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Gente de Opinião

Hiram Reis e Silva

Batalha Naval de Itacoatiara – Parte VI


Batalha Naval de Itacoatiara – Parte VI - Gente de Opinião

Bagé, 30.06.2020

 

 

 

Diário da Noite, n° 798

Rio de Janeiro, RJ – Sexta-feira, 01.09.1932

 

Chegou, Preso, a Óbidos o Chefe do Movimento Sedicioso Verificado Naquela Capital

 

 

BELÉM, 31 [A.B.] – O Sr. Abel Chermont continua enviando para o Interventor Federal neste Estado notícias circunstanciadas acerca do movimento de Óbidos, prisão e depoimento dos responsáveis.

 

Após comunicar a prisão do coronel Alarico Pompa da Silveira, o Sr. Chermont enviou novo telegrama, avisando da chegada àquela cidade do chefe da sedição, bem como do primeiro interrogatório a que o submeteu.

 

Ouvido o Cel Pompa da Silveira declarou que trouxe cartas credenciais do General Bertholdo Klinger e do General Isidoro Dias Lopes para o Capitão Josué Freire, não o avistando, porém, porque esse oficial do Exército já havia desertado.

 

Informou mais que levara idênticas credenciais para o Estado da Bahia, dirigidas ao Tenente Canellas, para o Estado do Ceará dirigidas ao Tenente Monte.

 

Prosseguindo, informou que do Pará seguiu para Manaus acompanhado do sargento Sandoval, que o apresentou ao sargento Zoroastro.

 

Confessa que conspirou em Manaus com quase todos os sargentos do 27° BC, inclusive com os sargentos Nilo, Neves e Olemar e cabo Ribeiro, os quais se comprometeram a revoltar aquela unidade do Exército, na véspera de sua partida para o Sul, sob a condição de que Óbidos fosse solidário com o movimento. O coronel Pompa consultou, então, a guarnição de Óbidos sobre se secundaria o movimento, do que recebeu resposta negativa em virtude de se achar enfermo, no momento, o sargento Zoroastro.

 

Diante disso, o pessoal do 27° desistiu, seguindo viagem para o Sul. Esta, porém, foi interrompida em meio do caminho, regressando a tropa a Manaus, onde foi reatada a conspiração. Partindo imediatamente para Óbidos o coronel Pompa decidiu que o 4° grupo se revoltasse, contando com a adesão do 27° B. C. da capital amazonense.

 

Estava tudo combinado. Antes, entretanto, de ser comunicado o fato aos companheiros do 27°, a polícia local desconfiou da sua presença em Óbidos, o que determinou a precipitação do movimento e consequente fracasso pela não adesão da unidade amazonense. Disse mais o coronel Pompa da Silveira que esperava encontrar em Belém, quando ali esteve, o major Souza Brasil, afirmando também que não teve nenhuma ligação com os elementos do “Floriano”.

 

Finalmente, Informa o Sr. Abel Chermont que o coronel Pompa confessou a sua impossibilidade de evitar o saque na cidade, por isso que desde os primeiros instantes não havia controlado convenientemente os companheiros. Estes, por fim, já ameaçavam de arrebatar-lhe o comando da praça, (DDN, n° 798)

 

 

 

Diário da Manhã, n° 3.004

Vitória, ES – Sexta-feira, 02.09.1932

 

A Fracassada Tentativa de Sublevação no Amazonas

 

Está Apurado não ter Nenhuma Ligação com a Insurreição de São Paulo

 

O Sr. Abel Chermont foi Presidir o Inquérito Sobre o Levante de Óbidos

 

 

BELÉM, 31 ‒ [A.U.] ‒ O Interventor Magalhães Barata recebeu telegrama do Sr. Abel Chermont, que seguiu para Óbidos a fim de presidir o inquérito sobre os acontecimentos verificados naquela cidade, comunicando-lhe que a patrulha que seguiu em perseguição ao Coronel Alarico Pompa, depois, de atravessar o Rio Trombetas, conseguiu prender o chefe do movimento, que já se achava abandonado pelos seus companheiros de fuga. Estes que são os sargentos Samuf, Almir e Marialva, foram também capturados horas mais tarde. Segundo a comunicação do Sr. Abel Chermont, o Coronel Pompa chegou a Óbidos em deplorável estado de abatimento moral, além de grande cansaço que não lhe permitia andar.

 

 

O Levante de Óbidos, Feito por Pseudo-Constitucionalistas, não foi uma Revolução, mas um Saque, um Furto, um Roubo

 

Profundamente Revoltante e Desolador
o que se Passou

 

 

BELÉM, 31 ‒ [A.U.] ‒ O Chefe de Polícia desta Capital recebeu o seguinte telegrama do Sr. Abel Chermont, que se acha em Óbidos presidindo o inquérito sobre os acontecimentos verificados ultimamente naquela cidade:

 

Óbidos ‒ Sr. Chefe de Polícia ‒ Profundamente revoltante e desolador o que se passou aqui. Um aventureiro cujo nome procurou sempre esconder, ora assinando Alberto Oliveira, ora Pompa mistificando, sargentos e soldados conseguiu arrastá-los à rebelião contra os oficiais dos quais, para honra do Exército, nenhum aderiu ao movimento que se dizia ter o apoio do General Klinger.

 

Intitulando-se ‘Coronel Pompa, emissário do General Klinger’, o aventureiro desencadeou o movimento pela cidade que foi tomada pelos saqueadores, os quais só tinham uma preocupação: requisitar das melhores casas os melhores gêneros. Requisitou-se tudo, que era dividido ali mesmo no balcão da vítima. Essas requisições à mão armada reproduzimos aqui textualmente:

 

Entregue para, as Forças Revolucionárias em operações nesta cidade o seguinte duas dúzias de loção para cabelo; duas dúzias de pasta de dentes; 18 meias de seda; cem metros de fazenda à escolha do portador; seis garrafas de whisky, e todas as caixas de cerveja existentes nessa casa.

 

Isso afora 200 latas de manteiga e azeite italiano e todos os demais gêneros imagináveis, além de dinheiro extorquido a quantos tinham. Qualquer quantia do negociante eles extorquiam por meio de; requisições, 60$000, de um, 9:000$000 de outro. Era questão de ter dinheiro.

 

E o dinheiro extorquido era dividido entre Pompa, Lalor, Demócrito e Noronha, que sempre ficava com a maior parte. Outras vezes a, desfaçatez era maior e o dinheiro era ali mesmo, entregue às pessoas dos pseudo-oficiais comissionados por Pompa. A esposa do Tenente Cunha foi às vias de fato com a mulher de um cabo, em plena rua, por causa de uma requisição de dinheiro.

 

Outro, fato vergonhoso: da Casa Chacron exigiram os rebeldes a entrega de 25 urinóis! Não ficava nisso, porém, a desmoralização desse movimento, cujo fim único foi o saque à mão armada. O chefe Pompa, embriagado, bebendo por todas as tascas, tinha verdadeiras alucinações alcoólicas, gritando “que era Rei”.

 

Cenas tais foram inúmeras. Pessoas gradas com que me tenho avistado, verberando os maus “constitucionalistas”, que se diziam representantes do General Klinger, fazem contraste entre este assalto, este latrocínio, e o movimento idealista de 1924, quando oficiais como Barata, Azamor e Dubois, à frente de suas Forças não fizeram requisições que não fossem justificadas e pagas a dinheiro.

 

Infelizmente a sorte de uma população ordeira e os haveres de um comércio honesto que honra as famílias obidenses, estiveram entregues às mãos desonestas destes saqueadores.

 

Houve em tudo isso um único protesto: foi o da, esposa do Lalor, que horrorizada pelo que via clamou publicamente, dirigindo-se ao Pompa com estas palavras:

 

Coronel, só lamento que meu marido esteja nisso. Isso não é Revolução, é saque, é furto, é roubo!

 

Posso garantir a autenticidade do incidente. Também o Sr. Abdias Arruda, Juiz de Direito, em meio da mazorca ([1]) lavrou um protesto escrito contra o movimento; suspendendo o funcionário da justiça por falta de garantias, entregue como esteve a cidade ao saque, à anarquia. Os rebeldes vingaram-se da altivez do Juiz, demitindo-o e nomeando Juiz de Direito Demócrito Noronha, que se especializou no saque de dinheiro nas casas comerciais. Isso diz bem o que foi a Rebelião de Óbidos. Cordiais saudações. [a] ABEL CHERMONT (DDM, n° 3.004)

 

Pompa, um legítimo Brancaleone Tupiniquim, encontra, mesmo assim, espaço na literatura e na mídia para defender o indefensável:

 

 

 

Correio de S. Paulo, n° 659

São Paulo, SP – Sábado, 28.07.1934

 

O Movimento Constitucionalista no Pará

 

Elucidando a Opinião Pública da Pauliceia, e Pingando os Pontos nos “ii”

 

 

O Sr. Coronel Anthenogenes Pompa de Oliveira, que chefiou o movimento revolucionário constitucionalista irrompido na Fortaleza de Óbidos no Estado do Pará, e atualmente entre nós de passagem para Araçatuba, onde exerce as suas atividades profissionais, pede-nos a publicação das seguintes notas:

 

 

 

“Agora, quanto á minha atitude, durante o desenrolar dos acontecimentos de Óbidos, deixarei que fale o autor de ‘Sobre, os mosaicos do inferno ([2]), livro que descreve, nas suas minúcias, os vários esforços paraenses para fazer vingar, no Norte, a semente sagrada da redenção da Pátria, jogada ao solo dadivoso do Brasil pelo sangue jovem dos Paulistas.

 

Eis alguns entrechos que, mui bondosamente, me desvanecem, e matam de vez os dizeres pouco cavalheirescos, para com a minha humilde pessoa, de meu ex-comandado Dr. Demócrito Rodrigues de Noronha, que só compareceu ao Forte de Óbidos, depois do mesmo completamente em nosso poder, ou, por outras palavras, quando viu que o “pratinho”, consoante diz o vulgo, estava apetitoso e à mesa para comer:

 

É o Coronel Pompa, um civil, a figura central, destemerosa e obedecida da revolução nortista. Fez jus a isso. Se é um anônimo, se é um herói, de onde veio, para onde vai, quem seja é o que deseja não adianta. Com efeito. Ali chegou [refere-se à cidade de Óbidos o Dr. José Ribeiro, ponto combinado, primeiramente em Belém, com as pessoas já citadas, e depois, em Manaus com oficialidade e sargentos do 27° B. C.] com o nome de Aldérico de Oliveira dizendo-se preceptor do Estado da Bahia, e com o propósito de fundar, em Óbidos, um colégio. Era, nada mais nada menos, um agente de ligações, bravo, moço, audaz, insinuante e cheio de convicções. Esteve em Recife, veio ao Crato, no Ceará, chegou até Belém, seguiu até Manaus e foi ter àquela pequena cidade do Baixo Amazonas então escolhida como ponto de início da revolução constitucionalista, no Extremo Norte.

 

Ele, em companhia dos sargentos Sylvestre, Zoroastro e cabo Pinto, três intrépidos guerreiros, armado de um fuzil-metralhadora, penetra no Quartel do 4° Grupo, pelos fundos, à madrugada de 18, à 1 hora e domina a soldadesca. Achou aliados nos inferiores e inimigos nos oficiais ‒ fez causa comum com aqueles detendo estes. Foi um chefe, foi um vencedor, foi um traído, no fim. ‘É de ver que seu estado de saúde era precário, no momento do levante’.

 

A sua fortaleza de ânimo, porém, era igual ao seu idealismo, sincero e profundo, e, por isso, se sobrepôs à sua ruína física [Tudo na obra citada, páginas 129-130]. Ademais, tudo fazia entrever melhor sucesso, dado o entusiasmo da tropa expedicionária e o delírio do povo que ficava, bem armado e municiado, ao lado de um chefe, como o Sr. Pompa, bravo e digno. [A expedição de que fala o Dr. Ribeiro foi a que demandava Manaus, e que heroicamente se defrontou em águas de Itacoatiara, com as tropas governistas].

 

Alguns sargentos e cabos do 4° Grupo de Artilharia, tendo à frente os de nomes Sarraf, Bacellar e Marialva, entre 6 e 7 horas da noite de 22 de agosto, mal a expedição saía de Parintins, com destino à Manaus, submetem o Coronel, Pompa doente, exausto, aos seus caprichos, obrigando-o, de arma ao peito, num golpe de franca contrarrevolução ou desgraçada traição, a deixar Óbidos, que fica abandonada [idem, idem, páginas 135 e 141].

 

O combate naval de Itacoatiara, o assalto ao B. I., a tomada da Chefatura de Polícia, os ataques à cadeia de S. José e aos quartéis do Corpo de Bombeiros Municipais e da 8ª Região Militar, em Belém, são feitos indescritíveis, porque são grandiosos e de maior civismo, mesmo com os horrores descomunais de sua sinistra dramatização. Não havia comando, não havia armas, não havia munição, e aí está seu fracasso [idem, página 145].

 

Fique o Dr. Demócrito Noronha na certeza de que não mais voltarei à imprensa paulista para falar desse assunto, e meta as mãos em sua consciência, afim de que não mais queira ser exclusivista, principalmente em se tratando de um comandado meu na Revolução de Óbidos, como todo o Pará sabe e conhece, e todo o País está ao par. (CSP, n° 659)

 

Bibliografia:

 

CORREIO DE S. PAULO, N° 659. O Movimento Constitucionalista no Pará – Brasil – São Paulo, SP – Correio de S. Paulo, n° 659, 28.07.1934.

 

DIÁRIO DA MANHÃ, N° 3.004. A Fracassada Tentativa de Sublevação no Amazonas – Brasil – Vitória, ES –Diário da Manhã, n° 3.004, 02.09.1932.

 

DIÁRIO DA NOITE, N° 798. Chegou, Preso, a Óbidos o Chefe do Movimento Sedicioso Verificado Naquela Capital – Brasil – Rio de Janeiro, RJ – Diário da Noite, n° 798, 01.09.1932.

 

GUIMARÃES, Ildefonso. Os Dias Recurvos: Anatomia de uma Rebelião – Brasil – Belém, PA – Secretaria de Estado de Cultura, Desportos e Turismo, 1984.

 

Solicito Publicação

 

Hiram Reis e Silva é Canoeiro, Coronel de Engenharia, Analista de Sistemas, Professor, Palestrante, Historiador, Escritor e Colunista;

 

·    Campeão do II Circuito de Canoagem do Mato Grosso do Sul (1989)

·    Ex-Professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA);

·    Ex-Pesquisador do Departamento de Educação e Cultura do Exército (DECEx);

·    Ex-Presidente do Instituto dos Docentes do Magistério Militar – RS (IDMM – RS);

·    Ex-Membro do 4° Grupamento de Engenharia do Comando Militar do Sul (CMS);

·    Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS);

·    Membro da Academia de História Militar Terrestre do Brasil – RS (AHIMTB – RS);

·    Membro do Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS – RS);

·    Membro da Academia de Letras do Estado de Rondônia (ACLER – RO);

·    Membro da Academia Vilhenense de Letras (AVL – RO);

·    Comendador da Academia Maçônica de Letras do Rio Grande do Sul (AMLERS);

·    Colaborador Emérito da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG);

·    Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional (LDN);

·    E-mail: hiramrsilva@gmail.com.



[1]   Mazorca: tumulto, baderna.

[2]   RIBEIRO, José Francisco. Sobre os Mosaicos do Inferno ‒ Rio de Janeiro, RJ – Ed. Irmãos Pongetti 1933.

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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