Terça-feira, 4 de abril de 2023 - 06h10
Bagé, 04.04.2023
Temos
a honra de repercutir o artigo do Advogado, Escritor e Consultor Jurídico
Jacinto Sousa Neto.
A História Secreta e Real
da Revolução de 1964
(Jacinto Sousa Neto - jus.com.br,
10.08.2022)
I - INTRODUÇÃO
A história é contada por meio de historiadores,
sociólogos, cientistas políticos e pela imprensa marrom, onde interpretações
diversas foram formuladas sobre o evento político, a partir da denominação dada
pela esquerda de “ditadura militar”,
cujo regime instaurado no Brasil, que perdurou no período de 1º de abril de
1964 a 15 de março de 1985, sob o comando de governos militares sucessivos.
II – EDIÇÃO
HISTÓRICA DA REVISTA MANCHETE
Vislumbrando-se oportunamente esse belo trabalho de
reportagem, que redundou na Edição Histórica da Revista Manchete, de abril de
1964, com a manchete relevante sobre a História Secreta da Revolução, que ora
passamos a demonstrá-la.
Perlustrando as páginas da Revista Manchete, edição
históricas de abril de 1964, por meio das reportagens editadas pelos profissionais
de imprensa Fernando Pinto, Ney Bianchi, José Maria do Prado, Manoel Higino dos
Santos, Luís Carlos Sarmento, Murilo Melo
Filho, Jáder Neves, Nicolau Drei, Juarez Conrado, Flávio Costa, Gervásio
Batista, Gil Pinheiro, Armando Bernardes, João Brankovan, Sérgio Jorge, Zygmunt
Haar, Sérgio Alberto, Tito Rosemberg, Domingos Cavalcanti, José Campos, Hélio
Santos, Antônio Trindade, Aldyr Tavares, Juvenil de Sousa, Odair Soares,
Alberto Jacob, Victor Gomes, Francisco Ruas, Sérgio Matulevicius, Fernando
Cascudo e Lausimar Laus, que devem ser reconhecidas como uma documentação
histórica. (Imagem 02)
Capa da Revista Manchete, edição de abril de 1964
(Imagem 01)
Na página inicial, vislumbra-se as manchetes
seguintes: “Um milhão de Cariocas na
Marcha da Liberdade”; “Mourão Filho,
A História Secreta da Revolução”; e “Minas
e São Paulo, O Eixo da Vitória”. (Imagem 01)
Nos textos seguintes da Revista Manchete, deverão
ser registrados, ipsis litteris, todos os episódios da História Secreta da
Revolução de 1964. Iniciando-se com a manchete: “Deus Família e Liberdade”, nos termos seguintes:
A marcha da Família com Deus pela Liberdade, transformou-se, no Rio,
numa verdadeira homenagem às Forças Armadas, ao ser anunciada a presença do
General Olímpio Mourão Filho, de destacada atuação nos recentes acontecimentos.
Também compareceram os Marechais Dutra, Magessi, Mendes de Morais e Segadas
Viana. A incalculável multidão concentrou-se ao lado da Candelária, com
imagens, terços, bandeiras e cartazes anticomunistas. E dali deslocou-se para a
Esplanada do Castelo, onde renovou a impressionante demonstração de fé católica
e de confiança no Brasil. (Imagem 03)
Em destaque, abaixo, a fotografia do ex-presidente
de República, Marechal Eurico Gaspar Dutra, que também recebeu aclamações,
acenando ao povo no palanque. E, ao lado, observa-se a imensa multidão
concentrada perante à Igreja da Candelária. (Imagem 04)
Estudantes universitários Mackenzie, empunhando
bandeiras do Brasil, de São Paulo e de sua faculdade, atravessaram o centro da
cidade em ruidosa passeata, rumo à sede do II Exército, onde aplaudiram os
soldados em prontidão. (Imagem 05)
O General Peri Constant Beviláqua, revelou que,
quando comandante do II Exército, em São Paulo, discordou da orientação
concedida pelo então presidente João Goulart, com referência à política
sindical. O General Peri foi dentre todos os chefes militares, o primeiro a se
insurgir contra o prestígio concedido pelo Ministério do Trabalho, a líderes
sindicais de tendência comunista.
Segundo o General, o presidente Jango não quis
ouvi-lo, afirmando que “agora não há quem
não reconheça que, se tivesse sido sensível às suas advertências, o Sr. João
Goulart possivelmente ainda estaria no poder”. Porquanto, o General Peri
foi perguntado que, “diante desse
pronunciamento, no comando do II Exército, contribuiu para o alertamento da
Forças Democráticas”?
– General Peri: Melhor do que eu poderão responder a
esta pergunta as torrenciais e inequívocas demonstrações de solidariedade que
recebi de todos os setores nacionais da opinião pública. Admito, portanto, que
tenha contribuído.
– Repórter: Durante os recentes acontecimentos
militares, o senhor manteve o ex-presidente informado da evolução da crise e de
suas perspectivas?
– General Peri:
Fui pessoalmente procura-lo, no dia 31 de março próximo o passado, para
levar-lhe informações sobre o estado moral e disciplinar das Forças Armadas, as
repercussões sobre elas da ocorrências político-militares e, ainda, para
transmitir-lhe uma impressão no tocante à segurança interna. Deixei, nessa
ocasião em suas mãos, um documento sobre esse assunto, por mim assinado.
Documento elaborado, aliás, com prévia consulta aos chefes do Estado-Maior do
Exército e da Aeronáutica, bem como aos oficiais-generais das três forças, a
mim diretamente subordinados.
– Repórter: Quando o Sr. João Goulart deixou o
Rio tinha informações sobree a união das forças de todos os Exércitos? (Imagem
06)
– General
Peri: Não tenho elemento para responder. Aquele foi o último contato que
mantive com o ex-presidente.
– Repórter: Antes da crise, o senhor alertou o
Sr. João Goulart sobre os perigos do favorecimento de comunista no meio
sindical?
– General
Peri: Sim e por várias vezes: em Notas de Instrução, quando comandante do II
Exército e, em pronunciamentos públicos, o último dos quais o meu discurso de
posse no Estado-Maior das Forças Armadas. E, pessoalmente, no fim do ano de
1952, em Araçatuba, São Paulo. Naquela ocasião falei-lhe sobre a hipertrofia do
“poder sindical” e sobre os graves
perigos que nós, chefes militares de maior senso de responsabilidade, víamos
nisso. Afirmei-lhe que o II Exército estava integrado na disciplina consciente,
do soldado ao general, todos prontos a cumprir e a fazer cumprir a lei. Não lhe
escondi que víamos com apreensão a atuação de órgãos extralegais, CGT, PUA,
Fórum Sindical de Debates, etc. Fiz-lhe ver que considerávamos que a segurança
do governo e da democracia devia e deve basear-se, precipuamente, nas Forças
Armadas, isto é, na lealdade e na honra militar dessas forças. Disse-lhe,
ainda, que não me parecia possível a coexistência pacífica do poder militar com
o “poder sindical”. Os recentes
acontecimentos vieram confirmar o meu acerto
– Repórter: Mas não se dizia existir, nas
Forças Armadas, um “esquema janguista”?
– General
Peri: Os últimos episódios demonstram que as nossas Forças Armadas há muito ultrapassam
a fase do caudilhismo militar ou civil. São Instituições nacionais permanentes,
organizadas com base na hierarquia e na disciplina, sob a autoridade suprema do
presidente da República e dentro dos limites legais, para defender e garantir
os poderes constitucionais, harmônicos e independentes, e a lei e ordem, como
manda a Constituição.
Na entrada do edifício em que reside o General
Olímpio Mourão Filho, em Copacabana, certa pessoa escreveu a giz: “Viva o Exército Brasileiro. Viva Mourão!”
Porquanto, a romaria de políticos e militares era incessante. Os senhores
Clóvis Salgado e José Maria Alkmim aguardavam o momento para uma conferência.
Mas antes o General passou a ser entrevistado pela Manchete, perguntando-lhe:
– Repórter: Desde quando o senhor fazia planos
para a revolução?
– General
Peri: Desde 8 de setembro de 1962, tudo foi planejado durante dezessete meses.
– Repórter: Com quem se articulou?
– General
Peri: A princípio, com o governador do Rio Grande do Sul. Depois, prossegui as
articulações em São Paulo, onde fui comandante da 2ª Região Militar, durante
cinco meses. Em seguida, indo comandar em Juiz de Fora, ali planejei a
arrancada. Mas tivemos que esperar cinco meses até desencadear o movimento.
– Repórter: Por que se decidiu pela revolução?
– General Peri:
Porque notei nos quartéis, infiltração comunista. É verdade que o número de
sargentos comunistas é reduzido, mas eles sempre fizeram tudo para contagiar a
tropa. O sargento Borges, agora preso, estava preparando para eliminar-me em
São Paulo. Tinha um plano coordenado com a rebelião de Brasília, mas falhou. Em
Santa Maria descobri uma conspiração no III Exército: quarenta sargentos faziam
pregação sistemática, liderados pelo Deputado Garcia Filho.
– Repórter: Tudo isso foi comunicado ao
Ministério da Guerra?
– General Peri:
Tudo quanto se descobria era levado a sério e comunicado às autoridades
superiores. Infelizmente, ninguém tomava providência.
– Repórter: Encontrou resistências ao movimento
que preparava?
General Peri:
Encontrei. Terríveis. É que as vezes se confunde no Exército, legalismo com
governismo.
– Repórter: Acredita que o ex-presidente seja
comunista?
General Peri:
Não acho que ele seja comunista, mas creio que é uma espécie de Fausto. Vendeu
sua alma ao diabo, sem receber Margarida em compensação. O ex-presidente cercou-se
sempre da pior gente. Tentei aconselhá-lo, quando a situação se apresentava
mais grave. Mas quem podia com o CGT?
– Repórter: Para articular a rebeldia em Minas
houve muitos entraves?
General Peri:
Não, porque em Minas minhas ideias já eram sobejamente conhecidas. Assim, não
houve maiores dificuldades. O povo mineiro é, por tradição, o mais infenso ao
comunismo. Sadio de espírito, acredita em Deus com sinceridade.
– Repórter: O senhor garante que o Brasil se
manterá num clima democrático, sem opressões e violências?
General Peri:
O nosso interesse único e sincero é que se faça no Brasil o melhor clima
democrático, para que tenhamos paz e possamos ir para frente, sem o perigo vermelho.
Para mim, quem não está com a democracia e admira os vermelhos é positivamente
comunista. É verdade que, entre esses, existem os comunistas, os
criptocomunistas e os inocentes úteis.
– Repórter: Que pretendem fazer agora as Forças
Armadas?
General Peri:
A operação limpeza, que tem de ser absoluta. Não se faz um movimento como esse
para destituir um homem e sim para erradicar um sistema viciado e perigoso, que
começou em 1930 e vem se agravando até hoje.
– Repórter: E as proclamadas reformas?
General Peri:
Duvido que o povo as reclame. Não considero povo um ajuntamento de pelegos,
comandados por minoria comunistas. Não nego a necessidade de reformas, mas o
povo não pensa nelas. Foi apenas sugestionado. Isso, porém, não é função das
Forças Armadas.
– Repórter: E seus planos para a Petrobrás?
General Peri:
Nomeado seu presidente, ainda não tomei posse. Se depois de inteirar-me de seus
problemas poderei pronunciar-me sobre eles. Mas, antes de tudo, vou limpá-la
dos comunistas que fizeram ali seu reduto. (Imagem 07)
O General Carlos Luís Guedes cumprimenta o
Governador Magalhães Pinto pelo êxito do movimento encabeçado por Minas Gerais.
Embaixo, à direita, o General Albino Silva, ex-presidente da Petrobrás, dá sua
solidariedade ao movimento. Ao lado, no estúdio da TV-Itacolomy, João Calmon
saúda o Coronel Afrânio Aguiar e o General Guedes. (Imagem 08)
Na manhã da
deflagração do movimento rebelde, o Sr. Magalhães Pinto chamou os três de seus
secretários, confessando-lhe sua disposição de restaurar a democracia no País,
afirmando que, “Sobrou-nos apenas este
caminho. Não pode haver recuos. A posição é irreversível”. O governador
mineiro estava emocionado.
Na tarde do dia
seguinte, quando foi anunciada a vitória da revolução, milhares de pessoas convergiram
para a Praça da Liberdade, em frente ao palácio do governo, onde prestaram
ruidosa manifestação a Magalhães Pinto, aos chefes militares e auxiliares da
administração estadual.
Na noite, no
mesmo local acima, aclamados pela multidão, discursaram os senhores Afonso
Arinos, José Maria Alkmim e Milton Campos que afirmou: “O Brasil precisa promover as reformas, inspiradas em autêntico
sentimento popular e não em palavras vãs”. Enquanto que os Generais Mourão
Filho e Carlos Luís Guedes, ovacionados, responderam às aclamações com o “V” da vitória. (Imagem 09) (Continua...)
(*)
Hiram Reis e Silva é Canoeiro, Coronel de Engenharia, Analista de Sistemas,
Professor, Palestrante, Historiador, Escritor e Colunista;
Campeão do II Circuito de Canoagem do Mato Grosso do
Sul (1989)
Ex-Professor do Colégio Militar de Porto Alegre
(CMPA);
Ex-Pesquisador do Departamento de Educação e Cultura
do Exército (DECEx);
Ex-Presidente do Instituto dos Docentes do Magistério
Militar – RS (IDMM – RS);
Ex-Membro do 4° Grupamento de Engenharia do Comando
Militar do Sul (CMS)
Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia
Brasileira (SAMBRAS);
Membro da Academia de História Militar Terrestre do
Brasil – RS (AHIMTB – RS);
Membro do Instituto de História e Tradições do Rio
Grande do Sul (IHTRGS – RS);
Membro da Academia de Letras do Estado de Rondônia
(ACLER – RO)
Membro da Academia Vilhenense de Letras (AVL – RO);
Comendador da Academia Maçônica de Letras do Rio
Grande do Sul (AMLERS)
Colaborador Emérito da Associação dos Diplomados da
Escola Superior de Guerra (ADESG).
Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional (LDN).
E-mail: hiramrsilva@gmail.com.
Galeria de Imagens
* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – X
Bagé, 20.12.2024 Continuando engarupado na memória: Tribuna da Imprensa n° 3.184, Rio, RJSexta-feira, 25.10.1963 Sindicâncias do Sequestro dão e
Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – VI
Silva, Bagé, 11.12.2024 Continuando engarupado na memória: Jornal do Brasil n° 224, Rio de Janeiro, RJ Quarta-feira, 25.09.1963 Lei das Selvas T
Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – IV
Bagé, 06.12.2024 Continuando engarupado na memória: Jornal do Brasil n° 186, Rio de Janeiro, RJSábado, 10.08.1963 Lacerda diz na CPI que Pressõessã
Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – III
Bagé, 02.12.2024 Continuando engarupado na memória: Jornal do Brasil n° 177, Rio de Janeiro, RJQuarta-feira, 31.07.1963 JB na Mira O jornalista H