Quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016 - 11h03
Hiram Reis e Silva, Porto Alegre, RS, 1° de fevereiro de 2016.
Segunda Parte: Mar Português
(Fernando Pessoa)
II. HORIZONTE
(...) Linha severa da longínqua costa –
Quando a nau se aproxima ergue-se a encosta
Em árvores onde o Longe nada tinha;
Mais perto, abre-se a terra em sons e cores:
E, no desembarcar, há aves, flores,
Onde era só, de longe a abstrata linha.
O sonho é ver as formas invisíveis
Da distância imprecisa, e, com sensíveis
Movimentos da esperança e da vontade,
Buscar na linha fria do horizonte
A árvore, a praia, a flor, a ave, a fonte –
Os beijos merecidos da Verdade.
No dia 05.01.2016, às vésperas de meu natalício, recebi uma estranha mensagem de meu querido amigo e Ir Coronel Leonardo Roberto Carvalho de ARAÚJO cumprimentando-me pelo aniversário e deixando transparecer uma profunda tristeza que o afligia. Achei o texto um tanto estranho, mas, ciente da fantástica aptidão literária e poética do caro camarada, deduzi que a sua amargura talvez tivesse origem apenas na angustiante constatação de que o tempo não perdoa e prossegue sua marcha inexorável de garantir-nos, a cada ano, mais um nefasto marco cravado profundamente na nossa carcaça – rugas, cabelos brancos, símbolos insofismáveis do avanço cronológico.
No dia seguinte (06.01.2016), meu mano Tenente-Coronel João Batista CARNEIRO Borges, ao cumprimentar-me pelo aniversário, informou-me do falecimento do Sub-Tenente Élgio BENHUR Ribas – só então percebi o motivo real da angústia do Ir:. ARAÚJO. Fui convidado, nesse ínterim, pelo Comandante NORBERTO Weiberg e pelo Coronel PM Sérgio PASTL para realizarmos a Circunavegação da Lagoa Mangueira e concordei imediatamente, desde que adiássemos a partida de Porto Alegre para terça-feira (13.01.2016) tendo em vista que na segunda-feira (12.01.2016) seria celebrado um culto na Igreja Santa Terezinha em memória ao amado amigo BENHUR.
Vou prestar minha humilde, mas, sincera, homenagem ao BENHUR realizando a Circunavegação da Lagoa Mangueira em apenas quatro dias. Um esforço considerável tendo em vista de que desde minha “Missão Pantaneira”, realizada de 30.06.2015 a 05.07.2015, eu me dedicara exclusivamente às pesquisas históricas e à execução da 2ª Fase Expedição Centenária Roosevelt-Rondon (MT e RO), realizada de 20.10.2015 a 15.11.2015. Meu treinamento físico, neste intervalo, não contemplou nenhuma atividade náutica restringindo-se a uma média de 23 horas de marcha (129 km), de segunda a sábado, quase 03h50 por dia sem altos horários. A Ode relativa ao finado parceiro BENHUR será de autoria do Tenente-Coronel CARNEIRO.
Rumo à Lagoa Mangueira (12.01.2016)
O Cmt Norberto e o Cel PM Pastl passaram em minha residência, no Bairro Ipanema – Porto Alegre, RS, e fomos direto à Vila Itapoã buscar o veleiro “Corais”, o pequeno veleiro “Day Sailer” de propriedade do Comandante Norberto. Atrelamos o reboque ao Chevrolet Meriva e retornamos à minha morada para carregar o caiaque “Cabo Horn”, da Opium Fiberglass, e minhas tralhas. Partimos, finalmente, para a Lagoa Mangueira pela BR-116 e depois, nas proximidades de Pelotas, pela BR-471 até o Km 634 onde contatamos o Sr. Marcelo Souza gerente da Granja Santa Helena que nos indicou a rota até a Lagoa e se mostrou bastante cético quanto a possibilidade de realizarmos a circunavegação da Lagoa Mangueira em apenas quatro dias. Colocamos o Veleiro n’água e enquanto eu e o Comandante Norberto montávamos acampamento, no Ponto que eu denominara “Bomba 08” (33°19’14,3”S / 53°00’27,1”O) nos meus mapas, o Coronel Pastl foi deixar o automóvel, por questão de segurança, na casa do Sr. Paulo Renato Fabra, que ficava há 02 km de distância, conforme fora acordado com o Sr. Marcelo Souza. Dormimos cedo, a expectativa era grande, o vento Sul soprava a uns 14 km/h.
Partida da “Bomba n° 08” – Rumo Norte (13.01.2016)
Acordamos por volta das 05h30 (horário de verão) desmontei a barraca, embalei minhas tralhas e parti célere às 06h05, meia hora antes do Sol nascer, costeando a margem Ocidental, aproado para o Norte, embalado pelo “Carpinteiro da Costa” – vento SSE. Ondas de quase um metro golpeavam suavemente a alheta de Boreste do altaneiro “Cabo Horn” sem, contudo, comprometer o seu deslocamento, mantive uma velocidade de 4 nós (7,2 km/h) e meu espírito vagava livre e solto sobre as cristalinas águas azul-esverdeadas da Mangueira sob um belo céu de um anil intenso e sem nuvens – eu me sentia em casa.
Fiz minha primeira parada, às 09h40, para esticar as pernas. Quando fui retirar a saia de neoprene, que uso para vedar o “cockpit” do caiaque, ela rasgou – minha velha companheira de tantas travessias estava ressecada e fragilizada pela exposição continuada ao Sol e as intempéries. O cadáver de uma enorme capivara estirado na margem chamou-me a atenção, embora o avançado estado de decomposição não verifiquei na sua carcaça qualquer sinal de predadores.
Continuei minha viajem e meia hora depois (10h20) avistei, à retaguarda, a equipe de apoio a bordo do “Corais”. O vento mudara para SE, soprando a uns 16 km/h, dando continuidade à sua lenta rotação para o Norte. A margem Ocidental é muito uniforme, extensos juncais, plantações de arroz e soja, bosques de pinus e eucaliptos além dos ciclópicos “levantes” – canais destinados à irrigação do arroz com água proveniente da Lagoa Mangueira. Por volta das 11h30, os nautas sinalizaram para pararmos na “Bomba 14” (33°05’57,2”S / 52°49’42,5”O) para almoçar. A origem do vento agora era ESE com uma velocidade em torno dos 18 km/h. A aproximação da margem foi difícil tive de surfar ondas de quase dois metros antes de aportar, o “Cabo Horn”.
O “Cabo Horn” com seus 5,12 m de comprimento, longas e pronunciadas quilhas de proa e popa, é um caiaque excelente para longas jornadas, mas não é uma boa opção para “pegar ondas”. Ao me aproximar da rebentação coloquei o caiaque em um ângulo de 45° em relação à crista das ondas, e procurando evitar uma possível enterrada de proa, joguei o corpo para trás e me inclinei no sentido das ondas usando o remo como estabilizador para tentar manter o equilíbrio frente àquela enorme massa d’água que me empurrava com violência de Boreste. Repeti a operação mais quatro vezes até aportar, felizmente, sem incidentes à margem.
Fiz um reconhecimento na área e encontrei um simpático patroleiro (operador de motoniveladora) que me informou que estava trabalhando em um empreendimento do Complexo Eólico Campos Neutrais. Na parte alta da margem, logo ao Norte da “Bomba 14”, tinham sido construídos, pelo Complexo, diversos apartamentos climatizados.
Antes de partir, acordei com a equipe de apoio que deveríamos acampar na “Bomba 20”, em um estreito canal relativamente protegido dos ventos e parti fustigado por um vento de Este de uns 20 km/h. A saia rasgada na direita permitia que, volta e meia, a água entrasse no “cockpit” do caiaque comprometendo sua estabilidade. Tive de fazer uma parada intermediária para drenar a água do caiaque antes de aportar, por volta das 17h30, no local combinado, depois de remar 45 km. Recebemos a agradável visita dos senhores Delmar (rizicultor) e Gilson (pescador e “bombeiro” – encarregado de ligar a Bomba de Irrigação). Uma simpática cadelinha passou a tarde conosco desfrutando dos pequenos petiscos que lhe atirávamos e só foi embora depois que nos recolhemos. Resolvi dormir no compacto compartimento de carga do veleiro para ganhar tempo na partida de amanhã – não foi uma boa escolha.
Partida da “Bomba n° 20” – Rumo Norte e depois Sul (14.01.2016)
Antes de partir combinamos de nos encontrar para o almoço em um Pontal, próximo à Reserva do Taim, no alinhamento do extremo Norte do bosque de pinus (32°49’35,4”S / 52°33’24,6”O) e parti enfrentando vento de proa (NE) durante todo o trajeto. Descreve o Coronel Pastl:
Dia 14, acordamos às 05h45, com “patrulhas de capivaras” no entorno do acampamento. Tomamos café, combinamos de nos encontrar no Espigão Leste do Taim, na tangente da silvicultura (talhões da costa) de pinus e zarpamos. (PASTL)
Acompanhei a costa Ocidental, nos primeiros quinze quilômetros e depois de avistar o ponto de encontro aproeei rumo NE enfrentando ondas de proa, evitando a entrada d’água de Boreste, mantendo uma velocidade média de navegação de 4,8 km/h. Aportei às 12h30, depois de navegar 31 km em 06h30 sem parar, a um quilometro ao Norte (32°48’52,8”S / 52°33’40,5”O) do local combinado para o almoço numa tentativa desesperada de encontrar meus parceiros. Desembarquei, comi algumas Castanhas do Brasil (Castanha do Pará – Bertholletia excelsa), bebi meu “Frukito”, engoli três cápsulas de guaraná e fiquei observando a maravilhosa avifauna da Reserva do Taim.
O Taim faz parte das rotas migratórias de aves oriundas dos dois Hemisférios concentrando, graças a isso, uma das maiores diversidades de aves aquáticas do País. O grande diferencial para mim, porém, foi constatar a grande quantidade de Cisnes-de-pescoço-preto (Cygnus melancoryphus) – o único e verdadeiro cisne Sul-americano. Nas minhas andanças pelos Mares de Dentro, até então, eu encontrara apenas quatro espécimes e aqui na Mangueira encontrei bandos de dezenas de indivíduos voando ou nadando. Alguns deles assustados com minha aproximação levantavam voo grotescamente, tal qual gigantescos e alvos biguás pedalando n’água. Aguardei, preocupado até as 13h06 e como não avistasse o “Corais” conclui que meus amigos não tinham partido do acampamento por algum problema técnico e resolvi retornar à “Bomba 20”. Relata o Coronel Pastl:
Vento Norte (contra) fraco, e bordo e bordo, chegamos seis vezes à costa Leste e voltávamos a Oeste, e após a última ponta verde (salsos salientando-se em prainhas de juncal) no Leste, entramos na última enseada e resolvemos investigá-la em busca do Hiram. Motoramos (fizemos uso do motor) e encalhamos em sargaços – mar de sargaços. Vimos no meio do juncal na margem o caíque “Dori” de algum pescador e uma indistinta placa na mata, branca (ilegível). Outra na ponta Norte do talhão. Às 19h19 chegamos no ponto acordado e nada, apenas capivaras, muitas (já é o banhado do Taim). Adentramos (pouco) ao banhado, até às 19h45 e nada do Hiram. Acampamos no local tratado, na prainha com salsos. Montamos barraca, fizemos fogo, jantamos arroz com bacon e tomamos café. Enviei mensagens ao Hiram e à família. Avistava-se o tráfego na BR-471, a aproximadamente uns 8 Km à Oeste, nitidamente. Voltei a ler “Caravanas” de James Albert Michener. Às 21h15 uma capivara, enorme, veio nos visitar, farejando tudo. Chegou duas vezes até uns 10 m de nós. Sinal que não caçam por aqui. Dormimos ao som da bicharada, assobios de capinchos, gritos de graxaim, etc, mas também de veículos, pois se escutavam os mais barulhentos da rodovia. (PASTL)
Costeei a Margem Oriental, por uns oito quilômetros, deduzindo que os velejadores, caso estivessem a caminho, poderiam estar buscando a proteção dos ventos proporcionada pelo mar de pinus e fazendo uso do motor de popa.
Pinus: o reflorestamento criminoso com pinus além de provocar um sensível rebaixamento do lençol freático da Lagoa inibe o desenvolvimento e crescimento de outros elementos da flora capazes de proporcionar a sobrevivência da fauna. (Hiram Reis)
Cheguei à Salguinha por volta das 14h30. Na vinda, tinha passado ao largo dela e agora tinha me embrenhado neste verdadeiro labirinto com um único acesso a NE. Perdi quase duas horas tentando achar, sem sucesso, uma saída pelo quadrante Oeste e Sul até decidir retornar exatamente por onde entrara. Eu tinha perdido um tempo precioso e precisava picar a voga para chegar ao meu destino, a “Bomba 20”, antes do anoitecer. Os músculos começavam a enrijecer, a coluna, que já sofrera três cirurgias, doía muito, apliquei por duas vezes o “Air Salonpas” (spray), que sempre carrego comigo para tais emergências, aliviando temporariamente minha aflição. Embora navegasse pelo meio da Lagoa, observando cuidadosamente, durante todo o percurso, ambas as margens, não consegui avistar o veleiro “Corais” e meus caros camaradas velejadores.
Aportei no Canal da “Bomba 20” exatamente às 20h00, meia hora antes do pôr-do-sol, depois de enfrentar uma remada matutina de 06h30, uma navegação vespertina de 06h24, com uma única parada de 36 minutos – totalizando 12h54 de remo perfazendo uma jornada de 13h30, sob um Sol abrasador e concluindo um estafante percurso de 71 km. Verifiquei, ao entrar no canal da “Bomba 20” que minha equipe de apoio lá não estava. Como toda minha tralha de acampamento, roupas secas e celular estavam a bordo do “Corais” fui pedir socorro ao Sr. Gilson Cesar dos Santos da Silva que tínhamos conhecido no dia anterior. A esposa do Gilson preparou uma saborosa e bem-vinda refeição e o Gilson conseguiu-me roupas secas que vesti após tomar um revigorante banho na Lagoa. Como o Gilson não conseguisse contato via celular com minha equipe de apoio, repassou ao Sr. Delmar, seu patrão, a quem o Coronel Pastl tinha entregue um cartão de visitas, notícias do meu paradeiro e quais eram minhas pretensões para o dia seguinte. Depois de um longo e agradável bate-papo de posse de um bom pelego e cobertor me acomodei no carro do novo amigo para pernoitar, um local seguro protegido dos enxames de mosquitos que assolam a região.
Partida da “Bomba n° 20” – Rumo Sul (15.01.2016)
Mantive minha espartana rotina, acordei cedo, comi duas bananas ofertadas pelo Gilson e parti às 06h00 rumo à margem Oriental onde fiz a primeira parada às 09h35, o vento Norte soprava a uns 8 km/h, facilitando minha progressão rumo ao Sul. Parei, novamente, às 11h30, os ventos vindos agora de Oeste tinham diminuído de intensidade. A Margem Oriental, ao Sul dos fatídicos bosques de pinus, era muito especial, lindos banhados abrigavam uma vegetação nativa diversificada, algumas delas em plena e floração e ao fundo belas e cândidas dunas que circundavam o Farol do Albardão. Comenta o Cel PM Pastl:
Acordamos às 0630 hs e resolvemos esperar o Hiram. Tomamos café e às 07h30 o Delmar Prithsc nos ligou, relatando que o Hiram voltara ao ponto anterior e lá dormira (“Bomba 20”). Mandou que fôssemos para o final do pinus costeiro ao Sul, nas dunas. Zarpamos às 08h00, vento Norte fraco, todo o pano em cima. Às 11h00, apenas chegamos à ponta verde, fazendo uns 3 nós (5,4 km/h). Resolvemos motorar, pois o vento amainara demais. O Mercury (motor de popa) nos levou à ponta Sul dos pinus às 13h37, nada do Hiram por lá. Deduzimos que ele chegando cedo ao local, resolvera prosseguir para o Sul, pela costa Leste. Seguimos nesse sentido, toda a tarde, de canícula. Apenas após o Farol do Albardão vimos pequeno piquete de gado. Costa deserta. (PASTL)
Atravessei a Lagoa para procurar abrigo na “Bomba 08” – margem Ocidental, local onde déramos início à nossa Circunavegação. Aportei às 14 horas depois de remar 48 km durante sete horas com duas paradas de meia hora cada uma. Depois de aportar fui procurar o Sr. Paulo Renato Fabra e Srª Rosane Fonseca (marcha de 2 km), precisava de fósforos e autorização para pernoitar em uma tapera abandonada junto à Bomba – disse-lhes que pretendia fazer uma pequena fogueira com lenha e esterco de gado em um dos aposentos da pequena casa, para aquecer o corpo na fria madrugada e espantar os mosquitos, como colchão usaria juncos.
O Paulo e sua esposa Rosane insistiram para que eu pernoitasse na sua residência, e eu comovido aceitei. Fui até o caiaque (marcha de 2 km) tomar um bom banho e lavar minhas roupas, na volta, a meio caminho (marcha de 1 km), com as roupas já secas graças ao Sol abrasador, encontrei o Paulo que me apontou o veleiro “Corais” deslocando-se para ao Sul um pouco ao Norte da boca do levante Helena Horta. Corri para o local de nosso primeiro acampamento (corrida de 1 km) e tentei sinalizar minha posição, do alto do levante, para os dois velejadores sacudindo a camiseta branca e usando o reflexo do leme de aço inoxidável do “Cabo Horn”. Não tive sucesso na minha empreitada e acompanhei desolado seu deslocamento pela costa Oriental até aportarem. Retornei à casa dos amigos e encontrei-os pescando o jantar, no levante Helena Horta, (marcha de 2 km). Dona Rosane preparou um jantar variado com risoto de galinha, feijoada e, logicamente, o peixe pescado a pouco de mais de uma hora. Comi muito bem, fiquei apenas no arroz e no feijão, não sobrou espaço físico para o peixe no meu estomago, que já estava preparado para passar o dia inteiro comendo castanhas. Narra o Cel PM Pastl:
Ao anoitecer entrou um vento Sul, de rajada, e não tombou o barco porque o Criador não o quis. Acostamos e descemos até o anoitecer, ancorando às 21h00 em um pequeno bosque, ao Sul da mata sobre as dunas, visível do nosso ponto de origem na outra margem (levante Helena Horta). Montamos acampamento e conhecemos as formigas das dunas, cuja picada dói muito. Terríveis, entraram até no interior da caixa plástica de gelo. Fizemos massa com bacon, a tradicional salada de cebola e tomate e tomamos café. Voltei a ler Caravanas, e às 23h00 me recolhi. (PASTL)
Partida da “Bomba n° 08” – Rumo Sul e depois Norte (16.01.2016)
O Paulo me deu uma carona de moto até a margem e parti antes das 06h00. Aproei para as dunas onde meus parceiros tinham montado acampamento na noite anterior e a meio percurso, por volta das oito horas, avistei o “Corais” zarpando. Fiz uma única parada ao Sul da Lagoa, por volta das dez horas, subi na duna mais alta e fiquei admirando, encantado, os bandos de Cisnes-de-pescoço-preto que oscilavam dolentes, como pêndulos encantados, ao sabor das ternas vagas, mordiscando as gigantescas algas (que se assemelham a sargaços) que infestam toda a extensão da alcalina Lagoa – uma imagem primorosa projetada pelas mãos do Grande Arquiteto do Universo. Na margem oposta, os enormes geradores eólicos arrebataram-me de meus idílicos sonhos trazendo-me de volta à realidade. Avistei, na margem Ocidental os velejadores e aproei meu caiaque em sua direção. Aportei na “Bomba 08” às 14h15, depois de navegar 52 km. Reporta o Cel PM Pastl:
Outro belo dia e nada do Hiram. Nenhuma mensagem de volta dos torpedos que enviara à noite. Zarpamos às 08h00, com brisa de SE, rumo Sul, calçados no motor, fazendo 4 nós (7,2 km/h). Chegamos ao extremo Sul da Lagoa às 09h26, onde há um equipamento de hidrografia instalado (creio que verifica o nível da Lagoa). Enorme planta de torres Eólicas no Sul, e uma “hacienda”. Avião agrícola trabalhando desde às 07h00, em toda a costa vimos quatro Ipanemas nestes dias. Gente diligente no trato da lavoura, essa de Santa Vitória. Rumamos ao Norte, de volta à base, que é o oitavo levante. Chegando lá às 13h09, nada do Hiram. Enviamos as tradicionais mensagens, e às 14h00 avistamos o Hiram vindo, contornando a Ponta do juncal ao Sul. (PASTL)
Retorno a Porto Alegre (17.01.2016)
Missão cumprida, 216 km pela Lagoa Mangueira. Parceiros primorosos, gente amiga e paisagens singulares. As rígidas provas de resistência a que fui submetido no segundo dia de navegação (71 km – 13 horas de remo, 31 km com vento de proa), principalmente considerando que não me encontrava em boa forma física, comprovam, mais uma vez, a importância da preparação psicológica – quando o corpo fraqueja a mente determinada assume o controle e sobrepuja qualquer desafio. O teste de alcalinidade realizado com a água da Lagoa não foi conclusivo, o kit usado em piscinas marca um limite máximo para o PH de 8,2 – insuficiente para avaliar a alcalinidade da Mangueira que tem um PH superior a 9,0. O vento nestes quatro dias fez um giro de 360°, partimos com vento de SSE e concluímos com ele, como se o temível “Carpinteiro da Costa”, que já provocou tantos naufrágios na costa gaúcha, quisesse nos dar algum recado. Pretendemos retornar à região, via terrestre, para concluir nossas pesquisas em Santa Vitória do Palmar, nos Concheiros da Praia do Hermenegildo e no Farol do Albardão. Conclui o Cel PM Pastl:
Bela navegada, apenas quente e o “susto” do rebojo no primeiro dia (fizemos 5 a 6 nós (9,0 a 10,8 km/h) apenas com a genoa(vela de proa que ultrapassa a linha do mastro, também conhecida como bujão ou bujarrona). Norbeto é companheiro de fé, bem como o Hiram, pois o calor estava danado. O local, um paraíso e rico, pois sua água é um tesouro. Muitas algas, certamente peixes, ninguém pescava (defeso) mas ao longo da costa Oeste vimos três embarcações e 9 botes parados na costa. Pena que não mais há manutenção e controle de nível entre a mangueira e a Mirim, como nos relatou o pai do Rafael (que nos tirou o Chevrolet Meriva acavalado na areia). Bela reserva estratégica de água. Lindo local, bons amigos na Costa. (PASTL)
Fonte:
(*) Hiram Reis e Silva é Canoeiro, Coronel de Engenharia, Analista de Sistemas, Professor, Palestrante, Historiador, Escritor e Colunista;
Integrante do 4° Grupamento de Engenharia do Comando Militar do Sul (CMS)
Ex-Professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA);
Ex-Pesquisador do Departamento de Educação e Cultura do Exército (DECEx);
Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS);
Presidente do Instituto dos Docentes do Magistério Militar – RS (IDMM - RS);
Sócio Correspondente da Academia de Letras do Estado de Rondônia (ACLER)
Membro da Academia de História Militar Terrestre do Brasil – RS (AHIMTB – RS);
Membro do Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS);
Colaborador Emérito da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG).
Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional (LDN).
E-mail: hiramrsilva@gmail.com;
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