Terça-feira, 1 de setembro de 2015 - 19h17
Circunavegação da Laguna dos Patos
(13 a 29.05.2015)
A verdadeira medida de um homem não se vê na forma como se comporta em momentos de conforto e conveniência, mas em como se mantém em tempos de controvérsia e desafio. (Martin Luther King)
Nossa proposta para esta “VI Jornada na Laguna dos Patos” era a de realizar a sua Circunavegação, partindo da Varzinha rumo Sul pela Margem Oriental, atravessando-a na altura da Ilha Marechal Deodoro e retornando pela Margem Ocidental desde a Ilha da Feitoria até Ipanema.
Preparativos Finais (12.05.2015)
O Comandante Norberto Weiberg e suas duas filhas Caroline e Anelise passaram em minha residência onde atrelamos o caiaque ao reboque que já carregava o veleiro “Corais”, modelo “Day Sailer”, e nos deslocamos até a Varzinha.
No Camping da Varzinha (30°19’19,8” / 50°54’24,9”) foi preciso contar com o concurso de um trator para lançar o veleiro às águas. Ajudei o Comandante Norberto a colocar o mastro no “Corais” e montamos o acampamento, por questão de segurança, na praia, em terreno descampado, próximo às embarcações e à nossa carga. Usamos o caiaque como quebra vento para diminuir a força do vento Nordeste, de mais de 20 km/h, que golpeou, sem trégua, a barraca durante toda a noite.
Rumo à Fazenda Vitória (13.05.2015)
Propus a construção de duas carretas grandes o suficiente e resistentes o bastante para que se colocasse um lanchão sobre cada uma delas – e a atrelagem de bois e de cavalos na quantidade necessária para puxá-las. Minha proposta foi aceita e eu fui incumbido de levá-la a efeito.
(Giuseppe Garibaldi – DUMAS)
Hoje pela manhã, partimos, por volta das 08h30, com a proa na direção da Ponta do Abreu (30°20’12,1” / 50°47’44,3”) e depois de uma breve parada aproamos para a Ponta do Anastácio (30°22’02,7” / 50°43’46,5”), limites da Lagoa do Casamento (uma enseada da Laguna dos Patos) palco da memorável manobra levada a efeito por Giuseppe Garibaldi que embora não tenha sido usada pela primeira vez na história da humanidade, com certeza, surpreendeu as força imperiais. O profundo conhecimento da História e, em especial, da História da Roma Antiga inspiraram Garibaldi a realizar a épica transposição. As águas da Lagoa do Casamento e do Saco do Cocuruto são bem oxigenadas, e apresentam um baixo índice de poluição que pode ser atestado pela quantidade de moluscos que povoam a área. As margens encontram-se em excelente estado de conservação e a vegetação apresenta raros indícios de desmatamento.
Logo depois de reiniciarmos nossa jornada, a vela principal do “Corais” rasgou-se totalmente, era um mau sinal, o Comandante Norberto teria agora de contentar-se apenas com a bujarrona e o motorzinho de popa para a navegação.
Bujarrona: vela que se iça no mastro principal e fica presa ao estai de proa. O curioso nome foi dado em função da semelhança com o formato de um bujão que a vela assume ao ser enfunada pelo vento. (Hiram Reis)
Aportamos a algumas dezenas de metros ao Norte da Fazenda Vitória. A semelhança do terreno, da tomada d’água e de um barracão próximo a mesma induziram-nos ao erro. Acampamos novamente na praia e depois do jantar preparado pelo Comandante Norberto dormimos. O vento, desta feita, dera-nos uma trégua e a noite foi bastante tranquila.
Rumo ao Porto do Barquinho (14.05.2015)
Andando à beira do mar da Galileia, Ele viu dois irmãos, Simão, que é chamado Pedro, e André, seu irmão, abaixando uma rede no mar, pois eram pescadores. (Mateus 4:18)
Quando partimos, de manhã cedo, avistamos um pescador que recém começara a inspecionar uma de suas redes. Em seu barco 50 quilos de traíras mostravam que a pescaria noturna fora altamente compensadora. O vento Nordeste baixara em mais de 20 cm o nível das águas forçando-nos a empurrar o “Corais” sobre alguns bancos de areias antes submersos.
Os avistamentos de bandos de capororocas (Coscoroba coscoroba) tornavam-se cada vez maiores e mais frequentes. Tanto o nome científico como o popular lembram o som emitido pela ave (onomatopeia). O capororoca tem um pescoço curto demais para ser considerado um cisne e é muito grande e possui hábitos bastante distintos dos gansos tornando-se, portanto, sua classificação um enigma para a ciência.
O Comandante Norberto perdera-se de mim desde a última parada. O Sol estava alinhado com minha posição e isso impedia que ele me avistasse, mas, como tínhamos combinado de nos encontrar na Ponta de São Simão, quando lá cheguei encontrei-o me aguardando. Pedi que ele fosse à frente contatar nosso velho amigo pescador o conhecido o Sr. Jaime de Souza Laguna que residia no Porto do Barquinho.
Depois de remar 115 km em dois dias mantendo uma média de pouco mais de oito horas de remo diárias eu aportara com tranquilidade no Porto do Barquinho. Quando lá cheguei apoiado pelo Sr. Jaime e mais dois pescadores arrastamos o veleiro para a margem para poder drenar a água que se infiltrara pela caixa da bolina. O veleiro usado, que meu amigo comprara, vinha apresentando problemas desde o primeiro dia de navegação.
Montamos nossos colchões na casa do Sr. Jaime e deitamos aguardando o fruto de sua pescaria. Como o companheiro tardasse demais acabamos adormecendo sem ter jantado.
Rumo ao Farol Capão da Marca (15.05.2015)
O canal navegável na Lagoa dos Patos segue paralelo à costa Oriental, rumo NE até o Farol Capão da Marca, quando se inflete sensivelmente para o Norte, até o Farol de Itapoã, na Barra do Guaíba. (DNPM)
De manhã empurramos o veleiro para água e partimos aproados para o Farol Cristovão Pereira construído na ponta de idêntico nome. Ao me aproximar do Banco do Cristovão Pereira avistei dois pescadores que estavam verificando suas redes e enquanto perguntava a eles qual o melhor lugar para a passagem do veleiro o Comandante Norberto já tinha desembarcado e empurrava o “Corais” tranquilamente pelo Banco.
Fizemos uma pequena parada, às 10h20, no Farol antes de continuarmos nossa jornada. Na segunda parada, na Ponta do Cristovão Pereira, estendi meus pertences sobre alguns pinheiros que tinham sido cortados anos atrás. A ação das águas tinha erodido, entre dez e vinte metros, as praias Ocidentais da Ponta Cristovão Pereira e os pinheiros que antes ocupavam a terra firme estavam agora mergulhados nas águas tumultuárias da Laguna. Quando passei por aqui, no dia 12.04.2011, acompanhado pelo Professor Romeu Henrique Chala a realidade era outra.
Os troncos cortados entrelaçavam suas raízes formando um curioso corredor que lembrava o esqueleto de ancestral trapiche. Incrustados nos troncos dos carcomidos pinheiros, graciosos cogumelos com colorido forte, formato elaborado e peculiar tornavam mais terna, mais viva a imagem daquela tétrica necrópole arbórea. As frutificações daqueles fungos superiores lembravam broas de milho torneadas pelas hábeis mãos de celestiais cozinheiros.
Aportamos no Farol Capão da Marca por volta da 17h20, depois de remar 46 km. Novamente acampamos na beira da praia e como as marcas de pneus denunciassem a passagem de veículos por ali providenciei a colocação de obstáculos além de deixar o lampião elétrico aceso durante toda a noite. O Comandante Norberto preparou nosso rancho ao lado do Farol e logo depois de consumi-lo fomos repousar.
Rumo à Barra Falsa do Bojuru (16.05.2015)
Partimos depois de o Sol nascer. Aproei diretamente para as formidáveis figueiras fotografadas pelo Comandante Geraldo Knippling no seu livro: “O Guaíba e a Lagoa dos Patos”, onde aportamos por volta das 12h30, depois de ter feito uma parada intermediária. A erosão provocada pelos veículos que denunciáramos em 2011 continuavam a solapar criminosamente os alicerces daquelas monumentais figueiras. Dali nos dirigimos diretamente para o Farol do Bojuru onde o Comandante Norberto conseguiu aproximar-se e ancorar com seu versátil veleiro.
Rumamos, então, diretamente para a Barra Falsa do Bojuru onde poderíamos desfrutar das confortáveis instalações da Fazenda do amigo Paulo Santana previamente alertado pelo Coronel PM Sérgio Pastl.
Os funcionários já tinham sido informados de nossa chegada e além das gentilezas habituais, acomodações limpas, banheiro quente e um jantar quente a base de peixes ainda conseguiram um trator para arrastar o veleiro até a margem para que a água que penetrara no seu casco fosse devidamente drenada. Remei 50 km neste dia.
Rumo à Ponta dos Lençóis (17.05.2015)
Nossos novos amigos empurraram o Veleiro para a água e continuamos nossa jornada enfrentando forte neblina que só veio a dissipar-se por volta das 13h00. O assoreamento obrigou o veleiro a se afastar da costa e tive de acompanhá-lo para não perdermos o contato visual.
Na segunda parada para descanso indaguei de um ribeirinho sobre a localização da Z2, colônia de pescadores a que pertence meu caro amigo José Luís Jardim da Silva, mais conhecido como Zé do Dedé. Ele nos deu algumas dicas de como nos aproximar contornando o Banco de areia que se estende à frente da Z2.
Quando cheguei à Z2 estranhei o avançado estado de degradação da antiga residência do Zé. Não havia viva alma na colônia e havia uma casa nova próxima das demais que achei se tratar da nova residência de meu caro amigo que tão gentilmente nos acolhera em 2011. Eu tinha remado 40 km, totalizando 251 km na Costa Ocidental.
Levando a Bordo El-Rei D. Sebastião
(Fernando Pessoa)
II. HORIZONTE
[...] Linha severa da longínqua costa –
Quando a nau se aproxima ergue-se a encosta
Em árvores onde o Longe nada tinha;
Mais perto, abre-se a terra em sons e cores:
E, no desembarcar, há aves, flores,
Onde era só, de longe a abstrata linha. [...]
Rumo à Ilha da Feitoria (18.05.2015)
E é conhecida por Ilha da Feitoria a Ilha de Cangussu, na Lagoa dos Patos, por ter sido nela, por ordem do governo português, estabelecida, em 1785, uma Feitoria para o cultivo do linho, que aí dá de qualidade superior. (Fernando Luiz Osório)
O Comandante Norberto, através da Carta Náutica, marcou as coordenadas da Ilha Marechal Deodoro no GPS e partimos, encobertos pela bruma, rumo à pequena Ilha artificial. Não gosto de navegar sem divisar o continente, sinto falta das praias, do murmúrio dos arroios, das grandes figueiras esculpidas pelos ventos, das cores das flores dos campos, da beleza invulgar das orquídeas e das bromélias. A névoa durou a manhã inteira e só veio a se desfazer por volta das 13h00. Depois de navegar por 23 km aportamos na Ilha Mal Deodoro. O odor de peixes, descartados pelos pescadores, em decomposição empestava o ar no entorno da Ilha. Fizemos um breve descanso e partimos rumo à Fazenda Soteia na Ilha da Feitoria.
Aportamos, às 14h00, na Fazenda Soteia, depois de navegar mais 11 km, totalizando 285 km de circunavegação. Fui, imediatamente, fazer contato com o “Catarina” (caseiro da fazenda).
O Catarina autorizou que acampássemos junto a um tabocal próximo ao trapiche, rebocou o veleiro com um trator para a margem para que se esgotasse a água do porão e permitiu que usássemos o banheiro, um conforto muito especial para humildes marujos. Depois do banho ficamos conversando até as 19h00 enquanto o Norberto preparava o jantar. Como havia eletricidade, carregamos as baterias do computador e máquinas fotográficas.
Trepado em um mourão de cerca, consegui sinal de celular e convidei a Rosângela para passar um dia comigo em São Lourenço.
Rumo à São Lourenço do Sul (19 a 20.05.2015)
S. Lourenço – Fundou-a, em 1858, Jacob Rheingantz, na Serra das Taipas, Município de Pelotas, com auxílios do governo. Sua prosperidade tem ido gradualmente em aumento. [...] Os colonos dedicam-se à lavoura e à indústria de criação. A produção agrícola consiste em trigo, centeio, cevada, milho, feijão, batatas, etc. (DANTAS)
Partimos cedo, e aportamos na Pérola da Laguna, “Terra de Todas as Paisagens”, no dia 19.05.2015. A viagem curta (33 km) transcorreu sem maiores alterações, o vento de proa de até 15 km/h não prejudicou por demais a navegação. Consegui, durante a viagem contatar, novamente, a Rosângela que já estava a caminho de São Lourenço do Sul.
Quando nos acercamos da cidade, a Rosângela já nos esperava na Foz do Arroio São Lourenço. Aportamos em uma das rampas do Iate Clube de São Lourenço do Sul, o Norberto acampou nas instalações do Iate Clube e eu e a Rosângela fomos nos hospedar na Pousada da Laguna Apart Hotel. Foi muito bom poder contar, ainda que por apenas um dia, da companhia da minha querida prenda e desfrutar dos confortos da civilização. Totalizamos até agora 318 km de circunavegação.
Rumo à Fazenda Flor da Praia (21.05.2015)
Lago Verde-Azul
(Helmo de Freitas)
Um medo de andar solito
Ouvindo vozes e gritos
E até do barco um apito
Na sua imaginação
Olhos esbugalhados
Do moleque assustado,
Olhando aquele mar bravo
Ora doce, ora salgado
Num temporal de verão. [...]
Tempos que ainda tinha
O bailado da tainha
Quando o boto vinha
Com gaivotas em revoada
E entre outros animais,
No meio dos juncais,
Surgiam patos baguais
E hoje não se vê mais
Este símbolo da aguada. [...]
Helmo de Freitas, o “Carijó Cantador”, nascido na fazenda Flor da Praia, às margens da Laguna dos Patos, Município de Camaquã, foi sempre uma figura destaque nos festivais sulistas. O “Carijó” é pesquisador, letrista, musicista e intérprete de suas próprias composições.
Despedi-me da Rosângela e partimos antes do alvorecer rumo à Fazenda Flor da Praia, um tiro longo de 53 km. O veleiro do Comandante Norberto apresentou pane no motor de popa, logo depois de ultrapassar a ponta do Quilombo, e voltou para São Lourenço do Sul. Perdi uma hora e meia ao ter de retornar até o veleiro, carregar o material no caiaque e, em virtude disso, não consegui chegar até a Fazenda Flor da Praia.
Tive de pernoitar, confortavelmente, no Engenho (IRGA) onde fui muito bem recepcionado pelo amigo Jarbas e o caseiro que me cobriram de atenções. Remei mais do que o programado (56 km), em virtude da pane do motor de popa do veleiro, totalizando 374 km de circunavegação.
Rumo à Arambaré (22 a 24.05.2015)
Parti, às 06h15, para Arambaré onde aportei no Clube Náutico local, às 15h20, depois de deleitar-me com a visão ímpar das inúmeras figueiras ao longo de toda a margem. Percorrera 48 km desde o IRGA até Arambaré, totalizando até agora 422 km. Resolvi pernoitar na Pousada Recanto Gipa e convidar a Rosângela para passar o fim de semana comigo na agradável cidade, evitando navegar enfrentando ventos fortes de proa.
Em Arambaré recebemos, no sábado (23.05.2015), a visita do grande amigo Pedro Auso Cardoso e, no domingo (24.05.2015), ao ir até o Clube verificar o meu caiaque encontrei os canoístas Rodrigo Ventura Oliveira e Maurício Lima que partiram de Jaguarão com destino à Tapes. No percurso de Jaguarão a Pelotas os dois foram acompanhados pelo meu dileto amigo Antonio Buzzo que acompanhou-nos, na Circunavegação da Lagoa Mirim da Ilha Grande do Taquari (01.01.2015) até a Ponta do Santiago (06.01.2015).
Rumo à Costa de Santo Antônio (25.05.2015)
A Rosângela me ajudou a carregar o material até o Clube Náutico e depois o caiaque até o Arroio Velhaco de onde parti por volta das 06h20. Aproei diretamente para o Pontal D. Helena enfrentando ondas de través de mais de metro geradas por um vento de Sudeste de 20 km/h. Depois de uma breve parada no Pontal, continuei a viagem com a proa apontada diretamente para o Pontal de Santo Antônio com o Sol, pouco acima da linha do horizonte, batendo de frente o tempo todo.
Os bancos de areia no entorno do Pontal D. Helena forçavam-me a alterar a rota constantemente. O vento aumentou de intensidade e as ondas de través de mais de metro e meio golpeavam com violência a borda de Boreste do meu valoroso caiaque “Cabo Horn”. O “Cabo Horn” seguia seu curso impassível como um Lorde britânico, estável, firme, inabalável como um rochedo.
Aportei uns 4 km adiante do Pontal. Subi na duna mais alta e tentei falar com o Coronel Pastl e familiares sem sucesso, finalmente consegui me comunicar com a Rosângela e pedi que os mantivesse informados de minha progressão. O vento e as ondas amainaram e tinha decidido remar, sem parar até o pôr-do-sol, quando, de repente, fui convidado a ancorar no acampamento de um simpático pescador. O acampamento simples primava pela limpeza e higiene, dos 17 cães de outrora só contei quatro agora. É uma parada emergencial bastante interessante, com abrigo e fogão à disposição.
Despedi-me do gentil amigo e seu parceiros e continuei minha jornada remando forte aproveitando o vento de popa. Aproei rumo às falésias procurando encurtar caminho evitando contornar a longa e suave enseada de Santo Antônio. Por volta das 16h00, apareceram estranhas nuvens encurvadas e resolvi, por segurança, me aproximar mais da margem.
Eu tinha de me aproximar, o mais possível, do Morro da Formiga para que amanhã eu conseguisse chegar até a Vila de Itapoã onde me abrigaria em uma pousada protegido do mau tempo previsto para a quarta-feira (27.05.2015). Aportei no mesmo local onde eu e o professor Hélio acampáramos no dia 24.09.2011, encontrei ali vestígios da enorme fogueira que acendêramos com o objetivo de sinalizar para o Coronel Pastl. Eu havia percorrido neste dia 63 km, totalizando 485 km até agora. Montei a barraca atrás das dunas e coloquei o caiaque como quebra-vento e ancoragem da barraca caso os ventos aumentassem.
Consegui, de uma duna mais alta à Sudoeste do acampamento, falar com a Rosângela e informar-lhe que estava tudo bem. A noite foi tranquila, a duna amortecia a velocidade do vento.
Rumo à Itapoã (26 a 27.05.2015)
Acordei cedo, comuniquei-me com a Rosângela, desmontei a barraca, preparei as mochilas, arrastei o caiaque vazio para a praia, carreguei o “Cabo Horn” e parti, depois das 07h30. Aproei para o acampamento dos pescadores da Praia do Canto do Morro à Oeste do Morro da Formiga.
Enfrentei ondas de até dois metros de altura na Costa de Santo Antônio, felizmente estas “Três Marias” mais pareciam rechonchudas e lentas matronas romanas, eu navegava longe da costa procurando evitar a rebentação. Aportei, depois de remar 18 km, no acampamento dos pescadores, cumprimentei-os e segui, em seguida, minha rota, já que meu caro amigo “Bussunda” se encontrava em tratamento de saúde. O acampamento dos pescadores estava, estrategicamente, protegido dos ventos pelo Morro da Formiga. Logo que contornei a Ponta da Formiga comecei a enfrentar fortes ventos de través e contrariando a orientação dos amigos pescadores rumei direto para o Farol de Itapoã. Logo que atingi a Latitude do Farol procurei me abrigar dos ventos aproximando-me da Costa Leste. Remei direto até a Pousada dos Quiosques, por 29 km, sem parar totalizando 532 km. Concluí a Circunavegação da Laguna dos Patos, aportando na Vila de Itapoã.
1.Assim os céus, a terra e todo o seu exército foram acabados.
2.E havendo Deus acabado no dia sétimo a obra que fizera, descansou no sétimo dia de toda a sua obra, que tinha feito.
3.E abençoou Deus o dia sétimo, e o santificou; porque nele descansou de toda a sua obra que Deus criara e fizera. (Bíblia Sagrada - Gênesis 2:1-3)
Foram 14 dias, com 3 de descanso. Como o Grande Arquiteto do Universo descansaria 2 dias, se tivesse concluído sua criação em duas semanas, eu humildemente tive de parar um dia a mais. Foram 532 km de uma dura prova.
Nos três dias de descanso a minha amada Rosângela estava comigo, uma companheiraça. Como a previsão do tempo para a quarta-feira (27.05.2015) era de muita chuva e vento optei por permanecer confortavelmente instalado na Pousada dos Quiosques, na Vila de Itapoã. O velhinho não é de ferro!!!
Rumo à Ilha do Chico Manoel (28.05.2015)
Parti da Vila Itapoã, com destino à Ilha do Chico Manoel, às 09h30. As ondas de través de quase três metros golpeavam a bochecha de bombordo do meu “Cabo Horn” com violência enquanto rajadas de vento de 50 km/h tentavam arrebatar meu remo.
O caiaque, fabricado pelo amigo Fábio Paiva, corcoveava altaneiro sem perder o prumo e a rota. Ao passar próximo aos Pontais as ondas formavam um formidável banzeiro golpeando a proa e a bochecha de bombordo alternadamente. Lembrei-me dos tempos de guri quando gineteava com os irmãos Marcelo e Maurício Fernandes Hunnicutt os novilhos da Fazenda de seu pai em Pouso Alegre nas Minas Gerais.
Aportei às 12h00 na Ilha onde o Toco, alertado pelo amigo velejador Christian Willy, já me aguardava com as instalações em condições. Meu amigo zelador estava empenhado numa pesada faxina em virtude do temporal do dia anterior. Tomei um banho quente, coloquei uma roupa seca e ingeri massa crua a título de refeição para me recompor. Foi um deslocamento de apenas 17 km, totalizando 549 km.
Rumo Praia de Ipanema (29.05.2015)
Parti às 06h30, o amigo Toco ligara o gerador permitindo que eu arrumasse minha bagagem com mais facilidade. Foi um deslocamento lento e tranquilo até a Ponta Grossa onde cheguei às 08h45. Aportei na Praia de Ipanema exatamente às 10h00 como programara, depois de remar 18 km, totalizando 567 km. Lá estava o pessoal da Comunicação Social do Comando Militar do Sul, liderados pela Major Mônica. Dez minutos depois chegou a repórter Lara Ely da Zero Hora que publicou a reportagem no dia seguinte.
Zero Hora, sábado, 30 de maio de 2015
Contra Capa
O Coronel da Lagoa dos Patos
Ondas de quase três metros e vento de 50 km/h são alguns dos desafios que Hiram Reis e Silva, 64 anos, e seu caiaque enfrentaram durante a jornada de 567 quilômetros desde Viamão até Pelotas e de lá até Ipanema. A viagem de 14 dias do militar da reserva pelas águas doces pode virar um livro. Sua Vida | 28
Sua Vida - Página 28
Aventura no Mar de Dentro
De caiaque, aos 64 anos, Coronel do Exército concluiu ontem volta completa pela Lagoa dos Patos.
LARA ELY
Ao desembarcar ontem pela manhã na praia de Ipanema, na Zona Sul de Porto Alegre, o Coronel da Reserva do Exército Hiram Reis e Silva concluiu uma jornada de 567 quilometros em 14 dias. [...]
Comentário Erudito da Major Eneida
Gostaria de ser um crocodilo porque amo grandes Rios, pois são profundos como a alma de um homem. Na superfície são muitos vivazes e claros, mas nas profundezas são tranquilos e escuros como o sofrimento dos homens.
Amo ainda mais uma coisa de nossos grandes Rios: a eternidade. Sim, Rio é uma palavra mágica para conjugar a eternidade. (ROSA, J. Guimarães)
Instigado pela minha querida amiga a Professora Major R/1 Eneida Aparecida Mader que, ao ler a reportagem acima, sobre minha Circunavegação da Laguna dos Patos, escreveu numa rede social:
Sim, EXISTE O PERSONAGEM de Guimarães Rosa... Parabéns, meu querido amigo Hiram Reis e Silva.
Desde 2009, quando ganhei de presente, do meu caro amigo e irmão General de Divisão Jorge Ernesto Pinto Fraxe, o livro “O Andaluz” de Wilson Nogueira que cita textualmente:
Desembarcou aqui como passageiro comum entre tantos que procuram a Terceira Margem do Rio entre o Céu e a Terra;
que incorporei, como minha verdade, que “sou um canoeiro eternamente em busca da Terceira Margem”, não tinha ideia de que a Terceira Margem já tinha sido mencionada anteriormente por um dos maiores ícones da literatura brasileira ‒ João Guimarães Rosa, no capítulo “Terceira Margem do Rio”, do seu livro “Primeiras Estórias” onde o autor conta a história de um homem que abandona o convívio familiar e passa a viver longe de tudo e de todos em uma frágil canoa.
Terceira Margem do Rio (João Guimarães Rosa)
Nosso pai era homem cumpridor, ordeiro, positivo; e sido assim desde mocinho e menino, pelo que testemunharam as diversas sensatas pessoas, quando indaguei a informação. Do que eu mesmo me alembro, ele não figurava mais estúrdio nem mais triste do que os outros, conhecidos nossos. Só quieto. Nossa mãe era quem regia, e que ralhava no diário com a gente – minha irmã, meu irmão e eu. Mas se deu que, certo dia, nosso pai mandou fazer para si uma canoa.
Era a sério. Encomendou a canoa especial, de pau de vinhático, pequena, mal com a tabuinha da popa, como para caber justo o remador. Mas teve de ser toda fabricada, escolhida forte e arqueada em rijo, própria para dever durar na água por uns vinte ou trinta anos. Nossa mãe jurou muito contra a idéia. Seria que, ele, que nessas artes não vadiava, se ia propor agora para pescarias e caçadas? Nosso pai nada não dizia. Nossa casa, no tempo, ainda era mais próxima do Rio, obra de nem quarto de légua: o Rio por aí se estendendo grande, fundo, calado que sempre. Largo, de não se poder ver a forma da outra beira. E esquecer não posso, do dia em que a canoa ficou pronta.
Sem alegria nem cuidado, nosso pai encalcou o chapéu e decidiu um adeus para a gente. Nem falou outras palavras, não pegou matula e trouxa, não fez a alguma recomendação. Nossa mãe, a gente achou que ela ia esbravejar, mas persistiu somente alva de pálida, mascou o beiço e bramou: – “Cê vai, ocê fique, você nunca volte!” Nosso pai suspendeu a resposta. Espiou manso para mim, me acenando de vir também, por uns passos. Temi a ira de nossa mãe, mas obedeci, de vez de jeito. O rumo daquilo me animava, chega que um propósito perguntei: – “Pai, o senhor me leva junto, nessa sua canoa?” Ele só retornou o olhar em mim, e me botou a bênção, com gesto me mandando para trás. Fiz que vim, mas ainda virei, na grota do mato, para saber. Nosso pai entrou na canoa e desamarrou, pelo remar. E a canoa saiu se indo – a sombra dela por igual, feito um jacaré, comprida longa.
Nosso pai não voltou. Ele não tinha ido a nenhuma parte. Só executava a invenção de se permanecer naqueles espaços do Rio, de meio a meio, sempre dentro da canoa, para dela não saltar, nunca mais. A estranheza dessa verdade deu para. estarrecer de todo a gente. Aquilo que não havia, acontecia. Os parentes, vizinhos e conhecidos nossos, se reuniram, tomaram juntamente conselho.
Nossa mãe, vergonhosa, se portou com muita cordura; por isso, todos pensaram de nosso pai a razão em que não queriam falar: doideira. Só uns achavam o entanto de poder também ser pagamento de promessa; ou que, nosso pai, quem sabe, por escrúpulo de estar com alguma feia doença, que seja, a lepra, se desertava para outra sina de existir, perto e longe de sua família dele. As vozes das notícias se dando pelas certas pessoas – passadores, moradores das beiras, até do afastado da outra banda – descrevendo que nosso pai nunca se surgia a tomar terra, em ponto nem canto, de dia nem de noite, da forma como cursava no Rio, solto solitariamente. Então, pois, nossa mãe e os aparentados nossos, assentaram: que o mantimento que tivesse, ocultado na canoa, se gastava; e, ele, ou desembarcava e viajava s’embora, para jamais, o que ao menos se condizia mais correto, ou se arrependia, por uma vez, para casa.
No que num engano. Eu mesmo cumpria de trazer para ele, cada dia, um tanto de comida furtada: a idéia que senti, logo na primeira noite, quando o pessoal nosso experimentou de acender fogueiras em beirada do Rio, enquanto que, no alumiado delas, se rezava e se chamava. Depois, no seguinte, apareci, com rapadura, broa de pão, cacho de bananas. Enxerguei nosso pai, no enfim de uma hora, tão custosa para sobrevir: só assim, ele no ao-longe, sentado no fundo da canoa, suspendida no liso do Rio. Me viu, não remou para cá, não fez sinal. Mostrei o de comer, depositei num oco de pedra do barranco, a salvo de bicho mexer e a seco de chuva e orvalho. Isso, que fiz, e refiz, sempre, tempos a fora. Surpresa que mais tarde tive: que nossa mãe sabia desse meu encargo, só se encobrindo de não saber; ela mesma deixava, facilitado, sobra de coisas, para o meu conseguir. Nossa mãe muito não se demonstrava.
Mandou vir o tio nosso, irmão dela, para auxiliar na fazenda e nos negócios. Mandou vir o mestre, para nós, os meninos. Incumbiu ao padre que um dia se revestisse, em praia de margem, para esconjurar e clamar a nosso pai o ‘dever de desistir da tristonha teima. De outra, por arranjo dela, para medo, vieram os dois soldados. Tudo o que não valeu de nada. Nosso pai passava ao largo, avistado ou diluso, cruzando na canoa, sem deixar ninguém se chegar à pega ou à fala. Mesmo quando foi, não faz muito, dos homens do jornal, que trouxeram a lancha e tencionavam tirar retrato dele, não venceram: nosso pai se desaparecia para a outra banda, aproava a canoa no brejão, de léguas, que há, por entre juncos e mato, e só ele conhecesse, a palmos, a escuridão, daquele.
A gente teve de se acostumar com aquilo. Às penas, que, com aquilo, a gente mesmo nunca se acostumou, em si, na verdade. Tiro por mim, que, no que queria, e no que não queria, só com nosso pai me achava: assunto que jogava para trás meus pensamentos. O severo que era, de não se entender, de maneira nenhuma, como ele agüentava. De dia e de noite, com sol ou aguaceiros, calor, sereno, e nas friagens terríveis de meio-do-ano, sem arrumo, só com o chapéu velho na cabeça, por todas as semanas, e meses, e os anos – sem fazer conta do se-ir do viver. Não pojava em nenhuma das duas beiras, nem nas ilhas e croas do Rio, não pisou mais em chão nem capim. Por certo, ao menos, que, para dormir seu tanto, ele fizesse amarração da canoa, em alguma ponta-de-ilha, no esconso. Mas não armava um foguinho em praia, nem dispunha de sua luz feita, nunca mais riscou um fósforo. O que consumia de comer, era só um quase; mesmo do que a gente depositava, no entre as raízes da gameleira, ou na lapinha de pedra do barranco, ele recolhia pouco, nem o bastável. Não adoecia? E a constante força dos braços, para ter tento na canoa, resistido, mesmo na demasia das enchentes, no subimento, aí quando no lanço da correnteza enorme do Rio tudo rola o perigoso, aqueles corpos de bichos mortos e paus-de-árvore descendo – de espanto de esbarro. E nunca falou mais palavra, com pessoa alguma. Nós, também, não falávamos mais nele. Só se pensava. Não, de nosso pai não se podia ter esquecimento; e, se, por um pouco, a gente fazia que esquecia, era só para se despertar de novo, de repente, com a memória, no passo de outros sobressaltos.
Minha irmã se casou; nossa mãe não quis festa. A gente imaginava nele, quando se comia uma comida mais gostosa; assim como, no gasalhado da noite, no desamparo dessas noites de muita chuva, fria, forte, nosso pai só com a mão e uma cabaça para ir esvaziando a canoa da água do temporal. Às vezes, algum conhecido nosso achava que eu ia ficando mais parecido com nosso pai. Mas eu sabia que ele agora virara cabeludo, barbudo, de unhas grandes, mal e magro, ficado preto de sol e dos pêlos, com o aspecto de bicho, conforme quase nu, mesmo dispondo das peças de roupas que a gente de tempos em tempos fornecia.
Nem queria saber de nós; não tinha afeto? Mas, por afeto mesmo, de respeito, sempre que às vezes me louvavam, por causa de algum meu bom procedimento, eu falava: – “Foi pai que um dia me ensinou a fazer assim...”; o que não era o certo, exato; mas, que era mentira por verdade. Sendo que, se ele não se lembrava mais, nem queria saber da gente, por que, então, não subia ou descia o Rio, para outras paragens, longe, no não-encontrável? Só ele soubesse. Mas minha irmã teve menino, ela mesma entestou que queria mostrar para ele o neto. Viemos, todos, no barranco, foi num dia bonito, minha irmã de vestido branco, que tinha sido o do casamento, ela erguia nos braços a criancinha, o marido dela segurou, para defender os dois, o guarda-sol. A gente chamou, esperou. Nosso pai não apareceu. Minha irmã chorou, nós todos aí choramos, abraçados.
Minha irmã se mudou, com o marido, para longe daqui. Meu irmão resolveu e se foi, para uma cidade. Os tempos mudavam, no devagar depressa dos tempos. Nossa mãe terminou indo também, de uma vez, residir com minha irmã, ela estava envelhecida. Eu fiquei aqui, de resto. Eu nunca podia querer me casar. Eu permaneci, com as bagagens da vida. Nosso pai carecia de mim, eu sei – na vagação, no Rio no ermo – sem dar razão de seu feito. Seja que, quando eu quis mesmo saber, e firme indaguei, me diz-que-disseram: que constava que nosso pai, alguma vez, tivesse revelado a explicação, ao homem que para ele aprontara a canoa. Mas, agora, esse homem já tinha morrido, ninguém soubesse, fizesse recordação, de nada mais. Só as falsas conversas, sem senso, como por ocasião, no começo, na vinda das primeiras cheias do Rio, com chuvas que não estiavam, todos temeram o fim-do-mundo, diziam: que nosso pai fosse o avisado que nem Noé, que, por tanto, a canoa ele tinha antecipado; pois agora me entrelembro. Meu pai, eu não podia malsinar. E apontavam já em mim uns primeiros cabelos brancos.
Sou homem de tristes palavras. De que era que eu tinha tanta, tanta culpa? Se o meu pai, sempre fazendo ausência: e o Rio-Rio-Rio, o Rio – pondo perpétuo. Eu sofria já o começo de velhice – esta vida era só o demoramento. Eu mesmo tinha achaques, ânsias, cá de baixo, cansaços, perrenguice de reumatismo. E ele? Por quê? Devia de padecer demais. De tão idoso, não ia, mais dia menos dia, fraquejar do vigor, deixar que a canoa emborcasse, ou que bubuiasse sem pulso, na levada do Rio, para se despenhar horas abaixo, em tororoma e no tombo da cachoeira, brava, com o fervimento e morte. Apertava o coração. Ele estava lá, sem a minha tranquilidade. Sou o culpado do que nem sei, de dor em aberto, no meu foro. Soubesse – se as coisas fossem outras. E fui tomando idéia.
Sem fazer véspera. Sou doido? Não. Na nossa casa, a palavra doido não se falava, nunca mais se falou, os anos todos, não se condenava ninguém de doido. Ninguém é doido. Ou, então, todos. Só fiz, que fui lá. Com um lenço, para o aceno ser mais. Eu estava muito no meu sentido. Esperei. Ao por fim, ele apareceu, aí e lá, o vulto. Estava ali, sentado à popa. Estava ali, de grito. Chamei, umas quantas vezes. E falei, o que me urgia, jurado e declarado, tive que reforçar a voz: – “Pai, o senhor está velho, já fez o seu tanto... Agora, o senhor vem, não carece mais... O senhor vem, e eu, agora mesmo, quando que seja, a ambas vontades, eu tomo o seu lugar, do senhor, na canoa!...” E, assim dizendo, meu coração bateu no compasso do mais certo.
Ele me escutou. Ficou em pé. Manejou remo n’água, proava para cá, concordado. E eu tremi, profundo, de repente: porque, antes, ele tinha levantado o braço e feito um saudar de gesto – o primeiro, depois de tamanhos anos decorridos! E eu não podia... Por pavor, arrepiados os cabelos, corri, fugi, me tirei de lá, num procedimento desatinado. Porquanto que ele me pareceu vir: da parte de além. E estou pedindo, pedindo, pedindo um perdão.
Sofri o grave frio dos medos, adoeci. Sei que ninguém soube mais dele. Sou homem, depois desse falimento? Sou o que não foi, o que vai ficar calado. Sei que agora é tarde, e temo abreviar com a vida, nos rasos do mundo. Mas, então, ao menos, que, no artigo da morte, peguem em mim, e me depositem também numa canoinha de nada, nessa água que não pára, de longas beiras: e, eu, Rio abaixo, Rio a fora, Rio a dentro – o Rio.
Talvez a minha querida amiga Eneida tenha captado, mais do que eu próprio, o verdadeiro sentido do que representa para mim a Terceira Margem. Quando navego “com meus” diletos Mares de Dentro e Mananciais em busca da Terceira Margem do Rio, por vezes ultrapasso o Portal do Conhecimento, volta e meia vejo além do Véu de Ísis, vez por outra acesso o Registro Akáshico e consigo conhecer o desconhecido do meu íntimo.
Para que isso seja possível, porém, preciso realizar minhas viagens solitárias pelos ermos dos sem fim, pois só assim consigo entender os mistérios da minha alma, desvendar os segredos mais ocultos de meu ser, afogar minhas mágoas nas amigas águas e compreender o incompreensível de meu cotidiano.
Obrigado pela lição amiga!
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