Quarta-feira, 11 de março de 2020 - 18h10
Bagé, RS, 11.03.2020
Diário da Noite, N° 262
Rio de Janeiro, RJ ‒ Segunda-feira, 11.08.1930
Às Zonas mais Desconhecidas
da América do Sul
Partiu Hoje, à Tarde, pelo “Santos”, a Comissão de Limites Entre o Brasil e a Venezuela ‒
Interessantes Informações Prestadas pelo Chefe Dessa Comissão, Cmt Braz Aguiar
Embarcou hoje, a bordo do paquete “Santos”, com destino a Manaus, de onde partirá para as nossas
fronteiras com a Venezuela, a Comissão Brasileira de limites, que vai
definitivamente demarcar e fixar as linhas divisórias entre os dois Países. É
chefe dessa importante Comissão o Comandante Braz Dias de Aguiar, de nossa
Marinha, de Guerra, que já tem feito parte de outras Comissões de Limites.
O Diário da Noite
No intuito de colher alguns informes sobre os trabalhos
já realizados naquela fronteira, que ademais se revestem de especial
importância, sabido que se trata de uma zona ainda completamente desconhecida e
habitada por selvagens, procurou aquele distinto oficial em sua residência,
pela manhã, quando ainda ultimava os preparativos de sua viagem. Inteirado dos
motivos de nossa visita, o Cmt Braz Dias de Aguiar prestou-se gentilmente a nos
satisfazer a curiosidade:
Os
Fins da Comissão
A
presente Comissão destina-se a demarcar as linhas divisórias entre o Brasil e a
Venezuela, de acordo com o que determina o último protocolo, assinado na gestão
do Chancelar Octávio Mangabeira. Com esse objetivo já iniciamos os trabalhos em
fins do ano passado, suspendendo-os em fevereiro último, em virtude da estação
de águas e enchentes. Trata-se da demarcação da linha geodésica desde o Cucuí
ao Saco de Uná, ou seja, uma extensão mais ou menos de 1.300 quilômetros de uma
zona desconhecida, talvez a mais desconhecida da América do Sul.
As
explorações nessa zona, sobre as vertentes, são penosíssimas. Para realiza-las
determinei que uma parte da missão subisse o Rio Canabury e outra o Padoahyry,
para reinício dos trabalhos. Os trabalhos de que se tem notícia na parte Oeste
dessa zona, são os da Comissão Venezuelana de 1889, que determinou as linhas
do Cucuí ao Oeste, parte essa perdida para a Colômbia. O Gen Dionysio, na
Comissão de 80, atingiu ao Cucuí, enquanto que na parte Leste, em 1927, o
Capitão Polydoro, da Comissão Rondon, subiu ao Urariquera, até a serra de
Parima. Atravessar as vertentes das cordilheiras que distam daquela serra 80 km
é o que a Comissão de Limites vai fazer, determinando as linhas e
demarcando-as. A zona posto que não seja salubre não é das piores.
Preventivamente, porém, tomamos todas as precauções para evitar as febres: o
uso diário do quinino, o licor do Fowler ([1]), o
mosquiteiro, o sulfarsenol e a estricnina, são indispensáveis nessas viagens.
Quanto
aos índios, a última vez que estivemos nessa zona sentimos que nos vigiaram e
cercaram. Porém, não fomos atacados. São os Macu de alguma agressividade. [...]
Mas, como se sabe, decorrem do ato três outros: no primeiro
o ajuste, a seguir, o Tratado, depois a demarcação e subsequente
caracterização. Coube ao Chanceler Otávio Mangabeira, ativar a realização das
demais operações divisionárias de nossa fronteira. Isso, porém, não é obra de
uma geração. Resta, portanto, que se atente ao trabalho hercúleo dessas
Comissões de Limites que se internam em zonas inóspitas e desconhecidas para
demarcar e assinalar as linhas divisórias de nossas fronteiras.
Concluiu o Cmt Dias de Aguiar, a sua palestra como
permitia, o tempo de quem se preparava para horas após, partir para internar-se
nas zonas, consideradas, as mais desconhecidas da América do Sul.
Os
Componentes da Comissão Dias Aguiar
A Comissão de Limites chefiada pelo Cmt Braz de Aguiar,
compõe-se de seu Chefe e, dos CT Nelson Simas de Souza; Waldernar de Araújo
Motta, Cap Francisco Pereira da Silva, Cap médico Dr. Manoel Maurício Sobrinho
e 1° Ten Jonathas Moraes Corrêa e Dr. Sodré Vianna, civil. (DIÁRIO DA NOITE, N°
262)
Anais da Academia Brasileira de Ciências, Ed. 1
Rio de Janeiro, RJ ‒ 1938
Aguiaria
Vi as primeiras árvores de “duraque” ([2])
em 1929, quando de subida no Rio Negro, como
hóspede na lancha da Comissão Demarcadora das Fronteiras do Setor Norte,
chefiada pelo Cmt Braz Dias de Aguiar.
Elas não tinham flores nem frutos, mas
o material que pude colher e que consistia em raminhos com folhas e em amostras
da madeira, foi suficiente para permitir a inclusão da planta entre as
bombacaceaes da afinidade de Scleronema e Calostemma. (DUCKE)
A Batalha, N° 4.334
Rio de Janeiro, RJ ‒ Quarta-feira, 25.09.1940
A Fronteira Brasileira com a Venezuela
Prosseguem Ativamente os Trabalhos da Comissão Demarcadora
Deverá
seguir para Belém do Pará, na próxima sexta-feira, o CMG Braz Dias de Aguiar,
Chefe da Primeira Divisão da Comissão Brasileira Demarcadora de Limites que
trabalha no setor formado pelas fronteiras com o Peru, a Colômbia, a Venezuela
e. as três Guianas. O Cmt Braz de Aguiar vai encontrar os trabalhos de sua
Divisão em pleno desenvolvimento, devendo dar início à segunda campanha deste
ano, com o objetivo de fazer o levantamento dos Rios Catrimani, afluente do
Branco, e Demini, afluente do Negro, sobre cujas cabeceiras ainda não há
conhecimento seguro.
Nossas
fronteiras com a Venezuela já foram definidas no Tratado concluído em 1859. Os
trabalhos de demarcação, começados em 1880 e findos em 1884, não foram
aprovados pela Venezuela. Novos trabalhos estiveram a cargo da Comissão Melo
Nunes, dissolvida em 1915. Em 1929 foi novamente organizada uma Comissão Mista
de Remarcação, que trabalhou até 1934.
Em
1939, iniciou-se a atual campanha, que se dedica ao estabelecimento de sinais
aerofotogramétricos e marcos fronteiriços, e ao levantamento topográfico de
Rios cuja caracterização interessa imediatamente aos trabalhos demarcatórios.
Foram
assim, levantados cinco Rios da Bacia Amazônica, o Surumu, o Pacu, o Majari, o
Uraricaá e o Surubaí e as cabeceiras de quatro Rios da Bacia do Orenoco, o
Guaná, o Kidi, o Emecuni e o Ijani. O serviço de “fotocroquis” é feito em aviões, do Serviço de Obras Públicas da
Venezuela, ao longo da fronteira e já se estendeu até as nascentes do Majaní.
[...]
Os
trabalhos de demarcação são igualmente executados com colaboração de
trabalhadores, cujas condições de saúde melhoram dia a dia, graças ao combate
constante aos três males que afetam tais regiões: a malária, o beribéri e
leishmaniose tegumentar.
O
atual ritmo dos trabalhos demarcatórios imprime um grande desenvolvimento à
campanha de 1939-1940, que já realizou mais de um terço da tarefa projetada.
Concluídos
esses trabalhos, o que a Divisão conta fazer em 2 ou 3 campanhas, ficará
integralmente demarcada a nossa linha fronteiriça com as Guianas Holandesa e
Inglesa e a Venezuela.
Esse
trabalho, levado a feito com tenacidade e constância, representará uma
definitiva contribuição para a caracterização perfeita dos nossos limites
Setentrionais, o que por certo determinará progressivo soerguimento dessas
regiões até agora pouco servidas das mais modernas conquistas da civilização.
(A BATALHA, N° 4.334)
A Batalha, N° 4.346
Rio de Janeiro, RJ ‒ Quarta-feira, 09.10.1940
O Presidente Vargas na Amazônia
Em Contato com os Membros da
Comissão de Limites
BELÉM,
8 [Agência Nacional] – O Presidente Getúlio Vargas recebeu a visita de vários
membros da Comissão de Limites, sediada nesta capital, como a Primeira Divisão
de Demarcação de Fronteiras entre o Brasil e as Guianas Inglesa, Holandesa,
Francesa, a Venezuela, o Peru e a Colômbia. Da exposição feita, então, pelo
Comandante Braz Aguiar, que aqui se encontra nesse posto há 25 anos, o Chefe do
Governo viu como vão adiantados os trabalhos de demarcação e estabelecimento de
limites. A atividade da mesma Comissão pode ser avaliada, sabendo-se que foram,
já, colocados 250 marcos e fixados trezentos pontos de coordenadas. Mais de
quatro mil quilômetros de Rios já foram percorridos para esse trabalho. Todas
essas atividades foram seguidas pelo Presidente Getúlio Vargas nos mapas que
lhe eram mostrados no momento.
Verificou,
então, o Chefe do Governo, que o serviço de demarcação já está terminado nas
fronteiras com as Guianas Inglesa e Holandesa, estando as linhas divisórias com
a Venezuela quase concluídas. A linha com a Guiana Inglesa tem cerca de 1.600
quilômetros. As atividades da Comissão já se estenderam até a Bacia do Orenoco,
sendo que em todos os trabalhos o fato mais curioso até agora está na fixação
dos limites com a Venezuela.
Ficou
provado que a serra Marchiall não é o ponto mais Norte do Brasil e sim a serra
Caimai. Depois de apreciar esses mapas, em número superior a 50, o Presidente
foi informado da maneira de organização das Expedições de estudos que devem
demorar, sempre, no interior da selva, transpondo Rios, desbordando serras,
pelo menos de oito a dez meses. Vivamente impressionado com a longa exposição
que lhe foi feita, o Chefe do Governo, despedindo-se dos membros da Comissão de
Limites, disse-lhes:
Heróis
não são apenas os que morrem pela Pátria, oferecendo-lhe o seu sangue. Também
os senhores, por tanto trabalho anônimo construindo as fronteiras do Brasil,
longe do mundo, são heróis. (A BATALHA, N° 4.346)
Bibliografia:
A BATALHA, N° 4.334. A Fronteira Brasileira com a Venezuela -
Prosseguem Ativamente os Trabalhos da Comissão Demarcadora ‒ Brasil ‒ Rio
de Janeiro ‒ A Batalha, N° 4.334, 25.09.1940.
A BATALHA, N° 4.346. O Presidente Vargas na Amazônia - Em
Contato com os Membros da Comissão de Limites ‒ Brasil ‒ Rio de Janeiro ‒ A
Batalha, N° 4.346, 09.10.1940.
DIÁRIO DA NOITE, N°
262. Às Zonas mais Desconhecidas da
América do Sul ‒ Brasil ‒ Rio de Janeiro ‒ Diário da Noite, N° 262,
11.08.1930.
DUCKE, Adolpho. Aguiara – Brasil – Rio de Janeiro –
Annaes da Academia Brasileira de Ciências, Edição 1, 1938.
Solicito Publicação
(*) Hiram Reis e Silva
é Canoeiro, Coronel de Engenharia, Analista de Sistemas, Professor,
Palestrante, Historiador, Escritor e Colunista;
· Campeão do II Circuito de Canoagem do Mato Grosso do Sul
(1989)
· Ex-Professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA);
· Ex-Pesquisador do Departamento de Educação e Cultura do
Exército (DECEx);
· Ex-Presidente do Instituto dos Docentes do Magistério
Militar – RS (IDMM – RS);
· Ex-Membro do 4° Grupamento de Engenharia do Comando Militar
do Sul (CMS)
· Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira
(SAMBRAS);
· Membro da Academia de História Militar Terrestre do Brasil
– RS (AHIMTB – RS);
· Membro do Instituto de História e Tradições do Rio Grande
do Sul (IHTRGS – RS);
· Membro da Academia de Letras do Estado de Rondônia (ACLER –
RO)
· Membro da Academia Vilhenense de Letras (AVL – RO);
· Comendador da Academia Maçônica de Letras do Rio Grande do
Sul (AMLERS)
· Colaborador Emérito da Associação dos Diplomados da Escola
Superior de Guerra (ADESG).
· Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional (LDN).
· E-mail: hiramrsilva@gmail.com.
Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – X
Bagé, 20.12.2024 Continuando engarupado na memória: Tribuna da Imprensa n° 3.184, Rio, RJSexta-feira, 25.10.1963 Sindicâncias do Sequestro dão e
Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – VI
Silva, Bagé, 11.12.2024 Continuando engarupado na memória: Jornal do Brasil n° 224, Rio de Janeiro, RJ Quarta-feira, 25.09.1963 Lei das Selvas T
Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – IV
Bagé, 06.12.2024 Continuando engarupado na memória: Jornal do Brasil n° 186, Rio de Janeiro, RJSábado, 10.08.1963 Lacerda diz na CPI que Pressõessã
Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – III
Bagé, 02.12.2024 Continuando engarupado na memória: Jornal do Brasil n° 177, Rio de Janeiro, RJQuarta-feira, 31.07.1963 JB na Mira O jornalista H