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Hiram Reis e Silva

Contrarrevolução de 64 – Parte X


04.04.1964 - Revista Manchete n° 624b - Gente de Opinião
04.04.1964 - Revista Manchete n° 624b

Bagé, 03.06.2024

 

Sei que há um esquerdismo, infelizmente dominante entre nós, que não apenas vive dos conflitos que gera, mas para o qual o patriotismo é tiro no pé da revolução proletária internacional. O grito do Manifesto Comunista – “Proletários de todos os países, uni-vos!” – cruzou o século passado e continua a suscitar o interesse na derrubada de fronteiras. O vermelho da revolução não combina com as cores de outras bandeiras.

 

Não é apenas na vilania das práticas políticas que a nação vai sendo abusada e corrompida. Também no ataque frontal às mentes infantis (!), nos costumes e no desprezo à ética, à verdade e aos valores perenes, sem esquecer o trabalho dos catadores do lixo histórico dedicados a despejar seus monturos nas salas de aula, suscitando maus sentimentos aos pequenos brasileiros. Também nas novelas, na cultura, nas artes. Nas aspirações individuais e nas perspectivas de vida. Incitaram o conflito racial numa nação mestiça desde os primórdios. À medida que Deus vai sendo expulso, por interditos judiciais e galhofas sociais, instala-se, no Brasil, cheirando a enxofre, o tipo de soberano que se vê pela TV.
(Percival Puggina – Em Defesa da Liberdade de Expressão)

 

Vamos repercutir, a partir de agora, uma série de reportagens da Revista “Manchete”, do Rio de Janeiro.

 

Manchete n° 624, Rio de Janeiro, RJ

Sábado, 04.04.1964

... E o Povo Voltou a Sorrir

 

O Brasil jamais assistiu, em toda a sua história a tão colossal demonstração coletiva de fé na democracia como a “Marcha da Família com Deus Pela Liberdade”, realizada em São Paulo, na última semana. Cerca de 500 mil pessoas, irmanadas em defesa da legalidade, ocuparam as ruas centrais da capital do estado, num cortejo impressionante, que se estendeu desde a Praça da Sé, ponto do palanque oficial, até a Praça da República. Diversos oradores foram ovacionados pela multidão, enquanto uma proclamação dirigida ao povo brasileiro dizia:

 

Fiéis às nossas religiões, fiéis à nossa Constituição, fiéis à nossa pátria – construiremos o Brasil autêntico, livre, forte e feliz!

04.04.1964 - Revista Manchete n° 624c - Gente de Opinião
04.04.1964 - Revista Manchete n° 624c

O Senador Auro Moura Andrade afirmou em seu discur­so:

 

Hoje é um dia importante na história do Brasil. Hoje o povo foi às ruas para manifestar sua confiança nos destinos da democracia.

 

Além de delegações de todos os municípios paulistas, participaram da marcha representações de diversos estados brasileiros. Políticos, militares e religiosos de todos os credos estiveram presentes à monumental passeata em defesa da legalidade e o Governador Ademar de Barros fez-se representar por D. Leonor Mendes de Barros, primeira dama do estado. Ao dar entrada na Praça da Sé, o Senador Padre Calazans foi recebido com toques de clarins. Aclamado pela multidão, afirmou em seu discurso:

 

O povo aqui está, reunido em praça pública, para afirmar que, se preciso, lutará pela sua liberdade.

 

Durante a impressionante marcha foi lida uma oração da mulher paulista ao Padre José de Anchieta, que dizia no final:

 

Que sob os céus da Pátria não tremulem outros pavilhões senão o da Paz, o da Fé e o das liberdades democráticas.

04.04.1964 - Revista Manchete n° 624d - Gente de Opinião
04.04.1964 - Revista Manchete n° 624d

Assim Falou Lacerda Numa Entrevista a
Oto Lara Resende, exclusiva para Manchete

 

Ninguém mais pode ter dúvida de que o Sr. João Goulart não quer eleições. O comício do dia 13, na Central do Brasil, prestou este serviço à nação: desvendou por inteiro as intenções e as ambições dos que desejam perpetuar-se no poder. O que se está procurando instaurar no Brasil é um fascismo sem a ordem. Aquela ordem dos trens nos horários, das ruas limpas, etc.

 

O que o governo fez outro dia foi montar um show totalitário, um espetáculo demagógico, com o anúncio de medidas que não resistem a uma análise. O Sr. João Goulart está pensando que pode utilizar os comunistas, pondo-os a serviço de seu plano de perpetuação no poder. Mas os comunistas é que o estão usando. Eles têm uma ideologia e uma técnica de ação muito superiores às habilidades e às manhas do Sr. Goulart.

 

No fundo, estão achando que podem repetir 1937. O Sr. Goulart só pensa nisso. Aceita a aliança dos comunistas, que por sua vez obedecem à linha do PC traçada em Moscou para a América Latina. Os comunistas agora não combatem o caudilhismo, como antigamente; associam-se a ele, para, com o seu apoio, instalar-se no poder. Também não combatem a corrupção, que é, como o caudilhismo, outra doença social da América Latina.

 

Preferem, hoje, usar a corrupção, botá-la a serviço de suas ambições totalitárias. E encontram, a seu dispor, um presidente da República que se deixa colonizar por eles. No momento em que tanto se fala em autodeter­minação, independência e descolonização, temos um presidente colonizado pelos comunistas. Seria bom que ele começasse as reformas que apregoa pela sua própria libertação. Ao que tudo indica, porém, o Sr. Goulart aceita docilmente, e submisso, a orientação, a colonização mental do Partido Comunista, na expectativa talvez de, mais tarde, libertar-se dela, quando espera aliar-se à primeira meia dúzia de burgueses apavorados que se disponham a atender a um seu aceno de acordo e aliança para salvar a Pátria.

 

Então teremos o caudilhismo sem máscara, apenas demagógico, a pretexto de reformular, como eles dizem, as estruturas da nação. O que está se passando no Brasil é evidente e monótono. Ninguém tem o direito de se enganar. É como se os comunistas, na Argentina, tivessem se entendido com Perón ainda no poder. Lá, peronistas e comunistas aliaram-se para voltar ao poder, depois que o ditador foi escorraçado. Aqui, o Sr. Goulart se alia aos comunistas para permanecer no governo, para usurpá-lo.

 

O Partido Comunista ainda está fora da lei, mas já está no poder. Serve-se para isto de toda sorte de carreiristas e oportunistas. Um carreirista leva, por exemplo, os comunistas para o Ministério da Educação. Depois, acontece que o carreirista sai do Ministério, mas os comunistas ficam. Veja o caso do livro único. A pretexto de baratear o livro escolar, o que é certo e necessário, o que se pretende é uma medida totalitária. Já estão reescrevendo a História do Brasil.

04.04.1964 - Revista Manchete n° 624a - Gente de Opinião
04.04.1964 - Revista Manchete n° 624a

Daqui a pouco, a nossa História não terá datas nem, nomes, nem batalhas, nem episódios. Só terá ideologia – a rígida ideologia totalitária que os comunistas querem impor à juventude. Tudo está sendo feito às claras – e a pequena resistência que se opõe a esse plano em marcha é um grave sinal da intoxicação que já se inoculou no país. Com o comício da Central, o Sr. João Goulart abriu o jogo. Passou à ofensiva, como estão dizendo. Até o Sr. Juscelino Kubitschek perdeu praticamente o último grau de confiança que ainda poderia ter no Sr. Goulart. De público, oficialmente, o Sr. Juscelino ainda não ousa confessar que já não tem ilusões. Mas, particularmente, na intimidade, não faz segredo disso.

 

Quem é que está convencido de que o governo quer pre­sidir eleições livres? As Forças Armadas não acredi­tam, os candidatos não acreditam, os partidos e o Congresso não acreditam, o Judiciário não acredita, o Sr. Goulart e o cunhado também não. Ninguém acredita. O Sr. Goulart está agindo como um jogador. Se não mudar de rumo, ou consegue ser o ditador que pretende, ou cai. Se conseguir chegar à ditadura, também cairá, e quem sabe pelas mãos dos comunistas, seus aliados de agora, mas à espera de uma oportunidade para se livrarem dele.

 

Não quero bancar o profeta. Sem sair, porém, do terreno da lógica, não creio que o Sr. Goulart consiga repetir a asneira de 1937. O seu governo tem sido uma lástima, administrativamente nulo. Então, só pensa e só age no sentido de conservar uma liderança popular ativa, a golpes de demagogia. Digamos que ele consiga dominar os comunistas, obrigá-los a apoiar um candidato, qual­quer que seja. Neste caso, se sair direitinho do governo, como é que vai se apresentar ao povo com o passivo que já não pode ocultar da nação? (Continua...)

 

 

(*) Hiram Reis e Silva é Canoeiro, Coronel de Engenharia, Analista de Sistemas, Professor, Palestrante, Historiador, Escritor e Colunista;

 

Campeão do II Circuito de Canoagem do Mato Grosso do Sul (1989);

Ex-Vice-Presidente da Federação de Canoagem de Mato Grosso do Sul;

Ex-Professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA);

Ex-Pesquisador do Departamento de Educação e Cultura do Exército (DECEx);

Ex-Presidente do Instituto dos Docentes do Magistério Militar – RS (IDMM – RS);

Ex-Vice-Presidente da Federação de Canoagem de Mato Grosso do Sul;

Ex-Membro do 4° Grupamento de Engenharia do Comando Militar do Sul (CMS);

Ex-Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS);

Membro da Academia de História Militar Terrestre do Brasil – RS (AHIMTB – RS);

Membro do Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS – RS);

Membro da Academia de Letras do Estado de Rondônia (ACLER – RO);

Membro da Academia Vilhenense de Letras (AVL – RO);

Comendador da Academia Maçônica de Letras do Rio Grande do Sul (AMLERS);

Colaborador Emérito da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG);

Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional (LDN);

Membro do Instituto Histórico e Geográfico do Tapajós (IHGTAP)

E-mail: hiramrsilva@gmail.com.

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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