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Gente de Opinião

Hiram Reis e Silva

Contrarrevolução de 64 – Parte VII


Contrarrevolução de 64 – Parte VII - Gente de Opinião

Bagé, 27.05.2024

 

Diário de Notícias n° 12.686, Rio de Janeiro, RJ

Terça-feira, 31.03.1964

“Che” Guevara Anuncia:
Vitória do Brasil Está Por Pouco

Minas Gerais Levanta-se: Está em
Causa a Democracia

Goulart: o meu Governo Jamais
Pretendeu Fechar o Congresso

 

O presidente da República, que ontem mesmo embarcou para Brasília, declarou, à noite, no Automóvel Clube, que “o Golpe que desejamos é o golpe democrático das reformas”, acrescentando que “não queremos o Congresso fechado; ao contrário, queremo-lo de portas abertas, e deputados sensíveis às reivindicações do povo brasileiro, que eles representam e tem o dever de defender”.

 

O sr. João Goulart falou durante uma hora e cinquenta minutos, demorando-se em explicações religiosas, em citações dos Papas e no panegírico de Dom Helder Câmara e de Dom Carmelo de Vasconcelos Mota.

 

No seu ataque aos que lhe fazem oposição, externou a preocupação de tudo fazer para esvaziar a “Marcha da Família com Deus pela Liberdade”, localizando as áreas de resistência ao golpe contra as instituições nos grandes proprietários, nos donos de refinarias, no IBAD, etc. A certa altura, afirmou que políticos que pregavam o ódio, unidos a governantes os mais corruptos da história política do País, estão infringindo o segundo mandamento da Lei de Deus.

 

O “Diário de Notícias”, logo depois do discurso, cerca das 24 horas procurou ouvir Dom Helder Câmara sobre a referência que lhe fizera o sr. João Goulart, mas o novo Arcebispo de Olinda e Recife não foi encontrado nem em casa, nem nas residências das pessoas de sua amizade.

 

Hora de Decisão

 

Está vivendo o País uma hora decisiva. Ou soçobra, de vez, a democracia, com a derrocada do que ainda resta por salvar, ou reage a Nação e faz valer a Lei e a Ordem, dentro das regras constitucionais. É a própria Constituição que está em jogo e está rudemente ameaçada.

 

O presidente da República coloca-se em posição frontalmente contrária a que lhe compete, como autoridade suprema do Executivo e, nessa qualidade, guardião dos princípios básicos sobre os quais se alicerçam as instituições democráticas. Afasta-se deliberadamente de seus deveres legais, acobertando movimentos conduzidos pela liderança comunista numa aventura que poderá levar o País ao imprevisível.

 

A decisão é portanto, impositiva, inadiável. A opção é definitiva.

 

YYY

 

Mais uma vez, faz-se ouvir a voz do Senador Magalhães Pinto, figura infensa a radicalizações, contra as quais se manifestou recentemente com o equilíbrio e senso de medida que o marcam singularmente no cenário da vida pública brasileira.

 

E o que diz agora o Governador de Minas Gerais, em face dos acontecimentos atuais? O mesmo que, em coro, numa unanimidade que não admite dúvidas nem reservas, dizem e pensam todos quantos não integram a ínfima minoria empenhada na subversão do regime.

 

Os fatos que abalaram a Marinha não podem ser encarados simplesmente como um episódio interno da disciplina que precisa ser mantida no seio das Forças Armadas. Neles estão em causa os fundamentos do regime democrático, que tem no respeito à disciplina e à hierarquia militares os elementos específicos de sua segurança.

 

O protesto do Almirantado, secundado pela esmagadora maioria da oficialidade naval, não pode de modo algum neste momento ser considerado como manifestação de indisciplina e rebeldia. Se o presidente da República coonesta e se cumplicia com a insubordinação, então o que esperar das mais altas autoridades responsáveis da Marinha senão essa manifestação que objetiva a repor a ordem onde ela foi duramente ofendida?

 

YYY

 

Já não podem ser aceitas, a esta altura, medidas de termo médio.

 

Não basta, absolutamente, que o presidente da República, como foi anunciado, retire o Almirante Aragão, temporariamente, das funções que ele vem de há muito deslustrando. Trata-se de uma figura inteiramente comprometida com a subversão e a baderna disciplinar.

 

Para reconstituir a Marinha na integridade hierárquica, para repô-la onde lhe compete, no conjunto das Forças Ramadas, com seus brios salvaguardados, terá o governo de alterar substancialmente tudo o que fez até agora, não apenas no caso de motim de quinta-feira, mas também na política de desmoralização dos escalões superiores da hierarquia.

 

Não se porte sob forma nenhuma pactuar com a inversão de todas as normas e princípios que dão sentido e base à ordem institucional. Ainda há uma porta de saída aberta para o presidente. Não vá ele por insensato ou temerário expor mais longe o País e seu povo já tão castigados pela inépcia, pela incompetência, a cupidez e o divisionisme do seu governo. Já não engana a ninguém. É inútil continuar jogando areia nos olhos do público. O que há de bom é dele, de mau é das estruturas que o Congresso quer reformar.

 

Pois as reformas virão, hão de vir, não podem deixar de vir. E então, já sem o biombo da mistificação e do empulhamento. O sr. João Goulart ficará diante de todos tal como ele é, na sua verdadeira dimensão como chefe de Governo, na sua exata proporção de estadista e homem público, na sua efetiva estatura de político e como tal passará à história – o homem que infelicitou o Brasil, que tirou o sorriso e a verve do seu povo e quase lhe tira a esperança.


 

(*) Hiram Reis e Silva é Canoeiro, Coronel de Engenharia, Analista de Sistemas, Professor, Palestrante, Historiador, Escritor e Colunista;

 

Campeão do II Circuito de Canoagem do Mato Grosso do Sul (1989);

Ex-Vice-Presidente da Federação de Canoagem de Mato Grosso do Sul;

Ex-Professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA);

Ex-Pesquisador do Departamento de Educação e Cultura do Exército (DECEx);

Ex-Presidente do Instituto dos Docentes do Magistério Militar – RS (IDMM – RS);

Ex-Vice-Presidente da Federação de Canoagem de Mato Grosso do Sul;

Ex-Membro do 4° Grupamento de Engenharia do Comando Militar do Sul (CMS);

Ex-Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS);

Membro da Academia de História Militar Terrestre do Brasil – RS (AHIMTB – RS);

Membro do Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS – RS);

Membro da Academia de Letras do Estado de Rondônia (ACLER – RO);

Membro da Academia Vilhenense de Letras (AVL – RO);

Comendador da Academia Maçônica de Letras do Rio Grande do Sul (AMLERS);

Colaborador Emérito da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG);

Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional (LDN);

Membro do Instituto Histórico e Geográfico do Tapajós (IHGTAP)

E-mail: hiramrsilva@gmail.com.

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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