Quarta-feira, 12 de junho de 2024 - 09h15
Bagé,
12.06.2024
A Reforma Agrária não está, pois,
sendo colocada em função de seus verdadeiros objetivos. Está, sim, interessando
apenas agitar e sublevar para aumentar o poder do estado, como mero instrumento
de domínio político a serviço da usurpação do poder. Quem quer a Reforma
Agrária para valer somos nós, que a queremos em termos econômicos e também –
porque não? – patrimoniais, na medida que, como diria Karl Marx, o modo de
produção altera as relações de produção. Assim sendo, os marxistas que acaso apoiem
a Reforma Agrária da SUPRA são, no fundo, apenas oportunistas políticos e, no
seu oportunismo, não se detêm nem diante da deformação do marxismo... Se
alterarmos as relações entre o proprietário da terra e o colono ou meeiro, com
isto se altera todo um sistema de produção agrícola. Fora daí, o que há é
impostura.
Quem menos acredita nessa Reforma
Agrária do governo é o Sr. Luís Carlos Prestes. A melhor prova é que ele,
diante do decreto da SUPRA, pede para a desapropriação só alcançar as
propriedades acima de 500 hectares! Na Rússia, depois de matar milhões de
kulaes, o estado deixa na mão de proprietários 3% das propriedades agrícolas e
tanto basta para fornecer 50% da produção agrícola, segundo os dados fornecidos
pelo próprio Kruchev. Na Suécia, ao fazer-se a Reforma Agrária, o Governo
tratou logo de diminuir a população agrícola de 850 mil para 650 mil pessoas.
Um dos objetivos da Reforma Agrária é
sempre essa diminuição. O que há aqui, entre nós, é muita fantasia, como essa
história de cinturão verde. Há gente de boa-fé, há até discípulos de
Jean-Jacques Rousseau, pregando a volta à natureza... E há muito pernosticismo,
muito subdesenvolvimento cultural. Por isso mesmo se coloca a Reforma Agrária
em termos puramente demagógicos, como é o caso desse decreto da SUPRA. As
desapropriações podem ser feitas sem esse decreto. O que o decreto fez [ou não fez]
foi limitar as desapropriações a determinadas faixas de terra, mais nada. Diminuiu,
restringiu os poderes do Executivo.
O
Partido Comunista tem Razões
Para não Querer Reformas
O principal serro do desenvolvimento
econômico “marca Juscelino”, baseado
somente na emissão de dinheiro, é que desprezou a poupança nacional. Em consequência,
a poupança nacional, que já é considerável, fugiu para setores especulativos,
tentando montar todo um mecanismo de defesa contra os efeitos da inflação. O “desenvolvimentismo” desacreditou o
crédito público. Os investimentos que poderiam ter sido cobertos em grande
parte pela poupança privada tiveram de ser cobertos exclusivamente, ou quase
exclusivamente, por recursos do próprio estado, em parcela muito inferior à
receita dos impostos.
Em matéria de capital, prefiro estar
com aquela velha máxima de Marx, que o capital não tem Pátria. O que importa é
usá-lo, esteja onde estiver, em benefício de nossa Pátria. Não me interessa
saber se o capital é alemão, se é isto ou aquilo. O que me interessa é
obrigá-lo a produzir em favor do Brasil.
Não há dúvida de que devemos adotar um
estatuto para o capital estrangeiro. Não há inconveniente, antes pelo
contrário, em regular o fluxo de juros para fora. O capital estrangeiro só
entra nos Países de onde sabe que pode sair. Você bota dinheiro num banco
sabendo que, depois, você não pode retirá-lo? Mas se o banco tem liquidez,
então você bota cada vez mais dinheiro nele. A ideia de considerar o capital
como tendo Pátria é profundamente reacionária, tipo nacionalismo fascista, tipo
“Action Française”. O que desejo é
buscar o dinheiro onde ele estiver, trazer para cá, para aplicação naquilo que for
do interesse nacional, acomodando a volta dele ou de seus juros de acordo com
as nossas conveniências. Só rende juros o capital que aqui produz riqueza.
Quem é que se lembra hoje como se
chamavam a Estrada de Ferro Sorocabana, a Paulista, a Mogiana? No entanto,
foram estrangeiras, concessões, e ninguém mais se lembra, são brasileiras. Quem
é que se lembra daquele Lorde inglês que teve uma concessão de terras no
Noroeste do Paraná? Fez um mau negócio, por sinal, dividiu a terra e um grupo
brasileiro é que concluiu o trabalho, desbravando toda aquela região. O que há,
portanto, é que o governo Goulart não quer reformas. O Partido Comunista tem
uma boa razão para não desejar reformas. Ele acredita que pode promover o bem
da nação e da humanidade quando estiver no poder, quando estiver com o controle
total do poder. Então implantará a ditadura do partido único, para assim chegar
à felicidade geral. Ora, as reformas viriam retardar e até impedir o advento
desse domínio comunista, com o controle total do poder. Logo, se o PC apoia as
reformas que o governo está propondo é porque elas abrem caminho aos comunistas,
na medida em que não são feitas, ou que são malfeitas.
Há quem diga que é preciso combater a
miséria para combater o comunismo. De acordo. Mas há aí uma impostura, um contrassenso.
A verdade é que o Partido Comunista tem de ser combatido como um dos meios de
combater a miséria, uma vez que ele, enquanto não estiver no poder totalmente,
é interessado na miséria, é sócio dela. Ele faz tudo a seu alcance para agravar
a miséria, para torná-la irremediável. Os comunistas capitalizam com a miséria.
No Brasil, temos um governo que repele o diálogo com os democratas e estabelece
o diálogo com os comunistas. Na verdade, não quer o diálogo, porque começa por
dialogar com quem faz de monólogo o seu principal instrumento de ação. O que
propus aos demais candidatos foi uma forma de diálogo. Um entendimento para a
defesa das instituições e das eleições. Não menosprezo a força do Governo
Federal, a força do Dr. João Goulart, porque sei que o governo no Brasil é
forte. Até o meu governo estadual é forte. (Continua...)
(*) Hiram Reis e Silva é Canoeiro, Coronel de
Engenharia, Analista de Sistemas, Professor, Palestrante, Historiador, Escritor
e Colunista;
Campeão do II Circuito de Canoagem do Mato Grosso do
Sul (1989);
Ex-Vice-Presidente da Federação de Canoagem de Mato
Grosso do Sul;
Ex-Professor do Colégio Militar de Porto Alegre
(CMPA);
Ex-Pesquisador do Departamento de Educação e Cultura
do Exército (DECEx);
Ex-Presidente do Instituto dos Docentes do Magistério
Militar – RS (IDMM – RS);
Ex-Vice-Presidente da Federação de Canoagem de Mato
Grosso do Sul;
Ex-Membro do 4° Grupamento de Engenharia do Comando
Militar do Sul (CMS);
Ex-Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia
Brasileira (SAMBRAS);
Membro da Academia de História Militar Terrestre do
Brasil – RS (AHIMTB – RS);
Membro do Instituto de História e Tradições do Rio
Grande do Sul (IHTRGS – RS);
Membro da Academia de Letras do Estado de Rondônia
(ACLER – RO);
Membro da Academia Vilhenense de Letras (AVL – RO);
Comendador da Academia Maçônica de Letras do Rio
Grande do Sul (AMLERS);
Colaborador Emérito da Associação dos Diplomados da
Escola Superior de Guerra (ADESG);
Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional (LDN);
Membro do Instituto Histórico e Geográfico do Tapajós
(IHGTAP)
E-mail: hiramrsilva@gmail.com.
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