Terça-feira, 11 de abril de 2023 - 08h55
Bagé, 11.04.2023
Temos a honra de continuar repercutindo o artigo do
Advogado, Escritor e Consultor Jurídico Jacinto Sousa Neto.
A
História Secreta e Real
da Revolução de 1964
(Jacinto Sousa Neto -
jus.com.br, 10.08.2022)
[...] Ademar de Barros teve a sua ação recompensada por
calorosa manifestação popular. Pouco dias antes da eclosão do movimento revolucionário,
o Governador Ademar de Barros sensibilizou o país com o decidido apoio que
prestou a realização da monumental Marcha da Família, em São Paulo. Em seguida,
manifestando sua adesão a Magalhães Pinto. Ademar praticamente decretou a
vitoriosa sorte da revolução. Na noite do triunfo, a população paulista
promoveu-lhe grandes homenagens, no Palácio dos Campos Elísios. (Imagem 25)
O mais impressionante espetáculo cívico até hoje
registrado no Brasil foi totalmente organizado pela Campanha da Mulher pela
Democracia. A bandeira brasileira foi empunhada por pessoas de 8 a 80 anos. Se,
por acaso, faltava haste, o guarda-chuva resolvia o problema. As senhoras
responsáveis pela organização da passeata cantavam hinos religiosos. Embaixo,
o Marechal Augusto Magessi e Ângelo M. de Morais. Apesar da ameaça de chuva, as
ruas centrais da cidade estavam lotadas desde cedo. Muitos participaram da
marcha com velas acesas. (Imagem 26)
Nem o tempo chuvoso impediu que os cariocas dessem o
testemunho público de seu amor às liberdades públicas e de seu espírito sinceramente
cristão. A figura apostolar do grande Papa João XXIII, cujo espírito ficou
perenemente ligado às encíclicas “Mater
et Magistra” e “Pacem in Terris”,
foi lembrada pelos fiéis reunidos na grande demonstração. Sobre a massa dos
guarda-chuvas abertos, elevam-se as centenas de faixas, cujas inscrições
traduziam os sentimentos da imensa multidão. Ao lado: o grande cortejo avança
na Avenida Rio Branco. Bandeiras, umas imensas, outras menores, eram agitadas
no ar, em manifestações de entusiasmo. Por isso longo tempo se sucederam esses
testemunhos de fé e de civismo.
O General Juraci Magalhães, ex-governador da Bahia, e sua
esposa, participaram da marcha cristã. Muitos automóveis conduziam bandeiras ao
lado e impressos de propaganda da demonstração de fé. Entre os cartazes
anticomunistas exibidos, havia alguns de inspiração caricatural. Enquanto
muitas pessoas, de seus escritórios, na Avenida Rio Branco, acenavam com lenços
brancos para a multidão em desfile, outras convertiam edifícios em construção em
postos de observação ou faziam o “V”
da vitória. (Imagem 29)
Os chefes e líderes do movimento armado que depôs João
Goulart mostram-se, agora, preocupados em ganhar a segunda etapa da rebelião:
a instalação de um governo com autoridade político-militar e dotado de
cobertura parlamentar a fim sobreviver aos próximos meses, decerto os mais
difíceis.
A ascensão do Sr. Ranieri Mazzili, para quem presenciou os
dramáticos lances desenrolados na madrugada de quarta-feira em Brasília, teve a
marca nítida do fato consumado. A posse do novo presidente foi o resultado de
uma sucessão de atitudes decididas do grupo político que se dispusera a
entregar-lhe o poder o mais depressa possível. Até o último instante da posse
pairavam no terceiro andar do Palácio do Planalto os anseios de que uma
derradeira resistência dos remanescentes do governo de Jango presentes em
Brasília, ainda pudesse modificar o rumo da solução adotada pelo Congresso.
(Imagem 30)
Às três horas da madrugada, sobrepondo-se aos protestos dos
partidários de Jango no Congresso, o Senador Auro de Moura Andrade, sob sua
responsabilidade, declarou vaga, a presidência da República e anunciou a
decisão de transmitir o cargo ao presidente da Câmara dos Deputados. Na véspera
da deposição de Jango, o Sr. Tancredo Neves foi um dos parlamentares mais
ativos em favor do ex-presidente. Depois, nada mais pode fazer. O Deputado
Doutel de Andrade, líder do PTB, tentou obstar a proclamação da posse de
Mazzilli, mas nada conseguiu. (Imagem 31)
A grande maioria do Congresso aceitou a posse do Presidente
Ranieri Mazzili com um fato consumado, sem dar ouvido aos protestos dos setores
esquerdistas. O Deputado Adauto Lúcio Cardoso, irredutível adversário de Jango,
discursa na noite em que o governo havia mudado. (Imagem 32)
À esquerda o Deputado Bocaiúva Cunha tenta impugnar a posse
de Mazzilli. Em cima, Francisco Julião na tribuna. O ex-ministro do Trabalho e
antigo líder do PTB, Almino Afonso, foi veemente nas palavras bem como nos
gestos. (Imagem 33)
O empenho de Ranieri Mazzili em construir um ministério
politicamente estável revela, de certa forma, a perspectiva de que ele próprio
seja o presidente escolhido pelo Congresso para completar o quinquênio iniciado
por Jânio. Ranieri Mazzilli assume a presidência na presença do Ministro
Ribeiro da Costa e do Senador Auro de Moura Andrade.
Foi aos brados que o senador Auro de Moura Andrade foi aos
brados, sobrepondo-se aos desesperados protestos dos deputados trabalhistas,
proclamou vago o cargo de presidente da República, declarando nele empossar
Ranieri Mazzilli.
O novo chefe do governo entrou no Palácio do Planalto
através da garagem, usando de hábil estratagema e viajando num carro particular
fortemente guardando. Logo em seguida ali chegaram dezenas de deputados e
senadores que viveram duas horas de enorme apreensão, por julgarem que não
contavam com suficiente cobertura militar para garantir a solenidade de posse. Mazzili
foi investido no posto de supremo mandatário do país em cerimônia surpreendentemente
rápida.
Valeu-lhe, no caso, a experiência adquirida em situações
anteriores para agir com presteza.
O novo presidente empossou o General André Fernandes na
chefia do seu Gabinete Militar e nomeou o General Costa e Silva, o Almirante
Augusto Radmacker e o Brigadeiro Correia de Melo para ministros da Guerra,
Marinha e Aeronáutica. Sem saber o rumo tomado pelo avião de Jango, o governo
recém-constituído prosseguiu na tática do fato consumado para revelar ao país
decisões positivas e imediatas.
Apesar de já ter nomes em cogitações para as demais pastas
ministeriais, Mazzili achou que não deveria fazer novas nomeações sem antes
consultar as forças políticas e militares, cuja sublevação o guindara ao poder.
Encarregou, então, o Senador Moura Andrade de realizar consultas em Minas, Guanabara
e São Paulo, junto aos Governadores Magalhães Pinto, Carlos Lacerda e Ademar de
Barros. (Imagem 34)
Mesmo correndo os riscos do retardamento na complementação
do ministério, Mazzili julgou que devia somar o mais possível em torno de seu
governo. A rigor, não necessitaria ele de tantos cuidados e preocupações de
segurança na constituição de um ministério interino. A eleição do presidente
encarregado de completar este atribulado quinquênio e de presidir o pleito de
65 terá que verificar-se dentro dos próximos trinta dias. Isto quer dizer que,
eventualmente, a eleição dentro do parlamento poderá ter lugar na próxima
semana. Mas o empenho do Sr. Ranieri Mazzili em constituir um ministério
politicamente estável revela, de certa forma, a perspectiva de que ele próprio
seja o escolhido para a alta investidura.
Apesar dos últimos acontecimentos, que poderiam tê-lo
desgastado pelo menos junto ao PTB, sua aceitação em todas as bancadas continua
inalterada. Resta apenas uma dúvida: sendo ele o presidente em exercício,
poderá ser eleito para concluir o mandato? O caso é inédito e a hipótese não
estava prevista. Seus partidários argumentam desde já que ele está na chefia
do governo apenas na qualidade de presidente da Câmara e, portanto, é elegível.
De resto, o PSD tudo fará para conservar o poder em suas mãos através de
Mazzili, para uma solução pacífica, ou então através de Moura Andrade, para uma
fórmula de luta aberta contra o PTB. A rigor, não necessitaria ele de tantos
cuidados e preocupações de segurança na constituição de um ministério interino.
A eleição do presidente encarregado de completar este atribulado quinquênio e
de presidir o pleito de 65 terá que verificar-se dentro dos próximos trinta
dias. Isto quer dizer que, eventualmente, a eleição dentro do parlamento poderá
ter lugar na próxima semana. Mas o empenho do Sr. Ranieri Mazzili em constituir
um ministério politicamente estável revela, de certa forma, a perspectiva de
que ele próprio seja o escolhido para a alta investidura. Apesar dos últimos acontecimentos,
que poderiam tê-lo desgastado pelo menos junto ao PTB, sua aceitação em todas as
bancadas continua inalterada. Resta apenas uma dúvida: sendo ele o presidente
em exercício, poderá ser eleito para concluir o mandato? O caso é inédito e a
hipótese não estava prevista. Seus partidários argumentam desde já que ele está
na chefia do governo apenas na qualidade de presidente da Câmara e, portanto, é
elegível.
De resto, o PSD tudo fará para conservar o poder em suas
mãos através de Mazzili, para uma solução pacífica, ou então através de Moura
Andrade, para uma fórmula de luta aberta contra o PTB. Esta seria a solução
civil. A militar inclui os nomes dos Generais Castelo Branco e Amauri Kruel e
dos Marechais Dutra e Lott. Já a solução udenista e mineira conta com um nome
único e absoluto: Magalhães Pinto. O governador mineiro cresceu muito nos
recentes episódios, tanto para a eventualidade de ser eleito indiretamente pelo
Congresso, como também para disputar as preferências da convenção da UDN.
Deixando de lado as conjecturas de nomes e as cogitações
políticas, o certo é que a nova estrutura dominante, com amplo controle do
Executivo e maioria tranquila do Congresso, está consciente de que necessita
fazer algo de concreto e urgente no sentido das reformas. A primeira
providência será mesmo a de votar o projeto do Deputado Aziz Badra que
possibilita a reforma agrária sem necessidade de alterar a Constituição. O PTB
vai opor-se ao projeto, por considera-lo mistificador. Partindo rapidamente
para a desmobilização dos espíritos, para a instauração de uma atmosfera mais
tranquila e para a votação de alguns projetos reformistas, o novo governo visa
a diluir a imagem do presidente deposto. Está receoso de que o imobilismo ou
uma posição conservadora possam fazer crescer perigosamente uma imagem de
saudosismo. A sombra que se projeta do Sul leva o novo governo a empenhar-se na
sua rápida dissipação. (Imagens 34 e 35)
Quando o Governador Magalhães Pinto, em Minas convocou a
nação para o movimento revolucionário, as tropas do II Exército começaram a
marchar, de São Paulo, para o vale do Paraíba. De Minas, convergiam para o
Estado do Rio outras forças. Tudo fazia prever uma verdadeira hecatombe, ao
longo do vale do Paraíba, se a ordem de fogo chegasse a ser dada. Todas as
tropas em marcha eram de elite, aparelhadas com armas modernas.
Na fria manhã, os transportes militares avançavam pelo
planalto, conduzindo homens dispostos a invadir o Estado da Guanabara.
Patrulhas avançadas tomam posição para garantir o avanço do II Exército.
Embaixo composições ferroviárias conduzem tanques e jipes de São Paulo, para o
vale do Paraíba. (Imagens 36 e 37)
Eles vêm de Juiz de Fora e de São João Del Rei para o vale
da Paraíba, sob o comando do General Murici. Em determinado momento, o choque
pareceu inevitável: foi quando as forças que partiram do Rio ocuparam Areal, a
3 km das linhas avançadas dos mineiros. (Imagem 38)
Carros de combate da força comandada pelo General Murici
chegam ao ponto de quase estabelecer contato com os carros blindados do General
Cunha Melo. Mas estes regressaram, ao verem a disposição de luta dos mineiros. Enquanto
as forças de São Paulo seguiam na direção da Guanabara, já em território
fluminense, as que vinham de Minas Gerais, comandadas pelo General Murici,
também progrediam rumo ao Rio.
Os mineiros eram 15 mil homens, fortemente armados e
municiados, pertencentes, em sua maioria, às guarnições de Juiz de Fora e de
São João Del Rei. A perspectiva era de um encontro de tragédia consequências,
entre essas tropas e as paulistas, contra as que tinham partido em defesa do
governo João Goulart, comandadas pelo General Cunha Melo. Reuniam essas tropas
o Regimento Sampaio, de gloriosas tradições, e o 1º Batalhão de Caçadores, de
Petrópolis. Mas todos os contingentes em manobras acabaram por se congraçar,
evitando à hecatombe e encontrando uma saída sem sangue para a crise. Nas
imediações do vale da Paraíba (na frente mineira) oficiais confabularam sobre a
atitude de assumir. Na foto acima poderosas peças de artilharia prontas para
entrar em ação. Se tivesse havido resistência, a guerra civil começaria.
(Imagem 39)
O General Amauri Kruel, comandante do II Exército, passou
em revista os cadetes e prestou continência a bandeira da tradicional Academia
de Agulhas Negras, que já havia, aliás, ocupado. (Imagem 40)
Em seu breve encontro com Morais Âncora em Resende foi
decisivo. Assim, em Resende, o General Kruel teve uma grata surpresa: os 600
cadetes da Academia Militar de Agulhas Negras aderiram ao II Exército e, de metralhadora,
dominavam a rodovia. Depois, ali chegou de automóvel, o recém-empossado
ministro da Guerra, General Morais Âncora. Tiveram, os dois, um breve encontro.
“O senhor veio apenas me dizer boa noite!
Já não é mais ministro e não pense em resistir!”.
Disse-lhe Kruel. O General Morais Âncora fez meia volta e
regressou. Sua tropa, que estacionara a 30 km de Resende, regressou também,
inclinando-se à vitória da rebelião.
Flagrante da histórica reunião entre o General Kruel (ao
centro) e o General Morais Âncora (à direita), último ministro da Guerra de
Jango, estando também presente o General Aluísio Miranda Mendes, que exerce a
função de comandante da Segunda Divisão de Infantaria. À esquerda: General
Emílio Garrastazu Médici, comandante da Escola Militar de Agulhas Negras,
escolta o General Morais Âncora à porta do estabelecimento. Em cima: o
comandante do II Exército, General Amauri Kruel, em palestra com outros
generais, em Resende. (Imagem 41) (Continua...)
(*) Hiram Reis
e Silva é Canoeiro, Coronel de Engenharia, Analista de Sistemas, Professor,
Palestrante, Historiador, Escritor e Colunista;
Campeão do II Circuito
de Canoagem do Mato Grosso do Sul (1989)
Ex-Professor do Colégio
Militar de Porto Alegre (CMPA);
Ex-Pesquisador do Departamento
de Educação e Cultura do Exército (DECEx);
Ex-Presidente do
Instituto dos Docentes do Magistério Militar – RS (IDMM – RS);
Ex-Membro do 4°
Grupamento de Engenharia do Comando Militar do Sul (CMS)
Presidente da Sociedade
de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS);
Membro da Academia de
História Militar Terrestre do Brasil – RS (AHIMTB – RS);
Membro do Instituto de
História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS – RS);
Membro da Academia de
Letras do Estado de Rondônia (ACLER – RO)
Membro da Academia
Vilhenense de Letras (AVL – RO);
Comendador da Academia
Maçônica de Letras do Rio Grande do Sul (AMLERS)
Colaborador Emérito da
Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG).
Colaborador Emérito da
Liga de Defesa Nacional (LDN).
E-mail: hiramrsilva@gmail.com.
Galeria de Imagens
* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – X
Bagé, 20.12.2024 Continuando engarupado na memória: Tribuna da Imprensa n° 3.184, Rio, RJSexta-feira, 25.10.1963 Sindicâncias do Sequestro dão e
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Silva, Bagé, 11.12.2024 Continuando engarupado na memória: Jornal do Brasil n° 224, Rio de Janeiro, RJ Quarta-feira, 25.09.1963 Lei das Selvas T
Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – IV
Bagé, 06.12.2024 Continuando engarupado na memória: Jornal do Brasil n° 186, Rio de Janeiro, RJSábado, 10.08.1963 Lacerda diz na CPI que Pressõessã
Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – III
Bagé, 02.12.2024 Continuando engarupado na memória: Jornal do Brasil n° 177, Rio de Janeiro, RJQuarta-feira, 31.07.1963 JB na Mira O jornalista H