Contrarrevolução de 64 – Parte III

Bagé, 17.05.2024

Diário de Notícias n° 12.678, Rio de Janeiro, RJ

Sexta-feira, 20.03.1964

Repúdio à Intervenção e ao Golpe

Nação Contra o Golpe

Constituiu um acontecimento da maior expressão da vida nacional a “marcha da família, com Deus e pela Liberdade”, realizada ontem em São Paulo, que respondeu nas ruas, com manifestação inédita no País, às terríveis ameaças de subversão do regime e de uma despropositada e provocadora intervenção no Estado, que é um modelo de pujança e de trabalho para o Brasil e para as Américas.

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Centenas de milhares de pessoas desfilaram pelas avenidas paulistanas, numa demonstração admirável de protesto da família brasileira, a que não faltou cunho popular em vulto impressionante, contra a tentativa de estrangulamento das liberdades asseguradas pela Constituição, desde o comício do dia 13 gravemente ameaçadas.

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Assinala-se o contraste desse grandioso espetáculo com o triste e desprimoroso quadro do comício da praça fronteira à Central do Brasil, onde a ousada minoria ativista dos inimigos das instituições democráticas representativas, encorajada pela presença e a cumplicidade do presidente da República, e com a ajuda do governo em recursos de toda ordem, desfechou os mais rudes ataques ao Congresso Nacional. Essa “marcha” de São Paulo vem demonstrar que não será fácil, como alguns poderiam pensar, a derrubada das instituições tramada desde muito e, na última semana, posta afoitamente em ação como se, neste País, estivéssemos todos anestesiados pela sistemática pregação subversiva inspirada pela conduta calculadamente omissa do próprio governo.

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Enganam-se redondamente os que imaginam golpear a democracia, em nossa terra, seja através da substituição do poder soberano do Congresso pela pelegada sindical, seja pela instauração pura e simples, no Brasil, de um regime idêntico e paralelo ao dos países sovietizados.

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A prova disso aí está na gigantesca concentração de São Paulo, a que se soma o importante discurso ali pronunciado pelo sr. Auro de Moura Andrade presidente do Congresso Nacional.

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A memória dos brasileiros não se acha tão embotada para que não se guarde mais lembrança dos idos de 1937. A linguagem dos oradores do dia 13 não engana ninguém.

Nem a do próprio sr. João Goulart, já que a usada pelo seu cunhado extravasou dos limites permissíveis da lei de Segurança Nacional.

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E não se iludam os extremistas vermelhos, nem tampouco aqueles que pretendem utilizá-los na aventura de conquista do poder pessoal e discricionário. A Nação inteira, por suas forças mais atuantes, por seus elementos de representação legítima e autêntica, ergue-se contra o aventureirismo golpista.

Um Milhão de Pessoas na “Marcha da Família”

SÃO PAULO, 19 [Sucursal] – “Todos viemos aqui para dizer ao Brasil que estamos alerta, que os democratas não permitirão que os comunistas sejam donos da Pátria” –exclamou o Senador Auro de Moura Andrade, em um discurso entrecortado de aplausos calorosos, na concentração-monstro, em que culminou a “Marcha da Família com Deus pela Liberdade”, e diante de uma multidão de cerca de um milhão de pessoas, vindas de vários Estados brasileiros.

A opinião dominante é de que São Paulo viveu, hoje, emocionante página de sua História. Homens, mulheres, crianças, operários de todas as categorias, estudantes de todas as escolas, saíram às ruas para a “Marcha da Família”, sob intensa vibração, cantando unissonamente, e empunhando centenas de faixas, da praça da República até a praça da Sé, onde foi lida a “Oração da Mulher Paulista” e ouvidos os oradores.

Diário de Notícias n° 12.679, Rio de Janeiro, RJ

Sábado, 21.03.1964

Defesa da Constituição Parágrafo por Parágrafo, Letra por Letra

São Paulo é Verde-Amarelo Sem Foice e Sem Martelo

Atentado Contra o Congresso Causará a Guerra Fratricida

A reação contra as ameaças à Constituição, ao Congresso e ao regime continuou em franca ampliação durante o dia de ontem. Em Minas, o Governador Magalhães Pinto lançou um manifesto contra “a revolução comandada de cima”, afirmando que o povo não reconhece autenticidade nos que se dizem donos das reformas de base e delas se utilizam para a agitação, visando “a perpetuar grupos ou pessoas no poder”.

Frisou, ainda, que a aventura de suprimir-se qualquer dos mandatos e o Congresso, nos levará “fatalmente à guerra fratricida”, causando a ruína da Pátria e o retardamento da libertação econômica, social e política. Enquanto isso, os Governadores Carlos Lacerda e Ademar de Barros acertaram: “Quem atacar o Rio ou São Paulo terá resposta do País inteiro”.

Por outro lado, no Rio Grande do Sul, todos os partidos políticos lançaram um manifesto alertando o País contra os golpistas, e o Deputado José Maria Alkmim [PSD] afirmou a dirigentes empresariais que, “se derem execução a planos subversivos, mostraremos o sacrifício a que estamos dispostos”. A Ordem dos Advogados do Brasil, por sua vez, lançou um manifesto à Nação.

(*) Hiram Reis e Silva é Canoeiro, Coronel de Engenharia, Analista de Sistemas, Professor, Palestrante, Historiador, Escritor e Colunista;

Campeão do II Circuito de Canoagem do Mato Grosso do Sul (1989);

Ex-Vice-Presidente da Federação de Canoagem de Mato Grosso do Sul;

Ex-Professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA);

Ex-Pesquisador do Departamento de Educação e Cultura do Exército (DECEx);

Ex-Presidente do Instituto dos Docentes do Magistério Militar – RS (IDMM – RS);

Ex-Vice-Presidente da Federação de Canoagem de Mato Grosso do Sul;

Ex-Membro do 4° Grupamento de Engenharia do Comando Militar do Sul (CMS);

Ex-Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS);

Membro da Academia de História Militar Terrestre do Brasil – RS (AHIMTB – RS);

Membro do Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS – RS);

Membro da Academia de Letras do Estado de Rondônia (ACLER – RO);

Membro da Academia Vilhenense de Letras (AVL – RO);

Comendador da Academia Maçônica de Letras do Rio Grande do Sul (AMLERS);

Colaborador Emérito da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG);

Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional (LDN);

Membro do Instituto Histórico e Geográfico do Tapajós (IHGTAP)

E-mail: hiramrsilva@gmail.com.