Segunda-feira, 21 de setembro de 2015 - 12h45
Hiram Reis e Silva (*), Bagé, RS, 21 de setembro de 2015.
Velhas Árvores
(Olavo Bilac)
Olha estas velhas árvores, mais belas
Do que as árvores novas, mais amigas:
Tanto mais belas quanto mais antigas,
Vencedoras da idade e das procelas...
O homem, a fera, e o inseto, à sombra delas
Vivem, livres de fomes e fadigas;
E em seus galhos abrigam-se as cantigas
E os amores das aves tagarelas.
Não choremos, amigo, a mocidade!
Envelheçamos rindo! envelheçamos
Como as árvores fortes envelhecem:
Na glória da alegria e da bondade,
Agasalhando os pássaros nos ramos,
Dando sombra e consolo aos que padecem!
Nas minhas infindas jornadas aquáticas chego a remar, sem aportar, até nove horas consecutivas, dependendo das circunstâncias. Na maioria das vezes, porém, não programo cronologicamente as paradas de descanso, permitindo que a natureza me indique os locais de repouso mais agradáveis.
Invariavelmente ela usa como interlocutores e mestres de cerimônia os seus mais formidáveis e vetustos monumentos arbóreos. Eles me acenam placidamente desde as margens convidando-me a estacionar. Depois de cuidar do caiaque, ingerir alguma fruta e saciar a sede passo a desfrutar da companhia das minhas caras amigas – as árvores. Selecionei alguns trechos do meu livro intitulado “Mares de Dentro” para homenageá-las:
Os troncos das enormes figueiras eram verdadeiros jardins suspensos, tomados por bromélias, orquídeas, fungos e líquens. O passeio, pela diversificada vegetação emoldurada pelas dunas majestosas, era uma verdadeira ode ao espírito e aos sentidos humanos, descobrimos um espécime de orquídea em plena floração extemporânea, encantamo-nos com as longas barbas de bode ondulando ao vento, produzindo um maravilhoso efeito de animação aos gigantescos e estáticos troncos dos formidáveis monumentos arbóreos ao mesmo tempo em que impunham um ar fantasmagórico a um solitário ninho de João de Barro, experimentamos a textura dos exóticos fungos e líquens e fomos envolvidos pelo inebriante aroma das flores do funcho silvestre. [...]
As figueiras e pequenos arbustos bioindicavam a direção predominante dos ventos oriundos de Este e Nordeste que açoitam sistematicamente a vegetação nativa. [...]
Continuamos costeando e admirando a mata nativa e as belas figueiras encasteladas nas enormes dunas de areia. Um conjunto, em especial, chamou-me a atenção e paramos para escalar as dunas e admirar as figueiras, totalmente tomadas pelas bromélias e orquídeas. Os monumentos arbóreos cravaram suas raízes nas voláteis e alvas areias tentando, em vão, equilibrar-se enquanto as areias lenta, inexorável e criminosamente escoavam duna abaixo expondo mais e mais as magníficas fundações das centenárias figueiras. [...]
Às belas figueiras urbanas e domesticadas falta, no entanto, o encanto das selvagens e fundamentalmente a magia da beleza agreste do seu entorno. A luta constante contra as intempéries empresta àquelas um charme impregnado de poesia e coragem que as suas irmãs citadinas ignoram. [...]
Os bosques de pinus, ao longe, não respeitam as cercas, frágeis fronteiras humanas, e estão invadindo, lenta e progressivamente, as áreas de mata nativa, alastrando-se pelas areias brancas das dunas. Como os hunos de outrora, as hordas bárbaras sufocam e padronizam com sua intensa monotonia os belos campos. Indefesas figueiras prestes a serem sufocadas pelos rudes pinheiros aguardam estáticas as impiedosas mortalhas que avassaladoras se aproximam. [...]
Algumas figueiras tinham tombado sucumbindo à ação solerte e contínua das águas e dos ventos, mas aferravam-se à vida moldando seus troncos, galhos e raízes à nova realidade emprestando à paisagem mais que um exemplo de determinação e vontade, mas de como se pode mudar a cena de um cataclismo em um monumento de fé e de esperança. [...]
(*) Hiram Reis e Silva é Canoeiro, Coronel de Engenharia, Analista de Sistemas, Professor, Palestrante, Historiador, Escritor e Colunista;
Ex-Professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA);
Ex-Pesquisador do Departamento de Educação e Cultura do Exército (DECEx);
Assessor do Comando Militar do Sul (CMS);
Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS);
Presidente do Instituto dos Docentes do Magistério Militar – RS (IDMM - RS);
Sócio Correspondente da Academia de Letras do Estado de Rondônia (ACLER)
Membro da Academia de História Militar Terrestre do Brasil – RS (AHIMTB – RS);
Membro do Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS);
Colaborador Emérito da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG).
Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional (LDN).
E-mail: hiramrsilva@gmail.com;
Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – XXVIII
Bagé, 29.01.2025 Continuando engarupado na memória: Tribuna da Imprensa n° 4.281, Rio, RJQuinta-feira, 21.02.1964 Em Primeira Mão(Hélio Fernande
Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – XXVII
Bagé, 27.01.2025 Continuando engarupado na memória: Tribuna da Imprensa n° 4.279, Rio, RJQuarta-feira, 19.02.1964 Em Primeira Mão(Hélio Fernande
Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – XXVI
Bagé, 24.01.2025 Continuando engarupado na memória: Tribuna da Imprensa n° 4.272, Rio, RJ Sábado e Domingo, 08 e 09.02.1964 Jango Atinge sua Maior M
Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – XXV
Bagé, 22.01.2025 Continuando engarupado na memória: Tribuna da Imprensa n° 4.268, Rio, RJ Terça-feira, 04.02.1964 Em Primeira Mão(Hélio Fernandes)