Segunda-feira, 20 de maio de 2024 - 10h20
Bagé,
20.05.2024
Diário de Notícias n° 12.680, Rio de Janeiro, RJ
Domingo, 22 e Segunda, 23.03.1964
Repudiemos sem
Vacilações o Comunismo que Jamais Empolgará o Povo Brasileiro
Consagrado pelo povo numa autêntica
apoteose, nas escadarias cio Palácio Tiradentes, já como candidato oficial do
PSD à presidência da República, o sr. Juscelino Kubitschek se dirigiu, ontem, à
Nação para afirmar ser favorável à reforma Constitucional, na qual, porém, “não se permita que a desapropriação tenha o
caráter de confisco e deixe de assegurar o direito de propriedade”. Disse,
mais adiante:
Julgo meu dever
conclamar meus correligionários para que retirem a reforma agrária do terreno da
agitação e da polêmica e a examinem à luz da razão e dos interesses superiores
do povo.
E acentuou que:
Ela não pode
consistir somente numa redistribuição de terra, nem apenas em melhoria de
crédito e maior assistência técnica. Tem de abranger ambas as coisas e levar à
extinção o latifúndio improdutivo.
A certa altura, frisou o senador
Kubitschek:
Tranquilize-se o
fazendeiro, o proprietário, o trabalhador rural. Um governo reformista não quer
dizer um governo ameaçador e subversivo, sobretudo quando se considera o passado
do candidato.
Em outro trecho, assinalou:
Fala-se muito hoje em
radicalizações. Também radicalizado estou na luta pela sobrevivência da
democracia em nosso País. Não permitamos que a Nação seja arrastada ao duelo
inglório dos extremistas da direita e da esquerda. Repudiemos sem vacilações o
comunismo, que jamais logrará empolgar nosso povo livre e cristão. Repudiemos
igualmente o reacionarismo intolerante em que se acastelam os falsos salvadores
da democracia.
Nação
em Alerta
A esta hora, o sr. João Goulart e o
grupo que o cerca, controla e conduz já devem estar conscientes de urna
realidade: a de que a Nação está alerta, e não será fácil, quaisquer que sejam
os pretextos invocados, levar avante um plano que, resulte na queda das
Instituições do Regime representativo e das liberdades democráticas.
A Nação está alerta. Será inútil pretenderem
que é a reação que se levanta, que é a direita em pânico, que são os fascistas
em ação.
Acima das facções e das correntes, o
sue se põe agora vigilante é o povo brasileiro, a imensa massa do povo
brasileiro, que não é de esquerda nem de direita; que não é fascista nem
comunista; que não é reacionário, mas progressista, liberal e avançado, como tem
demonstrado em toda a sua história.
É esse povo que se vê ameaçado pelas
manobras em curso, manobras em que se invoca o seu nome e se pretende defender
seus interesses mas que, na realidade, objetivam suprimir-lhe as liberdades,
abolir-lhe os direitos e as prerrogativas, mergulhá-lo novamente nas trevas do
poder pessoal de urna ditadura totalitária, em que a própria dignidade humana é
sacrificada ao sectarismo e ao ódio.
YYY
É inegável, é irrecusável que existe um
processo de subversão claramente delineado para atentar contra o regime e as instituições.
Mais ainda. Sabe-se quais são os manobreiros, os estrategos e es táticos do
movimento, pois não conspiram às ocultas, tão seguros se encontram, que se mostram
em palanques e nos altos postos. Os “slogans”,
as palavras de ordem são também vulgarizadas. A ação é audaciosa, à luz do dia,
crescente e intensiva. O que singulariza a situação brasileira é que aqui esses
grupos parecem terem conseguido empolgar o próprio presidente
da República, contar com o seu apoio e
levá-lo no primeiro tempo à testa do processo subversivo, de oposição à lei, ao
regime e à Constituição, levado talvez por irreprimível vocação
caudilhesca, na sua tradição missioneira, ou constrangido por esses grupos
suspeitos, o presidente afoita-se por caminhos que não levam a bom lugar.
YYY
Se a suprema autoridade do Poder Executivo
opõe-se à Constituição, condena o regime
e deixa de cumprir as leis, perde automaticamente
o direito de ser respeitado e de ser obedecido, surgindo o caos e a anarquia.
Porque esse direito dimana exclusivamente da Constituição. As próprias Forças
Armadas, destinadas, pelo art. 177 da Carta Magna, “a defender a Pátria e a garantir os poderes constitucionais, a lei e a
ordem”, só estão subordinadas à autoridade suprema do presidente da
República, por força da mesma Constituição. É somente a Constituição que lhes
ordena obedecer ao presidente.
Se a Constituição “não vale” [como querem em seu
primarismo, o sr. João Goulart e seu cunhado] como o presidente poderá comandar
ainda as Forças Armadas?
YYY
O pretexto para a ação subversiva em
processo é a necessidade de certas reformas fundamentais em nossa estrutura, sobretudo
a reforma agrária. Visam essencialmente a corrigir aspectos alarmantes da
injustiça social.
A necessidade de certas reformas [salvo
as de caráter puramente eleitoreiro, que se estão procurando insinuar entre as
legítimas] é um ponto praticamente pacífico. As reformas, as justas reformas
serão feitas. Mas pela forma legal e democrática, através do Congresso
Nacional, como único representante legítimo do povo. A “onda” com pretexto e por causa das reformas tem caráter suspeito.
Não é honesto nem decoroso, portanto,
que o presidente da República venha à praça pública, estentórico como qualquer
mitingueiro profissional, berrar pela necessidade das reformas e querer lançar
o povo contra o Congresso, com pretexto nessas reformas.
Quando ele se deslumbra provincianamente
com o comparecimento de uma multidão num comício mussolínico, trabalhosamente
arranjado, com condução e outras facilidades, e pensa “O Povo está conosco!” – lembremos-lhe a genial distinção que fez
Vítor Hugo, numa página de “Os Miseráveis”
– “A multidão é traidora ao povo”.
Multidão não é povo.
YYY
O Congresso é a única representação
legítima do povo, como um todo, em todas as suas faixas de opinião e de sentimento.
É um microcosmo, uma miniatura, um espelho em que o povo se reflete. Por isso,
o Congresso não pode ser todo puro e perfeito – porque puro e perfeito não é
todo o povo. Se há elementos nocivos no seio do
Congresso, é porque os há também no seio do povo, do eleitorado. Mas a maior parte é digna,
como é digna a maior parte do povo. Este é um princípio que deve ser fixado.
Investir, portanto, contra o
Congresso, como estão fazendo não somente agitadores profissionais, mas o
próprio chefe do Executivo e seus adeptos mais chegados, não é apenas um crime
contra as instituições – é um atentado ao povo. Nenhum brasileiro concordará
com isso. E não o permitiremos, Por isto que estamos em alerta.
(*) Hiram Reis e Silva é Canoeiro, Coronel de
Engenharia, Analista de Sistemas, Professor, Palestrante, Historiador, Escritor
e Colunista;
Campeão do II Circuito de Canoagem do Mato Grosso do
Sul (1989);
Ex-Vice-Presidente da Federação de Canoagem de Mato
Grosso do Sul;
Ex-Professor do Colégio Militar de Porto Alegre
(CMPA);
Ex-Pesquisador do Departamento de Educação e Cultura
do Exército (DECEx);
Ex-Presidente do Instituto dos Docentes do Magistério
Militar – RS (IDMM – RS);
Ex-Vice-Presidente da Federação de Canoagem de Mato
Grosso do Sul;
Ex-Membro do 4° Grupamento de Engenharia do Comando
Militar do Sul (CMS);
Ex-Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia
Brasileira (SAMBRAS);
Membro da Academia de História Militar Terrestre do
Brasil – RS (AHIMTB – RS);
Membro do Instituto de História e Tradições do Rio
Grande do Sul (IHTRGS – RS);
Membro da Academia de Letras do Estado de Rondônia
(ACLER – RO);
Membro da Academia Vilhenense de Letras (AVL – RO);
Comendador da Academia Maçônica de Letras do Rio
Grande do Sul (AMLERS);
Colaborador Emérito da Associação dos Diplomados da
Escola Superior de Guerra (ADESG);
Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional (LDN);
Membro do Instituto Histórico e Geográfico do Tapajós
(IHGTAP)
E-mail: hiramrsilva@gmail.com.
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