Quinta-feira, 29 de dezembro de 2022 - 06h30
(*), Bagé, 29.12.2022
Mais
uma vez tenho a honra de repercutir um belo artigo de meu caro Amigo, Irmão e
Mestre Higino Veiga Macedo, editado em João
Pessoa, PB, sexta-feira, 10 de setembro de 2021.
Eu
e os Super Elogios Não Publicados
(Higino Veiga Macedo)
Algo marcante na vida militar são as referências
elogiosas publicadas em documentos interno – Boletim Interno ou BI, para os
íntimos. As ações acima das rotinas e das obrigações, com iniciativa, oportunidade,
persistência e coragem são sempre reconhecidas e, assim, registradas em elogios
que rechearão o que o militar chama de Alterações, ou seja, seu “Curriculum Vitae
Militar”. Os elogios mais elaborados são feitos por ocasião das
transferências e lidos nos momentos das despedidas. Sem falar no último elogio,
aquele da ultima despedida, do último dia, na ativa. Ali há um relato de toda a
vida militar do militar. Os mordazes chamam de necrológio.
Quero tratar daqueles que não são oficiais, os não
publicados, e que em momento de plena atividade, alguém faz uma referência, um
elogio no momento, no calor do evento. Tive três em escolas que me orgulharam
muito e um já quando reformado. Como Cadete, numa equipe de orientação com bússola,
patrulha de reconhecimento e designação de alvos, o que chefiou a equipe, já no
final do acampamento, no deslocamento para a sede (Conjunto Principal) ele me chamou
e disse:
Olha, se um dia houver uma guerra, eu gostaria de
tê-lo como companheiro. Você foi o que sempre considerei de como deveria se comportar
um combatente.
Já como oficial, pude avaliar melhor suas palavras.
Ele foi primeiro de turma na sua arma. Na verdade, eu também era “aprendiz
de feiticeiro” como todos ali e tudo fazia por intuição ou por instinto ou,
ainda, por dom.
O segundo foi quando, em 1980 eu fazia a Escola de
Aperfeiçoamento (ESAO) em que, com a engenharia, faziam o curso alguns
militares estrangeiros: Venezuela, Colômbia, Paraguai, Uruguai e Equador. O Capitão
Teran, do Equador, num exercício de defensiva nas instalações dos Fuzileiros
Navais, Rio de Janeiro, depois de algumas trocas de ideia de como se resolveriam
as missões de engenharia, o equatoriano me chamou após o jantar e me disse:
Higino, você é um militar muito prático; Você vê o
problema e dá solução. Eu gostaria de ter essa experiência que você tem.
O Cap Teran, ao voltar para o Equador, ao
participar de uma refrega contra o exército peruano, por limites territoriais,
foi ferido e faleceu. Penso que nem chegou a Major. E nem teve tempo de ser
prático.
O Terceiro foi na Escola de Comando e Estado Maior
(ECEME). Num exercício em grupo, de Brigada de Cavalaria Mecanizada, eu estava
de Comandante. O Oficial de Operações (E/3) era Major de cavalaria. Pela carta,
tinha-se dúvida de emprego de blindados já no início do ataque.
Pela carta, pouco depois da linha de partida havia
uma sinalização que indicava um obstáculo natural (rio, ravina, ou algo
parecido). E dai a dúvida: “partir com apoio de carro que ficaria retido no
obstáculo?” Diretriz do escalão superior: velocidade e potência. Perguntei
quanto tempo dispúnhamos para entregar nosso trabalho, que seria avaliado e o
melhor seria apresentado a todos. Pelo tempo daria para ir até o local e
verificar no terreno o tal obstáculo. Lá eu disse: “bem, não sou experiente
em blindados, mas em fazer estradas”. “Nesse valão (nada mais que isso)
eu passaria com ‘scraper’ em oitava marcha carregado com quinze m3
de cascalho”. “Um blindado, nem faz cócegas”.
O E/3 concordou e nossa solução foi partir com
apoio de blindado. Foi a solução “da casa” (dos instrutores). A lição:
reconhecer o terreno. E o E/3 apresentou o tema. Esse E/3 foi o primeiro da
minha turma de ECEME e depois chegou a General de Exército. No final do
exercício, ele me procurou e disse algo bem parecido com o que disse o Capitão
equatoriano, o TERAN: – “em caso de guerra, quero estar contigo, pela sua
facilidade de trabalhar com soluções práticas”.
E outro foi, já como reformado, quando decidi
participar do grupo de WhatsApp e que um companheiro de turma me mandou uma
mensagem: “Bem-vindo ao grupo Precisamos da sua inteligência” sendo ele
muito mais inteligente que eu. Li várias vezes para ter certeza de que aquilo
se referia a mim. São quatro elogios que guardo na lembrança. Aliás, tenho o
timbre de cada voz a retinir no cérebro. Vozes que ouvi e que se me repetem.
Como se me fossem uma transmissão oral, mas que só eu ouço.
São meus elogios, não oficiais, que aqui os registro,
antes que eles se calem no cérebro e me deixem sem ouvi-los. PS: Um outro, em
áudio de WApp, quando o Gen Pereira Gomes, em um agradecimento disse que me
teve como exemplo de líder e praticou sua liderança tendo a minha como exemplo.
O Gen serviu comigo na 9° RM no Escalão logístico: ele Major oriundo ECEME e eu
já Coronel em final de carreira.
Publicação
(*)
Hiram Reis e Silva é Canoeiro, Coronel de Engenharia, Analista de Sistemas, Professor,
Palestrante, Historiador, Escritor e Colunista;
Campeão do II Circuito de Canoagem do Mato Grosso do
Sul (1989)
Ex-Professor do Colégio Militar de Porto Alegre
(CMPA);
Ex-Pesquisador do Departamento de Educação e Cultura
do Exército (DECEx);
Ex-Presidente do Instituto dos Docentes do Magistério
Militar – RS (IDMM – RS);
Ex-Membro do 4° Grupamento de Engenharia do Comando
Militar do Sul (CMS)
Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia
Brasileira (SAMBRAS);
Membro da Academia de História Militar Terrestre do
Brasil – RS (AHIMTB – RS);
Membro do Instituto de História e Tradições do Rio
Grande do Sul (IHTRGS – RS);
Membro da Academia de Letras do Estado de Rondônia
(ACLER – RO)
Membro da Academia Vilhenense de Letras (AVL – RO);
Comendador da Academia Maçônica de Letras do Rio
Grande do Sul (AMLERS)
Colaborador Emérito da Associação dos Diplomados da
Escola Superior de Guerra (ADESG).
Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional (LDN).
E-mail: hiramrsilva@gmail.com.
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