Segunda-feira, 15 de outubro de 2012 - 19h25
Hiram Reis e Silva, Porto Alegre,
RS, 15 de outubro de 2012.
O Professor Sempre Está Errado
(Carlos Soares da Silva)
(...) Para o pai do seu aluno
Quando o filho é aprovado
É gênio, é competente
Seu valor é declamado
Mas se não passar de ano
O professor é culpado.
O aluno é reprovado
Foi uma perseguição
O aluno é aprovado
“Deu mole” é um bobão
E assim o professor
Segue a sua profissão. (...)
Não sei se a data é de comemoração ou luto. No meu tempo de aluno o Mestre era respeitado e admirado, hoje vemos professores sofrerem todo tipo de humilhação seja salarial, pressão dos pais ou indisciplina nas salas de aula. Sou do tempo que a falta de rendimento dos alunos não era imputada pelos progenitores aos mestres e sim aos seus rebentos. Sou de uma época em que os pais não vinham à escola reclamar dos professores o grau atribuído ao trabalho de seus filhos por um colegiado competente e se hoje o fazem é porque, certamente, eles e não seus filhos mimados o produziram. Vi professores afastados da sala de aula por encaminharem alunos por indisciplina ou cola à Orientação Educacional e o mais ridículo de tudo isto é que as autoridades ainda se surpreendem com os resultados díspares de uma 6ª economia mundial que só consegue alcançar o 88° lugar na educação.
- Mestre João Silveira Machado
Como aluno do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA) tive um Mestre singular, o professor de Biologia João Silveira Machado. Ele não era austero, não envergava o uniforme impecavelmente como os demais professores militares, nem fazia uso de oratória elaborada, discreto, possuía uma autoridade nata, impunha respeito aos jovens alunos pelo conhecimento, falava-nos serenamente desvendando não apenas os segredos do funcionamento dinâmico dos organismos, mas, sobretudo, estimulando nossos corações e mentes a pensar, a indagar, a questionar o que observávamos na natureza.
O venerável Mestre implantou na minha alma minha paixão pela História Natural, instigou minha curiosidade sobre a vida dos seres vivos e graças a ele desenvolvi o espírito de um verdadeiro “Naturalista” que procura adquirir o conhecimento em contato direto com a natureza e não apenas nos laboratórios de pesquisas e bancos escolares. Aprendi a me enxergar como parte da natureza, a respeitá-la e a me maravilhar com cada elemento, cada célula, dos seus seres mais simples aos mais complexos.
Cumprimentei o meu eterno e inspirado Mestre, no dia de hoje, pelo Dia do Professor e ele me enviou um belo texto de sua lavra que repercuto abaixo. O doutor das mentes e dos corpos é competente nos seus elaborados artigos, suas metáforas mesclam a cultura e a sabedoria de Euclides da Cunha com a simbologia criadora de Augusto dos Anjos.
- Árvores
Morada de muitos, agasalho de tantos, alimentos de outros, refúgio dos aquecidos, hotel e morada em qualquer estrada da vida perdida. Refeitório eventual de passantes pássaros com a presa no bico nem pobre nem rico. Sombra para acalorados e trégua para apressados. Parada obrigatória, hotel e motel, restaurante estação das estradas da vida achadas ou perdidas. Ponto respiratório da árvore pulmonar, refeitório de ares, oxigênio, ornado de flores e odores, frutos e cores em terras inóspitas, um gênio, definitivamente, um refeitório!
Abrigo ou esconderijo, plataforma ou trampolim, sentinela ou referência, folhas verdes em tons mais ou menos verdes no conceito qualia, acomodando diferentes seres que se confundem com matizado deslumbrante entrelaçando cores vivas ou doentes, secas, estioladas ou quase mortas pelas pestes, impregnação dos pigmentos blastos conhecidos e desconhecidos plastídios (cloroplastos, havana xantoplastos, vermelho eritroplastos, morte lenta das folhas bentas e galhos ressequidos esquecidos que nos enchem de alegria nas estações do ano por conta das temperaturas e dos movimentos da Terra) num verdadeiro mimetismo metamorfoseante de tempos em tempos vigorante revigorado e mutante entre folhas e flores caducas. Troncos lenhosos, casca e aroma, folhas, flores e frutos, alimento e alento; raízes, bolbos, tubérculos e rizomas que parecem nada, mas são somas: alimento e condimento.
Invertida árvore brônquica pulmonar, responsável técnica pelas trocas e transformação de produtos em subprodutos nas entranhas dos alvéolos pulmonares mediante o árduo e finito trabalho da reversão externo-interno em ciclos inversos, cujos sonoros versos são os estertores sibilantes nas intimidades da hematose quando asmas e bronquites informam os ouvidos médicos e gentes ligadas à saúde das pessoas em sofrimento sofrem e, especialmente àqueles e àquelas que sofrem de pneumonias e alergias.
Árvore, meu berço, minha mesa, minha casa, minha cama, minha vida, casa minha, minha namorada, meu ataúde, minha última morada. Meu teto, meu forro, meu chão. Meu banco de descanso, meu encosto, minha inspiração, minha sombra, minha solidão, meu sangue, meu calor, minha linfa vida molhada. Meu recanto, meu canto, meu chão, minha ferramenta que caleja minha mão junto às covas da terra do trigo ao pão! Evite o desmatamento! Árvores, Santa Mãe da Natureza desrespeitada, tuas cores embelezam os olhos com flores. Teus perfumes inundam o mundo imundo. Teu cheiro afasta maus odores com o tempero, fragrância sabor e esmero. Árvore que acalenta meus sonhos, mesa que ampara e sustenta saudáveis alimentos sustentos. Minha brasa que cozinha e aquece os lares nos gelados recantos do sul, um modesto calor que me afeta e acalma a fúria da dor no retiro dos dias sem sol. Árvore, meu abrigo das chuvas tocadas a ventos uivantes, nada dizendo em versos porque o azul é nosso universo dos universos reversos. Madeira das árvores donde sai carreta, a carroça e o carro-de-mão alavanca de braço e mão. Também para crianças da piorra ao pião num só pé rodando no chão depois do cordão. Da árvore ao papel. Do papel ao dinheiro. Dinheiro é árvore de papel. Papel é dinheiro. Árvore é papel de dinheiro.
Árvore, meu refúgio para oração e preces, meu recanto de soneca e descanso. Minha cama parceira de sono, sonhos, embalos e segredos. Silenciosa e confiável sabe de sobra da fúria dos meus segredos do gozo. Recanto íntimo do meu choro, meus sonhos, meu pranto. Meu sossego, minhas penas, meu apego, minha vida, segredos, saudades e mágoas, minha sombra, meu desapego. Agradeço às árvores por estar ainda vivo cuidando das minhas filhas e netas, da família que tanto gosto. Árvore minha encosta e recosta nos momentos de dor, meu leito de sorte por ser quem eu sou: fim e chegada da morte.
Finalmente, distante da Oração da Árvore de todos conhecida, fico no meu modesto canto sem encanto porque o mesmo lugar está destinado para outros tantos. Distante finalmente do canto lírico de um Camões, um Bilac, uma Adélia Prado, Espanca, Flaubert, dentre tantos, meu canto soa como espanto porque estou atado num emaranhado de cordéis científicos destinados há séculos pelos deuses da filosofia, do conhecimento pelo conhecimento, das ciências pelas ciências em favor da humanidade e das vítimas, pelo amor eterno pelos doentes que mal sabem por que andam por aqui.
Agradeço e me despeço com o respeito que merece. João
- Livro do Autor
O livro “Desafiando o Rio-Mar – Descendo o Solimões” está sendo comercializado, em Porto Alegre, na Livraria EDIPUCRS – PUCRS, na rede da Livraria Cultura (http://www.livrariacultura.com.br) e na Associação dos Amigos do Casarão da Várzea (AACV) – Colégio Militar de Porto Alegre.
Para visualizar, parcialmente, o livro acesse o link:
http://books.google.com.br/books?id=6UV4DpCy_VYC&printsec=frontcover#v=onepage&q&f=false
Fonte: Coronel de Engenharia Hiram Reis e Silva
Professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA);
Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS);
Membro da Academia de História Militar Terrestre do Brasil - RS (AHIMTB - RS);
Membro do Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS);
Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional.
E-mail: hiramrs@terra.com.br
Blog: http://www.desafiandooriomar.blogspot.com
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