seus costumes.

Imagem 01 ‒ Jequitiranaboia - Fulgora laternaria (Rui Pará) - Gente de Opinião
Imagem 01 ‒ Jequitiranaboia - Fulgora laternaria (Rui Pará)

 
Essas pseudo-doutrinas só prosperaram tendo em vista a possibilidade de se fazer uso lícito de drogas proibidas e a ignorância e a falta de conhecimento científico a respeito dos malefícios que o uso delas pode acarretar. Quantos outros casos semelhantes ao do cartunista Glauco deixaram de ser repercutidos pela mídia só porque as vítimas eram cidadãos comuns!

Modismos recorrentes levam a humanidade, volta e meia, a buscar nos procedimentos primitivos a cura para suas mazelas. Há necessidade, por exemplo, de identificar se o princípio ativo das substancias usadas pelos “Pajés” tem realmente algum poder curativo ou não. Diversas dessas plantas, ditas “medicinais”, foram pesquisadas e nenhum princípio ativo foi identificado, que justificasse seu emprego.

As últimas pesquisas apontam que apenas cerca de 12% das plantas utilizadas pelos aborígines têm algum efeito benéfico sobre o organismo.

Achar que o conhecimento nativo empírico sobre a flora e a fauna e a natureza em geral não necessita de uma revisão mais científica é desprezar todo o conhecimento da história da humanidade ao longo de milhares de anos.

Tive a oportunidade, na minha carreira militar, como oficial de engenharia, de conviver por dois anos com os Uaimiris-Atroaris (UA). Apareci, certo dia, na Aldeia da “Terraplanagem” com um estranho inseto na mão, que apanhara num tronco seco à beira da estrada, para que eles me identificassem o animal.

Os UA apavoraram-se, pois atribuíam ao pequeno inseto um veneno mortal para o ser humano e diziam que se o pequeno e exótico animal, conhecido como Jequitiranaboia ( ), picasse uma árvore, ela perderia imediatamente todas as folhas e tombaria em vinte e quatro horas. Na verdade, o animal era totalmente inofensivo. Como a sua esquisita cabeça lembra o crânio de um jacaré isso foi suficiente para que os nativos lhe atribuíssem poderes especiais.

Drogas Psicotrópicas ou “Psicoativas”

A Organização Mundial da Saúde, em 1981, definiu estas substâncias como aquelas que “agem no Sistema Nervoso Central produzindo alterações de comportamento, humor e cognição, possuindo grande propriedade reforçadora sendo, portanto, passíveis de autoadministração”. Essas alterações podem ser proporcionadas para fins: recreacionais (alteração proposital da consciência), rituais ou espirituais (uso de enteógenos), científicos (funcionamento da mente) ou medico-farmacológicos (como medicação).

A ética em relação ao uso dessas drogas é objeto de contínuos debates. Muitos governos têm imposto restrições sobre a produção e a venda dessas substâncias na tentativa de diminuir o abuso de drogas.

Resolução N° 1, de 25.01.2010

O poder público pecou em não regulamentar mais clara e objetivamente o uso do chá. A Igreja tem o dever de indenizar, se for provado que ministrou sem os
cuidados que a resolução determinava.

(André Alves Wlodarczyk ‒ Advogado Criminalista)

Segundo a Resolução n° 1, Carlos Grecchi, pai de Carlos Eduardo, assassino do cartunista Glauco e seu filho, poderia, legalmente, vir a solicitar indenização por parte da Igreja “Céu e Maria”. Grecchi afirma que vinha solicitando a Glauco, desde 2007, quase três anos, que seu filho não fizesse uso do Daime, pois apresentava surtos psicóticos após a administração da droga. Na década de 80, o uso da bebida chegou a ser proibido.

Histórico “Legal”

1987    -    Suspensão provisória da interdição do uso da Ayahuasca, através da Resolução n° 06 do CONFEN (Conselho Federal de Entorpecentes), de 04.02.1986;

1991    -    Denúncias anônimas indicando o mau uso da substância gerou o reexame da bebida. O CONFEN realiza estudos sobre a forma de produção e consumo da bebida e, em parecer de 02.06.92, conclui que não havia razões para alterar a conclusão de 1987, que havia liberado o uso da droga para fins religiosos;

2004    -    O Conselho Nacional de Políticas sobre Drogas (CONAD) solicitou, em 24.03.2004, à Câmara de Assessoramento Técnico-Científico a elaboração de estudo e parecer técnico-científico a respeito do uso da Ayahuasca. O parecer apresentado e aprovado na Reunião do CONAD, de 17.08.2004, serviu de base à Resolução n° 5, do CONAD, de 04.11.2004, que criou o atual Grupo Multidisciplinar de Trabalho (GMT);

2010    -    Através da Resolução n° 1, de 25.01.2010, o CONAD dispõe sobre a observância, pelos órgãos da Administração Pública, das normas e procedimentos compatíveis com o uso religioso da Ayahuasca.

Lei n° 11.343, de 23.08.2006

Art. 20. Ficam proibidas, em todo o território nacional, as drogas, bem como o plantio, a cultura, a colheita e a exploração de vegetais e substratos dos quais possam ser extraídas ou produzidas drogas, ressalvada a hipótese de autorização legal ou regulamentar, bem como o que estabelece a Convenção de Viena, das Nações Unidas, sobre Substâncias Psicotrópicas, de 1971, a respeito de plantas de uso estritamente ritualístico-religioso.

Resolução N° 1, de 25.01.2010

[...] Grupo Multidisciplinar de Trabalho (GMT), instituído pela Resolução n° 5 ‒ CONAD, publicada no DOU, de 10.11.2004; [...] Resolve:

Art. 1° Determinar a publicação, na íntegra, do Relatório Final, [...] fazendo-o parte integrante da presente Resolução. [...]

GMT ‒ Ayahuasca ‒ Relatório Final

V ‒ Conclusão

[...] O Grupo Multidisciplinar de Trabalho aprovou os seguintes princípios deontológicos (éticos) para o uso religioso da Ayahuasca:

1.    O chá Ayahuasca é o produto da decocção do cipó Banisteriopsis caapi e da folha Psychotria viridis e seu uso é restrito a rituais religiosos, em locais autorizados pelas respectivas direções das entidades usuárias, vedado o seu uso associado a substâncias psicoativas ilícitas;

2.    Todo o processo de produção, armazenamento, distribuição e consumo da Ayahuasca integra o uso religioso da bebida, sendo vedada a comercialização e/ou a percepção de qualquer vantagem, em espécie ou “in natura”, a título de pagamento, quer seja pela produção, quer seja pelo consumo, ressalvando-se as contribuições destinadas à manutenção e ao regular funcionamento de cada entidade, de acordo com sua tradição ou disposições estatutárias;

3.    O uso responsável da Ayahuasca pressupõe que a extração das espécies vegetais sagradas integre o ritual religioso. Cada entidade constituída deverá buscar a autossustentabilidade em prazo razoável, desenvolvendo seu próprio cultivo, capaz de atender as suas necessidades e evitar a depredação das espécies florestais nativas. A extração das espécies vegetais da floresta nativa deverá observar as normas ambientais;

4.    As entidades devem evitar o oferecimento de pacotes turísticos associados à propaganda dos efeitos da Ayahuasca, ressalvando os intercâmbios legítimos dos membros das entidades religiosas com suas Comunidades de referência; [...]

8.    Compete a cada entidade religiosa exercer rigoroso controle sobre o sistema de ingresso de novos adeptos, devendo proceder entrevista dos interessados na ingestão da Ayahuasca, a fim de evitar que ela seja ministrada a pessoas com histórico de transtornos mentais, bem como a pessoas sob efeito de bebidas alcoólicas ou outras substâncias psicoativas;
9.    Recomenda-se ainda manter ficha cadastral com dados do participante e informá-lo sobre os princípios do ritual, horários, normas, incluindo a necessidade de permanência no local até o término do ritual e dos efeitos da Ayahuasca. [...]

Alienação do CONAD

A liberação do uso da ayahuasca para fins religiosos pelo CONAD reconheceu, ainda que implicitamente, que a ingestão do alucinógeno é potencialmente perigosa. O estabelecimento de rígidos procedimentos que estabelecem a proibição de sua administração a pessoas com “histórico de transtornos mentais” ou sob “efeito de bebidas alcoólicas” ou outras “substâncias psicoativas”, e a necessidade de que as entidades religiosas exerçam “rigoroso controle sobre o sistema de ingresso de novos adeptos” deixa isso patente. O CONAD erra ao atribuir toda a responsabilidade sobre a seleção de adeptos, produção, uso do psicotrópico e acompanhamento dos efeitos aos próprios usuários como se isso fosse de fato viável.

Quem seriam os encarregados de acompanhar os efeitos em cada usuário? Membros da seita sob efeito do alucinógeno? O CONAD, também, não determina quem será o responsável pela fiscalização destas regras nem como isso será feito. O advogado constitucionalista João Wiegerinck acrescenta:

Por eliminação, percebemos que a fiscalização só será feita quando provocada: quando alguém passar mal ou surtar com a bebida. Obviamente, é uma falha.

Os profissionais da saúde pública criticam a resolução pois, segundo eles, entrega aos próprios adeptos a responsabilidade de determinar quem pode fazer uso do chá quando, na verdade, essa orientação deveria ser feita por psicólogos ou psiquiatras. O psiquiatra Dartiu Xavier da Silveira afirma:

O uso do chá é arriscado para pessoas que tomam antidepressivos e é contraindicado a pessoas com diagnóstico de psicose, já que aumenta muito a produção de certas substâncias no cérebro. A falta de fiscalização pode levar ao aparecimento de vários casos graves.

O psiquiatra Emmanuel Fortes acredita que:

É uma temeridade. As pessoas não saem por aí dizendo se têm doença mental ou não. Isso merece uma reflexão por parte do Conselho Federal de Medicina.
Ayahuasca

A Ayahuasca é conhecida em diferentes culturas pelos seguintes nomes: yajé, caapi, natema, pindé, kahi, mihi, dápa, bejuco de oro, vine of gold, vine of the spirits, vine of the soul e a transliteração para a língua portuguesa resultou em hoasca.

Também é conhecida amplamente no Brasil como “Chá do Santo Daime” ou “Vegetal”. Na linguagem Quechua, aya significa espírito ou ancestral, e huasca significa vinho ou chá. Este nome tanto se aplica à bebida preparada por meio da mistura da Banisteriopsis caapi e da Psichotria viridis, quanto à primeira das plantas. [...]

As diversas preparações geralmente contêm talos socados da Banisteriopsis caapi ou espécies correlatas mais as folhas da Psichotria viridis. As plantas adicionadas à Ayahuasca ajudam a maximizar as experiências de estimulação visual e as sensações de contato com “forças e locais sobrenaturais” e divinas. Os métodos de preparo variam conforme o grupo, como um chá quente ou amassando-se junto à água fria, deixando-se em descanso por aproximadamente 24 horas. [...]

Histórico

As origens do uso da Ayahuasca na Bacia Amazônica remontam à Pré-história. Não é possível afirmar quando tal prática teve origem, no entanto, há evidências arqueológicas através de potes, desenhos que levam a crer que o uso de plantas alucinógenas ocorra desde 2000a.C.

Apesar da coleta e identificação da Ayahuasca datar de 1851, os alcalóides já eram conhecidos desde a primeira metade do século XIX, o que se deve à facilidade de extração dos mesmos, bem como aos possíveis usos clínicos: logo, a Harmalina foi isolada da Peganum harmala em 1840. Sete anos depois, a Harmina foi identificada. A “telepatina” ‒ harmina ‒ foi identificada na “yajé” em 1905. [...]

Antropologia e Uso da Ayahuasca

[...] Há relatos do uso das poções em toda a Amazônia, chegando à costa do Pacífico no Peru, Colômbia e Equador, bem como na costa do Panamá, sendo que foi reconhecida em pelo menos 72 tribos indígenas, com pelo menos 40 diferentes nomes. Entre as diversas tribos da Bacia Amazônica, a Ayahuasca é percebida como uma poção mágica inebriante, de origem divina, que “facilita o desprendimento da alma de seu confinamento corpóreo”, voltando ao mesmo conforme a vontade e carregada de conhecimentos sagrados.

Entre os nativos, é usada para propósitos de cura, religião e para fornecer visões que são importantes no planejamento das caçadas, prevenção contra espíritos malévolos, bem como contra ataques de feras da floresta. [...]

Ayahuasca e Religião

No século passado, além do consumo da mistura entre as populações indígenas, várias Igrejas adotaram o uso da ayashuasca em rituais sincréticos, especialmente no Brasil, onde os efeitos psicoativos são acoplados a conceitos das doutrinas Judaica, Cristã, Africana entre outras. As principais religiões deste módulo incluem a UDV [União do Vegetal], CEFLURIS (Santo Daime), Barquinha e o Alto Santo. [...] Tais seitas incluíram a Ayahuasca em seus rituais de comunhão como um simbolismo comparável ao “pão e vinho”. Estas Igrejas argumentam que a poção ajuda a promover concentração pronunciada e contato direto com o plano espiritual. [...]

Ayauhuasca e a Expansão do Consumo

O crescente número de indivíduos que vêm experimentando a Ayahuasca de maneira descontextualizada, visitas a seitas com o único intuito de conhecer a bebida, e a atual possibilidade de se usar a Pharmahuasca: combinação sintética dos ingredientes psicoativos da Ayahuasca.

Chá do Santo Daime (Ayahuasca)
O chá de Santo Daime é um alucinógeno. Tal propriedade se deve à presença nas folhas da chacrona de uma substância alucinógena denominada N, N-dimetiltriptamina [DMT]. O DMT é destruído pelo organismo por meio da enzima monoaminaoxidase [MÃO]. No entanto, o caapi possui uma substância capaz de bloquear os efeitos da MAO: a harmalina. Desse modo, o DMT tem sua ação alucinógena intensificada e prolongada. [...]
Riscos à Saúde
Pode haver sensação de medo e perda do controle, levando a reações de pânico. O consumo do chá pode desencadear quadros psicóticos permanentes em pessoas predispostas a essas doenças ou desencadear novas crises em indivíduos portadores de doenças psiquiátricas [transtorno bipolar, esquizofrenia]. (MARQUES & PALHARES)
Santo Daime e União do Vegetal

O Santo Daime é uma manifestação religiosa exótica que surgiu, no Brasil, a partir do estado do Acre, nas primeiras décadas do século XX. Seus membros fazem uso de uma bebida enteógena ( ), o ayahuasca que, segundo eles, serviria para catalisar processos espirituais visando à cura e bem-estar do indivíduo. Após fazer uso da beberagem, Irineu Serra, seu fundador, imaginou ter tido uma visão de entidades superiores que lhe ordenaram propagar o Santo Daime. Irineu concebeu apenas, muito genericamente, uma doutrina que mescla diversas tradições religiosas antigas e contemporâneas cujo pano de fundo serve apenas para justificar o uso da ayahuasca pelos seus discípulos. A União do Vegetal (UDV) foi criada pelo baiano José Gabriel da Costa na década de 60 que havia migrado para a região Norte para trabalhar como seringueiro.

Em 1959, José Gabriel teve o primeiro contato com a ayahuasca e, depois disso, começou a ter visões de suas vidas passadas e atuar como mensageiro e difundir sua doutrina. Em 1961, criou o Centro Espírita Beneficente União do Vegetal. A sede da UDV localiza-se, hoje, em Brasília, tem filiais em todo o território nacional e no exterior. É a doutrina ayahuasqueira mais numerosa do país, seus rituais possuem forte influência kardecista.

Richard Spruce

Richard Spruce, em novembro de 1852, navegando pelo Rio Negro chegou à Aldeia de Ipanoré, maloca de Urubucoará, onde assistiu à cerimônia do culto Jurupari, em que os Tucanos usavam uma bebida chamada “kapi”, erroneamente grafada “caapi”, palavra tupi-guarani que designa gramíneas, preparada a partir de uma espécie de cipó.
Spruce relata que:

os brancos que tomaram caapi na forma apropriada coincidem em seus relatos sobre as sensações obtidas sob seu efeito. A vista se altera e diante dos olhos passam rapidamente visões onde parecem combinar-se tudo o que viram ou leram sobre o esplêndido e o magnífico. (SPRUCE)
Spruce embriagou-se com caxiri ( ) e não chegou a provar a bebida “sagrada”, mas, já no dia seguinte, começou a pesquisar o seu principal componente, o cipó que denominou Banistera caapi ( ).
Relatos Pretéritos

Richard Spruce (1853)
Nos relatos dos viajantes a propósito das cerimônias realizadas pelas tribos Sul-americanas e das invocações executadas pelos seus Pajés. Há frequentes menções a poderosas drogas empregadas para provocar intoxicação ou mesmo delírio temporário. Varia o modo de administrar e ingerir esses narcóticos, que ora são reduzidos a fumaça e tragados, ora a vapor e inalados, ora ingeridos sob forma líquida. Aliás, são poucas as plantas utilizadas pelos indígenas como matéria prima de artigos de consumo, podendo-se citar apenas o fumo e as que produzem bebidas fermentadas, especialmente o milho, a banana, a mandioca e mais umas poucas. Como tive a sorte de assistir ao uso dos dois narcóticos mais famosos, e de obter espécimes das plantas que os produzem [perfeitos o suficiente para serem determinados botanicamente], transcrevo a seguir as observações a seu respeito que anotei “in loco”. [...]

É a parte inferior do caule que se utiliza para produzir o narcótico. Uma certa quantidade dela é imersa em água e pilada num almofariz. Eventualmente é acrescentada uma pequena porção de raízes delgadas da planta conhecida como “caapipinima”. Depois de pilado e triturado, o “caapi” é peneirado e escoimado das fibras lenhosas e, em seguida, diluído numa quantidade de água suficiente para transformá-lo em bebida. Depois de pronto, adquire uma coloração verde amarronzada, e seu sabor é amargo e desagradável. [...]

Uso e Efeito do Caapi

Durante toda a noite, o caapi foi servido cinco ou seis vezes para os jovens, durante os intervalos das danças, sendo contemplados poucos usuários a cada rodada, e sendo poucos aqueles que, terminada a festa, chegaram a tomar mais de uma dose. O “garçom” ‒ sempre do sexo masculino, já que o uso do caapi é vedado às mulheres ‒ inicia a cerimônia de servir com uma curta corrida, vindo do lado de trás da casa, trazendo em cada mão uma cuia contendo uma porção correspondente a uma xícara de chá. Chegando diante dos que o esperam, murmura algo assim como “Mo-mo-mo-mo-mo” e se encurva pouco a pouco, até quase encostar o queixo no joelho, momento em que estende uma das cuias para o usuário, que sorve um gole. Depois vai fazendo o mesmo com os demais, até que as duas cuias se tenham esvaziado.

Passado menos de dois minutos, começam a se fazer notar os efeitos do caapi. O índio que o tomou adquire uma palidez mortal, suas pernas começam a tremer e sua fisionomia aparenta um sentimento de horror. Súbito os sintomas invertem e ele começa a suar copiosamente, parecendo estar tomado por uma fúria incontrolável, ocasião em que apanha a primeira arma que encontra ‒ tanto faz que seja um murucu [lança], arco, flecha ou facão, ‒ sai da maloca e aplica violentos golpes no chão ou nos beirais da porta, gritando coisa como: “É assim que vou fazer com meu inimigo Fulano, se ele aparecer por aqui!” Passados uns dez minutos, cessa o efeito e o índio recobra a calma, dando mostras de estar exausto. Se estivesse em sua casa, certamente iria cair na rede e dormir até se recuperar completamente, mas aqui na festa o que tem a fazer é sacudir a sonolência e voltar a dançar. [...]

Os brancos que já tomaram caapi de maneira mais racional e relataram suas experiências foram concordes na descrição de seus efeitos, caracterizados por uma alternância de ondas de frio e calor, de medo e coragem. A visão fica turva e diante dos olhos do usuário passa a desfilar uma sucessão de imagens deslumbrantes e magníficas, lembrando cenas vistas ou lidas no passado. Subitamente, a temática se inverte, e as cenas visualizadas passam a ser horrendas e esquisitíssimas. Foram também esses os sintomas gerais a mim relatados por mercadores civilizados do Alto Rio Negro, do Uaupés e do Orenoco que tiveram tal experiência, dando-se o desconto de uma ou outra variação de caráter pessoal. Um amigo brasileiro me disse que, de certa feita, depois de ter tomado uma dose completa de caapi, enxergou a sua frente as maravilhas exóticas que lera nas “Mil e uma noites”, como se num cenário animado, mas as derradeiras cenas daquele desfile fantástico se transformaram numa sequência de imagens pavorosas dignas dos contos de horror. Na festa de Urubuquara, fiquei sabendo que a planta do caapi era cultivada de maneira suplementar numa roça situada poucas horas Rio abaixo. Fui lá um dia, com a intenção de colher alguns espécimes e adquirir uma quantidade razoável de talos já cortados e enfeixados, para poder enviá-los à Inglaterra, a fim de ser ali analisados. [...]

O caapi é utilizado pelos índios de todas as tribos assentadas ao longo do Uaupés, algumas das quais falam línguas totalmente diferentes entre si, além de terem costumes também inteiramente diversos. Já no Rio Negro, se ele algum dia foi usado, caiu em completo desuso, e também não me consta que seja empregado pelas tribos da nação Caribe ‒ Barés, Baniuas, Mandauacas, etc. ‒ com a solitária exceção dos Tarianas, que se introduziram ligeiramente no Uaupés, onde provavelmente aprenderam seu uso com seus vizinhos da tribo Tucano.

Quando estive nas cataratas do Orenoco, em junho de 1854, reencontrei, o caapi, com esse mesmo nome, num acampamento de Guaíbos selvagens, nas savanas de Maypures. Esses índios não só bebiam a infusão da planta, preparada da mesma maneira empregada pelos índios do Uaupés, como mascavam o talo seco, como se costuma fazer com o fumo. Aprendi com eles que todos os moradores nativos dos Rios Meta, Vichada, Guaviare, Sipapo e dos Riachos intercalados entre esses Rios conhecem o caapi e o usam precisamente do mesmo modo. [...] Em maio de 1857, nas aldeias peruanas de Canelos e Puçá-Yacu, voltei a ver plantações de caapi, da mesma espécie do Uaupés, mas ali denominava-se “aya-huasca”, palavra Inca que significa “videira-de-defunto”, e usado igualmente como narcótico estimulante pelos índios das tribos Zaparo, Angutero e Mazane. A bebida é também usada pelos feiticeiros quando estes são solicitados a resolver pendências, responder consultas, revelar os planos do inimigo, dizer se os estrangeiros visitantes seriam ou não confiáveis, se as esposas são fiéis, quem teria deitado mau-olhado sobre fulano que adoeceu de repente, etc. [...] Os jovens não têm permissão de usar o “aya-huasca” enquanto não atingirem a puberdade, sendo seu uso inteiramente vedado às mulheres, exatamente como no Uaupés. [...] (SPRUCE)

Higino Veiga Macedo (1974)

Meu grande amigo, Coronel de Engenharia Higino Veiga Macedo, enviou o relato abaixo em que narra sua experiência com os usuários do “chá” quando chefiava a equipe de terraplenagem do 5° Batalhão de Engenharia de Construção, na BR-364, no trecho Manoel Urbano ‒ Feijó.

Os Peões e o Cipó


Um problema que quase se torna sério era o consumo de “cipó”, pelos peões. Subindo o Rio Envira, a dois quilômetros do porto de Feijó, havia uma maloca de índios aculturados ou “culturados com civilizados” ou, como queiram, com costumes de brancos. A etimologia de aculturado é enrolada, vindo do anglicismo, mas formada por raízes latinas e prefixo grego. Pelo dicionário, pode se ver: a+cultur+ado. Pelo prefixo “a”, grego, dá para entender que esse “a” quer dizer negação: então é a negação da cultura primitiva, para melhor ou para pior. Mas a indiada era bem civilizada. O grande líder [Cacique] na época era o Seu Inácio, já com uns oitenta e tantos anos, seguido por seu filho Bruno [Cacique herdeiro], já com uns sessenta anos e bote força. O Seu Inácio fora recebido por Getúlio Vargas e ganhou não só uma terra demarcada como também ferramentas para lavoura, várias vezes. Segundo os maldosos, mas não muito, venderam ou trocaram por roupas, cachaça, armas, motores de popa e por aí a fora. Mas eles eram Caxinauá, descendentes de Incas, dedução minha, pois cultuavam o uso do “cipó”, nome dado por eles mesmos a um chá. O Cipó era uma combinação de uma folha colhida, por eles, num determinado dia do ano, com uma raiz, também colhida num determinado dia do ano.

Aquilo era armazenado e, de tempo em tempo, era feita a cerimônia de tomar o cipó, de tomar o chá. Em Feijó, havia muitos brancos, autoridades, que iam para a Aldeia tomar cipó com os índios. Segundo seu Inácio, contado em meu acampamento, que na verdade fora ali pedir cinquenta litros de óleo diesel, a tradição remonta a seus ancestrais antes de contato com brancos, onde eles usavam o tal chá. Se algum guerreiro de uma tribo inimiga assassinava um elemento de sua tribo e entre elas mantinham-se “centenários” anos de guerras, a tribo se reunia, aos cuidados do Pajé, e tomavam o cipó. As visões alucinativas permitiam que se visse quem cometeu o assassinato e de qual tribo era. Os brancos, com familiares longes, tomavam o cipó para viajar espiritualmente e rever elementos da família.

Fui convidado algumas vezes, mas nunca tive coragem. A cerimônia era mais ou menos assim. Todos se reuniam num galpão, com gente sentada em bancos ou no chão para onde o Pajé levava a panela, com a infusão. Começava uma cantoria indígena, puxada pelo Pajé. Em determinado momento, era distribuído um copo de vidro tipo americano com o chá. Segundo o pessoal, era muito amargo e não raro provocava vomitório imediato. Quem vomitasse repetia a beberagem. As mulheres não participavam do ritual. Bom, depois de uns quinze, vinte minutos, começava a fazer efeito. A pessoa que estava calma, serena e de bem com a vida, via coisas lindas, cidades iluminadas, pessoas amigas antigas, pais, mães, mesmo mortos. Via passado e futuro. Era uma viagem em que a pessoa ficava vendo tudo: banco, buraco, fogo, água, cachorro e junto via também o paraíso. Os que estivessem preocupados, perturbados e nervosos, viam a cobra-grande, jacarés tentando engoli-lo, latido de cachorro, mas saído de um bicho parecido com um jacaré... Era um constante pesadelo.

O Pajé não bebia o cipó. Ele continuava cantando e cuidando daqueles que, por motivo de alucinação tenebrosa, queriam correr, se ferir ou fugir. Depois de umas seis horas, o efeito passava.

Numa manhã, quando eu ia para o acampamento, num sábado encontrei um filho do vizinho, parado no meio da Rua, já próximo de sua casa. O efeito acabava de dar uma recidiva e ele estava tocando violão. Quando perguntei o que fazia, ele me reconheceu e disse que, das cordas do violão, saiam chispas de fogo coloridas e não som. Levei-o até sua casa e o deixei no portão, mas ele continuava a tocar. Mas o perigo era com o meu pessoal.

Numa segunda-feira, um dos operadores, conhecido por Acreano, saiu de cima do trator funcionando e saiu correndo, se batendo com o chapéu. Depois correu e subiu na máquina e a estancou, mas continuou a se bater com o chapéu e com os braços. Fui até ele e perguntei o que acontecia. Ele respondeu que um bando de borboletas gigantes o estavam atacando. Perguntei se tinha tomado cipó na noite anterior e ele me confirmou isso, mas que à meia-noite o efeito já tinha passado. Mandei que ele passasse o trator a outro operador e ele terminou aquele dia auxiliando a mecânica.

Esse mesmo ritual foi copiado pelos brancos, sempre tem um esperto, fundaram uma religião que tem alguns nomes: ayahuasca [“vinho das almas”, em quíchua, na língua dos Incas peruanos]; Santo Dai-me; União dos Vegetais [UDV] e outros. Mas as de maiores influências nos brancos são: Santo Dai-me e União dos Vegetais. Cada uma se apresenta como sendo a mais importante. Todas elas conseguiram cooptar simpatizantes entre os ditos intelectuais, atores, cantores, pintores, escritores e outros.

Hoje há filiais pelo mundo inteiro dessas práticas, agora, religiosas. O “Santo Daime” veio via Acre. Não há uma data precisa do seu nascimento. Foi fundada por um cidadão, negro, que se diz neto de escravos e que veio para o então Território do Acre e se instalou em Brasileia, Cidade na fronteira com a Bolívia. De Brasileia facilmente se chega a Assis Brasil, também Acre e daí ao Peru. Lá na Bolívia, até hoje a maioria dos seringueiros da Bolívia são brasileiros, o senhor Raimundo Irineu Serra, nascido em São Vicente Ferret, no Estado do Maranhão em 1892, aprendeu a usar o tal chá, com o nome de ayahuasca e que, em Feijó, a indiada chama até hoje de cipó. Passou a chamar Santo Daime porque durante a abertura da cerimônia são repetidas as palavras: “Dai-me luz, Dai-me força e Dai-me amor!”. Essa religião, via Acre, tem forte influência católica porque o tal fundador, conhecido hoje por Mestre Irineu, falecido em 1971, diz ter recebido essa Doutrina através de uma aparição de Nossa Senhora da Conceição, em uma das primeiras vezes que tomou a bebida em Brasileia.

A outra religião, que está nessa disputa de ser a primeira e principal, é a UDV. Fundada por José Gabriel da Costa, nascido a 10.02.1922, na localidade Coração de Maria ‒ Município de Santo Amaro da Purificação, na Bahia. Foi para Salvador e depois se alistou como Soldado da Borracha e foi dar com os costados em Manaus e depois em Porto Velho, naquela época capital do Território do Guaporé onde trabalhou como enfermeiro em hospital público e conheceu Raimunda Ferreira, dona Pequenina, sua esposa. Como Rondônia era muito ruim de seringal, ele acabou se deslocando para os seringais bolivianos, a partir de Guajará-Mirim. Foi num destes seringais que entrou em contato com a bebida, certamente por meio de alguns índios e ou seus descendentes, experimentando ali o vegetal, pelas primeiras vezes.

Ainda em território boliviano, ao lado de Dona Pequenina, Mestre Gabriel criou, a 22.07.1961, a União do Vegetal. Esta é a vertente via Rondônia.

Quando servi em Porto Velho, e até hoje tem, perto do Quartel, uma Comunidade dessa UDV, tive oportunidade de conhecer frequentadores de lá, funcionários do Batalhão, oriundos da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré que contaram alguma coisa assim: o senhor Mestre Gabriel, na verdade, foi para a Bolívia corrido da polícia de Porto Velho. Essa religião tem uma mística ligada às ordens esotéricas com sinais de reconhecimentos, passados aos mestres. Eles se dizem discretos e não secretos. Não fazem propaganda da religião e nem vendem o chá ou os vegetais como a outra faz para que seus adeptos levem para outros estados ou países. O Santo Daime tem sua Meca. E o local é conhecido como Céus de Mapiá. Fica à margem de um Igarapé, afluente do Rio Purus e desemboca perto da Cidade, do Amazonas, de Boca do Acre, com o nome de Igarapé Mapiá. Foi fundada uma Comunidade como se fosse uma das vilas hippies, da década de sessenta, com presença de estrangeiros, políticos, e todos os de sufixo “ores”: escritores, atores, cantores, pintores... Ali, além da prática dos ritos, elas também cultivam as plantas e comercializam o material para o mundo todo. É uma fonte de renda para a Comunidade.

Os vegetais que compõe o chá, que os índios de Feijó chamavam de cipó, são: a Chacrona [Psychotria viridis], um arbusto que fornecesse as folhas; o cipó Jagube [Banisteriopsis caapi]. A composição é descrita como alucinógeno ou enteógeno [que proporcionam a sensação de contato com o divino]. O alcalóide dimetiltriptamina [DMT] presente nas folhas da chacrona aumenta os níveis de serotonina do cérebro, proporcionando o êxtase e, segundo os usuários, a cura, o autoconhecimento, o encontro com Deus, isto é, produz uma expansão de consciência responsável pela experiência de contato com a divindade interior, presente no próprio homem. Quando misturadas e ingeridas, as plantas atuam no sistema nervoso central, provocando efeitos comparáveis aos do cogumelo e do cacto peiote [Lophophora williamsiii], popularizado pelo escritor Carlos Castañeda em obras como “A Erva do Diabo”. A Chacrona é também conhecida por Folha Rainha.

Mas a Polícia Federal de Rio Branco tinha um farto “dossiê” sobre o assunto. Não ficou provado que provocava dependência Química ou psicológica. Entretanto, havia uma Comunidade que servia, antes da cerimônia, um chá dessa “erva Rainha”, que a polícia afirmava não ser a Chacrona, mas sim maconha. E era servido indiscriminadamente até para crianças. Havia uma estória que, caso a criança fizesse peraltice, a mãe ameaçava dizendo: “hoje você não tomará chá” ‒ e a criança se derretia em choro pelo castigo de não tomá-lo nesse dia. O chá viciava.

A ação do cipó, como alucinógeno, é tão violenta que ilude o cérebro. O caso do meu vizinho em Feijó, por exemplo, estava havendo uma completa inversão em seu cérebro. Aquilo que era sonoro, o cérebro estava interpretando como visual. Por isso ele via o som e não ouvia o som.

Assim, tentei explicar algo sobre o cipó, porque sempre há curiosidade sobre ele e que às vezes atrapalhava o bom andamento do meu serviço. Ainda existem tribos que fazem uso desse chá do cipó em seus rituais de cura, cerimônia de iniciação e cerimônia de batismo, por assim dizer feito para crianças recém-nascidas. (MACEDO)

 

Oh meu Divino Pai
(Mestre Raimundo Irineu Serra)
Oh meu Divino Pai
Foi vós foi quem me deu
Eu vim me apresentar
Por ser um filho seu
 
A minha mãe que me ensinou
Dentro do meu coração
É quem me dá esta verdade
Para expor aos meus irmãos
 
Piso firme e sigo em frente
Não devemos esmorecer
Para ser eternamente
Sou filho de todos seres
 
Seguindo neste caminho
Que minha Mãe me ensinou
Piso firme com alegria
Sou filho do Redentor


(*) Hiram Reis e Silva é Canoeiro, Coronel de Engenharia, Analista de Sistemas, Professor, Palestrante, Historiador, Escritor e Colunista;
Campeão do II Circuito de Canoagem do Mato Grosso do Sul (1989)
Ex-Professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA);
Ex-Pesquisador do Departamento de Educação e Cultura do Exército (DECEx);
Ex-Presidente do Instituto dos Docentes do Magistério Militar – RS (IDMM – RS);
Membro do 4° Grupamento de Engenharia do Comando Militar do Sul (CMS)
Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS);
Membro da Academia de História Militar Terrestre do Brasil – RS (AHIMTB – RS);
Membro do Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS – RS);
Membro da Academia de Letras do Estado de Rondônia (ACLER – RO)
Membro da Academia Vilhenense de Letras (AVL – RO);
Colaborador Emérito da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG).
Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional (LDN).
E-mail: hiramrsilva@gmail.com;
Blog: desafiandooriomar.blogspot.com.br

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