Quinta-feira, 4 de maio de 2023 - 06h06
Bagé,
04.05.2023
Repercuto
o artigo de meu caro Amigo, Irmão e Mestre Higino Veiga Macedo.
Dia do Índio
(Higino Veiga Macedo)
À
medida que mais envelheço, mais decepcionado fico com as pessoas. Qualquer
medíocre, cria situações diferentes para se postar de importante. E a coisa não
é nova. Eu, quando novo, pensava que as coisas eram bem pensadas, avaliadas,
discutidas, no sentido da dialética aristotélica e não na erística ([1])
grega, para agredir.
E
uma dessas coisas é o “Dia do Índio”.
E, pelas mesmas razões que, também, é Dia do Exército. A comemoração dos dois
eventos juntos já foram motivos de um artigo meu. Vou mais uma vez, com mais
argumentos desfazer (desconstruir, diria Derridas [2])
o motivo para que dia 19 de abril seja “Dia
do Índio”.
Na
internet se encontra:
O dia do índio, celebrado no Brasil em
19 de abril, foi criado pelo presidente Getúlio Vargas, através do Decreto-Lei
5.540 de 1943. A data de 19 de abril foi proposta em 1940, pelas lideranças indígenas
do continente que participaram do Congresso Indigenista Interamericano,
realizado no México ([3]).
A
diferença de três anos foi pelo pouco caso do nosso governo ao evento. A
insistência do General Rondon levou o Presidente Vargas ceder e criar o
decreto citado.
Nada há que correlacione indígena com EB. E não é uma efeméride
puramente brasileira. É um evento americano (norte, sul e central), dos
habitantes das Américas.
Portanto,
nada há que relacione os indígenas brasileiros com o restante da América do
Norte. A não ser a cópia dos ridículos cocares copiados dos americanos por
ocasião dos filmes de “cowboy” tão ao
gosto da minha criancice.
Proponho
que a data nacional, relacionada como Evento Nacional, seja o dia 26 de abril. Fundamento
meu argumento no livro digitalizado, que tenho, de Tito Lívio Ferreira,
publicado pela IBRASA – A ORDEM DE CRISTO E O BRASIL – publicado em 1980. Neste
livro é possível absorver as seguintes informações:
– À
página 53 –
Capítulo 19. O Brasil já era conhecido antes
de 1500 – A Carta de Pero Vaz de Caminha ao rei D. Manoel, datada de Porto
Seguro, 1° de maio de 1500, é a certidão de
nascimento da terra brasileira, patrimônio da Ordem de Cristo, da qual o Monarca
português é o Grão-Mestre. (Grifei)
– À
página 55 –
Capítulo 20. A certidão de nascimento do
Brasil – Era domingo o dia 8 de março de 1500 [...] Terminada a missa, o Bispo
lançou a bênção a Pedro Álvares e benzeu a bandeira da Ordem de Cristo. Solenemente,
o Rei entregou-a ao Capitão-mor, para tomar posse do continente onde a
expedição ia aproar na sua viagem a Calicute; pertencia à Ordem de Cristo, e
não a Portugal ou à Monarquia Portuguesa. E pôs na cabeça do descobridor do
Brasil um barrete bento, enviado pelo Papa.
– À página 57 –
[...] Explica-se por que o Rei D. Manoel
entrega pessoalmente, a Pedro Álvares Cabral, a bandeira da Ordem de Cristo,
exposta no altar durante a missa celebrada a 8 de março de 1500 pelo Bispo de
Ceuta: Pedro Álvares Cabral recebia do seu Rei a ordem de tomar posse da terra
do Brasil, em Porto Seguro, o único porto onde ancorou a expedição cabralina,
por ser patrimônio da Ordem de Cristo. Em Porto Seguro, domingo da Pascoela, 26
de abril de 1500, Frei Henrique de Coimbra celebra a missa cantada, com a
assistência de todos os religiosos e com a presença de Pedro Álvares Cabral e
os capitães da armada. “Ali era com o Capitão-(mor) a bandeira de Cristo
(bandeira da Ordem de Cristo), com que saiu de Belém, a qual esteve sempre
levantada, da parte do Evangelho”, escreve Pero Vaz de Caminha na sua Carta a
D. Manoel I. E esse documento é a certidão de nascimento do Brasil, patrimônio
da Ordem de Cristo, do qual Pedro Álvares Cabral tomou posse em nome do Monarca
lusitano, porque o Rei de Portugal era Grão-Mestre da Ordem de Cristo, naquele
domingo da Pascoela, 26 de abril de 1500. Ali não foi hasteada a bandeira do
Rei, a bandeira da Coroa Portuguesa, mas a bandeira da Ordem de Cristo, porque
esse patrimônio lhe fora adjudicado pelos Papas Martinho V, Nicolau V e Calisto
III, no século XV, segundo documentamos em capítulos anteriores. E na viagem de
Colombo às Antilhas, oito anos antes, em 1492, não havia nenhum religioso. O
fato de a terra descoberta em 1500 receber o nome de Província de Santa Cruz
está explicado. “O que não parece carecer de mistério, porque assim como nestes
Reinos de Portugal trazem a cruz no peito por insígnia da Ordem e Cavalaria de
Cristo... pois havia de ser possuída de Portugueses e ficar por herança de patrimônio
ao Mestrado da mesma Ordem de Cristo.” (Cf. Pero de Magalhães Gandavo.
“História da Província de Santa Cruz, a que vulgarmente chamamos Brasil”. 1ª
ed. de 1576. 2ª ed. 1858. Pg. 3) [...]
Portanto:
– O continente era conhecido;
– O local da tomada de posse já estava
planejado: Porto Seguro;
– As terras eram da Ordem de Cristo e
até o Papa sabia da posse, tanto que remeteu um barrete bento colocada na
cabeça de Cabral, por D. Manuel.
Faço
vista também à Carta de Pero Vaz de Caminha, esta, com inúmeras inserções na
internet. Vou orientar-me pela – carta (bn.br) ([4])
[...] E o Capitão-mor mandou em terra
no batel a Nicolau Coelho para ver aquele rio. E tanto que ele começou de ir
para lá, acudiram pela praia homens, quando aos dois, quando aos três, de
maneira que, ao chegar o batel à boca do rio, já ali havia dezoito ou vinte
homens. Eram pardos, todos nus, sem coisa alguma que lhes cobrisse suas
vergonhas. Nas mãos traziam arcos com suas setas. Vinham todos rijos sobre o
batel; e Nicolau Coelho lhes fez sinal que pousassem os arcos. E eles os
pousaram. [...]
Ali não pôde deles haver fala, nem
entendimento de proveito, por o Mar quebrar na costa. Somente deu-lhes um barrete vermelho e uma carapuça de linho
que levava na cabeça e um sombreiro preto. Um deles deu-lhe um sombreiro de penas de ave, compridas,
com uma copazinha de penas vermelhas e pardas como de papagaio; e outro deu-lhe
um ramal grande de continhas brancas, miúdas, que querem parecer de aljaveira,
as quais peças creio que o Capitão manda a Vossa Alteza, e com isto se volveu
às naus por ser tarde e não poder haver deles mais fala, por causa do Mar. [...]
E estando Afonso Lopes, nosso piloto,
em um daqueles navios pequenos, por mandado do Capitão, por ser homem vivo e
destro para isso, meteu-se logo no esquife a sondar o porto dentro; e tomou dois daqueles homens da terra, mancebos e
de bons corpos, que estavam numa almadia ([5]).
Um deles trazia um arco e seis ou sete setas; e na praia andavam muitos com
seus arcos e setas; mas de nada lhes serviram. Trouxe-os logo, já de noite, ao
Capitão, em cuja nau foram recebidos com
muito prazer e festa. [...]
À segunda-feira, depois de comer,
saímos todos em terra a tomar água. Ali vieram então muitos, mas não tantos
como as outras vezes. Já muito poucos traziam arcos. Estiveram assim um pouco
afastados de nós; e depois pouco a pouco
misturaram-se conosco. Abraçavam-nos e folgavam. E alguns deles se
esquivavam logo. [...]
E,
no momento da missa, eis como se refere Caminha:
[...] E quando veio ao Evangelho, que
nos erguemos todos em pé, com as mãos
levantadas, eles se levantaram conosco e alçaram as mãos, ficando assim,
até ser acabado; e então se tornaram a
assentar como nós. E quando levantaram a Deus, que nos pusemos de joelhos,
eles se puseram assim todos, como nós estávamos com as mãos levantadas, e em
tal maneira sossegados, que, certifico a Vossa Alteza, nos fez muita devoção. [...]
Negritei
as palavras que interessam para meu entendimento.
Portanto,
tanto no contato quanto nas cerimônias religiosas, os ditos indígenas, que
Colombo chamou de índios, eram pessoas que tiveram contatos antes com europeus
e nunca foram hostis aos portugueses. Pelo contrário: receberam os portugueses
com amizade como a velhos amigos.
O
que me leva a propor o dia 26 de abril, dia da Primeira Missa em 1500, é por
ser uma efeméride que, na ética da época, registrou a cerimônia de posse da
terra com um ato religioso costume vindo desde a antiguidade. A partir daí,
tais indígenas passaram à situação, não mais de silvícola, mas como pessoas
pertencente a um reinado, com uma doutrina religiosa. Passaram a cidadãos
portugueses, cópia dos costumes romanos dos quais os portugueses são herdeiros.
E assim o era desde as conquistas dos gregos, dos hebreus, dos romanos, dos
portugueses... Assim sempre foi na dita civilização ocidental. O ato de
fundear, reconhecer as praias e ter contatos com os aborígenes não é um evento,
uma efeméride (fato importante ocorrido em determinada data). É uma missão.
Voltando
ao livro de TITO LIVIO FERREIRA, colho e transcrevo:
– À
página 83 –
Em carta da Bahia, 5 de julho de 1559, a
Tomé de Sousa, em Lisboa, Nóbrega escreve: “Des que nesta terra estou, que vim
com Vossa Mercê (1549), dois desejos me atormentaram sempre: um de ver os
cristãos nestas partes reformados em bons costumes e que fossem boa semente
transplantada nestas partes e que desse cheiro de bom exemplo; e outro, ver
disposição no gentio (brasilíndio) para se lhe pregar a palavra de Deus, e eles
fazerem-se capazes da graça e entrarem na Igreja de Deus, pois Cristo Nosso
Senhor por eles também padeceu [...]” [...] Nesse mesmo documento, Nóbrega
escreve: “Em todas (as Capitanias) há escolas (Bahia, Porto Seguro, Ilhéus,
Espírito Santo, São Paulo, Pernambuco e iria fundar a do Rio de Janeiro) de
muitos meninos; pequeno nem grande morre sem ser de nós examinado se deve ser
batizado, e [...]”.
– À
página 89 –
Capítulo 40. Os jesuítas espanhóis contra os
jesuítas portugueses – [...] Em fins do século XVI os jesuítas espanhóis
estabelecem as suas reduções no Paraguai. No Estado do Brasil, isto é – no
patrimônio da Ordem de Cristo – os jesuítas moravam em Casas próprias, ao lado
dos Reais Colégios, e iam aos aldeamentos, dos brasilíndios, chamados Aldeias
do Rei de Portugal, celebrar missas e todos os atos religiosos, mas não tinham
nenhuma autoridade sobre os indígenas. Ao contrário, nas reduções os jesuítas
eram senhores, moravam com os Guaranis e estes trabalhavam para sustentar os
religiosos. Os jesuítas espanhóis nada tinham com o Rei de Espanha, e com as
autoridades espanholas. E obedeciam apenas ao Provincial da Companhia de Jesus
em Espanha.
Portanto,
e a título de finalização, se conclui que os brasileiros indígenas (a mim não
existem indígena brasileiro, pois somos todos brasileiros, nascidos na mesma
Pátria, defendendo o mesmo território, miscigenados formamos uma nova etnia,
portanto uma nova nação e respeitamos a mesma Constituição, isto é, no mesmo
Estado) sempre foram tratados com deferência pelos portugueses que aqui se
preocuparam, antes em criar escolas, especializar os povos aqui encontrados. O
evento onde foram reunidos para um culto religiosos, e não para uma guerra, é a
data que justifica a efeméride do evento como marco de aproximação, amizade e “compatriotismo”. O Dia do índio, ou o
Dia do Indígena como está na lei recentemente mexida para ser “politicamente correta”, é DIA 26 DE
ABRIL iniciado em 26 de abril de 1500.
Higino,
João Pessoa, PB, quarta-feira, 19 de abril
de 2023.
(*) Hiram Reis e Silva é Canoeiro, Coronel de
Engenharia, Analista de Sistemas, Professor, Palestrante, Historiador, Escritor
e Colunista;
Campeão do II Circuito de Canoagem do Mato Grosso do
Sul (1989)
Ex-Professor do Colégio Militar de Porto Alegre
(CMPA);
Ex-Pesquisador do Departamento de Educação e Cultura
do Exército (DECEx);
Ex-Presidente do Instituto dos Docentes do Magistério
Militar – RS (IDMM – RS);
Ex-Membro do 4° Grupamento de Engenharia do Comando
Militar do Sul (CMS)
Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia
Brasileira (SAMBRAS);
Membro da Academia de História Militar Terrestre do
Brasil – RS (AHIMTB – RS);
Membro do Instituto de História e Tradições do Rio
Grande do Sul (IHTRGS – RS);
Membro da Academia de Letras do Estado de Rondônia
(ACLER – RO)
Membro da Academia Vilhenense de Letras (AVL – RO);
Comendador da Academia Maçônica de Letras do Rio
Grande do Sul (AMLERS)
Colaborador Emérito da Associação dos Diplomados da
Escola Superior de Guerra (ADESG).
Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional (LDN).
E-mail: hiramrsilva@gmail.com.
[1] Erística: arte ou técnica argumentativa no debate
filosófico, desenvolvida, sobretudo, pelos sofistas, e baseada em habilidade
verbal e acuidade de raciocínio. (Hiram Reis)
[2] Jacques Derrida (El Biar, Argélia) - 15 de julho de 1930 – Paris,
9 de outubro de 2004. (Higino)
[3] https://pt.wikipedia.org/wiki/Dia_do_%C3%8Dndio; depois: Dia dos
Povos Indígenas – Wikipédia, a enciclopédia livre (wikipedia.org). (Higino)
[5] Almadia: bongo, embarcação fabricada a
partir de um só tronco de árvore. (Hiram Reis)
Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – X
Bagé, 20.12.2024 Continuando engarupado na memória: Tribuna da Imprensa n° 3.184, Rio, RJSexta-feira, 25.10.1963 Sindicâncias do Sequestro dão e
Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – VI
Silva, Bagé, 11.12.2024 Continuando engarupado na memória: Jornal do Brasil n° 224, Rio de Janeiro, RJ Quarta-feira, 25.09.1963 Lei das Selvas T
Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – IV
Bagé, 06.12.2024 Continuando engarupado na memória: Jornal do Brasil n° 186, Rio de Janeiro, RJSábado, 10.08.1963 Lacerda diz na CPI que Pressõessã
Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – III
Bagé, 02.12.2024 Continuando engarupado na memória: Jornal do Brasil n° 177, Rio de Janeiro, RJQuarta-feira, 31.07.1963 JB na Mira O jornalista H