Terça-feira, 2 de outubro de 2018 - 17h02
Os trágicos acontecimentos de março de 2010, envolvendo o assassinato do cartunista Glauco Villas Boas e seu filho Raoni, devoto do Santo Daime, fundador da Igreja Céu de Maria, sediada em sua própria casa, por um dos frequentadores, levaram-me a criar um capítulo especial sobre algumas substâncias narcóticas utilizadas pelos nativos Sul-americanos.
A Pontifícia Universidade do Rio Grande do Sul (PUCRS) vem promovendo, já há alguns anos, o diálogo, o estudo e o aprofundamento sobre a realidade da cultura indígena no Estado e no País, através de uma série de palestras que fazem parte do evento chamado “Círculo de Cultura Indígena”, que celebra, neste ano, sua 8ª edição. O evento é coordenado pelo Departamento de Direito Público da Faculdade de Direito e pelo Núcleo de Estudos e Pesquisa em Cultura Indígena. Durante minhas locuções sou, sistematicamente, interpelado pelos líderes indígenas no sentido de não me referir às drogas que utilizam nos seus rituais como “narcóticos” ou “psicotrópicos” e sim “psicoativos”.
A proliferação de seitas que usam, nos seus rituais plantas, chamadas eufemisticamente, pelos seus simpatizantes de “psicoativas” mas que, na realidade, nada mais são do que drogas que provocam ou estimulam surtos psicóticos, deveriam receber uma maior atenção por parte das autoridades. Há que se diferenciar uso da droga pelos povos nativos, atendendo a rituais ancestrais, e seu uso pelos “civilizados” em busca de novas experiências ou modismos “pseudo-religiosos” que nada têm a ver com a sua história e seus costumes.
Essas
pseudo-doutrinas só prosperaram tendo em vista a possibilidade de se
fazer uso lícito de drogas proibidas e a ignorância e a falta de
conhecimento científico a respeito dos malefícios que o uso delas pode
acarretar. Quantos outros casos semelhantes ao do cartunista Glauco
deixaram de ser repercutidos pela mídia só porque as vítimas eram
cidadãos comuns!
Modismos recorrentes levam a humanidade, volta e
meia, a buscar nos procedimentos primitivos a cura para suas mazelas. Há
necessidade, por exemplo, de identificar se o princípio ativo das
substancias usadas pelos “Pajés” tem realmente algum poder curativo ou
não. Diversas dessas plantas, ditas “medicinais”, foram pesquisadas e
nenhum princípio ativo foi identificado, que justificasse seu emprego.
As
últimas pesquisas apontam que apenas cerca de 12% das plantas
utilizadas pelos aborígines têm algum efeito benéfico sobre o organismo.
Achar
que o conhecimento nativo empírico sobre a flora e a fauna e a natureza
em geral não necessita de uma revisão mais científica é desprezar todo o
conhecimento da história da humanidade ao longo de milhares de anos.
Tive
a oportunidade, na minha carreira militar, como oficial de engenharia,
de conviver por dois anos com os Uaimiris-Atroaris (UA). Apareci, certo
dia, na Aldeia da “Terraplanagem” com um estranho inseto na mão, que
apanhara num tronco seco à beira da estrada, para que eles me
identificassem o animal.
Os UA apavoraram-se, pois atribuíam ao
pequeno inseto um veneno mortal para o ser humano e diziam que se o
pequeno e exótico animal, conhecido como Jequitiranaboia ( ), picasse
uma árvore, ela perderia imediatamente todas as folhas e tombaria em
vinte e quatro horas. Na verdade, o animal era totalmente inofensivo.
Como a sua esquisita cabeça lembra o crânio de um jacaré isso foi
suficiente para que os nativos lhe atribuíssem poderes especiais.
Drogas Psicotrópicas ou “Psicoativas”
A
Organização Mundial da Saúde, em 1981, definiu estas substâncias como
aquelas que “agem no Sistema Nervoso Central produzindo alterações de
comportamento, humor e cognição, possuindo grande propriedade
reforçadora sendo, portanto, passíveis de autoadministração”. Essas
alterações podem ser proporcionadas para fins: recreacionais (alteração
proposital da consciência), rituais ou espirituais (uso de enteógenos),
científicos (funcionamento da mente) ou medico-farmacológicos (como
medicação).
A ética em relação ao uso dessas drogas é objeto de
contínuos debates. Muitos governos têm imposto restrições sobre a
produção e a venda dessas substâncias na tentativa de diminuir o abuso
de drogas.
Resolução N° 1, de 25.01.2010
O poder público pecou em
não regulamentar mais clara e objetivamente o uso do chá. A Igreja tem o
dever de indenizar, se for provado que ministrou sem os
cuidados que a resolução determinava.
(André Alves Wlodarczyk ‒ Advogado Criminalista)
Segundo
a Resolução n° 1, Carlos Grecchi, pai de Carlos Eduardo, assassino do
cartunista Glauco e seu filho, poderia, legalmente, vir a solicitar
indenização por parte da Igreja “Céu e Maria”. Grecchi afirma que vinha
solicitando a Glauco, desde 2007, quase três anos, que seu filho não
fizesse uso do Daime, pois apresentava surtos psicóticos após a
administração da droga. Na década de 80, o uso da bebida chegou a ser
proibido.
Histórico “Legal”
1987 - Suspensão provisória da
interdição do uso da Ayahuasca, através da Resolução n° 06 do CONFEN
(Conselho Federal de Entorpecentes), de 04.02.1986;
1991 -
Denúncias anônimas indicando o mau uso da substância gerou o reexame da
bebida. O CONFEN realiza estudos sobre a forma de produção e consumo da
bebida e, em parecer de 02.06.92, conclui que não havia razões para
alterar a conclusão de 1987, que havia liberado o uso da droga para fins
religiosos;
2004 - O Conselho Nacional de Políticas sobre
Drogas (CONAD) solicitou, em 24.03.2004, à Câmara de Assessoramento
Técnico-Científico a elaboração de estudo e parecer técnico-científico a
respeito do uso da Ayahuasca. O parecer apresentado e aprovado na
Reunião do CONAD, de 17.08.2004, serviu de base à Resolução n° 5, do
CONAD, de 04.11.2004, que criou o atual Grupo Multidisciplinar de
Trabalho (GMT);
2010 - Através da Resolução n° 1, de
25.01.2010, o CONAD dispõe sobre a observância, pelos órgãos da
Administração Pública, das normas e procedimentos compatíveis com o uso
religioso da Ayahuasca.
Lei n° 11.343, de 23.08.2006
Art. 20.
Ficam proibidas, em todo o território nacional, as drogas, bem como o
plantio, a cultura, a colheita e a exploração de vegetais e substratos
dos quais possam ser extraídas ou produzidas drogas, ressalvada a
hipótese de autorização legal ou regulamentar, bem como o que estabelece
a Convenção de Viena, das Nações Unidas, sobre Substâncias
Psicotrópicas, de 1971, a respeito de plantas de uso estritamente
ritualístico-religioso.
Resolução N° 1, de 25.01.2010
[...] Grupo
Multidisciplinar de Trabalho (GMT), instituído pela Resolução n° 5 ‒
CONAD, publicada no DOU, de 10.11.2004; [...] Resolve:
Art. 1° Determinar a publicação, na íntegra, do Relatório Final, [...] fazendo-o parte integrante da presente Resolução. [...]
GMT ‒ Ayahuasca ‒ Relatório Final
V ‒ Conclusão
[...]
O Grupo Multidisciplinar de Trabalho aprovou os seguintes princípios
deontológicos (éticos) para o uso religioso da Ayahuasca:
1. O chá
Ayahuasca é o produto da decocção do cipó Banisteriopsis caapi e da
folha Psychotria viridis e seu uso é restrito a rituais religiosos, em
locais autorizados pelas respectivas direções das entidades usuárias,
vedado o seu uso associado a substâncias psicoativas ilícitas;
2.
Todo o processo de produção, armazenamento, distribuição e consumo da
Ayahuasca integra o uso religioso da bebida, sendo vedada a
comercialização e/ou a percepção de qualquer vantagem, em espécie ou “in
natura”, a título de pagamento, quer seja pela produção, quer seja pelo
consumo, ressalvando-se as contribuições destinadas à manutenção e ao
regular funcionamento de cada entidade, de acordo com sua tradição ou
disposições estatutárias;
3. O uso responsável da Ayahuasca
pressupõe que a extração das espécies vegetais sagradas integre o ritual
religioso. Cada entidade constituída deverá buscar a
autossustentabilidade em prazo razoável, desenvolvendo seu próprio
cultivo, capaz de atender as suas necessidades e evitar a depredação das
espécies florestais nativas. A extração das espécies vegetais da
floresta nativa deverá observar as normas ambientais;
4. As
entidades devem evitar o oferecimento de pacotes turísticos associados à
propaganda dos efeitos da Ayahuasca, ressalvando os intercâmbios
legítimos dos membros das entidades religiosas com suas Comunidades de
referência; [...]
8. Compete a cada entidade religiosa exercer
rigoroso controle sobre o sistema de ingresso de novos adeptos, devendo
proceder entrevista dos interessados na ingestão da Ayahuasca, a fim de
evitar que ela seja ministrada a pessoas com histórico de transtornos
mentais, bem como a pessoas sob efeito de bebidas alcoólicas ou outras
substâncias psicoativas;
9. Recomenda-se ainda manter ficha
cadastral com dados do participante e informá-lo sobre os princípios do
ritual, horários, normas, incluindo a necessidade de permanência no
local até o término do ritual e dos efeitos da Ayahuasca. [...]
Alienação do CONAD
A
liberação do uso da ayahuasca para fins religiosos pelo CONAD
reconheceu, ainda que implicitamente, que a ingestão do alucinógeno é
potencialmente perigosa. O estabelecimento de rígidos procedimentos que
estabelecem a proibição de sua administração a pessoas com “histórico de
transtornos mentais” ou sob “efeito de bebidas alcoólicas” ou outras
“substâncias psicoativas”, e a necessidade de que as entidades
religiosas exerçam “rigoroso controle sobre o sistema de ingresso de
novos adeptos” deixa isso patente. O CONAD erra ao atribuir toda a
responsabilidade sobre a seleção de adeptos, produção, uso do
psicotrópico e acompanhamento dos efeitos aos próprios usuários como se
isso fosse de fato viável.
Quem seriam os encarregados de acompanhar
os efeitos em cada usuário? Membros da seita sob efeito do alucinógeno? O
CONAD, também, não determina quem será o responsável pela fiscalização
destas regras nem como isso será feito. O advogado constitucionalista
João Wiegerinck acrescenta:
Por eliminação, percebemos que a
fiscalização só será feita quando provocada: quando alguém passar mal ou
surtar com a bebida. Obviamente, é uma falha.
Os profissionais da
saúde pública criticam a resolução pois, segundo eles, entrega aos
próprios adeptos a responsabilidade de determinar quem pode fazer uso do
chá quando, na verdade, essa orientação deveria ser feita por
psicólogos ou psiquiatras. O psiquiatra Dartiu Xavier da Silveira
afirma:
O uso do chá é arriscado para pessoas que tomam
antidepressivos e é contraindicado a pessoas com diagnóstico de psicose,
já que aumenta muito a produção de certas substâncias no cérebro. A
falta de fiscalização pode levar ao aparecimento de vários casos graves.
O psiquiatra Emmanuel Fortes acredita que:
É
uma temeridade. As pessoas não saem por aí dizendo se têm doença mental
ou não. Isso merece uma reflexão por parte do Conselho Federal de
Medicina.
Ayahuasca
A Ayahuasca é conhecida em diferentes culturas
pelos seguintes nomes: yajé, caapi, natema, pindé, kahi, mihi, dápa,
bejuco de oro, vine of gold, vine of the spirits, vine of the soul e a
transliteração para a língua portuguesa resultou em hoasca.
Também é
conhecida amplamente no Brasil como “Chá do Santo Daime” ou “Vegetal”.
Na linguagem Quechua, aya significa espírito ou ancestral, e huasca
significa vinho ou chá. Este nome tanto se aplica à bebida preparada por
meio da mistura da Banisteriopsis caapi e da Psichotria viridis, quanto
à primeira das plantas. [...]
As diversas preparações geralmente
contêm talos socados da Banisteriopsis caapi ou espécies correlatas mais
as folhas da Psichotria viridis. As plantas adicionadas à Ayahuasca
ajudam a maximizar as experiências de estimulação visual e as sensações
de contato com “forças e locais sobrenaturais” e divinas. Os métodos de
preparo variam conforme o grupo, como um chá quente ou amassando-se
junto à água fria, deixando-se em descanso por aproximadamente 24 horas.
[...]
Histórico
As origens do uso da Ayahuasca na Bacia Amazônica
remontam à Pré-história. Não é possível afirmar quando tal prática teve
origem, no entanto, há evidências arqueológicas através de potes,
desenhos que levam a crer que o uso de plantas alucinógenas ocorra desde
2000a.C.
Apesar da coleta e identificação da Ayahuasca datar de
1851, os alcalóides já eram conhecidos desde a primeira metade do século
XIX, o que se deve à facilidade de extração dos mesmos, bem como aos
possíveis usos clínicos: logo, a Harmalina foi isolada da Peganum
harmala em 1840. Sete anos depois, a Harmina foi identificada. A
“telepatina” ‒ harmina ‒ foi identificada na “yajé” em 1905. [...]
Antropologia e Uso da Ayahuasca
[...]
Há relatos do uso das poções em toda a Amazônia, chegando à costa do
Pacífico no Peru, Colômbia e Equador, bem como na costa do Panamá, sendo
que foi reconhecida em pelo menos 72 tribos indígenas, com pelo menos
40 diferentes nomes. Entre as diversas tribos da Bacia Amazônica, a
Ayahuasca é percebida como uma poção mágica inebriante, de origem
divina, que “facilita o desprendimento da alma de seu confinamento
corpóreo”, voltando ao mesmo conforme a vontade e carregada de
conhecimentos sagrados.
Entre os nativos, é usada para propósitos de
cura, religião e para fornecer visões que são importantes no
planejamento das caçadas, prevenção contra espíritos malévolos, bem como
contra ataques de feras da floresta. [...]
Ayahuasca e Religião
No
século passado, além do consumo da mistura entre as populações
indígenas, várias Igrejas adotaram o uso da ayashuasca em rituais
sincréticos, especialmente no Brasil, onde os efeitos psicoativos são
acoplados a conceitos das doutrinas Judaica, Cristã, Africana entre
outras. As principais religiões deste módulo incluem a UDV [União do
Vegetal], CEFLURIS (Santo Daime), Barquinha e o Alto Santo. [...] Tais
seitas incluíram a Ayahuasca em seus rituais de comunhão como um
simbolismo comparável ao “pão e vinho”. Estas Igrejas argumentam que a
poção ajuda a promover concentração pronunciada e contato direto com o
plano espiritual. [...]
Ayauhuasca e a Expansão do Consumo
O
crescente número de indivíduos que vêm experimentando a Ayahuasca de
maneira descontextualizada, visitas a seitas com o único intuito de
conhecer a bebida, e a atual possibilidade de se usar a Pharmahuasca:
combinação sintética dos ingredientes psicoativos da Ayahuasca.
Chá do Santo Daime (Ayahuasca)
O
chá de Santo Daime é um alucinógeno. Tal propriedade se deve à presença
nas folhas da chacrona de uma substância alucinógena denominada N,
N-dimetiltriptamina [DMT]. O DMT é destruído pelo organismo por meio da
enzima monoaminaoxidase [MÃO]. No entanto, o caapi possui uma substância
capaz de bloquear os efeitos da MAO: a harmalina. Desse modo, o DMT tem
sua ação alucinógena intensificada e prolongada. [...]
Riscos à Saúde
Pode
haver sensação de medo e perda do controle, levando a reações de
pânico. O consumo do chá pode desencadear quadros psicóticos permanentes
em pessoas predispostas a essas doenças ou desencadear novas crises em
indivíduos portadores de doenças psiquiátricas [transtorno bipolar,
esquizofrenia]. (MARQUES & PALHARES)
Santo Daime e União do Vegetal
O
Santo Daime é uma manifestação religiosa exótica que surgiu, no Brasil,
a partir do estado do Acre, nas primeiras décadas do século XX. Seus
membros fazem uso de uma bebida enteógena ( ), o ayahuasca que, segundo
eles, serviria para catalisar processos espirituais visando à cura e
bem-estar do indivíduo. Após fazer uso da beberagem, Irineu Serra, seu
fundador, imaginou ter tido uma visão de entidades superiores que lhe
ordenaram propagar o Santo Daime. Irineu concebeu apenas, muito
genericamente, uma doutrina que mescla diversas tradições religiosas
antigas e contemporâneas cujo pano de fundo serve apenas para justificar
o uso da ayahuasca pelos seus discípulos. A União do Vegetal (UDV) foi
criada pelo baiano José Gabriel da Costa na década de 60 que havia
migrado para a região Norte para trabalhar como seringueiro.
Em 1959,
José Gabriel teve o primeiro contato com a ayahuasca e, depois disso,
começou a ter visões de suas vidas passadas e atuar como mensageiro e
difundir sua doutrina. Em 1961, criou o Centro Espírita Beneficente
União do Vegetal. A sede da UDV localiza-se, hoje, em Brasília, tem
filiais em todo o território nacional e no exterior. É a doutrina
ayahuasqueira mais numerosa do país, seus rituais possuem forte
influência kardecista.
Richard Spruce
Richard Spruce, em novembro
de 1852, navegando pelo Rio Negro chegou à Aldeia de Ipanoré, maloca de
Urubucoará, onde assistiu à cerimônia do culto Jurupari, em que os
Tucanos usavam uma bebida chamada “kapi”, erroneamente grafada “caapi”,
palavra tupi-guarani que designa gramíneas, preparada a partir de uma
espécie de cipó.
Spruce relata que:
os brancos que tomaram caapi
na forma apropriada coincidem em seus relatos sobre as sensações obtidas
sob seu efeito. A vista se altera e diante dos olhos passam rapidamente
visões onde parecem combinar-se tudo o que viram ou leram sobre o
esplêndido e o magnífico. (SPRUCE)
Spruce embriagou-se com caxiri ( )
e não chegou a provar a bebida “sagrada”, mas, já no dia seguinte,
começou a pesquisar o seu principal componente, o cipó que denominou
Banistera caapi ( ).
Relatos Pretéritos
Richard Spruce (1853)
Nos
relatos dos viajantes a propósito das cerimônias realizadas pelas
tribos Sul-americanas e das invocações executadas pelos seus Pajés. Há
frequentes menções a poderosas drogas empregadas para provocar
intoxicação ou mesmo delírio temporário. Varia o modo de administrar e
ingerir esses narcóticos, que ora são reduzidos a fumaça e tragados, ora
a vapor e inalados, ora ingeridos sob forma líquida. Aliás, são poucas
as plantas utilizadas pelos indígenas como matéria prima de artigos de
consumo, podendo-se citar apenas o fumo e as que produzem bebidas
fermentadas, especialmente o milho, a banana, a mandioca e mais umas
poucas. Como tive a sorte de assistir ao uso dos dois narcóticos mais
famosos, e de obter espécimes das plantas que os produzem [perfeitos o
suficiente para serem determinados botanicamente], transcrevo a seguir
as observações a seu respeito que anotei “in loco”. [...]
É a parte
inferior do caule que se utiliza para produzir o narcótico. Uma certa
quantidade dela é imersa em água e pilada num almofariz. Eventualmente é
acrescentada uma pequena porção de raízes delgadas da planta conhecida
como “caapipinima”. Depois de pilado e triturado, o “caapi” é peneirado e
escoimado das fibras lenhosas e, em seguida, diluído numa quantidade de
água suficiente para transformá-lo em bebida. Depois de pronto, adquire
uma coloração verde amarronzada, e seu sabor é amargo e desagradável.
[...]
Uso e Efeito do Caapi
Durante
toda a noite, o caapi foi servido cinco ou seis vezes para os jovens,
durante os intervalos das danças, sendo contemplados poucos usuários a
cada rodada, e sendo poucos aqueles que, terminada a festa, chegaram a
tomar mais de uma dose. O “garçom” ‒ sempre do sexo masculino, já que o
uso do caapi é vedado às mulheres ‒ inicia a cerimônia de servir com uma
curta corrida, vindo do lado de trás da casa, trazendo em cada mão uma
cuia contendo uma porção correspondente a uma xícara de chá. Chegando
diante dos que o esperam, murmura algo assim como “Mo-mo-mo-mo-mo” e se
encurva pouco a pouco, até quase encostar o queixo no joelho, momento em
que estende uma das cuias para o usuário, que sorve um gole. Depois vai
fazendo o mesmo com os demais, até que as duas cuias se tenham
esvaziado.
Passado menos de dois minutos, começam a se fazer notar os
efeitos do caapi. O índio que o tomou adquire uma palidez mortal, suas
pernas começam a tremer e sua fisionomia aparenta um sentimento de
horror. Súbito os sintomas invertem e ele começa a suar copiosamente,
parecendo estar tomado por uma fúria incontrolável, ocasião em que
apanha a primeira arma que encontra ‒ tanto faz que seja um murucu
[lança], arco, flecha ou facão, ‒ sai da maloca e aplica violentos
golpes no chão ou nos beirais da porta, gritando coisa como: “É assim
que vou fazer com meu inimigo Fulano, se ele aparecer por aqui!”
Passados uns dez minutos, cessa o efeito e o índio recobra a calma,
dando mostras de estar exausto. Se estivesse em sua casa, certamente
iria cair na rede e dormir até se recuperar completamente, mas aqui na
festa o que tem a fazer é sacudir a sonolência e voltar a dançar. [...]
Os
brancos que já tomaram caapi de maneira mais racional e relataram suas
experiências foram concordes na descrição de seus efeitos,
caracterizados por uma alternância de ondas de frio e calor, de medo e
coragem. A visão fica turva e diante dos olhos do usuário passa a
desfilar uma sucessão de imagens deslumbrantes e magníficas, lembrando
cenas vistas ou lidas no passado. Subitamente, a temática se inverte, e
as cenas visualizadas passam a ser horrendas e esquisitíssimas. Foram
também esses os sintomas gerais a mim relatados por mercadores
civilizados do Alto Rio Negro, do Uaupés e do Orenoco que tiveram tal
experiência, dando-se o desconto de uma ou outra variação de caráter
pessoal. Um amigo brasileiro me disse que, de certa feita, depois de ter
tomado uma dose completa de caapi, enxergou a sua frente as maravilhas
exóticas que lera nas “Mil e uma noites”, como se num cenário animado,
mas as derradeiras cenas daquele desfile fantástico se transformaram
numa sequência de imagens pavorosas dignas dos contos de horror. Na
festa de Urubuquara, fiquei sabendo que a planta do caapi era cultivada
de maneira suplementar numa roça situada poucas horas Rio abaixo. Fui lá
um dia, com a intenção de colher alguns espécimes e adquirir uma
quantidade razoável de talos já cortados e enfeixados, para poder
enviá-los à Inglaterra, a fim de ser ali analisados. [...]
O caapi é
utilizado pelos índios de todas as tribos assentadas ao longo do Uaupés,
algumas das quais falam línguas totalmente diferentes entre si, além de
terem costumes também inteiramente diversos. Já no Rio Negro, se ele
algum dia foi usado, caiu em completo desuso, e também não me consta que
seja empregado pelas tribos da nação Caribe ‒ Barés, Baniuas,
Mandauacas, etc. ‒ com a solitária exceção dos Tarianas, que se
introduziram ligeiramente no Uaupés, onde provavelmente aprenderam seu
uso com seus vizinhos da tribo Tucano.
Quando estive nas cataratas do
Orenoco, em junho de 1854, reencontrei, o caapi, com esse mesmo nome,
num acampamento de Guaíbos selvagens, nas savanas de Maypures. Esses
índios não só bebiam a infusão da planta, preparada da mesma maneira
empregada pelos índios do Uaupés, como mascavam o talo seco, como se
costuma fazer com o fumo. Aprendi com eles que todos os moradores
nativos dos Rios Meta, Vichada, Guaviare, Sipapo e dos Riachos
intercalados entre esses Rios conhecem o caapi e o usam precisamente do
mesmo modo. [...] Em maio de 1857, nas aldeias peruanas de Canelos e
Puçá-Yacu, voltei a ver plantações de caapi, da mesma espécie do Uaupés,
mas ali denominava-se “aya-huasca”, palavra Inca que significa
“videira-de-defunto”, e usado igualmente como narcótico estimulante
pelos índios das tribos Zaparo, Angutero e Mazane. A bebida é também
usada pelos feiticeiros quando estes são solicitados a resolver
pendências, responder consultas, revelar os planos do inimigo, dizer se
os estrangeiros visitantes seriam ou não confiáveis, se as esposas são
fiéis, quem teria deitado mau-olhado sobre fulano que adoeceu de
repente, etc. [...] Os jovens não têm permissão de usar o “aya-huasca”
enquanto não atingirem a puberdade, sendo seu uso inteiramente vedado às
mulheres, exatamente como no Uaupés. [...] (SPRUCE)
Higino Veiga Macedo (1974)
Meu
grande amigo, Coronel de Engenharia Higino Veiga Macedo, enviou o
relato abaixo em que narra sua experiência com os usuários do “chá”
quando chefiava a equipe de terraplenagem do 5° Batalhão de Engenharia
de Construção, na BR-364, no trecho Manoel Urbano ‒ Feijó.
Os Peões e o Cipó
Um
problema que quase se torna sério era o consumo de “cipó”, pelos peões.
Subindo o Rio Envira, a dois quilômetros do porto de Feijó, havia uma
maloca de índios aculturados ou “culturados com civilizados” ou, como
queiram, com costumes de brancos. A etimologia de aculturado é enrolada,
vindo do anglicismo, mas formada por raízes latinas e prefixo grego.
Pelo dicionário, pode se ver: a+cultur+ado. Pelo prefixo “a”, grego, dá
para entender que esse “a” quer dizer negação: então é a negação da
cultura primitiva, para melhor ou para pior. Mas a indiada era bem
civilizada. O grande líder [Cacique] na época era o Seu Inácio, já com
uns oitenta e tantos anos, seguido por seu filho Bruno [Cacique
herdeiro], já com uns sessenta anos e bote força. O Seu Inácio fora
recebido por Getúlio Vargas e ganhou não só uma terra demarcada como
também ferramentas para lavoura, várias vezes. Segundo os maldosos, mas
não muito, venderam ou trocaram por roupas, cachaça, armas, motores de
popa e por aí a fora. Mas eles eram Caxinauá, descendentes de Incas,
dedução minha, pois cultuavam o uso do “cipó”, nome dado por eles mesmos
a um chá. O Cipó era uma combinação de uma folha colhida, por eles, num
determinado dia do ano, com uma raiz, também colhida num determinado
dia do ano.
Aquilo era armazenado e, de tempo em tempo, era feita a
cerimônia de tomar o cipó, de tomar o chá. Em Feijó, havia muitos
brancos, autoridades, que iam para a Aldeia tomar cipó com os índios.
Segundo seu Inácio, contado em meu acampamento, que na verdade fora ali
pedir cinquenta litros de óleo diesel, a tradição remonta a seus
ancestrais antes de contato com brancos, onde eles usavam o tal chá. Se
algum guerreiro de uma tribo inimiga assassinava um elemento de sua
tribo e entre elas mantinham-se “centenários” anos de guerras, a tribo
se reunia, aos cuidados do Pajé, e tomavam o cipó. As visões
alucinativas permitiam que se visse quem cometeu o assassinato e de qual
tribo era. Os brancos, com familiares longes, tomavam o cipó para
viajar espiritualmente e rever elementos da família.
Fui convidado
algumas vezes, mas nunca tive coragem. A cerimônia era mais ou menos
assim. Todos se reuniam num galpão, com gente sentada em bancos ou no
chão para onde o Pajé levava a panela, com a infusão. Começava uma
cantoria indígena, puxada pelo Pajé. Em determinado momento, era
distribuído um copo de vidro tipo americano com o chá. Segundo o
pessoal, era muito amargo e não raro provocava vomitório imediato. Quem
vomitasse repetia a beberagem. As mulheres não participavam do ritual.
Bom, depois de uns quinze, vinte minutos, começava a fazer efeito. A
pessoa que estava calma, serena e de bem com a vida, via coisas lindas,
cidades iluminadas, pessoas amigas antigas, pais, mães, mesmo mortos.
Via passado e futuro. Era uma viagem em que a pessoa ficava vendo tudo:
banco, buraco, fogo, água, cachorro e junto via também o paraíso. Os que
estivessem preocupados, perturbados e nervosos, viam a cobra-grande,
jacarés tentando engoli-lo, latido de cachorro, mas saído de um bicho
parecido com um jacaré... Era um constante pesadelo.
O Pajé não bebia
o cipó. Ele continuava cantando e cuidando daqueles que, por motivo de
alucinação tenebrosa, queriam correr, se ferir ou fugir. Depois de umas
seis horas, o efeito passava.
Numa manhã, quando eu ia para o
acampamento, num sábado encontrei um filho do vizinho, parado no meio da
Rua, já próximo de sua casa. O efeito acabava de dar uma recidiva e ele
estava tocando violão. Quando perguntei o que fazia, ele me reconheceu e
disse que, das cordas do violão, saiam chispas de fogo coloridas e não
som. Levei-o até sua casa e o deixei no portão, mas ele continuava a
tocar. Mas o perigo era com o meu pessoal.
Numa segunda-feira, um dos
operadores, conhecido por Acreano, saiu de cima do trator funcionando e
saiu correndo, se batendo com o chapéu. Depois correu e subiu na
máquina e a estancou, mas continuou a se bater com o chapéu e com os
braços. Fui até ele e perguntei o que acontecia. Ele respondeu que um
bando de borboletas gigantes o estavam atacando. Perguntei se tinha
tomado cipó na noite anterior e ele me confirmou isso, mas que à
meia-noite o efeito já tinha passado. Mandei que ele passasse o trator a
outro operador e ele terminou aquele dia auxiliando a mecânica.
Esse
mesmo ritual foi copiado pelos brancos, sempre tem um esperto, fundaram
uma religião que tem alguns nomes: ayahuasca [“vinho das almas”, em
quíchua, na língua dos Incas peruanos]; Santo Dai-me; União dos Vegetais
[UDV] e outros. Mas as de maiores influências nos brancos são: Santo
Dai-me e União dos Vegetais. Cada uma se apresenta como sendo a mais
importante. Todas elas conseguiram cooptar simpatizantes entre os ditos
intelectuais, atores, cantores, pintores, escritores e outros.
Hoje
há filiais pelo mundo inteiro dessas práticas, agora, religiosas. O
“Santo Daime” veio via Acre. Não há uma data precisa do seu nascimento.
Foi fundada por um cidadão, negro, que se diz neto de escravos e que
veio para o então Território do Acre e se instalou em Brasileia, Cidade
na fronteira com a Bolívia. De Brasileia facilmente se chega a Assis
Brasil, também Acre e daí ao Peru. Lá na Bolívia, até hoje a maioria dos
seringueiros da Bolívia são brasileiros, o senhor Raimundo Irineu
Serra, nascido em São Vicente Ferret, no Estado do Maranhão em 1892,
aprendeu a usar o tal chá, com o nome de ayahuasca e que, em Feijó, a
indiada chama até hoje de cipó. Passou a chamar Santo Daime porque
durante a abertura da cerimônia são repetidas as palavras: “Dai-me luz,
Dai-me força e Dai-me amor!”. Essa religião, via Acre, tem forte
influência católica porque o tal fundador, conhecido hoje por Mestre
Irineu, falecido em 1971, diz ter recebido essa Doutrina através de uma
aparição de Nossa Senhora da Conceição, em uma das primeiras vezes que
tomou a bebida em Brasileia.
A outra religião, que está nessa disputa
de ser a primeira e principal, é a UDV. Fundada por José Gabriel da
Costa, nascido a 10.02.1922, na localidade Coração de Maria ‒ Município
de Santo Amaro da Purificação, na Bahia. Foi para Salvador e depois se
alistou como Soldado da Borracha e foi dar com os costados em Manaus e
depois em Porto Velho, naquela época capital do Território do Guaporé
onde trabalhou como enfermeiro em hospital público e conheceu Raimunda
Ferreira, dona Pequenina, sua esposa. Como Rondônia era muito ruim de
seringal, ele acabou se deslocando para os seringais bolivianos, a
partir de Guajará-Mirim. Foi num destes seringais que entrou em contato
com a bebida, certamente por meio de alguns índios e ou seus
descendentes, experimentando ali o vegetal, pelas primeiras vezes.
Ainda
em território boliviano, ao lado de Dona Pequenina, Mestre Gabriel
criou, a 22.07.1961, a União do Vegetal. Esta é a vertente via Rondônia.
Quando
servi em Porto Velho, e até hoje tem, perto do Quartel, uma Comunidade
dessa UDV, tive oportunidade de conhecer frequentadores de lá,
funcionários do Batalhão, oriundos da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré
que contaram alguma coisa assim: o senhor Mestre Gabriel, na verdade,
foi para a Bolívia corrido da polícia de Porto Velho. Essa religião tem
uma mística ligada às ordens esotéricas com sinais de reconhecimentos,
passados aos mestres. Eles se dizem discretos e não secretos. Não fazem
propaganda da religião e nem vendem o chá ou os vegetais como a outra
faz para que seus adeptos levem para outros estados ou países. O Santo
Daime tem sua Meca. E o local é conhecido como Céus de Mapiá. Fica à
margem de um Igarapé, afluente do Rio Purus e desemboca perto da Cidade,
do Amazonas, de Boca do Acre, com o nome de Igarapé Mapiá. Foi fundada
uma Comunidade como se fosse uma das vilas hippies, da década de
sessenta, com presença de estrangeiros, políticos, e todos os de sufixo
“ores”: escritores, atores, cantores, pintores... Ali, além da prática
dos ritos, elas também cultivam as plantas e comercializam o material
para o mundo todo. É uma fonte de renda para a Comunidade.
Os
vegetais que compõe o chá, que os índios de Feijó chamavam de cipó, são:
a Chacrona [Psychotria viridis], um arbusto que fornecesse as folhas; o
cipó Jagube [Banisteriopsis caapi]. A composição é descrita como
alucinógeno ou enteógeno [que proporcionam a sensação de contato com o
divino]. O alcalóide dimetiltriptamina [DMT] presente nas folhas da
chacrona aumenta os níveis de serotonina do cérebro, proporcionando o
êxtase e, segundo os usuários, a cura, o autoconhecimento, o encontro
com Deus, isto é, produz uma expansão de consciência responsável pela
experiência de contato com a divindade interior, presente no próprio
homem. Quando misturadas e ingeridas, as plantas atuam no sistema
nervoso central, provocando efeitos comparáveis aos do cogumelo e do
cacto peiote [Lophophora williamsiii], popularizado pelo escritor Carlos
Castañeda em obras como “A Erva do Diabo”. A Chacrona é também
conhecida por Folha Rainha.
Mas a Polícia Federal de Rio Branco tinha
um farto “dossiê” sobre o assunto. Não ficou provado que provocava
dependência Química ou psicológica. Entretanto, havia uma Comunidade que
servia, antes da cerimônia, um chá dessa “erva Rainha”, que a polícia
afirmava não ser a Chacrona, mas sim maconha. E era servido
indiscriminadamente até para crianças. Havia uma estória que, caso a
criança fizesse peraltice, a mãe ameaçava dizendo: “hoje você não tomará
chá” ‒ e a criança se derretia em choro pelo castigo de não tomá-lo
nesse dia. O chá viciava.
A ação do cipó, como alucinógeno, é tão
violenta que ilude o cérebro. O caso do meu vizinho em Feijó, por
exemplo, estava havendo uma completa inversão em seu cérebro. Aquilo que
era sonoro, o cérebro estava interpretando como visual. Por isso ele
via o som e não ouvia o som.
Assim, tentei explicar algo sobre o
cipó, porque sempre há curiosidade sobre ele e que às vezes atrapalhava o
bom andamento do meu serviço. Ainda existem tribos que fazem uso desse
chá do cipó em seus rituais de cura, cerimônia de iniciação e cerimônia
de batismo, por assim dizer feito para crianças recém-nascidas. (MACEDO)
Oh meu Divino Pai
(Mestre Raimundo Irineu Serra)
Oh meu Divino Pai
Foi vós foi quem me deu
Eu vim me apresentar
Por ser um filho seu
A minha mãe que me ensinou
Dentro do meu coração
É quem me dá esta verdade
Para expor aos meus irmãos
Piso firme e sigo em frente
Não devemos esmorecer
Para ser eternamente
Sou filho de todos seres
Seguindo neste caminho
Que minha Mãe me ensinou
Piso firme com alegria
Sou filho do Redentor
(*)
Hiram Reis e Silva é Canoeiro, Coronel de Engenharia, Analista de
Sistemas, Professor, Palestrante, Historiador, Escritor e Colunista;
Campeão do II Circuito de Canoagem do Mato Grosso do Sul (1989)
Ex-Professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA);
Ex-Pesquisador do Departamento de Educação e Cultura do Exército (DECEx);
Ex-Presidente do Instituto dos Docentes do Magistério Militar – RS (IDMM – RS);
Membro do 4° Grupamento de Engenharia do Comando Militar do Sul (CMS)
Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS);
Membro da Academia de História Militar Terrestre do Brasil – RS (AHIMTB – RS);
Membro do Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS – RS);
Membro da Academia de Letras do Estado de Rondônia (ACLER – RO)
Membro da Academia Vilhenense de Letras (AVL – RO);
Colaborador Emérito da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG).
Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional (LDN).
E-mail: hiramrsilva@gmail.com;
Blog: desafiandooriomar.blogspot.com.br
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