Terça-feira, 9 de abril de 2019 - 13h24
Bagé, RS, 18.03.2019
Ministério do Interior ‒ Rio de
Janeiro, RJ
Ano V ‒ nos 15/16 ‒ 1975
Mistérios de um Século Envolvem
Massacres dos Waimiri-Atroari
As Informações que Vamos dar Abaixo,
Resultaram de Pesquisas em Relatórios de Sertanistas e Entrevistas Pessoais com
os Sobreviventes de Massacres e Funcionários
das Frentes de Atração da FUNAI
EXPEDIÇÃO CALLERI
O massacre
da expedição de atração chefiada pelo Padre João Calleri, integrada por nove
pessoas, ocorrido em 01.11.1968, marcou o reinicio dos ataques dos
Waimiri-Atroari contra aqueles que procuravam penetrar em suas terras. Por um
período bem razoável, aqueles índios vinham se mantendo em paz em seus
domínios. A partir de 1957, permitiram a presença do sertanista Gilberto Pinto
Figueiredo Costa na área, trégua interrompida quando o sertanista foi
substituído pelo Padre Calleri. Do massacre, apenas conseguiu escapar o mateiro
Álvaro Paulo da Silva, atualmente trabalhando para o FUNAI no Território
Federal de Roraima.
Segundo as
próprias palavras de Álvaro Paulo da Silva, os erros cometidos pelo Padre João
Calleri são injustificáveis. O Padre maltratava os índios e não tinha nenhuma
consideração para com eles. Ele queria agir com os Waimiri-Atroari como agiu
com os índios do Catrimani, que nunca foram bravos e eram de boa índole. Para
Álvaro, um dos erros da política indigenista foi tirar a chefia da Frente de
Atração de um dos funcionários da FUNAI, homem capaz o experiente, Gilberto
Pinto Figueiredo e entregá-la ao Padre Calleri, que não entendia do assunto.
Conta Álvaro que o Padre Calleri queria pacificar de uma vez os Waimiri-Atroari
e, por isto, levou a sua equipe para morar junto à aldeia, coisa que só se faz
cerca de três anos após consolidado o contato. Álvaro Paulo da Silva trabalhava
com Gilberto Pinto antes do Padre Calleri assumir a chefia da Frente de
Atração, ocasião em que tudo ia indo muito bem. Diz o mateiro Álvaro que em
várias ocasiões os Waimiri-Atroari quiseram fazer trocas e que o Padre
negava-se a atendê-los Até mesmo ao cacique Maruaga, que queria trocar arcos e
flechas por uma panela e o Padre respondeu negativamente. Quando encontrava os
índios deitados nas redes, retirava-os de lá e os punha para fora do acampamento.
Dois dias antes do massacra da expedição Calleri ‒ conta Álvaro ‒ o Padre viu
alguns índios retirando colheres do acampamento, repentinamente segurou um dos
índios, pegou a espingarda e advertiu:
Aqui Padre
marupá [mau]. Espingarda pô [imitou com a boca o som do tiro] índio morre.
Álvaro
advertiu o Padre que esta conversa não ia dar certo. No mesmo instante os
índios se reuniram bastante irritados. No dia seguinte voltaram ao acampamento
os mesmos índios, e estes desacompanhados Tuchaua Maruaga, que estava com
raiva. Álvaro sugeriu que o Padre ficasse no acampamento e que ele e os demais
membros fossem até a Aldeia levar brindes para os índios e tentar acalmá-los. O
Padre respondeu negativamente dizendo que estava acostumado a lidar com índios:
Nós temos que
mostrar ao índio que somos superiores a eles.
Afirmou o
chefe da expedição, ao que Álvaro respondeu que iria embora pois se
continuassem a agir assim todos iriam rodar na flecha começando pelo Padre.
TODOS MORTOS
Apesar dos
seus colegas acharem que ele estava com medo, Álvaro decidiu deixar o
acampamento naquela mesma noite e retornar a Manaus. Mas depois de algumas
horas de caminhada, resolveu voltar ao acampamento e ver como estavam as
coisas, pois não tinha coragem de deixar a expedição entregue à própria sorte.
Ao se aproximar da Aldeia, notou que estava tudo em silêncio e estranhou a
situação. Penetrou pelo roçado dos índios para ver mais de perto o pátio da
aldeia e imediatamente viu caído um dos elementos da expedição, que não conseguiu
identificar. Assim que constatou tratar-se de um massacre, fugiu para o mato.
Esperou
escurecer e concluiu que os índios, após matarem os integrantes da expedição
haviam fugido. À noite, passou no acampamento à procura de uma canoa para rumar
direção a Manaus e comunicar a ocorrência. Naquela mesma noite parou numa praia
para acampar, mas ouviu índios falando e resolveu prosseguir a viagem. Finalmente,
quando chegou à cidade de Itacoatiara, comunicou o massacre ao Departamento de
Estradas de Rodagem do Amazonas, encarregado das Obras de construção da rodovia
BR-174, ao qual o Padre Calleri estava ligado. Como ocorreu o massacre,
continua sendo um mistério. Todos os membros da expedição Calleri, incluindo
uma mulher, que se encontravam no local foram mortos. Álvaro só constatou o
ataque dos Waimiri-Atroari, segundo disse, depois que de consumado. Talvez
futuramente os próprios Waimiri-Atroari venham a contar como tudo se passou e
revelar a causa dos massacres contra os brancos que se aventuraram penetrar em
suas terras.
PRECIPITAÇÃO
Padre José
Vicente César, vice-presidente do “Conselho
Indigenista Missionário” e diretor do “Instituto
Anthropos do Brasil”, em trabalho publicado no jornal “Lar Católico”, do dia 04.10.1970, referindo-se ao massacre do Padre
João Calleri afirma que aquele sacerdote mostrou injustificável afoiteza no
trato com índios ferozes e descontentes.
Diz ainda o
Padre César em seu artigo, tomando por base o diálogo que manteve com o único
sobrevivente do massacre, Álvaro Paulo da Silva, que o Padre Calleri, embora
munido de boa vontade e das melhores intenções, não era a pessoa indicada para
uma missão tão delicada e cheia de riscos. Ele fizera um curso rápido [parece
de seis meses] no Museu Emílio Goeldi, de Belém e passara uns 3 anos com os
íncolas das florestas do Rio Catrimani, no Território de Roraima. Mas estes
últimos são mansos de índole pacífica e pertencentes a uma outra família
linguística, a dos Xavante e Uaicá
OS PRIMEIROS MASSACRES
O primeiro
massacre dos Waimiri-Atroari contra funcionários do órgão oficial de
assistência aos silvícolas ‒ naquela época, o hoje extinto Serviço de Proteção
ao Índio [SPI] ‒ ocorreu em dezembro de 1942. Em um ofício encaminhado ao então
diretor do SPI, José Maria de Paula, o Chefe da 1ª Inspetoria Regional do
Órgão, Bacharel Joviniano Caldas de Magalhães, narra os acontecimentos
referentes aos massacres de dezembro de 1942 e outro ocorrido no dia 31 de
dezembro de 1946.
Conta o
ex-chefe da 1ª IR do SPI que:
Os
Waimiri-Atroari haviam sido visitados pela então Chefe da 1ª IR ‒ Major Carlos
Eugênio Chauvin, que conseguira, além de estabelecer contato com os mesmos,
visitar-lhes cinco malocas, situadas na região do Rio Jauaperí. Em marco de
1941, foi instalado na área um Posto de Atração, do pelo Agente de Índios
Miguel Bríglia. Sabedor de que teria ocorrido “certo incidente” entre os índios encarregado do Posto o Major
Carlos Chauvin, determinou o seu afastamento substituindo-o pelo Agente
Cristovão Emerick Taumaturgo Lobo. Quando da gestão deste Agente ‒ afirma o
ex-chefe da 1ª Inspetoria ‒ os índios visitaram o Posto inúmeras vezes,
mantendo cordial amizade. Traziam objetos de sua confecção e levavam brindes.
Mas, ao se referirem ao Agente Bríglia, serviam-se da frase “branco mau”. Consta que o Emerick
envidou esforços no sentido de descobrir a causa da antipatia dos índios para
com Miguel Bríglia, não conseguindo. Na qualidade de fiscal do SPI, Alberto
Pizarro Jacobina foi a Manaus e um dos seus primeiros atos ‒ embora o então
Chefe da Inspetoria, Sebastião Moacyr de Xerez se manifestasse em desacordo foi
determinar que os filhos do Agente Miguel Bríglia voltassem ao referido Posto. O
que teria se passado entre agosto e setembro de 1942. Em dezembro, ocorreu o
massacre dos Waimiri-Atroari, o que custaria a vida de todos, os que se
encontravam no Posto.
NOVO MASSACRE
Em fevereiro
de 1943, o Posto foi reinstalado e seu funcionamento não sofreu alteração digna
de registro até julho de 1946. Nossa ocasião os índios que procuravam brindes,
sem os encontrar, tomaram as roupas dos trabalhadores, motivando que os mesmos
retornassem a Manaus. Mas já em outubro daquele ano, por determinação do Chefe
da 1ª Inspetoria, todos funcionários que se encontravam na capital amazonense
voltaram ao trabalho. Na ocasião o Posto Indígena era chefiado pelo Sr. Luiz
Antônio de Carvalho. No dia 31 de dezembro de 1940, Waimiri-Atroari, que dois
dias antes haviam chegado ao Posto do SPI acompanhados de mulheres e crianças,
e demonstrando estarem alegres, praticavam novo massacre, no qual perderam a
vida 9 servidores do SPI, inclusive o Chefe do Posto, Luiz Antônio de Carvalho.
Sua esposa dona Cândida Pastana de Carvalho que se encontrava com o marido,
grávida do nove meses, conseguiu escapar com vida, apesar de ter sido atingida
pelas flechas.
ÍNDIO BARBADO
Com base nos
depoimentos sobre esse ataque dos índios prestados por Tiago Coelho da Silva,
Raimundo Marques de Carvalho, Matheus Dias, Bernardino José da Silva, Cândida
Pastana de Carvalho e Raimundo Nunes, todos sobreviventes, o Chefe da
Inspetoria Regional do Serviço de Proteção aos índios afirma em seu ofício que:
Os massacres
ocorridos no Rio Camanau em face do testemunho dessas pessoas sobreviventes
apresenta dois aspectos distintos um, referente ao primeiro ‒ salientando, como
origem, a desarmonia ou desinteligência entre os índios e o então encarregado
do Posto e outro ‒ alusivo ao segundo ‒ em que se positiva a existência, entre
os índios, de um civilizado ou índio civilizado, que os induz às hostilidades.
De fato,
todos os sobreviventes, em seus depoimentos, citam a presença no massacre de um
“índio barbado que fala português e a
língua indígena”. Tiago Coelho da Silva, que escapou ao ataque dos
Waimiri-Atroari no Posto indígena, do Rio Camanau em dezembro de 1946, diz que
se encontrava sentado à mesa onde tomava café, quando teve início o massacre.
Ao iniciá-lo, um “índio barbado”
gritou ‒ “lá vai flecha” ‒ em
português. Afirma ainda Tiago que nos dois dias anteriores, os Waimiri-Atroari
haviam mantido atitude de cordialidade, mas que “o índio barbado” mantinha-se
calado só falando a gíria [língua indígena]. Declarou ainda que o grupo era
chefiado por este “índio barbado”.
Também
Raimundo Marques de Carvalho, outro sobrevivente do massacre, aponta a presença
do “índio barbado”. Em certo trecho
do seu depoimento afirma que:
No dia do
massacre de 1946 os índios no se fizeram acompanhar de suas famílias como nos
dias anteriores.
Mais adiante
conta que:
Um dos
índios, ao passar por ele, no Posto, falava em gíria ao “barbado”, ao que este respondeu ‒ Vamos embora ‒ em português.
Também
Matheus Dias, que conseguiu escapar com vida do ataque dos Waimiri-Atroari, em
dezembro de 1946, se refere ao “índio
barbado” em seu depoimento, ao afirmar, que entre os índios sempre esteve o
barbado que se mantinha calado, só se expressando em gíria, o que também consta
no depoimento de Bernardino José da Silva que diz que:
O “índio barbado” só falava em português
quando se dirigia à Dona Cândida Pastana de Carvalho.
O depoimento
de Dona Cândida Pastana de Carvalho é mais rico em detalhes do que demais.
Esses do encarregado do Posto, Luiz Antônio de Carvalho, que encontrava-se na
sala de entrada da casa quando chegaram os índios em número de nove, todos
armados de arcos e flechas. O Tuchaua Maruaga estava presente e ela dirigiu-se
a ele pedindo que fizesse negócio com as flechas ao que o índio lhe respondeu:
Não, não quer
fazer negócio.
Empurrando
D. Cândida para o lado. A esposa do encarregado do Posto não soube a que
atribuir a brusca atitude dos índios visto que todos mostravam-se amigos do
pessoal do Posto, inclusive haviam até dançado no terreiro, com o seu marido.
A presença
do “índio barbado”, é assim narrada
por D. Cândida:
Os índios
eram chefiados por um “barbado”,
embora entre eles estivesse o Tuchaua Maruaga ‒ pois os índios nada decidiam
sem o consentimento do “índio barbado”,
inclusive troca de objetos. Quando se dirigia ela, o “barbado” fazia-o em português, às vezes misturado com a gíria, e em
gíria sendo ele o mais retraído de todos, procurando sempre manter-se calado e
afastado, observando todos os pormenores.
Afirma ainda
D. Cândida que:
O “índio barbado”, quando das visitas nos
dias anteriores, trouxe sua família, constituída de mulher e três filhos, entre
os quais uma mocinha do feições delicadas.
Segundo D.
Cândida, este índio:
Tem “barba fechada” e o “corpo cabeludo”.
Como se
nota, seria difícil classificar como fantasioso a presença do “índio barbado” entre os Waimiri-Atroari
que atacaram o Posto do SPI, em 1946, uma vez que todos os depoimentos
assinalam a sua presença. Entretanto, após um período de relativa calma,
interrompido com o massacre da expedição do Padre João Calleri, nunca mais
ocorreram, citações sobre a presença do “índio
barbado” nos ataques ou contatos com os Waimiri-Atroari.
NOVA TÁTICA
Atualmente a
Frente de Atração dos Waimiri-Atroari está sob a chefia do sertanista Sebastião
Nunes Firmo, profundo conhecedor daqueles índios, pois desde e primeira
incursão do sertanista Gilberto Pinto de Figueiredo Costa naquela região, em
1967, participava da sua equipe de atração.
Seguindo
determinações da Presidência da FUNAI, foi estabelecido um esquema do trabalho
no qual as equipes terão contato apenas com os índios que aparecerem na estrada
BR-174, ou seja, toda a iniciativa do contato deverá partir dos próprios
Waimiri-Atroari. Nenhuma penetração nas matas para visita às aldeias irá
ocorrer.
Na área,
existem atualmente em atividade quatro Frentes: uma de apoio à BR-174 e os
Postos Indígenas Alalau, Camanau e Abonarí. Para o sertanista Sebastião Firmo,
a Frente de Apoio à BR-174 [rodovia Manaus Caracaraí] em construção, é, no
momento, o mais importante por reunir grande número de trabalhadores da
estrado, alheios aos problemas no trato ao índio e por ser esta a única Frente
em que os índios tem mantido contato após o último massacre, no qual perdeu a
vida Gilberto Pinto.
Do acordo
com o esquema montado por Sebastião Firmo, a cobertura aos trabalhos na rodovia
BR-174 está sendo feita por três turmas da FUNAI que se encontram na altura do
Rio Alalau [10 homens], junto à equipe de terraplenagem [15 homens] e na
vanguarda da estrada dando apoio à turma de desmatamento [15 homens]. As turmas
que acompanham as equipes de terraplenagem e desmatamento ficam cem metros à
frente e 50 de cada lado da estrada, preparados para eventuais contatos com os
Waimiri-Atroari. Todos os que trabalham no construção da estrada estão
proibidos, de caçar, portar armas ou embrenhar-se nas matas.
O P. I.
Alalau, localizado na confluência dos Rios Alalau e Jauaperí visa a controlar o
acesso de pessoas estranhas na área [caçadores, pescadores, gateiros, etc] que
poderiam causar problemas aos trabalhos de atração. Seu efetivo é de 15 homens.
A mesma finalidade é a do P. I. Camanau, situado em ponto estratégico do Rio
Camanau e também com um efetivo de 15 homens. Este Posto costumava ser visitado
pelos Waimiri-Atroari, antes da morte do Gilberto Pinto.
Já o P. I.
Abonarí funciona como Base do Apoio aos trabalhos do atração e possui um efetivo
do 15 homens, além de três índios interpretes. Este Posto possui horta e roças
para subsistência.
CONTATOS EM 1975
No ano
passado os funcionários da FUNAI encarregados de dar cobertura aos trabalhos da
BR-174 mantiveram quatro contatos amistosos com os Waimiri-Atroari que se
dirigiam à estrada, a fim de realizarem trocas. O primeiro contato com os
Waimiri-Atroari, após o massacre de Gilberto Pinto de Figueiredo Costa, com a
equipe chefiada pelo sertanista Sebastião Firmo, ocorreu no dia 14.08.1975, às 10
horas da manhã. Em seu diário de trabalho, o sertanista Sebastião Nunes Firmo,
encarregado da Frente de Atração assim registra o contato:
Às dez hora
de hoje, encontravam-se em minha companhia os funcionários Eduardo Lopes
Duarte, Maicosi Chiklisi, Pedro Barati, Osmar Bastos, Manoel Morais da Silva,
Mário Dias, Manoel Sarmento e Francisco Pinheiro dos Santos, dando cobertura a
Frente do Desmatamento Mecânico, momento em que apareceram 10 índios que de
início levaram um susto ao nos ver, mas posteriormente vieram ao nosso encontro,
gritando, gesticulando e finalmente, abraçando a todos no sentido de paz. O
grupo de índios era chefiado pelo filho do Capitão Comprido, de nome Bornaldo,
que aparenta, ter 17 anos de idade. O restante do grupo parecia ter de 17 a 22
anos.
Relata
Sebastião Firmo que:
Após o
contato de amizade alguns índios manifestaram desejo de conhecer os tratores e
pediu ao operador de máquinas para fazer uma demonstração. Alguns índios
subiram no trator e assistiram a derrubada de algumas árvores. Após esse
primeiro encontro se retiraram, prometendo voltar dentro de cinco dias. Esse
primeiro contato deu-se no quilômetro 265 da BR-174, a 10.020 metros das
margens do Alalau.
Mais adiante
o sertanista assinala:
Prometido
voltar cinco dias após o primeiro contato, ficamos aguardando durante 10 dias
consecutivos e eles não voltaram. Ao meu ver, o Capitão Comprido, chefe da
tribo, ao ser comunicado do encontro dos seus 10 índios guerreiros com
funcionários da FUNAI, proibiu o encontro marcado, ou seja o segundo, pois tudo
indica que os 10 índios tenham vindo fazer uma averiguação, tais como:
andamento da estrada, total de homens, etc. É provável que os índios estão se
preparando para mudar para um local mais afastado, pois como se sabe a atual estrada
passará bem próxima da Aldeia dos Atroari.
CONTATOS
O segundo
contato entre os Waimiri-Atroari e os servidores da FUNAI, na BR-174, se deu a
23 quilômetros do Rio Alalau e o terceiro a 37 quilômetros.
O último
contato com aqueles índios, no ano de 1975, ocorreu, no dia 5 de novembro,
quando a frente desmatamento mecânico se encontrava a 42 quilômetros do Rio
Alalau. Naquela ocasião a equipe de cobertura aos trabalhadores da estrada
estava sob responsabilidade do sertanista Estevão da Silva Rodrigues. Como nas
outras ocasiões os índios realizaram trocas com os integrantes da Frente de
Atração e por volta das 15 horas se retiraram, prometendo, sempre, voltar.
PERIODICIDADE
Ao massacres praticados pelos Waimiri-Atroari parecem
obedecer a uma certa periodicidade. Em de 1942, mataram os irmãos Bríglia.
No dia 31.12.1946, morreram Luiz Antônio de Carvalho e mais oito servidores do
extinto Serviço de Proteção aos Índios.
Após uma
trégua de 13 anos, a 30.11.1968, os Waimiri-Atroari voltariam a atacar um Posto
de Atração, quando massacraram o Padre João Calleri e mais 9 pessoas. Cinco
anos depois, no dia 17.01.1973, os Waimiri-Atroari atacaram matando os
servidores Rafael Fonseca Padilha, Ernesto Nascimento de Aguiar e Altamiro Cardoso
de Aguiar que se encontravam no Posto Indígena de Atração Alalau. Em 1974, os
Waimiri-Atroari realizaram dois massacres. O primeiro, no dia 30 de setembro,
novamente no Posto Indígena de Atração Alalau onde perderam a vida os
servidores João Dionísio do Norte, Paulo Ferreira Ramos, Luiz Pereira, Faustino
da Cruz Soares, Odoncil Virgínio dos Santos e Evaristo Batista e o outro
massacre daquele ano, ocorreu no dia 29 de dezembro, quando perderam a vida,
além do sertanista Gilberto Pinto de Figueiredo Costa, os servidores João Bosco
Aguiar, João Alves Monteiro e Oswaldo de Souza Leal Filho, que se encontravam
no Posto Indígena de Atração Abonarí II.
Como se pode
observar, todos os ataques dos Waimiri-Atroari ocorreram entre o final de
setembro e meados de janeiro e, segundo depoimentos de sobreviventes, em todos
eles o Cacique Maruaga esteve presente.
FESTA EM SETEMBRO
Em um dos
seus relatórios, datado de novembro de 1973, onde apresenta os aspectos
fisio-demo-sócio-gráficos sobre os Waimiri-Atroari, Gilberto Pinto Figueiredo
Costa assinala que:
Em setembro,
às vezes durante todo o mês, os Waimiri-Atroari costumam fazer algumas comemorações
nas maloca centrais, possivelmente dedicadas em oferenda às plantações que são
usualmente feitas em outubro e novembro.
Estas festas
também são citadas pelo, índios Wai-Wai que já mantém contato com os elementos
da FUNAI e que afirmam participar muitas vezes das mesmas que se realizaram
numa maloca próxima à Cachoeira Criminosa. Os Wai-Wai, entretanto, não entram em
detalhes sobre o cerimonial, nem informam a que ele se destina.
Solicito publicação:
(*) Hiram Reis e
Silva é Canoeiro, Coronel de Engenharia, Analista de Sistemas, Professor,
Palestrante, Historiador, Escritor e Colunista;
Campeão do II Circuito de Canoagem do Mato Grosso do Sul
(1989)
Ex-Professor do
Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA);
Ex-Pesquisador do
Departamento de Educação e Cultura do Exército (DECEx);
Ex-Presidente do
Instituto dos Docentes do Magistério Militar – RS (IDMM – RS);
Membro do 4°
Grupamento de Engenharia do Comando Militar do Sul (CMS)
Presidente da
Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS);
Membro da Academia de
História Militar Terrestre do Brasil – RS (AHIMTB – RS);
Membro do Instituto
de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS – RS);
Membro da Academia de
Letras do Estado de Rondônia (ACLER – RO)
Membro da Academia
Vilhenense de Letras (AVL – RO);
Comendador da
Academia Maçônica de Letras do Rio Grande do Sul (AMLERS)
Colaborador Emérito
da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG).
Colaborador Emérito
da Liga de Defesa Nacional (LDN).
E-mail:
hiramrsilva@gmail.com;
Blog:
desafiandooriomar.blogspot.com.br
Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – X
Bagé, 20.12.2024 Continuando engarupado na memória: Tribuna da Imprensa n° 3.184, Rio, RJSexta-feira, 25.10.1963 Sindicâncias do Sequestro dão e
Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – VI
Silva, Bagé, 11.12.2024 Continuando engarupado na memória: Jornal do Brasil n° 224, Rio de Janeiro, RJ Quarta-feira, 25.09.1963 Lei das Selvas T
Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – IV
Bagé, 06.12.2024 Continuando engarupado na memória: Jornal do Brasil n° 186, Rio de Janeiro, RJSábado, 10.08.1963 Lacerda diz na CPI que Pressõessã
Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – III
Bagé, 02.12.2024 Continuando engarupado na memória: Jornal do Brasil n° 177, Rio de Janeiro, RJQuarta-feira, 31.07.1963 JB na Mira O jornalista H