Sábado, 19 de dezembro de 2015 - 10h58
Hiram Reis e Silva, Bagé, RS, 18 de dezembro de 2015.
O “Naturalista” nato adquire seus conhecimentos em contato com a natureza. (...)
Os profissionais cada vez mais isolam-se e protegem-se no casulo da “civilização de laboratório”. São cientistas, mas não devem ser chamados de “Naturalistas”. Estão ligados ao cordão umbilical de fórmulas e formulários, bolsas e relatórios. Presos a engrenagens burocráticas crescentes, anunciadoras de que os meios justificam os fins, estes nem sempre alcançados. (...) A divulgação do que é simples é vestida com uma linguagem complicada, inacessível aos não iniciados: biologês, geologês, etc. (...) Que diferença dos textos dos grandes “Naturalistas” e cientistas europeus de menos de um século atrás, que lançaram as bases da ciência atual! Que falta eles fazem! Muitos “Naturalistas” natos desistem de transmitir a outrem o que observaram, frente a essas barreiras com sua ortodoxia (...) Como colocar nessa camisa de força as sensações mencionadas de início? Como encaixá-las no matematismo? Alguns “Naturalistas”, contudo, têm coragem para desafiar a corrente. (AQUINO)
Aldeia Utiariti (07.11.2015)
Felizmente houve consenso para que permanecêssemos mais um dia em Utiariti. Uma empreitada complexa como a nossa que homenageia uma Expedição que se intitulava “Científica” deve envolver hoje como ontem, necessariamente, a busca do conhecimento das coisas e das gentes das regiões percorridas. A conversa com os anciãos, a observação aguçada da natureza que nos cerca, as danças, os ritos de passagem, as lendas e mitos, a visita aos locais considerados sagrados pelos povos nativos fazem parte da rotina de um verdadeiro naturalista, se isso não ocorrer estaremos apenas realizando um percurso como um descompromissado turista ‒ não tem nenhum valor. Nas minhas Amazônicas jornadas, não havia um cronograma rígido a ser cumprido, não era eu que ditava o tempo de permanência em cada local, deixava-me levar, literalmente, pela natureza e pelas circunstâncias. No dia de hoje, troquei minhas vestes de expedicionário pelas de “naturalista” e consegui, graças a essa sutil metamorfose, documentar o magnífico Salto do Utiariti de ambas as margens, de observá-lo do mesmo ângulo e local em que há mais de um século Rondon o fizera, de perambular pelas ruínas da antiga Missão absorvendo sua história e as difíceis interações dos missionários com as crianças nativas, de interagir com os Paresí mais idosos e mais jovens da Aldeia ouvindo suas estórias, de observar seus jogos e brincadeiras, enfim de participar de seu dia-a-dia.
Nesta manhã, entrevistei a Professora Terezinha e a Srª Tertuliana procurando colher informações adicionais sobre o Utiariti (Falco Sparverius) e a antiga Missão, instalada à margem esquerda do Rio Papagaio, na altura do lendário Salto do Utiariti. Após a entrevista, atravessei, de balsa, o Rio Papagaio, acompanhando a Professora e seu esposo, o casal seguiu viagem e eu fui, sozinho, visitar as ruínas da Missão. As impressionantes ruínas da Missão, localizada na Terra indígena Tirekatinga, dos índios Nambikwara,guardam hoje apenas uma pálida lembrança que foi um dia a Missão Jesuítica. Apesar de ser um sítio por demais aprazível, de terras férteis, pleno de belezas naturais e de relevância histórica, as edificações do grande complexo foram criminosamente desmanteladas e o local hoje está totalmente abandonado.
Ao retornar de minha peregrinação pelas ruínas da Missão encontrei a bela menina Iara e sua amiguinha que me auxiliaram na transposição do Rio trazendo a Balsa para a margem em que eu estava (esquerda). Na margem direita ela e mais três amiguinhos fizeram uma bela demonstração de agilidade e coragem escalando a vegetação marginal e saltando dos galhos mais altos nas límpidas águas do Rio Papagaio.
À tarde atravessei, novamente, o Rio Papagaio acompanhado de um amigo Paresí, chamado Galego, e do Dr. Marc com o objetivo de conhecer o local exato de onde o Coronel Rondon havia tirado a famosa foto do Salto Utiariti. O Galego nos levou, também, até o cemitério da Missão cujo solo sagrado fora igualmente saqueado e profanado. É interessante verificar que os povos tradicionais, tão ciosos guardiões dos restos mortais de seus ancestrais, principalmente quando reivindicam novas demarcações de terras, sejam capazes de agir de maneira tão abominável. Ao transpormos os umbrais de um cemitério, independentemente da origem ou credo dos mortos, devemos fazê-lo com todo o respeito e orar pela alma dos que já se foram.
Nesta tarde uma Comissão de mais de 20 pessoas, da Aldeia Três Jacus, representando o Cacique Tarcísio, veio conversar com o Dr. Marc a respeito do valor de um pretenso “pedágio” a ser cobrado para percorrermos o trajeto de Utiariti até o Rio Buriti. Depois de muitas delongas ficou acordado o exorbitante valor de R$1.500,00 para percorrermos apenas 43 quilômetros das Terras dos Nambikwara, certamente o mais caro “pedágio” do mundo, quase R$35,00 por quilômetro. Nossa “lua de mel” com os povos indígenas terminava em Utiariti depois de percorrermos as Terras dos amigáveis Paresí, e iniciava-se, a partir de agora, uma longa jornada pelas “soturnas e mercantilistas” trilhas Nambikwara. Remando pelos amazônicos caudais tive contato com dezenas de etnias e encontrei apenas uma delas, a dos Tikuna, que rivaliza com a dos Paresí em altivez, empreendedorismo e honestidade.
Missões Jesuítas no Brasil
A dedicação dos jesuítas aos índios é uma vocação histórica, imersa nos primeiros tempos do Brasil. Entretanto, os jesuítas viram dissolver-se as missões, quando expulsos do Brasil, a partir de 03.09.1759. Com quase cem anos de ausência do Brasil e dizimados em quase todas as partes do mundo, foram incorporados de novo nos ministérios religiosos pelo Breve (decisão do papa sobre questões teológicas que não são de interesse geral) de Pio VII, de 07.08.1814. Voltaram ao Brasil com a finalidade expressa de reatarem as missões indígenas, se bem que não pudessem, durante quase outro século, estabelecer adequadamente uma Missão entre os silvícolas, apenas o conseguindo na forma de Prelazia.
Com iniciativa, já não própria da Companhia, mas da Nunciatura Apostólica, oferecendo uma Prelazia, os jesuítas brasileiros dedicaram-se estavelmente a uma Missão indígena. De fato, pela Bula “Cura Universæ Ecclesiæ”, de 22.03.1929, foi confiada à Companhia de Jesus no Brasil a região de 350.000 km², situada no Centro Norte do Estado de Mato Grosso. Essa região foi elevada à categoria de Prelazia, a Prelazia de Diamantino.
Até o ano de 1952, a Província do Brasil Central esteve com a direção da Missão Anchieta, na Prelazia de Diamantino. Impossível desconhecer os sacrifícios imensos, as ações heróicas praticadas pelos primeiros jesuítas que ali trabalharam. Evoquemos a figura de Monsenhor João Batista du Dréneuf, SJ, feito primeiro administrador apostólico da Prelazia. Desde 1930 até 1948 lutou com mil dificuldades para colocar as bases firmes de uma ação missionária eficaz. Em 1935 fundou o primeiro posto missionário, “Santa Teresinha do Mangabal”, no Rio Juruena, entre os índios Nambikwara. O solo árido, as distâncias imensas, a falta de comunicações, tudo concorreu para que os missionários sofressem fome e privações sem conta, ao lado de seus amados índios. Provada a impossibilidade de subsistência deste posto, cessa em 1945. No ano seguinte, abre-se outro posto, a 120 quilômetros a Sudeste do primeiro: “Santa Teresinha do Utiariti”, à margem esquerda do Rio Papagaio.
Com a morte de Monsenhor du Dréneuf em 1948, assumiu a direção da Prelazia o Padre Alonso Silveira de Mello, SJ, que no dia 21.08.1955 era sagrado Bispo em Porto Alegre, aliás o primeiro Bispo jesuíta em toda a história da Companhia de Jesus no Brasil.
A Prelazia dedica-se formalmente à pastoral, no que diz respeito à religião. Mas, não se pode omitir na vida social e ignorar as obras de caridade e de formação. Nessas atividades externas se encontra com outro poder constituído, o Estado. Convém que a Prelazia institua uma ou mais sociedades civis, que facilitem as tramitações de negócios correntes. A criação de tal sociedade realizou-se no dia 19.11.1956. Esta entidade, atualmente com o significativo nome de Missão Anchieta, funciona com sede em Diamantino, a serviço exclusivo da Prelazia de Diamantino, em suas atividades de cunho civil.
Por que dizer que a Missão dos jesuítas na Prelazia de Diamantino é uma das mais difíceis do mundo? Por três motivos: grandes distâncias, tribos numerosas e diferentes entre si, e dispersão em pequenos grupos.
1. Utiariti, posto pioneiro, está a 400 km ao Norte da última cidade de Mato Grosso. As tribos da vizinhança são: os Nambikwara, a 120 km; os Paresí, a 200 km; os Iranche, a 200 km; os Canoeiro, os Caiabi, a mais de 500 km por via fluvial. Das tribos que estão no vale do Rio Xingu, as maiores, as mais numerosas, estamos inteiramente desligados por falta de pessoal de comunicação;
2. Sobe a 31 o número de tribos no território da Missão. Todas diferem entre si pela língua, tradições e costumes, constituindo cada uma delas, uma pequena nação;
3. E não se pense que o missionário encontra grandes aglomerações. Os índios de uma mesma tribo vivem em pequenos grupos ou turmas. Seria muito difícil a sobrevivência de um grande número num mesmo lugar por falta de caça, pesca etc. O trabalho na Prelazia se estende a 5 paróquias, 160 sítios sertanejos. O pré-seminário conta com 20 candidatos. O trabalho de evangelização entre os índios atinge a 9 tribos somente. As outras 22 estão à espera do missionário. Dois padres se ocupam no trabalho direto com os índios, na Missão volante. (P. ARRUPE e outros)
A Missão de Utiariti
Os missionários decidiram mudar-se, em 1945, para Utiariti, considerando que o local possuía terras mais férteis,apresentava condições ideais para a construção de uma Pequena Central Hidrelétrica (PCH) e, além disso, possuía uma Estação Telegráfica instalada pelo Coronel Rondon. Apenas um aspecto negativo foi considerado pelos católicos – a presença de uma missão protestante – a “Inland South American Missionary Union” (ISAMU) – com quem, logicamente, teriam de concorrer.
A Missão Utiariti dedicava-se especialmente às crianças. Os jovens, na maioria órfãos, eram separados de seus familiares e mantidos em regime de internato ‒ os Jesuítas sabiam que as crianças eram mais suscetíveis à pregação doutrinária do que os adultos. A Missão reuniu crianças de várias etnias tais como a dos Apiaká, Canoeiro, Irantxe (Iranxe), Kaiabi, Nambikwara e Paresí. Elas aprendiam a língua portuguesa, geografia, história, matemática e religião além de serem iniciadas nas artes e ofícios considerados mais importantes. As meninas eram adestradas no tricô, bordado, corte e costura, e artes culinárias enquanto os meninos nos trabalhos de marcenaria, serraria, pecuária, e mecânica. O internato estabelecia, portanto, um interessante e salutar convívio interétnico ‒ membros de etnias indígenas hostis eram obrigados a participar de tarefas em conjunto, compartilhar do mesmo dormitório e dividir a mesma mesa durante as refeições, tudo isso mantido sobsevera vigilância e rígida disciplina dos membros da Companhia de Jesus. Depois do Concílio do Vaticano II e da Conferência de Medellín, nos idos de 1970, a Missão foi desativada e os jovens aborígenes retornaram à suas aldeias de origem. Embora alguns encontrassem alguma dificuldade em relação à sua antiga língua nativa, o conhecimento adquirido muito contribuiu para o progresso e absorção de novas tecnologias pelos seus pares.
Entrevista com a Professora Terezinha
O relato abaixo é uma “adaptação” da entrevista que realizei, em Utiariti, com a Professora Terezinha da Aldeia Nambikwara Três Jacus:
Meu nome é Terezinha, sou descendente da etnia Paresí-Nambikwara ‒ Paresí por parte de mãe e Nambikwara por parte de pai. Acredito que a missão do Coronel Rondon não era somente a de construir as Linhas Telegráficas, mas, sobretudo, de pacificar os indígenas. Os Nambikwara e Paresí, antes da chegada de Rondon, eram inimigos ferrenhos, quando os Nambikwara atacavam uma Aldeia Paresí eles queimavam-lhes as ocas e sequestravam suas mulheres. Os Nambikwara, além disso, eram extremamente arredios a qualquer contato com outros povos nativos e os brancos. Quando Rondon chegou a Utiariti ele ficou sabendo do local exato, na margem de um pequeno córrego, onde os Nambikwara escondiam suas armas e lá deixou facões e machados. Mais tarde, os Nambikwara vieram até o córrego para banhar-se e avistaram maravilhados aqueles instrumentos, estavam começando a manuseá-los quando surgiu a figura altaneira de Rondon envergando seu impecável uniforme de campanha. Os Nambikwara instintivamente flecharam o intruso e uma das flechas endereçada a Rondon, felizmente, atingiu o bornal que ele carregava à tiracolo. Os membros da Comissão que acompanhavam Rondon preparavam-se para atirar quando este interveio impedindo-os. Rondon, então, tranquilamente chamou a atenção dos Nambikwara e usando o facão cortou facilmente um tronco da vegetação marginal. Os indígenas acostumados com seus toscos machados de pedra ficaram encantados com o desempenho da nova ferramenta. Estabelecidos os primeiros contatos, Rondon alertou às tribos rivais que eles não podiam continuar com essas hostilidades porque logo iriam exterminar-se mutuamente. (TEREZINHA)
Entrevista com a Senhora Tertuliana
O relato abaixo é, também, uma “adaptação” da entrevista que realizei, em Utiariti, com a Senhora Tertuliana da Aldeia Paresí Utiariti:
Quando Rondon chegou à região foi informado que o nome daquelas magníficas pedrarias era Utiariti e que por atrás das quedas habitava um belo e mítico pássaro branco que era a encarnação do espírito de um grande Pajé Paresí. (TERTULIANA)
Relatos Pretéritos da Estrada de Tapirapoã a Utiariti
Os muares vindos de Tapirapuã, carregados, chegavam a Juruena “estrondados” (derruídos) e só com grande esforço podiam vencer os 100 km que ficam entre esse Rio e a Serra do Norte. Mas quando conseguiam fazer o percurso total, ficavam em condições de não poderem ser utilizados de novo sem um descanso completo de, pelo menos, três meses, durante os quais precisavam ser tratados a milho e alfafa. Para vencer essas dificuldades, adaptou Rondon a estrada às condições necessárias para poder ser trafegada por automóveis, desde Tapirapuã até Utiariti. Deste ponto em diante melhoram as condições do terreno e conta-se com as pastagens existentes nas capoeiras dos índios e nos Campos Indígenas. (COMÉRCIO)
Relatos Pretéritos do Salto do Utiariti
Edgard Roquette-Pinto (1912)
Utiariti onde se ergue uma estação, será, em breve, um povoado daquele sertão bruto. Hoje é colônia de Paresí do grupo Uaimaré, chefiada pelo Major Libanio Koluizôrôcê, meu antigo conhecido do Museu, onde estivera em 1910. Vivem ali, felizes, muitas famílias, trabalhando em roças bem mantidas, tomadas pela mandioca e pelo milho. Come-se lá o que Utiariti produz. Já não é pouco. Brasileiros havia dois homens; tudo mais era Paresí. Milho, para nossas montarias, comprei-o também dos índios. Utiariti é semente forte, sã, de vila ou cidade, que se plantou naquele solo. O Rio Papagaio passa-lhe ao lado, cheio de claro, para despencar-se, pouco adiante da estação, no mais lindo salto que se possa contemplar na terra. Numa destas páginas, encontra-se a evocação daquela maravilha, em pálido esboço, que o Sol gravou numa placa fotográfica, alegria e prazer dos meus olhos. Escondida na mágica beleza da queda, que não quero amesquinhar em comparações, porque não sei de outra lindeza igual, vive uma força enorme. A água espirra, em ducha colossal, de 80 metros de altura por 90 de largura; sua energia atinge aos 80 mil cavalos. Uma estreita calha, escavada na rocha quartzífera que a sustenta, deixa passar o arranco do esguicho imenso. (ROQUETTE-PINTO)
Cândido Mariano da Silva Rondon (1914)
Dali a 13 km, atingimos outras quedas de muito maior volume e altura ‒ e muitas outras havia nessa região, capazes de fornecer força ilimitada a um parque industrial. Eram esses Saltos do Utiariti de incomparável beleza infelizmente recebeu ali o Sr. Roosevelt telegrama anunciando o falecimento da sobrinha que o acompanhara, e à Mrs. Roosevelt, nas visitas a São Paulo, Uruguai, Argentina e Chile. Havia, a uns 800 m, grande aldeamento de índios, já sob a influência do Serviço de Proteção aos Índios (SPI). O chefe da tribo envergava o uniforme de Major e eram estreitas as relações com a Estação Telegráfica que estabelecêramos, porque a esposa do funcionário, uma linda morena, dava aulas às meninas índias. Tinham as quedas de Utiariti o dobro da largura e da altura das de Salto Belo ‒ despenhavam-se as águas de 80 m ‒ a que excediam de muito em beleza e majestade. Cerca de 100 m antes da queda, alargava-se o Rio cuja água, pouco profunda e coroada de espuma se precipitava envolta em névoa que o vento, às vezes, rasgava, deixando entrever a floresta. Ouvia-se, desde muito longe, o ronco atroador das ondas furiosas e tremia o solo da borda do abismo de onde se evolavam (elevam) nuvens volumosas de eterno nevoeiro. A vista, abaixo das quedas, era de rara magnificência. O Rio lançava-se sobre uma parede de rocha, transversal à corrente, mas, à esquerda, uma saliência nessa parede formava uma belíssima catarata em avanço sobre a queda principal. “À exceção do Niágara”, disse o Sr. Roosevelt, “não há na América do Norte catarata que se possa comparar às quedas de Utiariti.” (VIVEIROS)
Amílcar A. Botelho de Magalhães (1942)
Repercutindo narrativa do então Coronel Cândido Mariano da Silva Rondon:
O chapadão uniforme distende-se indefinidamente, sem aflorações notáveis à nossa atenção, até Saueruiná (Papagaio). A dez léguas do nosso rumo, sobre esse Rio e em direção de Norte-Nordeste uma grande depressão de cerca de cem metros mostra a erosão natural que assinala os vales do Saueruiná, Timalatiá (Sacre) e Zolaharuiná (Buriti); daí se veem os sinais de dois saltos ‒ um, o Utiariti, do Saueruiná, o outro que nos indicavam como sendo do Timalatiá, que corre a pequena distância do Saueruiná, e com ele se reúne pouco adiante. No Utiariti o Rio corre mansamente antes da queda; ao aproximar-se desta, deu-se o desnivelamento brusco, de modo a formar uma grande corredeira marulhosa (agitada) e junto do salto as águas se subdividem por causa de uma pequena ilha. Um grande golfo forma-se à esquerda; outra porção maior contorna a ilha à direita e antes de se despenhar se subdivide, indo uma pequena parte para o abismo, onde cai como extenso e alvo lençol e a outra, de maior volume, volve por um salto preliminar a encontrar-se com o grosso das águas provenientes do golfo. Despenha-se, então, toda essa massa, da altura de cerca de 80 m, no mesmo enorme poço onde se desfaz o lençol da direita; e de onde se levanta uma grossa nuvem de água como que volatilizada e que, de muito longe, anuncia a existência do salto, a quem tem o hábito de ler e avaliar os acidentes de um terreno. O corte de arenito vermelho, aí descorado em muitos pontos e completamente desnudado, é vertical; o poço cavado pelas águas é semicilíndrico, aberto no meio do arco anterior já esboroado. À esquerda segue-se o muro de grés, vertical e reto, para o norte, num abaixamento moderado; à direita a rampa é mais suave para o Rio, então estreito, com especialidade logo depois do salto, onde a sua largura é de seis metros; também aí correm as águas com enorme velocidade. Antes da queda a largura é de 90 m. No salto a água se eleva em nuvens mais ou menos altas, conforme a temperatura do momento, fazendo sentir constantemente os efeitos da umidade, por mais de 200 m em redor. (MAGALHÃES)
Expedição Centenária R-R – II Parte ‒ Fase I (Tapirapoã / Kamai)
Expedição Centenária R-R – II Parte ‒ Fase II (Kamai / Utiariti)
Fontes:
AQUINO, Carla Abreu Soares. A Preguiça Comum (Bradypus variegatus)‒ Prefácio da Monografia, 2002.
COMÉRCIO, Jornal do. Missão Rondon‒ Brasil ‒ Brasília ‒ Edições Senado Federal, Conselho Editorial, 2003.
MAGALHÃES, Major Amílcar Botelho de. Impressões da Comissão Rondon‒ Brasil ‒ Rio de Janeiro ‒ Editora Brasiliana, 1921.
P. ARRUPE, E. v. GEMMINGEN, B. GROM, G. HEUSSEN, G. HOVER, W. KOSTER, B. PFEIFER, G. SWITEK, J. OBELMESSER, H. WOLTER . Os Jesuítas: Para Onde Caminham?– Brasil – São Paulo – Edições Loyola, 1978.
ROQUETTE-PINTO, Edgard. Rondônia‒ Brasil ‒ Rio de Janeiro ‒ Companhia Editora Nacional, 1938
VIVEIROS, Esther de. Rondon Conta Sua Vida‒ Brasil ‒ Rio de Janeiro ‒ Livraria São José, 1958.
(*) Hiram Reis e Silva é Canoeiro, Coronel de Engenharia, Analista de Sistemas, Professor, Palestrante, Historiador, Escritor e Colunista;
Integrante do 4° Grupamento de Engenharia do Comando Militar do Sul (CMS)
Ex-Professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA);
Ex-Pesquisador do Departamento de Educação e Cultura do Exército (DECEx);
Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS);
Presidente do Instituto dos Docentes do Magistério Militar – RS (IDMM - RS);
Sócio Correspondente da Academia de Letras do Estado de Rondônia (ACLER)
Membro da Academia de História Militar Terrestre do Brasil – RS (AHIMTB – RS);
Membro do Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS);
Colaborador Emérito da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG).
Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional (LDN).
E-mail: hiramrsilva@gmail.com;
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