Sábado, 5 de setembro de 2015 - 07h11
Serra de Maracaju
Hiram Reis e Silva (*), Bagé, RS, 04 de agosto de 2015
Aquidauana e Meus Amigos de Longa Data
Payador, Pampa e Guitarra
(Jayme Guilherme Caetano Braun)
[...] Pampa – matambre (1) esverdeado
dos costilhares (2) do Prata
que se agranda (3) e se dilata
de horizontes estaqueados,
couro recém pelechado (4)
que tem pátria nas raízes
aos teus bárbaros matizes,
os tauras (5) e campeadores
misturam sangue às cores
pra desenhar três países. [...]
(1) matambre: manta localizada entre a costela e o couro do animal. Não era apreciada pelos colonos que a destinavam aos escravos para “matar la hambre” (matar a fome).
(2) costilhares: região das costelas do gado vacum.
(3) se agranda: torna-se grande.
(4) pelechado: mudou de pelo.
(5) taura: guapo, valente, destemido.
Ouça: https://www.youtube.com/watch?v=Gyidw6_rg_8
Por vezes, afasto-me de minhas salutares e benfazejas odisséias náuticas e de minhas empolgantes, algumas vezes, áridas, fatigantes e improdutivas pesquisas, dispo-me de minha monástica e espartana rotina permitindo-me momentos de descanso e lazer empreendendo longas e infindáveis marchas, de até seis horas (34 km), pelo meu amado Pampa bajeense. Nessas ocasiões, não raras vezes, as belas paisagens campesinas embalam minha alma que se entrega aos mais arrebatadores devaneios ‒ a poesia nativa, desta feita, parecia emanar de um enorme e centenário eucalipto que irradiava de seu cerne longas nuvens “crista de galo”, que, longe de prenunciar uma frente fria, assumiam a silhueta de gigantescas asas de um condor. A visão do ciclópico pássaro andino arrebatou minha mente e telúricos versos invadiram todo meu ser. “Madrugando no passado”, engarupei faceiro na anca da história e senti ou ouvi mesmo, já nem sei, os célicos versos “Payador, Pampa e Guitarra” declamados pessoalmente pelo augusto poeta do meu Pampa ‒ nosso maior Payador – Jayme Caetano Braun.
De repente, galguei nas minhas lembranças mais recentes e gineteando ilusões rompi as barreiras temporais, ultrapassei fronteiras e vislumbrei, por fim, a fantástica serra de Maracaju, além dela minha cara e saudosa Aquidauana, debruçada à margem direita do homônimo Rio, onde como Capitão e Major de Engenharia tive a ventura de integrar, de 1987 a 1889,os quadros do 9° Batalhão de Engenharia de Combate(9° B E Cmb) ‒ Batalhão Carlos Camisão e, graças à empresários locais, tornar-me canoísta profissional.
Quando lá cheguei, em 27.06.2015, o Coronel José DIDEROT Fonseca Júnior dispensou-me o característico cavalheirismo da nobre arma azul-turquesa permitindo que eu me hospedasse no 9° B E Cmb onde tive a oportunidade de rever caros camaradas de outrora. Visitei as instalações de minha antiga e querida Unidade e, na viatura do Comandante, me desloquei até o monumento erguido no Porto Canuto, margem esquerda do Rio Aquidauana, em homenagem aos heróis da Retirada da Laguna acompanhado do Tenente SIDNEY Vargas Lima e do Cabo Waldir OLIMPIO de Andrade.
Tive a honra de servir, no período de 1976 a 1977, no 6° Batalhão de Engenharia de Combate – “Batalhão Tenente Coronel José Carlos de Carvalho” (6° B E Cmb), São Gabriel, RS,onde tive o privilégio de ter sido instrutor do SIDNEY no Curso de Formação de Sargentos (CFS). Dez anos depois, nos encontramos, novamente, no 9° B E Cmb, em Aquidauana, MS, e o SIDNEY conservava, como até hoje, o mesmo vigor, a mesma determinação e a mesma alegria que o distinguia dos demais companheiros do CFS. Depois do Porto Canuto desfrutei da hospitalidade do caro amigo SIDNEY conhecendo seus familiares e almoçando em sua casa.
Hospitalidade
(Jayme Guilherme Caetano Braun)
No linguajar barbaresco
E xucro da minha gente
Teu sentido é diferente,
Substantivo bendito,
Pois desde o primeiro grito
De “o de casa” dado aqui,
O Rio Grande fez de ti
o mais sacrossanto rito! [...]
Dizem uns, que te trouxeram
De Espanha e de Portugal
E que neste chão bagual
Criaste novo sentido,
E o que além era vendido
Transformou-se aqui num culto
Onde o dinheiro é um insulto
Com violência repelido!
Tenho prá mim que és crioula
Do velho pago infinito
Onde até o índio proscrito
Egresso da sociedade
Na xucra fraternidade
Dos deserdados da sorte
Não respeita nem a Morte
mas cumpre a Hospitalidade! [...]
É o charque de carreteiro
Picado sobre a carona;
É o lamento da cambona
Que se perde campo fora;
É china linda que chora
Num derradeiro repique
Pedindo que a gente fique
Até que se rompa a aurora!
Depois de cumprir minha Missão Pantaneira, navegando os Rios Aquidauana e Miranda fui resgatado por dois grandes amigos o Capitão RONEY Bento Alves Ribeiro e o SIDNEY, infelizmente, naquela ocasião, um erro de comunicação levou o Capitão ISRAEL Nantes Gonçalves e o Sargento Gilberto Barbosa da CRUZ, horas depois a se deslocarem também até o Passo do Lontra para me apoiarem. Um contratempo talvez para a segunda equipe, mas, certamente, para mim uma demonstração da grande camaradagem destes caríssimos amigos de longa data. Chegando a Aquidauana, aceitei o convite do RONEY, pernoitando na residência dele.
Embora o RONEY tenha colocado um de seus carros à minha disposição para facilitar meu deslocamento em Aquidauana, considerando que sua casa fica um pouco distante do centro, preferi declinar da oferta, e, no dia seguinte, me mudei, com seu apoio, para a residência da grande amiga Noise Resstel Correa Santos e de seus queridos filhos Mauro e Marco Túlio. Novamente a hospitalidade dos amigos pantaneiros deu sobejas demonstrações de que nada ficava a dever ao “sacrossanto rito” gaudério. Na minha estada em Aquidauana recebi a visita de alguns diletos amigos na casa da Noise: o Coronel José Bento MARTINS FILHO, o Coronel JURANDIR Nascimento dos Santos (meu ex-Cadete), o Tenente Milton Viegas FANAIA, os Sargentos Adão CARNEIRO e Abrão Francisco de Souza MACIEL e o Cabo GALDINO Correa.
Fui homenageado com um churrasco muito especial na residência do Ir:. RONEY, onde compareceram, além dos amigos que me visitaram na residência da Noise, os Capitães ISRAEL Nantes Gonçalves e ISAÍAS Dias da Silva, os Tenentes SIDNEY e Joaquim PASSOS da Costa (meu parceiro de estradas no 9° B E Cnst, Cuiabá, MT) e o Sargento Sebastião Ramiro VIEGAS. O Ir:. RONEY ainda me proporcionou duas interessantes viagens, uma a Campo Grande e outra a Ponta Porã e Pedro Juan Caballero, no Paraguai. O incansável Ir:. RONEY acordou uma palestra minha na Loja Maçônica Acácia Branca onde tive a grata oportunidade de conhecer as lideranças mais notáveis de Aquidauana e rever alguns Ir:. militares do 9° B E Cmb. No meu retorno a Porto Alegre, mais uma vez, o Ir:. RONEY conseguiu uma carona até Campo Grande. Coincidentemente eu e sua simpática filha tínhamos feito reserva no mesmo voo para Porto Alegre, RS.
Nas minhas longas caminhadas pelas cercanias de Aquidauana cruzei, quando realizava uma delas, pelo dinâmico amigo Cabo Dinarte RONDON, hoje encarregado da “Fazendinha” ‒ Campo de Instrução do Batalhão. Quando S/4 do 9° Batalhão empenhei-me em melhorar as instalações físicas da mesma além de construir uma quadra de vôlei próxima à represa e uma pequena pocilga. Desempenhando a mesma função (S/4) plantei, no 9° Batalhão, ao longo da pista em que realizávamos o Teste de Aptidão Física (TAF), duas fileiras de eucaliptos margeando a trilha permitindo aos militares que ali corressem, no futuro, à sombra. Alguns dos enormes eucaliptos ainda lá se encontravam, vários deles tinham sido abatidos há alguns anos para serem trocados por pranchas de madeira.
Não posso deixar de referenciar a excelente entrevista proporcionada pelo meu grande amigo e excelente Jornalista, Radialista, Produtor e Repórter Armando de Amorim Anache da Rádio Independente AM 1020. O Armando é oficial R/2 da arma de Engenharia Exército e, por isso mesmo, tem para com a Força Terrestre um tratamento e uma afinidade muito especial. Foi uma entrevista extremamente agradável onde tive tempo suficiente para expor meus projetos náuticos e na oportunidade concordei, entusiasmado, em participar, oficialmente, como colunista do seu Jornal Pantanal News, enviando periodicamente artigos de minha lavra.
Tive também a grata oportunidade de rever dois grandes amigos, primorosas figuras humanas e excelentes canoístas que são o Fauzi Sulleiman (ex-Prefeito de Aquidauana) e Roberto Giroto (Presidente do Clube de Canoagem de Aquidauana).
Tivemos, sem sombra, de dúvida um grande responsável pelo incrível ambiente de trabalho que reinava no 9° B E Cmb e a salutar integração com a sociedade aquidauanense que frequentava o Clube Militar, sem quaisquer restrições. Os civis participavam ativamente de diversos eventos que eram coordenados em conjunto com o Batalhão. A grande figura humana, o artífice de todo este processo foi, sem sombra de dúvida, o General de Divisão Nelson Borges Molinari, na época Coronel Comandante do 9° B E Cmb com quem temos uma eterna e impagável dívida de gratidão.
Assumo aqui o compromisso de, se devidamente autorizado pelo meu amigo, Ir:. e Comandante Militar do Sul General de Exército Antônio Hamilton Martins MOURÃO, em abril de 2016, concluir a navegação do Rio Miranda e participar do Dia de Engenharia no Batalhão Carlos Camisão.
Fonte:
(*) Hiram Reis e Silva é Canoeiro, Coronel de Engenharia, Analista de Sistemas, Professor, Palestrante, Historiador, Escritor e Colunista;
Ex-Professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA);
Ex-Pesquisador do Departamento de Educação e Cultura do Exército (DECEx);
Assessor do Comando Militar do Sul (CMS);
Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS);
Presidente do Instituto dos Docentes do Magistério Militar – RS (IDMM - RS);
Sócio Correspondente da Academia de Letras do Estado de Rondônia (ACLER)
Membro da Academia de História Militar Terrestre do Brasil – RS (AHIMTB – RS);
Membro do Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS);
Colaborador Emérito da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG).
Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional (LDN).
E-mail: hiramrsilva@gmail.com;
Blog: desafiandooriomar.blogspot.com.br
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